JORNAL A TARDE,SALVADOR, SÁBADO, 27 DE MAIO
DE 1978
Barcos à beira mar num dia de calmaria |
Disse um político mineiro que o
homem não tem culpa de três coisas na vida: a cor da pele, o sobrenome que
carrega, nem o lugar onde nasceu. Esta frase é suficiente para entendermos o
papel de Guel, filho de um pintor famoso. Um jovem artista que carrega consigo
um peso por ser filho de Jenner Augusto. Muitos não entendem a ponto de
questionarem a sua presença nas galerias com quadros a óleo que aos poucos
estão sendo procurados por colecionadores. Mas ele está chegando e veio para
ficar com seus barcos tranquilos que estão ancorados em praias alvas banhadas
por um véu de águas e céu azuis. Não
importa de onde vieram os barcos. Se vieram de Sergipe, do Rio Vermelho ou de
qualquer outro lugar deste país imenso. O que na realidade interessa é que eles
chegaram calmos e aqui encontraram lugar adequado para se desenvolverem. Sim
através das pinceladas cuidadosas de Guel. Aqui os barcos encontram as casinhas
paradas e quase escondidas em meio à vegetação e o areal.
E, ninguém pode negar que o
trabalho de Guel vem melhorando. Um desenvolvimento de habilidade consciente em
busca de uma realização íntima focada em sua sensibilidade de artista. Venho
acompanhado há alguns anos a sua obstinada vontade de vencer. Começou com umas
gravuras, que seu pai me mostrou certo dia. Eram tímidas, como ele é. De
repente apareceram os trabalhos em spray. Sempre em cores tênues e explorando a
calmaria. Agora pela segunda vez nos mostra os barcos, que aos poucos vão singrando
os mares em busca de uma maturidade pictórica. Ele vai longe porque é
disciplinado e o artista precisa de disciplina e método para ter uma produção
regular e um trabalho amadurecido. É um dos jovem artista baiano que tem
futuro certo. Não por ter um pai famoso, por que muitas vezes isto funciona como
um estigma e as pessoas sempre exigem mais de um filho de um profissional
reconhecido, inclusive é uma coisa muito difícil de romper.
Lembro aos que o censuram que
muitos estão no mercado fazendo um trabalho de qualidade igual ou inferior aos
de Guel, e ninguém fala coisa alguma. Mas, quando ele espõe vêm os comentários,
falsos, que certamente serão dissipados
o decorrer dos anos.
NOVA GALERIA EM SALVADOR
Está residindo em Salvador Riitta
Kohanevic que tinha em São Paulo a Galeria Proarte. Ela está reformando
uma casa defronte a Pousada do Carmo para instalar sua nova galeria.
Porém ,como não pode parar a
Riitta está expondo cerca de 40 trabalhos de seu acervo na Galeria Pousada do
Carmo. São trabalhos considerados de nível dos seguintes artistas:
ANDRÉ DENIS- Nascido em Paris,
frequentou a Escola de Belas Artes em Paris. Escultor ,
pintor e gravador com várias exposições. Ele participa nesta mostra com
monotopias.
Menina com Boneca,de Edir |
LIZAR- Paulista, autodidata,
pesquisador incansável do ritmo e movimento. Participou em várias exposições e
2 últimos Bienais de São Paulo.( Foto ao lado)
MARINA REIF- Autodidata. Polonesa
de nascimento e Paulista por opção. "Ela não polemiza mas apenas interpreta com
uma sensibilidade comovente todo este mundo-humano-industrial "escreveu Theon Spannudis,
critico da arte. Ela obteve vários prêmios e medalhas em concursos e Salões e
fez 3 exposições em São
Paulo e participou em várias coletivas fora do Estado.
RESULTADO DO VI SALÃO JOVEM DE SANTOS
Saiu o resultado do concurso do
VI Salão Jovem do Centro Cultural Brasil-Estados Unidos, de Santos, São Paulo.
Nenhum baiano foi premiado. Inscreveram-se no Salão 197 pintores de 10 estados do Brasil, somando um total de 591 trabalhos. Foram aceitos 57 artistas e 161
trabalhos sendo recusados 140 artistas e um total de 430 obras. Vários artistas
baianos enviaram trabalhos e foram eliminados com exceção de Luiz Fernando
Pedrosa, de 29 anos. Da cidade de Santos foram aceitos 9 artistas, sendo dois
premiados e a maior participação foi de São Paulo (capital). Os artistas
receberão seus respectivos prêmios no dia 5 de junho, às 20 horas, na Galeria
de Arte do Centro Cultural Brasil-Estados-Unidos, em Santos. Eis a relação
dos artistas participantes e os premiados.
Ângelo Tokutake - 28 anos São
Paulo-SP; Carlos Augusto de Carvalho- 27 anos- Santos-SP; Carlos César da Cruz-
21 anos- Goiânia- GO; Carlos Manuel Souza Batista- 29 anos- Santos-S.P; Carlos
Wolney Soares- 29 anos-B. Horizonte-MG; César Caetano Mattos- 26 anos- S.
Paulo; Charbel Hanna El Outra- 27 anos-S. Paulo. S.P. PRÊMIO CCBEU - Cr$20.000;
Daniel Firmino da Silva- 29 anos S. Paulo-S.P- PRÊMIO PAIVA E CIA - CR$8.000;
Deborah de Almeida Ribeiro-23 anos- Campinas S.P; Décio Lima Beck- 29 anos
S.Paulo-SP; Dionísio Jacob- 27 anos- S. Paulo- S.P; Eduardo Costa Lima- 24
anos- S. Paulo-S.P; Elvio Pereira Braga- 18 anos- Goiânia-GO; Fernando Penteado
Millan- 26 anos- S. Paulo-S.P; Flávio Ferraz Lima- 28 anos- Rio de Janeiro-RJ, PRÊMIO BANCO LAR BRASIL. CR$8.000- São Paulo- S.P.; Francisco Gonzalez- 2 anos- S.
Paulo- S.P; Guinter Parschalk- 24 anos- S. Paulo; Hélio Gardinalli- 19 anos-
Santos. S.P;Hironobú-Kai- 23 anos- S. Paulo; Inácio Zatz- 22 anos- S. Paulo-
S.P; João Carlos Gonçalves- Santos- PRÊMIO PREMEM. José Wenceslau Ventura- CR$ 8.000;
José Carlos da Silva- 26 anos- S. Paulo- S. P; José Hélio Silveira Leite- 29
anos- Campinas- S.P; Lúcia Helena Reily- 26 anos- São Paulo-S.P; Lúcio Maria
Morra- 26 anos- Santos-S.P. PRÊMIO SECTUR- CR$ 8.000; Luiz Eduardo Pontual
Marx- 25 anos- S. Paulo- S.P; Luiz Fernando Pedrosa- 29 anos- Salvador-Ba; Luiz
Ferrari de Ulhoa Cintra- 23 anos S.Paulo-S.P; Luiz Roberto Mendes
Gonçalves- 27 anos- S. Paulo- S.P; Luiza Regina Fernandes Ferreira da Costa- 28 anos- S. Paulo-S.P; Márcio Geraldo
da Silva- 20 anos- Santos-S.P; Marco Antônio Rossi- 26 anos- Santos. S.P,-
MENÇÃO HONROSA; Marcos da Silva Prado- 28 anos- S. Paulo- S.P; Maria Irene da
Silva Ribeiro- 29 anos- S. Paulo- S.P, Maurício Antônio Nacif- 24 anos-
S.Paulo-S.P; Newton Mesquita- 29 anos- S.Paulo-S.P; Newton de Oliveira- 4 anos-
S. Paulo- S.P; Osmar de Castro- 20 anos- S. Paulo- S.P; Osmar Buono- 21 anos-
S. Paulo- S.P- PRÊMIO ITAIPU- imp. Export. S/A.-CR$8.000; Paulo Penna- 21 anos-
S. Paulo S.P;Paulo Vinicius Pinheiro Peoro- 18 anos- S. Paulo- S.P; Pedro
Alberto de Souza- 24 anos- S. Paulo- S.P. PRÊMIO EWALDO BOLIVAR DE SOUSA PINTO-
Cr$8.000; Pedro Sanches- 25 anos- S. Paulo-S.P;Renato Di Ranzo- 25 anos-
Santos- S.P; Ricardo Aprígio Fonseca Ferreira- 24 anos- S. Paulo- S.P. MENÇÃO
HONROSA; Roberto Sandoval- 24 anos- S. Paulo- S.P. PRÊMIO JORNAL A TRIBUNA DE SANTOS, CR$8.000; Romão Bertoncel- 28
anos- S.Paulo- S.P; Selma Daffré- 27 anos- São Paulo-S.P; Sérgio Dantas
Miranda- 23 anos- Santos- S.P; Sérgio Niculithcheff- 18 anos- S. Paulo-S.P;Takashi Fukushima- 28 anos
S.Paulo. S.P; PRÊMIO ERMÍNIO BOZO- CR$8.000,00; Tito Luiz Fadel Camargo- 24
anos- S. Paulo; Vera Rodrigues- 24 anos- S. Paulo-S.P; Waldery de Almeida- 29
anos- Vicente de Carvalho- S. Paulo e Walter Luís Lopes de Miranda- 24 anos-
São Paulo-S.P.
EXPOSIÇÃO DE ANTÔNIO MAIA EM
BANGKOK
As cabeças não ouvem mas
continuam nos olhando com seus olhos brancos de pupilas escuras. O que passarão
essas cabeças sem pelos nem ouvidos, esses rostos caiados ou cor de madeira,
isentos de sobrancelhas ou barbas? As cabeças que foram ex-votos,
hoje mais se assemelham-se às dos monges budistas, envoltos em sua túnicas
amarelas, que a gente vê de longe e sente que estão nos vendo. Isto porque o
pintor Antônio Maia está em Bangkok visitando seu amigo e pintor Juca.
As cabeças de agora foram
pintadas aqui, neste antigo Reino do Sião, hoje Tailândia.
As cores de Antônio Maia
continuam límpidas. Apareceu um verde novo , mais luminoso, pulando entre os
outros. O verde dos arrozais que cobre este país úmido.As cabeças também se
movimentaram. Algumas estão dependuradas como enfeites de papel que o vento da
Ásia balança.
Há as que se montaram umas sobre
as outras, como as colunas dos passados esplendores. Ou então elas se ajuntam
num buquê, numa disposição que lembra torreões de pagode. Apareceu
surpreendentemente um elemento novo: a flor de Lótus . Há as que estão abertas,
as que recebem sol. Mas à noite a flor de Lótus volta a intimidade do botão.
Sua forma introvertida lembra também os torreões e aqueles arranjos de pétalas
secas que se oferece aos Budas.
As cobras najas que nos telhados
verdes arrematam os beirais abanando caudas para o céu, talvez formando cabides
para os anjos pendurarem suas asas, de vez em quando se infiltram entre as
cabeças. São faixas ou tiras morenas no tom da flor redonda do Lótus.
A exposição de Antônio Maria em
Bangkok, patrocinada por Sua Alteza Real a Princesa Shumbhot de Nagor Svarga,
foi a primeira mostra da Arte Brasileira naquele país. Sucesso total de
prestígio e venda.
O artista foi convidado depois
para falar e mostrar slides aos alunos da Escola de Belas Artes da Universidade
de Bangkok.
Esta exposição feita pela
Embaixada do Brasil, foi uma vitória , no sentido de maior aproximação entre os
dois países. Nada poderia melhor cativar o tailandês, povo fanático do belo,
que as cores limpas e alegres de Antônio maias, sua arte tranqüila, de
estecismo profundo e harmonioso, de comunicação certa, amena e bonita.(
Zora Seljan).Nota: Antônio Maia faleceu em 2008 pouco antes de completar 80 anos.
PINTURA DE TOMIE OHTAKE DESTAQUE DA PINACOTECA
O Destaque do Mês, da Pinacoteca
de São Paulo é uma pintura de Tomie Ohtake, nascida no Japão em 1913. O quadro
em foco é um óleo sobre tela de 1,35 x 1,35 cm . Pintura, de Tomie Ohtake de forma
densa e sintética através de uma linguagem essencialmente pictórica a emoção de
um momento interior. Como na poesia Hai-Kai, de origem japonesa,que se expressa
em 17 sílabas, a pintora utiliza o menor número de elementos possível sobre a
tela projetando sua visão profunda e reflexiva do mundo. Da
monumentalidade das duas grandes formas
amarelas, que parece ultrapassar os limites da tela como fragmentos de um
espaço maior, cósmico da sugestão de deslocamento e rompimento destas formas e
do surgimento do espaço que se constitui central e circular, decorre o impacto
visual do quadro.
Pela observação de pintura é
possível apreciar o seu processo de trabalho: sobre a tela pintada de branco o
carvão esboça duas grandes formas nas quais a cor vai sendo introduzida, ampla,
em camadas que servem de apoio às seguintes. Ao marrom se sobrepondo o amarelo,
na sucessão de branco espatulados sobre cinzas, a artista ora valoriza os
contornos do desenho anterior, ora o reinterpreta, constituindo matéria densa .Contrariamente à sua pintura mais
recente, permanece nesta obra, embora sem prevalecer sobre os demais aspectos,
o vestígio do pincel em movimento,a sua expressiva trajetória, o que nos
transporta às primeiras fases do trabalho da artista.
Tomie Ohtake chegou ao Brasil em 1937 e em 1951 iniciou seu trabalho como pintora. Após um curto período figurativo inicia-se na abstração informal. Mas preocupada com a movimentação do pincel e já trabalhando sobre o fundo liso, monocromático, a artista se vale de cores puras, aplicadas sobre a tela da forma gestual. Vale lembrar que no final dos anos 50 tomando contato com as obras de artistas estrangeiros no decorrer das Bienais de São Paulo, os artistas brasileiros aderindo em grande número ao Abstracionismo estiveram bastante envolvidos com a inscrição do gesto na sua pintura.
Tomie Ohtake chegou ao Brasil em 1937 e em 1951 iniciou seu trabalho como pintora. Após um curto período figurativo inicia-se na abstração informal. Mas preocupada com a movimentação do pincel e já trabalhando sobre o fundo liso, monocromático, a artista se vale de cores puras, aplicadas sobre a tela da forma gestual. Vale lembrar que no final dos anos 50 tomando contato com as obras de artistas estrangeiros no decorrer das Bienais de São Paulo, os artistas brasileiros aderindo em grande número ao Abstracionismo estiveram bastante envolvidos com a inscrição do gesto na sua pintura.
Após breve período em que o
Geometrismo dominou seus trabalhos e de passagem por experiência em litografia
e serigrafia, começam a surgir na sua pintura formas recortadas monumentais. Plenas
de magia interior e permeadas da presença da memória fator inconsciente, pela
não referência das imagens. Essas composições constituem a obra de Tomie Ohtake
em nossos dias. E nesses trabalhos de hoje, mais de que nunca o elementos
preponderante é a cor, elaborada perfeccionista e lentamente.
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