JORNAL A TARDE,SALVADOR, SÁBADO ,16 DE MARÇO
DE 1974
Ana Pinto ao lado de uma obra |
Encontramos a artista Ana Pinto,
no seu atelier, pintando sem parar. Ela vem pesquisando há algum tempo e já
conseguiu uma infinidade de combinação de cores, com os mais variados tons.
Dentro de sua pintura atual muita gente não percebe a passagem de uma
tonalidade para outra. Ana não está à procura de um desenho bonitinho,
arrumadinho e sim à procura de uma combinação variada de cores. Não é um
trabalho simples, o de combinar cores. Seu estilo é uma mistura de
impressionismo com expressionismo. O que pretende é captar tonalidades e
lançá-las nas telas, dando formas dentro de seu espírito criador.
Seus últimos trabalhos apresentam
vibração e um maior impacto visual, diferindo, assim, de suas antigas fases.Ana Pinto é uma artista de
profunda sensibilidade e marca presença de vida em seus trabalhos. Fizemos uma
experiência e apagamos algumas luzes do seu atelier e todas as pessoas
presentes notaram que a maioria de seus trabalhos, mesmo em penumbra,
provocou um certo impacto. É a luz que ela consegue captar e jogar para a
tela, com utilização de cores vivas.
A artista não se impressiona com
detalhes.Olhando atentamente os seus
quadros, encontramos ricas composições, que funcionam como trabalhos
diferentes. Alguns nos dão a impressão de mistério e presença de vida. Outros
traduzem paisagens cheias de colorido, que é o próprio habitat de Ana Pinto.
Não existe em Ana Pinto uma
necessidade imediata de aparecer, de comercializar os seus trabalhos. Isto
porque ela não aceita compromissos que possam prejudicar a sua pesquisa.
Desde a escolha das cores à
temática utilizada, Ana Pinto é livre. O que podemos sentir é sua maneira de
viver e ver as coisas; daí preferir que pessoas desligadas de determinados
setores gostem e consumam os seus trabalhos.
Sua arte é feita com amor,
deleite e satisfação interior. É contra algumas pessoas que comercializam seu
trabalho ao ponto de colocá-los em lugares inadequados para vendê-los.Prefere que seus quadros sejam
procurados espontaneamente por àquelas pessoas que acham e reconhecem o seu
valor de artista.
Seus quadros variam muito de
temática. Ela diz: 'Hoje muitos artesãos são considerados verdadeiros artistas,
quando, na realidade, quase não criam nada. Eles são capazes de fazer 500 vezes
o mesmo desenho de um beato ou um casario e esculpir na madeira ou passar para
uma tela. Não estão preocupados em criar, em renovar, em buscar algo de novo. O
que importa a essas pessoas é a quantidade. Quanto a mim, tenho uma posição
completamente oposta. O que importa é criar, é renovar e, principalmente,
pesquisar."
Dos quadros que observei, mais de
uma dezena, dois deles me chamaram a atenção: uma natureza morta e uma paisagem.
Nesses trabalhos notei a liberdade de cor e expressão.
Ela parte de um desenho
preestabelecido e quando começa a pintar esquece totalmente do desenho e joga a
tinta livremente, conseguindo belas composições plásticas.
Agora Ana Pinto está trabalhando
para uma exposição que fará na Guanabara, no próximo mês de abril, onde vai
mostrar 21 trabalhos.
RIOLAN COUTINHO
Tendo como temas marinhas e
paisagens, e professor Riolan Coutinho está expondo trinta trabalhos na
Berlinda Galeria de Arte. Já conhecido do público, com várias exposições
coletivas e individuais realizadas em Salvador, Estados Unidos e Europa, o professor Riolan Coutinho expõe trabalhos de sua fase atual, que é, acima de
tudo contemplativa.
ARNALDO BRITO
Vinte quadros casarios, figuras
humanas e paisagens compõem a nova mostra de Arnaldo Brito, na Galeria Cañizares,
onde permanecerá até o próximo dia 22. Ele é formado em Belas Artes , aluno de
Réscala e membro da equipe de restauradores do Patrimônio Histórico. Já
realizou diversas exposições. Trabalhou na restauração das igrejas da Conceição
da Praia e Santo Antônio da Barra e também nas pinturas da igreja da Ordem
Terceira de São Francisco.
ESCULTOR DOIDÃO
O escultor José Cardoso de
Araújo, que assina C. Doidão, está expondo seus trabalhos, todos os domingos,
na Feira do Artesanato, no Terreiro de Jesus. É um artista de talento mas,
devido a seu pouco conhecimento e falta de condições econômicas, não conseguiu
ainda expor suas peças numa galeria.
Há cinco anos que ele vem
trabalhando em madeira, inicialmente no bairro de São Caetano, e agora está
residindo em Periperi, onde tem seu atelier.
Ele apareceu na redação trazendo
três trabalhos para minha apreciação. Dois foram esculpidos em toros de
madeiras. Um representa uma Oração a Oxalá, tendo uma composição com dois ogans
abaixo. O segundo é uma composição com Omulu. Já o terceiro, em foram
retangular, é uma composição do Senhor com um anjo. Todos os trabalhos mostram
uma técnica apurada de um homem simples que sabe transpor para a madeira seus
sentimentos em forma de arte.
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