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domingo, 12 de agosto de 2012

VISUAIS - OBRAS RARAS COMPÕEM - 30 DE DEZEMBRO DE 1976


Jornal A Tarde quinta-feira, 30 de dezembro de 1976






OBRAS RARAS COMPÕEM  A MOSTRA ABERTA NO UNHÃO

Cento e setenta e seis obras das mais significativas estão expostas, desde ontem, no Museu de Arte Moderna da Bahia. São obras do acervo que estavam amontoadas em rústicos armários de madeira completamente empoeiradas e sujas. Passaram mais de dez anos empilhadas e muitos jovens não conhecem ou nunca ouviram falar das telas, gravuras, esculturas, tapetes e pastéis, agora expostos, alguns integrantes de antologias. O valioso acervo do Museu foi organizado por Lina Bo Bardi, que em 1960 dinamizou o setor na Bahia, dando ao museu uma característica de vanguarda, participando ativamente e promovendo atividades culturais integradas.
Os atuais dirigentes do Museu tiveram pouco trabalho, mas conseguiram uma importante mostra, retirando-as dos armários, restaurando-as algumas e fazendo limpeza de outras.
O Diretor do Mamb, Sílvio Robatto, está entusiasmado com o acervo e promete realizar uma segunda exposição, onde estarão presentes trabalhos dos mais expressivos artistas baianos. Muitos já prometeram doar trabalhos para o acervo do Mamb.

                                         POLÊMICA

O crítico Roberto Pontual, convidado pelos dirigentes do Mamb para fazer uma avaliação crítica sobre o acervo declarou: “Creio que só se tomou consciência no Brasil do duplo desafio que representa hoje em dia o problema do acervo de muitos museus e de como obter peças significativas e de como utilizá-las interessantemente. Um desafio de sempre, mas agravado ao extremo na atualidade e nas circunstâncias locais”.
Um aspecto que deve ser considerado é que não existe dinheiro para dinamizar o Mamb. Basta dizer que o catálogo de sua exposição foi doado por um grupo econômico, e, que seus atuais dirigentes pretendem aumentar o acervo com doações de artista. Ora, o artista vive do que pinta e não pode estar doando trabalhos para entidades culturais. Estas sim, é que devem adquirir peças importantes e representativas, visando a enriquecer o acervo dos museus e incentivar as artes.

                                    ABANDONADOS

Segundo o Diretor do Mamb, arquiteto Silvio Robatto, não existia um tombamento do acervo, apenas uma listagem, que foi feita pelo antigo diretor Renato Ferraz e está devidamente rubricada. Diante disto ele pretende realizar o tombamento inclusive com uma documentação fotográfica que está em fase final de execução. Assim as obras pertencentes ao Mamb estarão mais seguras catalogadas e identificadas os seus autores.
-Esta exposição representa uma etapa de trabalho iniciada em abril do presente ano, tempo necessário para a listagem das peças com vistas à sua identificação, perícia, avaliação crítica, limpeza e restauração, além dos trabalhos já iniciados de adaptação de uma das áreas do conjunto arquitetônico do Unhão para a guarda do acervo do Mamb com condições técnicas no tocante a segurança e conservação de suas peças. Contamos com a colaboração da Coordenação de Museus da Fundação Cultural do Estado, do professor Edson Motta, de Roberto Pontual e de Réscala.

                                             AVALIAÇÃO E OBRAS

Na avaliação crítica feita por Roberto Pontual ele fez algumas considerações que entram em choque com as palavras de Silvio Robatto, que credita a arquiteta Lina Bardi a criação e organização do Mamb dando-lhe inclusive uma função participante na vida cultural do Estado. Esta discordância é considerada natural, tendo em vista que o crítico Roberto Pontual reside no sul do país e não acompanha de perto a criação e funcionamento do Mamb, embora seja um crítico responsável e respeitado em todo o país.
Mas, o que interessa é o conjunto significativo de obras exposto entre as quais: seis de autoria de Di Cavalcanti, uma de Portinari, uma de Djanira, duas de Flávio Carvalho, uma de Tarsila do Amaral, uma de Antônio Bandeira, esculturas de Agnaldo dos Santos, seis de Admir Martins e assim por diante. No apagar das luzes de 1976 esta exposição do Mamb vem revitalizar o setor na Bahia.






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