JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO 30 DE
SETEMBRO DE 1978
Existe uma comunhão entre a obra
e a pessoa de Gilberto salvador. Uma união onde não podemos conceber a obra
sem o complemento de sua consciência
profissional em defesa do artista e de princípios nobres da profissionalização.
Um artista que está devidamente consciente do seu papel dentro da sociedade e
principalmente sobre a utilização da arte plástica como meio de expressar suas
ideias. Seu trabalho portanto é fundamentado num discurso e para isto é preciso decodificá-lo, pois assim
descobrimos muitas afirmações ali contidas.
Conversei algum tempo com
Gilberto Salvador em casa de seu amigo, e também artista, Leonel Brayner. Discutimos vários pontos de vista
e chegamos a muitas conclusões comuns aos três. Tudo gerou em termos da arte,
mercado baiano, a arte feita na Bahia, Bienal Latino-Americana e outros
assuntos. Em cada ponto Gilberto sempre apresentava uma posição coerente com
seu trabalho e seu modo de encarar a realidade.
Este artista é um dos mais
consagrados em São Paulo. É arquiteto e paisagista formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de
São Paulo e já participou de bienais e várias coletivas e individuais. É ainda
professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Santos. Já ganhou prêmios
em bienais e salões.
Além de sua atividade como
artista plástico, Gilberto Salvador teve um período de trabalho ligado à
arquitetura, que influiu muito em sua obra artística.
Foram pesquisas de materiais para
paisagismo, a partir do levantamento junto aos índios caiçaras, na região de Bertioga
e São Sebastião, assim como Serra do Mar, Baixada Santista e Planalto.
Nesta mostra da Galeria O
Cavalete observamos o quanto essas fases de pesquisas influenciaram em sua
temática, que se volta para a natureza recriada inventivamente com desenhos
realísticos de mistura a outras imaginárias.
Em suma, as obras deste artista
constituem-se numa síntese de suas experiências vivenciais e artísticas.Gilberto Salvador faz uso de técnicas
mistas, nas quais entram colagens,
fotografias, desenhos e pinturas com diferentes pigmentos sobre suportes lisos
ou ásperos, mostrando-se o tempo todo em muito bom nível, de quadro para quadro
a qualidade permanece.
Afirma Gilberto que "a arte é um
elemento de transformação. Eu vejo a obra de arte como uma pequena semente.
Mesmo a televisão nesse sentido, deveria ser uma expressão de arte, mas teria que
ser mais livre e menos compromissada, para se dar como tal, pois a arte deve
nascer com as pessoas, por esse motivo, eu não aceito nem a arte oficial nem
oficiosa. Ela deve ser, acima de tudo, o elemento de motivação ao nível do
sensível. E na pode ser barrada por nenhum preconceito ou censura."
Esta declaração do artista
Gilberto Salvador reflete bem as intenções de sua obra que não tem um caráter
meramente decorativo ou ilustrativo, mas sim, como elemento de transformação e
de enriquecimento nossa arte.
decadência, por este motivo é que o pintor relembra 1965 e sua primeira individual, na Galeria do Teatro de Arena, como um momento panfletário na sua obra, e explica : "Na verdade, seria mesmo um engano conceitual com o qual me envolvi, mais pelo sentimento de grandes angústias e por uma forte
E, à medida em que coloca, em seu
trabalho, a constante preocupação no
sentido novo, Gilberto Salvador fica ainda mais distante de qualquer forma
artística acadêmica: "Não há academicismo, desde o momento em que se é dinâmico,
em que se atua num sentido de quebrar fórmulas. O que não quero é, deixando de
ser acadêmico, cair em um maneirismo. É discutindo, correndo o risco de
mostrar, de ser criticado e absorver tudo isto, que fico impedido de cair num
ritmo maneirista. Acho esta palavra bem acertada para o caso."
É um dos artistas convidados para
participar da lª Bienal Latino-Americana
vem se destacando por um trabalho totalmente voltado para o aspecto da
preservação. As últimas exposições do artista
emfocavam aspectos da natureza e seus prolongamentos, tais como plantas,
pássaros e o indígena entrou como um prosseguimento natural destes
prosseguimentos atingindo uma área que é hoje uma das mais passíveis de
destruição pela sistemática de aproveitamento do solo que se faz no Brasil.
Neste aspecto diz Gilberto Salvador: "O meu trabalho vem se desenvolvendo na área
da preservação do meio ambiente e o indígena brasileiro não foge a esta regra,
ou melhor dizendo, é o que mais sofre pelo fato de seu habitat estar vulnerável
a interesses que estão acima da memória e do respeito pela qualidade de vida no
Brasil, interesses estes que foram sempre subsidiados, direta ou indiretamente,
pelo sistema, dentro deste panorama é fácil localizar a devastação cultural e
ambiental por que passam os indígenas. De uma forma ou outra isto me
sensibiliza e como artista plástico reajo com o meu trabalho, aproximando-me o
máximo possível de aspectos da memória indígena que vão de encontro à linguagem
plástica os meus trabalhos, logo estes trabalhos que apresento agora são uma
seqüência direta do que vem se desenvolvendo, mas marcadamente da mostra da
última Bienal de São Paulo (1977) onde homenageei os irmãos Orlando e Cláudio
Villas Boas, com quatro painéis sobre a temática indígena."
NOVA GALERIA EM NOSSA CIDADE
Uma exposição coletiva de
professores da Escola de Belas Arte da UBba., marcou ontem a inauguração da
Kompasso Galeria de Arte, na Rua Amazonas, 1.315, Pituba. Esta será,
provavelmente, uma mostra importante, pois reúne trabalhos de 26 professores da
Escola de Belas Artes, Incluindo pintura, escultura, cerâmica, gravura e
desenho. Dos expositores participantes, os destaques são para os professores
Juarez Paraiso, Mário Cravo Júnior, Réscala, Riolan Coutinho, Emídio Magalhães,
Graça Ramos, Jamison e August Buck.
A galeria é parte da Kompasso
Escola de Arte, que já funciona com vários cursos livres e, além de pretender
constituir este local como estímulo para futuras exposições de trabalhos dos
seus alunos, quer passar a ser um novo ponto de encontro das pessoas ligadas á
arte na Bahia. Em verdade, a metodologia do ensino de artes que a Kompasso vem
pretendendo imprimir já chega a ser bastante inovador, pois, como afirma uma de
suas diretoras, a professora Else Coutinho Matos, partimos da ideia de que
todas as manifestações artísticas, embora distinguindo-se características
próprias em cada uma delas, originam-se em poucos comuns: forma, espaço, tempo.
Assim, a integração Artística é uma das atividades básicas para os alunos da
Kompasso, independente do curso que freqüentam: dança moderna, ballet, jazz,
discoteca, decoração e, mais recentemente, Curso de Preparação para o Teste de
Aptidão Artística de vestibular da UFBa.
ESCULTURA DE FERRO DE MARK DI SUVERO
PAINEL
CESARIO- O artista Edson
Cesario fez uma exposição no Gabinete Português de leitura onde mostrou alguns
de seus novos trabalhos com temática paisagens e interiores. É um jovem bem
intencionado que começa a trabalhar com os pincéis, mas ainda tem muito o que
apurar sua técnica. Foto
SALÃO- Um coquetel marca hoje o encerramento do I Encontro de Arte da Fumcisa, quando será lançado o livro Zé Limeira, Poeta do Absurdo, do escritor paraibano Orlando Tejo. A promoção é da Fundação Museu da Cidade.
DOCUMENTÁRIOS- A Associação
Cultural Brasil-Estados Unidos e o Clube de Cinema da Bahia estão convidando
para a mostra de quatro documentários, de origem norte-americana, premiados no
Festival do Filme Científico-1978. No dia 3 de outubro das 19 às 21 horas serão
exibidos os filmes no ICBA: Marte Sem Mito, da Churchill, de Rita R. Colwell; Bioluminescência: a Luz no Mar, de Thomas Craven Film Production, e Vulcão: o Nascimento de Uma Montanha, de Bert Van Bork.
FOTOBAHIA-78- Termina hoje a
mostra dos fotógrafos baianos reunidos na FotoBahia-78 no foyer do Teatro
Castro Alves. Vale a pena aproveitar e dar uma olhada. Parabéns aos fotógrafos
pela qualidade do trabalho apresentado, especialmente quando visto em conjunto.
ESCOLA TÉCNICA- Promoveu a
Artexpoema com exposição de poemas e artes plásticas, ontem pela manhã.
TROFÉU IMPRENSA- Hoje, em Ilhéus,
vários jornalistas estão recebendo o Troféu Imprensa e paralelamente será
realizada uma exposição promovida por Roberto Araújo, da ex-galeria Rag, que permanecerá aberta até o
próximo dia 10 de outubro. Reúne trabalhos de Antoneto, Ademar Lopes, José
Artur, Juarez Paraíso, Edson da Luz, Joel Estácio, Edmundo Simas, Enele, Nidi,
Maria Elvira, Benedito Barreto, Prates, Calixto Sales, dentre muitos outros.
ALBERTO ELIAS- Abriu mostra com
patrocínio da Le Dome Galeria de Arte no Gabinete Português de Leitura. São
trinta trabalhos em entalhes.
JOSÉ CARRERA- Está expondo
marinhas na Galeria Panorama.
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