JORNAL A TARDE,SALVADOR, SÁBADO, 29 DE
JULHO DE 1978
Obra The American Death: Bamboo! (A Morte americana: Bamboo!) |
Exemplo disso é The American
Death: Bamboo!, pertencente a Pinacoteca do Estado de São Paulo . O rigor da fatura, a gravidade a
cor e da figura no seu trabalho conseguem uma contundência que extrapola o mero
formalismo artístico. Na crítica de uma situação exterior, é interessante notar
que o artista se utiliza de um código figurativo que nos é familiar posto que
uma imposição cultural e isso vale em particular para a geração de artistas a
que pertence Antonio Dias.
The American Death: Bamboo! é
estruturalmente resolvida a partir da reunião de 3 módulos no que se
aproximaria, duplamente, das experiências pouco anteriores do neoconcretismo
que já havia questionado, pelo trabalho de alguns artistas, o enquadramento
convencional da pintura e da seriação das estórias em quadrinhos, prescindindo,
porém, de uma leitura linear em função de simultaneidade, de complementação
mútua das figuras em cada módulo. Essa estruturação alude a essas de aviões, de
águias, á emblemática de guerra, às bandagens postas sobre ferimentos, a
símbolos que, embora antigos, permaneçam vivos.
Nesse suporte, sem se constituir
num objeto, a figuração de Antonio Dias ultrapassa a fronteira do
bidimensional, da mera representação, para ocupar, no espectador, seus espaços
interiores, sensíveis.
Sua figuração é fragmentada, há
ali pedaços de ossos, de miras, de trens de aterrissagem, há silhuetas,
estereótipos, marcas, cores simbólicas que incorporam a experiência pessoal e
social do artista.
Cabe a cada expectador a leitura
final, de acordo com seu próprio sistema de referências. É nesse espaço que
Dias propõe a obra, a ideia completa; onde entende ser o lugar de arte.
No Brasil, junto com outros
jovens artistas, Antonio Dias participou das principais exposições da época
entre as quais devemos destacar Opinião 65/66 (Rio), Propostas 65/66 (São Paulo)
e Nova Objetividade 67 (Rio). Reside desde 1967 na Europa, radicado em Milão,
onde tem realizado pesquisas no campo da arte conceitual, tendo experimentado o
cinema, o processo gráfico, o audiovisual, o environment e mesmo pesquisas de
materiais como faz recentemente com o papel, junto a um grupo de artesãos no
Nepal, em constante questionamento do suporte na obra de arte.Destaque do Mês da Pinacoteca.
UM MURAL PARTICULAR DE SANTE SCALDAFERRI
Foto que fiz quando visitei Sante,que aparece ai sentado |
Foi diante de tal contemplação
que Sante Scaldaferri resolveu fazer um mural no alpendre de sua casa,
utilizando vários fragmentos, materiais e objetos de arte popular.
Um mural que está perfeitamente
integrado com vários fatos, quando de suas andanças pelo interior. No mural
colocou ainda uma carranca esculpida por Francisco Biquiba Guarany, de Santa
Maria da Vitória.
Numa dessas viagens, ao navegar
numa lancha pelo Rio São Francisco tomou conhecimento de uma estória de um
milagreiro que residia num velho curral onde ensina a palavra de Deus. O
condutor da lancha contou-lhe que o milagreiro era um homem santo que fazia milagres e ensinava a palavra de Deus, e que tinha um sobrinho que fora curado.
Ele subia no madeirame do curral para ficar mais alto e gritava e gesticulava
muito com as mãos e braços. Seu corpo se envergava, mas nunca caiu. Ele era
amparado por Deus. O homem santo já era bem velhinho com todos os cabelos
brancos e sempre dizia para o povo não pecar porque se assim procedesse o
sertão ia virar mar e o mar virar sertão, a exemplo de Antônio Conselheiro, diz
Scaldaferri que olhando a posição do alpendre que estava construindo em apoio à
piscina, "notei que guardadas as proporções, ficava na mesma situação do curral
do Pai Santo. Daí surgiu a ideia de fazer o alpendre com todas as
características de um curral."
"Na parte correspondente ao
rampado íngreme, fiz um painel com cacos de azulejos imitando peixes.Dentro do curral numa parede de
6.00 x 5.00m, executei um mural com ex-votos, madeira agreste e objetos de arte
popular nordestina. Ao lado, uma escultura abstrata formada por tábuas dos
andaimes e pintadas em cores puras e vibrantes. Tudo integrado na parede e no
conjunto arquitetônico, deixando cada objeto de ser unidade para formar um
todo. Os ex-votos foram pintados formando desenhos abstratos em cada um deles.
Em lugar de destaque a carranca. Mais em baixo com os pés e mãos feitos de
ex-votos, o corpo à maneira dos santos de roca vestindo uma bata azul. Colocado
em cima do madeirame, num gesto dramático e com um rosário nas mãos, está o Pai
Santo. Sua cabeça é um ex-voto com uma peruca feita de cordão."
O rosário é outra obra de
artesanato executado no Centro Artesanal da Fundação do Pelourinho. No mural
também está representada a roda do suplício eterno. Dizia o Pai Santo, que os
pecadores seriam amarrados a uma roda e condenados a girar eternamente.
"Ao lado estou criando um jardim,
composto de mandacarus, xiques-xiques e cabeças-de-frade. Tudo isto narrado,
serviu realmente para a concepção do mural. Porém o mural, como a minha
pintura, não são descritivos ou ilustrativos. Minha arte é uma arte dialética.
Eu sou um pintor do povo, e absorvo tudo que diz respeito a este povo. Esta
absorção atua de modo decisivo no meu processo de trabalho. É o início do
processo criativo interior.
"Minha arte é de transfiguração e
não de transposição. Gente com cara de ex-voto, na é a mesma coisa de ex-voto
com cara de gente."
MAKALÉ E SUA EXPOSIÇÃO CARA CARA
Makalé diz que o nome desta
exposição é por justa causa. Cara Cara é tudo aquilo que passa por nossas
vistas, tudo que o dia-a-dia nos mostra e faz com que o povo se encha de riso
ou choro, vida ou morte.
"Nessa minha primeira mostra há
uma série de quadros que são especialmente significativos para esse muito
embora todos eles estejam inseridos no mesmo contexto.Eles representam quatro atos de
viver mostrados dentro da técnica de bico-de-pena e colagem de recortes de jornais
com notícias que vão das páginas policiais às páginas sociais. A intenção é
mostrar o dia-a-dia do homem de hoje, em qualquer contexto social, sua vida,
uma vida que simplesmente acaba no fim", diz o artista.
Makalé começou a desenhar por
volta de 1969 quando concluiu um curso de escola profissionalizante e passou a
frequentar a Escola de Belas Artes ,de Recife. Em 1971 já participava do Salão
dos Novos realizado no Museu de Arte Contemporânea de Olinda recebendo no ano
seguinte, no mesmo Salão, Menção Honrosa.Em 1974 Makalé veio para Salvador
muito embora ainda continuasse participando das movimentações artísticas de
Recife.Foi assim que participou do I e
II Salão Global onde ganhou o Prêmio de Aquisição e do III Salão dos Novos.
PAINEL
BAIANOS I - Pinturas, gravuras,
desenhos e entalhes estarão expostos até o dia 12 de agosto no Clube de
Engenharia da Bahia, na Rua Carlos Gomes, reunindo trabalhos de Ângelo Roberto,
Denise Pitágoras, Hilda Oliveira, Juarez Paraíso, Leonardo Alencar, Káthya
Berbet, Márcia Magno, Maria Adair, Marlene Cardoso, Oscar Caetano, Renato
Vianna, Terezinha Dumet, Zu Campos, dentre outros.
MESTRE RAYMUNDO - O Gabinete
Português de Leitura está convidando para inauguração no próximo dia 8 em
comemoração dos oitenta e cinco anos de idade e 51 de atividades artísticas do
mestre Raymundo Aguiar. Em plena atividade ele está entregando um a um os
convites de sua mostra porque" não confia nos correios".Serão mostrados 52 trabalhos em
gravura e pintura de interiores e paisagens.
MOSTRA EM ILHÉUS- RAG está
promovendo uma coletiva com trabalhos de J. Arthur, Edson da Luz, Nide, Ademar
Lopes, Maria Elvira e muitos outros. A mostra será aberta no próximo dia 9 de
setembro e tem participação especial de Prates. O RAG está levando a arte para
o interior. Já promoveu uma mostra em Valença e agora vai para a terra do
cacau.
IMOBILIZADAS- Uma pintura
expressionista, em cores cruas. As figuras humanas imobilizadas em grandes
espaços vazios. São obras de Wilson Garoges Nassif, expostas na Galeria da
Funarte Sérgio Milliet. Sessenta trabalhos, sendo 30 desenhos e 30 pinturas.
PINTORA E RESTAURADORA- A artista
Noélia de Paula está trabalhando na restauração de importantes objetos de arte
na Catedral Basílica.Com uma formação estruturada,
inclusive trabalhou durante nove anos na Europa, ela está realizando
paralelamente um trabalho pictórico com uma linguagem universal. Ela comprovou
a imagem que existe em determinados setores artísticos europeus, que acreditam
que em nosso país subsiste uma arte pobre, isto porque muitos turistas que aqui
aportam retornam levando consigo quadros primitivos de qualidade duvidosa.Noélia está vinculada à Empresa
Gráfica da Bahia, embora trabalhando na Catedral.
LUGMAR- Os mineiros descobriram a
Bahia. Alguns deles já participaram de coletivas organizadas pela Galeria
Panorama e também de indivíduais. Esta é a primeira individual de Lugmar, na
Bahia, sobre o qual escrevi : "Existe no seu trabalho uma individualidade tão
necessária a um artista que se preza. Lugmar nos mostra a exuberância do
colorido tropical. As manchas mais claras que surgem dos morros criados por
Lugmar nos dão a necessária leveza e vontade de procura dos campos."
Estas palavras acima estão
contidas em seu catálogo juntamente com considerações de outros críticos.
Conheço alguns trabalhos de Lugmar de outras mostras e os que integram esta
individual. São realmente de qualidade. Cores fortes que traduzem toda a
pujança de sua capacidade criativa.
GRÁFICAS MINEIRAS- Por duas vezes
fui vítima de erros em catálogos de artistas mineiros sobre os quais emiti
opiniões. No catálogo de Cristiano inadvertidamente colocarem espontânea e
espectador escritos com x em vez de s. Agora no de Lugmar também veio um erro,
pois a palavra preza está grafada erradamente com s.
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