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sábado, 25 de agosto de 2012

MUDANÇAS E DESCASO - JORNAL A TARDE ,5 DE JULHO DE 1982.

JORNAL A TARDE SALVADOR, TERÇA-FEIRA, 05 DE JULHO DE 1982.

                  MUDANÇAS E DESCASO COM ABAETÉ




Esta é a segunda vez desde que escrevo Artes Visuais que trato de grandiosidade e do descaso das autoridades baianas com relação à Lagoa de Abaeté.
A primeira, vez denunciei, a construção de um espigão nas imediações da lagoa que agride a paisagem. O espigão é hoje um hotel de muitas “estrelas”, e sua estrutura de concreto parece uma lança ferindo o verde da paisagem. Contra este progresso desenfreado e da febre imobiliária que atinge os grandes aglomerados urbanos, quase não existe remédio. Seus autores são fortes e muitas vezes calcados em razões irremovíveis.
Porém, de lá para cá aconteceu o pior.
Uma favela incrustou-se ao local onde criaram o Parque Metropolitano de Abaeté, que não saiu do papel, embora já tenham passado pela Comuna nada menos que três prefeitos. A favela cresce e com ela a sujeira, o desmatamento da área e conseqüentemente o empobrecimento da Lagoa do Abaeté. Diria que no Abaeté tem uma lagoa escura arrodeada de areia suja, parodiando a música de Caymmi, que fala de areia branca. O lixo e os detritos ainda não acabaram totalmente com o mistério deste local onde estão os encantados.
Como afirmou recentemente Calazans Neto, numa entrevista a este jornal:
“Abaeté era um homem muito bonito e cobiçado pelas mulheres, e a lagoa era azul”. Ele diz que Abaeté ainda guarda a magia desta época e uma prova disto é esta foto de Renato Almeida que mostra uma Yao à beira da lagoa onde foi com sua orientadora espiritual prestar uma homenagem a Oxum. A presença das pessoas de candomblé e das lavadeiras demonstra ainda o mistério que envolve aquela porção de água escura arrodeada de areia suja.
É verdade que tudo na sociedade sofre mudanças. A própria sociedade é dinâmica com seus valores, os mais distintos. Mas, as mudanças devem ser acompanhadas de aspectos positivos e preservando aquilo que de mais importante, do ponto de vista cultural, existe.
E Abaeté é um caso típico, é um cartão-postal da Bahia, é um local que merece ser preservado.
Porém, dentro desta necessidade de mudar, estamos hoje com um novo logotipo desta coluna. O autor do logotipo é Reinaldo, companheiro de A Tarde, que sempre está brindando os leitores com suas charges inteligentes.
Este é o quinto logotipo que apresento, dando a cada dia um novo visual a esta coluna. Também a diagramação, depois de uma experiência na horizontal, retorna agora à sua antiga postura porque descobrimos que permanecer na vertical é muito melhor!

SÔNIA RANGEL MOSTRA SUAS FLÂMULAS NA CAÑIZARES

A artista Sônia Rangel vai realizar uma nova exposição a partir de sexta-feira na Galeria Cañizares, que reabre suas portas depois de alguns meses sem uma atividade digna de registro. Esta exposição de Sônia, que além de trabalhar individualmente integra o Grupo Posição, revela alguns traços marcantes de sua busca constante em utilizar vários tipos de materiais para expressar sua arte. Sônia Rangel com alguns trabalhos.
Depois de Márcia Magno ter trabalhado com as arraias ou pipas, agora Sônia nos chega com suas flâmulas.
Uma apropriação com certa semelhança. Mas, que certamente, não tira a sua importância e credibilidade.
Como estamos na época do futebol, quando explodem as emoções contidas, é bom lembrar a pipa do marinheiro do “Custódio de Melo”. Ele encantou a nós todos que torcíamos pela Seleção Brasileira com os voleios de sua pipa quando do jogo Brasil e Nova Zelândia.
Portanto, as pipas sempre estão presentes, quer nos morros cariocas, quer nos momentos de emoção e alegria.Também é o caso das bandeiras e das flâmulas. Como a bandeira, a flâmula marcam e simbolizam uma comemoração.Uma data ou uma competição. E não é a toa que o nosso capitão Sócrates entrega a flâmula da nossa Seleção todas as vezes que vai enfrentar um adversário e recebe outra de volta. Hoje, por exemplo, será o dia de entregar a da canarinho e receber uma da Itália. Neste gesto de cortesia que marca a civilidade que deve reinar numa competição esportiva, a flâmula é um símbolo de extremo valor.
Ela mesma diz ser muito difícil falar de uma coisa cuja existência é plástica.
Mas a flâmula não tem apenas significado plástico. Como símbolo que é, ultrapassa o limite do plástico para ter outra conotação de grande importância. A flâmula é um símbolo, ou seja, aquilo que, por sua forma ou sua natureza, evoca, representa ou substitui um determinado contexto, algo abstrato ou ausente. Na linguagem simbólica sabemos que não existe qualquer relação entre o símbolo e a coisa simbolizada.
Mas é preciso que exista um consenso para que a mensagem codificada, isto é, simbolizada, seja codificada pelos que se destina. Esta apropriação da flâmula, portanto, transcende a sua plasticidade, por utilizar um elemento que tem outra função dentro de sua conotação de representatividade.
Concordo com Sônia que diz que um quadro não é um. São tantos quantas olhadas você der para ele. E isto se faz presente principalmente na relação indivíduo-conhecimento.
A manipulação de elementos de uma cultura permite visões as mais variadas a depender do nível de conhecimento. Aí entre a relação de entendimento e me faz lembrar o abstrato, quando as pessoas são inquiridas a dizer ou responder: Entendeu? E quase as respostas são variantes e até desconcertantes.
Sônia Rangel é, sem dúvida, uma artista contemporânea, interessada em tudo que acontece no setor das artes e tem uma participação efetiva nos movimentos culturais aqui realizados. Carioca de nascimento, mas desde 1970 está em Salvador, portanto, são 12 anos de vivência baiana.

ISRAEL PEDROSA FALARÁ DA TEORIA DA COR INEXISTENTE

O artista Israel Pedrosa, ( Foto) conhecido por desenvolver a teoria da cor inexistente, estará em Salvador, amanhã, para ministrar um curso intensivo das oficinas no Museu de Arte Moderna da Bahia sobre a História da Cor: da Pré-História à Cor Inexistente. O curso é destinado não só aos artistas plásticos, mas aos arquitetos, professores de arte, psicólogos ou qualquer pessoa interessada em conhecer esse fenômeno cromático.
O diretor do MAMB, Chico Liberato, considera este curso como uma ótima oportunidade não só para esclarecer questões teóricas como se adquirir conhecimentos práticos, adquirir experiência pessoal, a partir dos ensinamentos do autor do livro: “Uma história da cor a cor inexistente”. O curso vai até o dia 17, diariamente, das 9 as 12 e das 14h30min às 17h30min.
Sobre Israel Pedrosa, diz o crítico Jacob Klintowitz: “É um homem de aparência muito simples que abriu os caminhos da arte para o futuro, revelando através de uma extraordinária intuição e de um trabalho que lhe consumiu toda a vida, as possibilidades secretas das cores e foi capaz de pintar com a própria radiação. É o primeiro pintor que conseguiu dominar e utilizar na sua obra a própria luz”.

                                                         A COR INEXISTENTE

“Cor inexistente. Nome dado pelo pintor brasileiro, Israel Pedrosa, à aplicação objetiva que fez, em trabalhos mostrados em setembro e outubro de 1967, do efeito da percepção visual de cores denominadas “cores de contraste pela Commission internationale de L’ Eclairage. O elemento novo é a possibilidade de controlar tecnicamente o fenômeno e enquadrá-lo em bases práticas, de acordo com a distância em que se coloque o observador e os vários tons de cor primária da pintura observada, a qual deve também obedecer a padrões de forma preestabelecidos” (Grande Enciclopédia Delta Larousse).
Em 1967, depois de 16 anos de estudos, Israel Pedrosa, nascido em Alto Jequitibá, Minas, aluno de Portinari, “pôde afirmar que não é apenas pintor, mas que possui a cor. Ou mais que isso, ele possui a cor invisível ou inexistente (por surgir no quadro em áreas desprovidas de cor-pigmento)”. Assim, o crítico e professor Fernando Morais se refere ao pintor da cor inexistente.
Reprodução de obra de Israel Pedrosa.
Sobre sua tese. Pedrosa fez uma palestra em 1967, no Liceu Nilo Peçanha, de Niterói, a partir da qual assunto passou a ser amplamente divulgado por jornais e revistas. Ele escreveu um livro sobre a cor, onde resume toda sua vivência a experiência artística. Pelo capítulo em que demonstra a influência da teoria das cores de Goethe, conquistou láurea no Prêmio Thomas Mann, instituído pela Embaixada da República Federal da Alemanha, viajando na Europa como hóspede do governo alemão, quando realizou conferências e demonstrou seu trabalho na Bélgica e Alemanha.

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