JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 20 DE MAIO
DE 1978
A mostra de Justino Marinho é
composta de 32 desenhos sob o título Bandidos ou Heróis?, onde procura um
diálogo com o público através de suas figuras mudas. Um diálogo onde o
entendimento e as consciências falam mais alto que as palavras, que por ventura
estivessem nas legendas dos quadros ou fossem pronunciadas pelos presentes e
visitantes. Um diálogo onde o visual penetra através das retinas e vai bulir
com as consciências.
Diz Justino que "os meus desenhos
não têm, cada um, especificamente, títulos. Não precisa, por que muitas vezes um
título destoa completamente do trabalho de arte. O que é preciso observar é a
evolução no trabalho de transposição de figuras e também na sua técnica cada
vez mais apurada."
O uso na cor do trabalho é uma
decorrência do próprio risco, porque ele não procura combinar uma cor com
outra. "Procuro é criar um clima, através da cor, que expresse melhor as minhas
intenções, dentro do trabalho. A cor não é para enfeitar e sim para ser usada
como força para uma maior expressão", afirma
Sabe também Justino que a função
do artista é procurar alertar às pessoas para a realidade que lhes cercam. Para
as situações que estão por aí e que muitas vezes somos envolvidos. Muitas
dessas vezes por livre vontade, e outras, forçosamente. Ele mesmo sofreu certa
vez um sequestro enfrentou sérias dificuldades, as quais só pensava existir nos
filmes americanos ou nas páginas dos noticiários internacionais.
Partindo deste conhecimento
Justino denuncia a violência existente no mundo de hoje e faz algumas
perguntas: Por que se mata? Por que se destrói o ser humano? Não existem
respostas convincentes. Nem mesmo aqueles que defendem uma determinada ideia. A
vida humana é algo que deve ser preservada e deve estar acima dos ismos. A
violência deve ser abandonada, denunciada, como faz agora o Justino Marinho.
Ele sabe que o que mostra agora não é novidade para muitas pessoas. Mas sabe
também que não pode calar porque este é mais um grito, entre tantos já dados.
Justino parte da fotografia como
se fosse um esboço de desenho, e ai faz uma composição de alto nível. Um
artista que brinca com as imagens e nesta brincadeira ele assume uma posição de
porta-voz dos fatos que nos chegam através do vídeo e das letras impressas nas
rotativas. Um artista perfeitamente integrado com esta década cheia de
violência e desumanidade.A mostra do Justino será no
próximo dia 26, na Mini Galeria Acbeu, na Vitória.
OS HUMORISTAS BAIANOS VIAJARAM
Humor, preocupação com a ecologia
e o maior convívio do homem com a natureza, são a tônica do Salão de Humor e
Ecologia que permaneceu durante toda a semana na sede baiana da Aliança
Francesa, na Barra Avenida. A mostra com 71 desenhos de 42 humoristas
brasileiros de diversos estados veio de Recife e seguiu para Brasília e daí
para Belo Horizonte, Rio, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. Entre os
criadores dos desenhos, que abordaram a temática Ecológica com espírito de
renovação e crítica, utilizando técnicas simples como o carvão, o guache e o
lápis de cor, estão Jaguar, Henfil, Caruso, Nani, Marques, Mário Vale, Miran
Piska e Luís Fernando Veríssimo, Laje e Nildão, os dois últimos baianos.
Entre os desenhos escritos a
constante preocupação com a destruição da natureza pelo homem e
consequentemente do próprio homem.
Charge de Lage que publicava suas obras no jornal Tribuna da Bahia |
Num desenho de Henfil em que
mostra os animais marítimos repetindo a cena bíblica da Arca de Noé em razão da
poluição das águas. Noutro o mais agressivo, Miran mostra a necessidade de se
recriar o verde nas cidades, mostrando uma mulher que pega o vaso, do qual se
expande uma planta por toda a cidade, rompendo os edifícios e destruindo o
asfalto.
Num desenho de grande beleza a
poesia, Mário Vale com cores suaves, rosa e o verde oliva, mostra um passarinho
com lágrimas nos olhos, tendo na mão o ninho com dois pintinhos, num apelo mudo
ao homem, que machado em punho havia cerrado a árvore, sua moradia.
Outro verdadeiro grito de revolta
contra a destruição da natureza pela poluição é o Pequeno Príncipe, de Ubarte,
que é obrigado a fugir, levado por pássaros do seu universo, todo coberto de
lama.
De Nildão dois desenhos de muita
expressão que revelam uma árvore destruída pelo machado e noutro a sombra da
morte rondando a natureza.
Mino, vai mais adiante. Num lay-out
do OX-Gênio, a possível nova fórmula infalível contra a poluição, se a ecologia
continuar sendo afetada da maneira brutal como ocorre nas grandes cidades. Ao
lado da foto do produto uma mensagem: Houve um tempo em que falar da poluição
era moda. Os artistas, os intelectuais, principalmente os humoristas, eram os
que mais badalavam a poluição e seus maléficos. Diziam até que seria o fim do
mundo, em outras palavras. No entanto, o mundo continuou apesar de todo o
agouro dessas pessoas metidas a intelectuais. E poluição hoje em dia é apenas
um dos males que vieram para o bem, pois graças a ela surgiu OX-Gênio, a
maneira sensacional de respirar. OX-Gênio é ar puro em spray contendo ardil o
mais perfeito agente anti-atmosferizante, já a venda em todos os supermercados.
Para você tod a sua família no camping, ou na cidade, use OX-Gênio. lembre-se: Enquanto há vida há esperança. Se o ar for OX-Gênio, é claro.
FOTOGRAFIAS DE SÍLVIO ROBATTO NO MAM-BA
O Museu de Arte Moderna da Bahia
está realizando a Exposição Fotográfica Um Oceano Que Nos Une com trabalhos de
Sílvio Robatto.
A mostra, que se estenderá até o
fim do mês em curso, registra atividades de trabalho, folguedos e cultos
religiosos realizados nas praias do litoral africano e Bahia, tentando
enfatizar as semelhanças do povo, das paisagens e dos métodos de trabalhos, e é
constituída por 20 fotografias de grande formato, montadas numa ambientação
expressiva.
A iniciativa da exposição partiu
da Diretoria da Difusão Cultural do Estado da Bahia como parte das atividades
comemorativas dos 90 anos de Abolição da Escravatura no Brasil.
As fotografias da África são
parte do acervo fotográfico realizado por Sílvio Robatto nas diversas viagens
que realizou durante a fase preparativa do Festival Internacional da Arte e
Cultura Negras e Africana, enquanto que as fotografias da Bahia foram tomadas
nas praias de Mar Grande e da Mesquita, sobretudo durante o ciclo das festas de
culto dos orixás e santos ligados ao mar.
Concordo com a capacidade
criativa de Sílvio Robatto e mesmo com a sua boa intenção, mas não posso deixar
de fazer daqui um registro. É que a pauta para os artistas exporem no Museu de
Arte Moderna, na capela ou mesmo no grande salão do Unhão, é disputada e muitos
não tem vez. Por isto estranho que num curto espaço de tempo Sílvio, que é
dirigente do museu, realizou duas exposições de suas fotografias.
PAINEL
NETO -Meu povo, minha terra, minha
gente...assim a Fundação do Museu da Cidade está convidando para a exposição de
Neto. É a sua décima exposição. Retrata com humanismo a realidade.
RETRATOS- A Galeria Cañizares
apresenta exposição de C.Lauria desde ontem. São retratos cheios de imaginação.
Já o conheço, quando na realização do Salão Universitário.É um jovem artista
talentoso.
GRANDE ACONTECIMENTO- o prefeito
da Cidade e a Secretária de Educação professora Maria Stela Santos Pita Leite
estão convidando o público baiano para a inauguração no Núcleo de
Arte/Educação- Nuclearte que ocorrerá no próximo dia 21, ás 15 horas, no Parque
da Cidade. É talvez o acontecimento mais importante ligado a arte e a educação
na Bahia este ano. Ali serão desenvolvidos importantes programas iniciando as
crianças nas artes. O convite já é sugestivo. Foto I.
CALÁ- recebo um catálogo a
exposição do gravador Calasans Neto onde figura uma apresentação poética de
Vinícius de Moraes, sobre as baleias que habitam o território livre de Itapuã.
Ele vai expor na Galeria Casa Grande, em Goiânia, a partir no próximo dia 24.
respondendo a uma indagação de Vinícius o Calá responde: "Aquilo, o ignorante
Aedo e súbito é o cetáceo mamífero do período eocênico a que chama a baleia,
que sem ser bonita também não é feia, eu diria mesmo que é engraçadinha, e tem
toda pinta de bem educada, só de uma puxada come mil sardinhas."
ROLANDO VILA- as pinturas deste
artista estão na Panorama Galeria de Arte. É um peruano, que traz uma
apresentação de Marcelo Santos, do Recife que diz : "Não é um vanguardista. Nem
pretende sê-lo. Não propõe fórmulas ou idéias novas."
ARTE VIDA INTERIOR- É notícia o
Roberto Araújo mais conhecido por Rag que ajudou tantos e tantos artistas
jovens na Bahia e acabou enfrentando sérias dificuldades financeiras. Um
valenciano invencível. Agora, abriu uma pequena galeria em sua cidade a qual
deve ser prestigiada pelas autoridades locais, e principalmente, pelas pessoas
mais esclarecidas de sua terra natal. Roberto é um idealista, um homem capaz de
de resistir às injustiças e outros bichos tão presentes nesta década. A galeria
já está funcionando e fica na Rua Conselheiro Ferraz, 14. Entre os expositores
estão: Antoneto, Ademar Lopes, Benedito Barreto, Calixto Sales, Edison da Luz,
Enelê, Edmundo Simas, Hansen Bahia, Iuriku, Juarez Paraíso, Joselito Duque, J.
Arthur, Maria Elvira, Nide, e Rescála. Foto II.
O CASAL- Lúcia Goodgroves e
Sámenezes estão expondo na Le Dome Galeria de Arte suas tradicionais telas
retratando os casarios e ruas da cidade. A mostra foi aberta na última
quinta-feira e permanecerá por vários dias..
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