JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO 17
DE JULHO DE 1976
Um trabalho cuidadoso e criativo
do artista Guel. Às vezes incompreendido por utilizar materiais e instrumentos
surgidos há pouco tempo. Como se o pincel fosse o único instrumento válido para
um artista plástico. Na realidade um velho preconceito que aos poucos vai sumindo. E
este artista certamente tem contribuído, aqui na Bahia, para dirimir certas
dúvidas devido a qualidade do seu trabalho. "Em arte o importante não é o
material e sim o resultado que se consegue", sentencia Guel. Realmente o
resultado que ele vem conseguindo com a utilização de máscaras e spray está
confirmando sua contundente afirmação.
Outro ponto a ser levantado é que
a arte acompanha e deve acompanhar o desenvolvimento da tecnologia. As tintas
surgem em outras tonalidades e com substâncias químicas que lhes dão mais
brilho, maleabilidade, consistência e os pincéis são sofisticados. O gravador
encontra dezenas de instrumentos que lhes permite elaborar melhor seus cortes retos
e curvos. E Guel encontra o spray, desenha e constrói suas máscaras para
elaborar belas e suaves telas onde o cuidado está presente ao lado da criação.
É um artista preocupado em acertar, em fazer um trabalho digno de ser consumido
e admirado.
Antes de fazer qualquer quadro
Guel desenha e faz as máscaras as quais serão gravadas na tela com a utilização
do spray. Usa o spray, o compressor, as máscaras e também o pincel.
Revela o artista :"Antes eu pinto a
tela na cor desejada. Pego o spray e começo o meu trabalho. Acontece que
ultimamente venho utilizando muito o pincel. Mas certamente ninguém consegue uma
transparência maior a não ser com o spray."
Realmente Guel consegue com spray
uma suavidade e uma beleza total em seus quadros, que sugerem figuras de aves,
nuvens e mesmo geométricas. Seus quadros descansam as vistas do espectador
acostumados a ver concreto e carros trafegando em velocidade. É uma pintura
tranquila, equilibrada, o que revela de certa forma a sua personalidade. Você
ao examinar um quadro do artista descobre figuras, coisas que vão se
multiplicando à medida que seus olhos descansam com as tintas tênues e em
perfeita harmonia.
Guel sempre parte da natureza,
porque acredita que aí está toda a beleza da Terra. Parte portanto de uma
figuração que se transforma em quase abstração. Não faz questão que seu
trabalho seja figurativo ou que pertença a este ou aquele estilo. O que lhe
interessa é criar, pintar e conseguir cada vez mais uma depuração.
Vem desenhando muito e isto de
certa forma é revelado através do exame de alguns de seus trabalhos antigos em
relação aos atuais.Nesses últimos notamos uma
tendência maior ao figurativo, uma consequência do exercício da arte do
desenho.
Para aqueles que não o conhecem,
Guel é filho de Jenner Augusto o qual respeita e considera como colega de profissão.Tem admiração pelo trabalho de
seu pai. Os pontos de vistas e os caminhos artísticos são percorridos
paralelamente. Porém, individualmente. Seus (deles) trabalhos diferenciam-se na
forma e no conteúdo. Um maduro outro jovem, porém, a identidade está no talento.
TRABALHOS DIDÁTICOS
Quarenta trabalhos didáticos do
artista Sérgio Rabinovitz estão expostos no Museu de Arte Moderna da Bahia,
Solar do Unhão. Sérgio é um jovem artista que ainda tem muitos caminhos a
percorrer em sua trajetória na busca de um amadurecimento artístico. Basta
dizer que sua carreira foi iniciada em 1971, quando trabalhou no atelier do
gravador Calasans Neto de 1974
a 75 . Agora encontrei o Sérgio no atelier de Mário Cravo
Júnior, fazendo uso dos equipamentos ale existentes, praticando a gravura. Em 1975 viajou para os Estados Unidos, depois de mostrar algumas gravuras na
mini-galeria da Acbeu. Seguiu com bolsista do Governo americano para a
Universidade de Wesleyan, no Estado de Connecticut, onde estudou e trabalhou pelo
período de um ano no Departamento de Artes. Atualmente o artista está New York,
trabalhando e estudando na Cooper Union School of Arts, importante centro de arte
contemporânea dos Estados Unidos.
Noto nos trabalhos de Sérgio
Rabinovitz uma tendência natural do homem em gravar no papel ou na madeira
utilizando instrumentos que lhes chegam às mãos com naturalidade. Esta
necessidade inerente ao ser humano em marcar, em riscar sem uma preocupação com
formas.Simplesmente riscar. Evidente que
esta naturalização é feita com consciência, com um viver individual de um
artista que deseja despojar-se de tudo aquilo que tem dentro de si para
transmitir através dos seus traços, manchas e riscados que muitas vezes
sugestionam involuntariamente formas geométricas.
É o exercitar para aprender e
acrescentar. Não podemos considerá-lo um artista pronto, acabado ou mesmo
maduro. Mas um jovem talentoso que faz força para dar o seu recado. Noto em
alguns trabalhos certos descuidos, como manchas indevidas ou mesmo um certo
desentrosamento no ritmo e na manipulação de instrumentos. Porém, o seu
trabalho, que é didático deve ser visto por este prisma, é um jovem estudante
que está num importante centro de arte contemporânea rompendo com o
tradicionalismo da figura ou uso do pincel.
Você é capaz de notar a solidão
de Sérgio em New York
através dos expressivos trabalhos feitos por lá.
É a ligação com a Bahia, uma
lembrança que atormenta a todos aqueles que deixam seus lares e vão enfrentar
uma cidade como New York. Majestosa e desumana. Uma grande jaula. É neste
ambiente que Sérgio procura expressar o seu inconformismo, a sua solidão e aí
vai desenvolvendo a sua criatividade em busca da espontaneidade. Deixa a mão
correr com um lápis ou outro qualquer instrumento a ferir o papel, a madeira ou
o metal. Gostei do trabalho do Sérgio e acredito que tenha evoluído em relação
à sua primeira exposição.
Os homens estão mudando o curso
do Velho Chico, os costumes dos barranqueiros e dos velhos pescadores. Em nome
do progresso surgem barragens, hidroelétricas e imensos lagos que mais parecem
mar. Mas os artistas estão aí para levar à tela os costumes desta gente e a sua
identidade com seus instrumentos utilitários. É o caso de San Duarte um autêntico barranqueiro que capta o
essencial do povo da região sanfranciscana e leva para a tela. Agora ele está
realizando mais uma exposição numa promoção da Prefeitura de Juazeiro, como
parte dos 98 anos de sua emancipação política.
CRAVO NETO PREMIADO
Mais uma vez o artista premiado
Mário Cravo Neto é premiado.Desta vez com o Coruja de Ouro
devido as fotografias do filme A Lenda de Ubirajara, que foi dirigido também
pelo baiano André Luís Oliveira. Todos consideram as fotografias de Mário de
excelente qualidade além de um invejável clima poético.
Ele seguiu ontem, para São Paulo
a fim de receber o prêmio e logo a seguir viajará para a Alemanha. É realmente
um artista em ligeira ascensão.
ARTESÕES EM SERGIPE- A I Exposição do
Artesanato Sergipano- Expoarte já conta com a participação assegurada de
Carrapicho, o maior e mais importante artesão em cerâmica, com as bordadeiras
de Japaratuba e de Propriá . A exposição está sendo promovida pela Empresa
Sergipana de Turismo e será realizada de 19 a 29 do corrente mês na rua João Pessoa,
tradicional ponto de encontro da intelectualidade sergipana.
CARL BRUSSEL - Foi
inaugurada no último dia 16 a
exposição de Carl Brussel na Galeria O Cavalete, no Rio Vermelho. É um artista
que vem trabalhando há vários anos, já tendo realizado algumas exposições e que
agora mostra todo o desenvolvimento de uma técnica e sua arte.
HOMENAGEM A EULER PEREIRA-
Sem dúvida Euler de Pereira Cardoso contribuiu para o desenvolvimento das artes
plásticas na Bahia, através de um núcleo que fundou na antiga Galeria Panorama,
hoje funcionando na Barra. Faleceu recentemente, e logo após a sua morte
escrevi algumas palavras sobre o seu trabalho. Agora organizaram uma
retrospectiva que está aberta na Galeria Panorama de óleos, guaches, bicos de
pena de sua autoria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário