Esta é a segunda vez desde que escrevo Artes Visuais que trato de grandiosidade e do descaso das autoridades baianas com relação à Lagoa de Abaeté.
A primeira, vez denunciei, a construção
de um espigão nas imediações da lagoa que agride a paisagem. O espigão é hoje
um hotel de muitas “estrelas”, e sua estrutura de concreto parece uma lança
ferindo o verde da paisagem. Contra este progresso desenfreado e da febre
imobiliária que atinge os grandes aglomerados urbanos, quase não existe
remédio. Seus autores são fortes e muitas vezes calcados em razões
irremovíveis.
Porém, de lá para cá aconteceu o
pior.
Uma favela incrustou-se ao local
onde criaram o Parque Metropolitano de Abaeté, que não saiu do papel, embora já
tenham passado pela Comuna nada menos que três prefeitos. A favela cresce e com
ela a sujeira, o desmatamento da área e conseqüentemente o empobrecimento da
Lagoa do Abaeté. Diria que no Abaeté tem uma lagoa escura arrodeada de areia
suja, parodiando a música de Caymmi, que fala de areia branca. O lixo e os
detritos ainda não acabaram totalmente com o mistério deste local onde estão os
encantados.
Como afirmou recentemente
Calazans Neto, numa entrevista a este jornal:
“Abaeté era um homem muito bonito
e cobiçado pelas mulheres, e a lagoa era azul”. Ele diz que Abaeté ainda guarda
a magia desta época e uma prova disto é esta foto de Renato Almeida que mostra
uma Yao à beira da lagoa onde foi com sua orientadora espiritual prestar uma
homenagem a Oxum. A presença das pessoas de candomblé e das lavadeiras
demonstra ainda o mistério que envolve aquela porção de água escura arrodeada
de areia suja.
É verdade que tudo na sociedade
sofre mudanças. A própria sociedade é dinâmica com seus valores, os mais
distintos. Mas, as mudanças devem ser acompanhadas de aspectos positivos e
preservando aquilo que de mais importante, do ponto de vista cultural, existe.
E Abaeté é um caso típico, é um
cartão-postal da Bahia, é um local que merece ser preservado.
Porém, dentro desta necessidade
de mudar, estamos hoje com um novo logotipo desta coluna. O autor do logotipo é
Reinaldo, companheiro de A Tarde, que sempre está brindando os leitores com
suas charges inteligentes.
Este é o quinto logotipo que apresento,
dando a cada dia um novo visual a esta coluna. Também a diagramação, depois de
uma experiência na horizontal, retorna agora à sua antiga postura porque
descobrimos que permanecer na vertical é muito melhor!
SÔNIA RANGEL MOSTRA SUAS FLÂMULAS
NA CAÑIZARES
A artista Sônia Rangel vai
realizar uma nova exposição a partir de sexta-feira na Galeria Cañizares, que
reabre suas portas depois de alguns meses sem uma atividade digna de registro.
Esta exposição de Sônia, que além de trabalhar individualmente integra o Grupo
Posição, revela alguns traços marcantes de sua busca constante em utilizar
vários tipos de materiais para expressar sua arte. Sônia Rangel com alguns trabalhos.
Depois de Márcia Magno ter
trabalhado com as arraias ou pipas, agora Sônia nos chega com suas flâmulas.
Uma apropriação com certa
semelhança. Mas, que certamente, não tira a sua importância e credibilidade.
Como estamos na época do futebol,
quando explodem as emoções contidas, é bom lembrar a pipa do marinheiro do
“Custódio de Melo”. Ele encantou a nós todos que torcíamos pela Seleção
Brasileira com os voleios de sua pipa quando do jogo Brasil e Nova Zelândia.
Portanto, as pipas sempre estão
presentes, quer nos morros cariocas, quer nos momentos de emoção e
alegria.Também é o caso das bandeiras e das flâmulas. Como a bandeira, a
flâmula marcam e simbolizam uma comemoração.Uma data ou uma competição. E não é
a toa que o nosso capitão Sócrates entrega a flâmula da nossa Seleção todas as
vezes que vai enfrentar um adversário e recebe outra de volta. Hoje, por
exemplo, será o dia de entregar a da canarinho e receber uma da Itália. Neste
gesto de cortesia que marca a civilidade que deve reinar numa competição
esportiva, a flâmula é um símbolo de extremo valor.
Ela mesma diz ser muito difícil
falar de uma coisa cuja existência é plástica.
Mas a flâmula não tem apenas
significado plástico. Como símbolo que é, ultrapassa o limite do plástico para
ter outra conotação de grande importância. A flâmula é um símbolo, ou seja,
aquilo que, por sua forma ou sua natureza, evoca, representa ou substitui um
determinado contexto, algo abstrato ou ausente. Na linguagem simbólica sabemos
que não existe qualquer relação entre o símbolo e a coisa simbolizada.
Mas é preciso que exista um
consenso para que a mensagem codificada, isto é, simbolizada, seja codificada
pelos que se destina. Esta apropriação da flâmula, portanto, transcende a sua
plasticidade, por utilizar um elemento que tem outra função dentro de sua
conotação de representatividade.
Concordo com Sônia que diz que um
quadro não é um. São tantos quantas olhadas você der para ele. E isto se faz
presente principalmente na relação indivíduo-conhecimento.
A manipulação de elementos de uma
cultura permite visões as mais variadas a depender do nível de conhecimento. Aí
entre a relação de entendimento e me faz lembrar o abstrato, quando as pessoas
são inquiridas a dizer ou responder: Entendeu? E quase as respostas são
variantes e até desconcertantes.
Sônia Rangel é, sem dúvida, uma
artista contemporânea, interessada em tudo que acontece no setor das artes e
tem uma participação efetiva nos movimentos culturais aqui realizados. Carioca
de nascimento, mas desde 1970 está em Salvador, portanto, são 12 anos de
vivência baiana.
ISRAEL PEDROSA FALARÁ DA TEORIA DA COR INEXISTENTE
O artista Israel Pedrosa, ( Foto) conhecido
por desenvolver a teoria da cor inexistente, estará em Salvador, amanhã, para
ministrar um curso intensivo das oficinas no Museu de Arte Moderna da Bahia
sobre a História da Cor: da Pré-História à Cor Inexistente. O curso é destinado
não só aos artistas plásticos, mas aos arquitetos, professores de arte,
psicólogos ou qualquer pessoa interessada em conhecer esse fenômeno cromático.
O diretor do MAMB, Chico
Liberato, considera este curso como uma ótima oportunidade não só para
esclarecer questões teóricas como se adquirir conhecimentos práticos, adquirir
experiência pessoal, a partir dos ensinamentos do autor do livro: “Uma história
da cor a cor inexistente”. O curso vai até o dia 17, diariamente, das 9 as 12 e
das 14h30min às 17h30min.
Sobre Israel Pedrosa, diz o
crítico Jacob Klintowitz: “É um homem de aparência muito simples que abriu os
caminhos da arte para o futuro, revelando através de uma extraordinária
intuição e de um trabalho que lhe consumiu toda a vida, as possibilidades secretas
das cores e foi capaz de pintar com a própria radiação. É o primeiro pintor que
conseguiu dominar e utilizar na sua obra a própria luz”.
A COR INEXISTENTE
“Cor inexistente. Nome dado pelo
pintor brasileiro, Israel Pedrosa, à aplicação objetiva que fez, em trabalhos
mostrados em setembro e outubro de 1967, do efeito da percepção visual de cores
denominadas “cores de contraste pela Commission internationale de L’ Eclairage.
O elemento novo é a possibilidade de controlar tecnicamente o fenômeno e
enquadrá-lo em bases práticas, de acordo com a distância em que se coloque o
observador e os vários tons de cor primária da pintura observada, a qual deve
também obedecer a padrões de forma preestabelecidos” (Grande Enciclopédia Delta
Larousse).
Em 1967, depois de 16 anos de
estudos, Israel Pedrosa, nascido em Alto Jequitibá , Minas, aluno de Portinari, “pôde
afirmar que não é apenas pintor, mas que possui a cor. Ou mais que isso, ele
possui a cor invisível ou inexistente (por surgir no quadro em áreas
desprovidas de cor-pigmento)”. Assim, o crítico e professor Fernando Morais se
refere ao pintor da cor inexistente.
Reprodução de obra de Israel Pedrosa.
Reprodução de obra de Israel Pedrosa.
Sobre sua tese. Pedrosa fez uma
palestra em 1967, no Liceu Nilo Peçanha, de Niterói, a partir da qual assunto
passou a ser amplamente divulgado por jornais e revistas. Ele escreveu um livro
sobre a cor, onde resume toda sua vivência a experiência artística. Pelo
capítulo em que demonstra a influência da teoria das cores de Goethe,
conquistou láurea no Prêmio Thomas Mann, instituído pela Embaixada da República
Federal da Alemanha, viajando na Europa como hóspede do governo alemão, quando
realizou conferências e demonstrou seu trabalho na Bélgica e Alemanha.
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