JORNAL A TARDE, TERÇA-FEIRA, DIA 15 DE NOVEMBRO DE 1982.
A VOLTA POR CIMA DE LEONARDO ALENCAR
Estava envolvido em meu árduo trabalho de estruturar a
cobertura das eleições, quando Cosme colocou sobre a mesa alguns envelopes com
minha correspondência diária. Como estava muito atarefado resolvi deixar tudo
de lado, para um momento mais oportuno. Não imaginava que estava perdendo
alguns minutos de alegria e felicidade. Sim, porque num daqueles envelopes
estava uma correspondência de grande revelação: “Irmão Reynivaldo: Esta vitória
também é sua. Um abração do Leonardo.”
Reprodução de um desenho onde com poucos traços Leonardo consegue grande expressividade.
Leonardo é uma dessas grandes figuras que Sergipe já
exportou para a Bahia. Aqui foi recebida de braços abertos, devido
principalmente a sua grande capacidade de fazer amigos, mas acima de tudo de
reconhecimento ao seu talento. Foram anos de profícua criação. Até que um dia
Leonardo desceu de seus cavalos alados, abandonou os peixes que saciam a fome
de tanta gente, e rumou por uma estrada tortuosa, inacessível.
Tentei por duas vezes mostrar a Leonardo que aquela estrada
era perigosa, mas foi tudo em vão. Leonardo abandonara sua arte e outras coisas
que lhe eram tão caras e tão importantes. Os amigos sumiram. Ninguém quase
sabia informar do artista e de seus cavalos alados, e dos peixes e das expressivas
gravuras, que integram esta plêiade de gravadores em nosso país.
Porém, para a felicidade da arte brasileira, Leonardo deu a
volta por cima e surge com os pincéis nas mãos galgando espaços limpos e retos
em seus cavalos alados e trazendo, de quebra, seus peixes e pássaros. Chega com
uma determinação própria do sertanejo. Isto pode ser comprovado nas frases
objetivas, captadas por Elson Melo e publicadas em A Tarde, do último dia 8 de
novembro, edição de Aracaju. Vejamos:
Não fecho contratos com galerias que durem mais que uma
exposição; não de meus quadros serem falsificados; creio que é possível viver
de arte; e, finalmente, “não estabeleço o tema, em outras palavras, não
trabalho por encomenda”.
Nessas frases pronunciadas com segurança está a experiência
de um mestre do pincel. De um artista que, embora ainda jovem na idade, tem
sido um influenciador de novos talentos. Sua arte é fruto de uma longa
paciência, e posso dizer como testemunha, que Leonardo é um daqueles artistas
raros que realmente busca pesquisa e questiona. Não é daqueles que falam em
pesquisa numa tentativa vã de valorizar o que não merece atenção.
É preciso que os colecionadores, os estudiosos da arte em
nosso país reflitam sobre a obra de Leonardo Alencar.
Os artistas Leonardo Alencar e J. Inácio,também sergipano.
“Um quadro deve mostrar, além da paisagem, a inteligência de
quem o concebeu’. Uma frase a ser considerada e lembrada pela sua sensatez.
-Acrescento à necessidade de identificação entre o
espectador e o quadro. A obra de arte deve emocionar. A emoção é que transcende
a sua importância, e um exemplo maior é Guernica, de Picasso; a Mona Lisa, de
Da Vinci, e muitos outros admirados através dos séculos.
Faço votos e torço, com muita esperança, para que os cavalos
alados levem Leonardo Alencar para espaços tranqüilos, onde ele possa continuar
pintando seus peixes e pássaros. Onde a emoção e sua sensibilidade surjam com a
força de milhares de cavalos e transforme tudo isto em criatividade.
Sua exposição está aberta desde sábado último no Iate Clube
de Aracaju e tem o patrocínio do Governo do estado de Sergipe, através sua
Subsecretaria de Cultura e Arte.
Ao término de sua exposição, em Sergipe, é preciso que as
pessoas ligadas aos museus baianos promovam uma exposição de Leonardo aqui,
para que possamos apreciar mais uma vez o trabalho deste grande artista.
MILTON DEVE RETOCAR O SEU MURAL
Localizar o pintor, que ele conhece apenas por Milton, autor
do mural pintado há mais de cinco anos – é o grande desejo de Edísio dos Santos
Menezes, proprietário do Bar Quente Paca, localizados na Avenida Bairro Reis.
Edísio gosta tanto do mural, que não admite que outro pintor recupere a obra de
arte, a não ser o seu autor.
Edísio comprou o pequeno bar há mais de quatro anos, e lá já
existia o mural de aproximadamente seis metros por 1,80m ocupando a metade de
uma das paredes do imóvel. “Adoro a obra, que me dá idéia de um infinito, de um
presídio com várias celas, onde apenas uma porta deixa passar a luz, como se
simbolizasse a esperança de libertação”, explica.
Reprodução da foto do mural de Milton que precisa ser recuperado por seu autor, que está sumido.
MUITO ADMIRADA
Na verdade, a obra de Milton é apreciada, segundo o dono do
bar, por todas as pessoas que freqüentam o local, dentre estes, pessoas que
entendem de arte. E, depois que um amigo dele, também artista, negou-se a fazer
a recuperação do mural, ele só admite que o próprio Milton faça a recuperação
da obra.
Todos os anos Edísio faz pintura do bar, mas toma cuidado
com a obra de arte, que permanece e permanecerá, segundo ele, à espera do seu
autor, para ser recuperada. A única conservação que ele faz, enquanto espera
que Milton apareça é polir o mural com cera.
O mural mostra, em perspectiva, várias portas em linha reta,
pintadas na cor verde, e paredes azuis, sugerindo celas de um convento ou de um
presídio. Na medida em que se aproxima para o plano do fundo, o ambiente escurece
característica que também se observa no piso do mural que começa na cor
laranja, passa pelo marrom e termina no preto. No Ural apenas uma porta aparece
aberta e deixa passar a luz do sol que reflete a sombra do piso.
Tão logo termine a eleição, Edísio vai pintar o seu bar, por
isso gostaria muito que Milton aparecesse para recompor o mural, uma pintura a
óleo bastante danificada com a ação do tempo e da poeira. O telefone do bar
Quente Paca é o 233-4105 e, através deste, quem souber como localizar o artista
pode informar a Edísio (Ana Maria).
CARTAZ JAPONÊS TEVE UMA EXPRESSIVA MOSTRA AQUI
O Consulado Geral do Japão, em colaboração com o Centro de
Estudos Afro-Orientais da Ufba, promoveu de 9 a 12 do corrente, no saguão de
acesso do Museu Afro-Brasileiro, no Terreiro de Jesus, a exposição Arte de
Cartaz Moderno no Japão. A mostra contou com cerca de sessenta cartazes, de
vários artistas japoneses nascidos depois de 1920.
Na opinião de
Kasumassa Nagai, diretor do Centro de Desenhos do Japão, e um dos participantes
dessa exposição, o cartaz japonês expressa bem a sua longa história do Japão como
um país relativamente isolado e de espírito homogêneo cujo povo se inclina para
reagir mais fortemente, apelando mais para a sensibilidade do que a lógica. “A tridimensional da arte européia, por exemplo –
explica Nagai – se origina da teoria lógica de perspectiva, enquanto que a arte
japonesa é bidimensional, buscando mais emoção do que a profunda ilustração”.
Considerado inicialmente como um efetivo meio de anúncio, o
cartaz moderno do Japão sofreu um certo declínio com o desenvolvimento dos
jornais e revistas e televisão. No entanto, tomou um novo impulso devido à crescente
tecnologia do Japão, que hoje permite
uma boa qualidade de reprodução dos trabalhos, e também porque,
ultimamente, este ramo vem obtendo uma grande popularidade entre os jovens.
Os cartazes que antes eram utilizados quase que
exclusivamente para anunciar produtos, hoje, além disso, são pendurados pelos
jovens nas paredes de seus quartos. Esta diversificação se deu,. Basicamente ,
a partir de 1964, quando Yusaku Kamekura despertou a atenção do povo japonês ao
desenhar a obra “Trilogia”, especialmente para as Olimpíadas de Tóquio.
Os próprios desenhadores gráficos acharam que as formas e
cores da arte do cartaz deram a eles uma nova liberdade na expressão de suas
próprias idéias e experiências.
MUSEUS BAIANOS JÁ TÊM CATÁLOGOS DA BAHIATURSA
Em conjunto com a Embratur e contando com a colaboração da
Fundação Cultural do Estado, a Bahiatursa acaba de editar um catálogo de museus
da Bahia,em comemoração ao Dia da Cultura.
Ainda dentro da linha de divulgação dos museus baianos, a
Bahiatursa lançou quando da inauguração do Memorial de Medicina, semana
passada, um pôster alusivo ao evento e um outro do Museu Abelardo Rodrigues, no
momento em que este festeja um ano de fundado.
O catálogo de museus, uma peça em policromia, retrata 32
museus de Salvador e do Recôncavo, explicando a importância, o histórico e o
acervo de cada um, informando a localização para facilitar a visitação do
público local e turistas além de despertar o interesse em conhecer nossos museus.
O pôster do memorial de Medicina destaca um detalhe do
painel criado por Carlos Bastos, retratando o ato de criação da Escola de
Medicina pelo reio Dom João VI, e o do Museu Abelardo Rodrigues, com fundo em
prata, reproduz a figura de São Miguel Arcanjo, uma das peças mais
representativas do museu.
Além do pôster, o museu Abelardo Rodrigues conta agora com
um folheto de divulgação, também produzido pela Bahiatursa , com informações
sobre o acervo e importância da criação do museu. No próximo mês, a Bahiatursa
estará lançando o mapa animado de Salvador, que se encontra em quatro lâminas,
com localização dos monumentos , atrações turísticas e informações sobre a
Cidade do Salvador e Itaparica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário