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terça-feira, 21 de abril de 2015

CENTENÁRIO DE UM GRANDE ARTISTA - HANSEN BAHIA


Esta foto eu fiz no dia em que estive visitando Hansen, que já estava adoentado e veio  mostrar a bela paisagem.
Num domingo ensolarado resolvi pegar a estrada e fui visitar, sem avisar, meu amigo Hansen Bahia, em São Felix. Fazia algum tempo que não tinha estado com ele, principalmente depois que foi morar naquela cidade fugindo do barulho de Piatã , bairro onde morou durante alguns anos numa confortável casa onde mantinha três prensas no seu amplo atelier.
Minha expectativa era encontra-lo forte, com sua potente voz e mãos enormes a me receber, juntamente com a meiguice de Ilse, sua companheira por muitos anos. Porém, ao chegar encontrei meu amigo deitado numa cama com um ededron quadriculado amarrado na cintura e, sem aquele seu jeito, às vezes meio de rude de conversar e receber as pessoas.
Fiquei meio surpreso porque na época mantinha contatos com muitos artistas seus amigos e conhecidos e nenhum mencionou que Hansen estava adoentado. Ele levantou da cama e veio mostrar, sem aquela alegria que lhe era peculiar, a sua linda casa que funciona como se fosse um mirante descortinando o vale , o rio Paraguaçu e as cidades-irmãs Cachoeira e São Félix. Um lugar privilegiado que ele escolheu para viver seus últimos anos nesta terra que adotou como sobrenome.
Logo depois veio a falecer em junho de 1978. Hansen nasceu em Hamburgo, na Alemanha ,e depois de morar em vários locais escolheu a Bahia como sua terra definitiva. Teve uma vida cheia de aventuras e vississitudes . Deixou  uma produção artística vigorosa e  para a fundação que tem o seu nome nada menos que oito mil gravuras catalogadas ,onde ele esculpiu e depois imprimiu, àquela gente simples dos cabarés baratos do velho Centro Histórico, pescadores, carregadores de feira, prostitutas, cafetãos. Enfim, uma infinidade de pessoas que povoam o  universo baiano e jorgeano ( de Jorge Amado) . Também, enfocou pessoas da sociedade e inclusive seus colegas de profissão. A condição humana também lhe serviu de inspiração para suas excelentes e inconfundíveis gravuras
Curtia muito os aglomerados da cidade de Salvador como as feiras livres, os mercados populares, o de São Miguel, sobre o qual fez um álbum de gravuras (Flor de S ;os ancoradouros naturais onde aportam os pequenos barcos e saveiros.
Das duas vezes que morou em Salvador  ( em 1955 a 1959 e de 1966 a 1978) sempre esteve envolvido com a gravura. Lembro que tomei um curso com  ele no Instituto ICBA , no Corredor da Vitória, e fiquei impressionado com os rápidos sulcos que ele fazia nas pranchas de cedro,  levando-as depois  para a impressora de onde saiam suas belas gravuras.
Portão da sua casa em Piatã, onde desistiu de continuar
morando por causa do barulho,segundo me disse.
 Na época o hoje Instituto Goethe era o centro de efervescência cultural de Salvador ,local onde os jovens militantes no movimento estudantil se reuniam para tomar uma cerveja, assistir um dos vários cursos oferecidos ou um filme engajado. Era um dos poucos locais livres para as atividades culturais mais avançadas da época. Foi ali que o encontrei Hansen pela primeira vez e tomei conhecimento da grandiosidade do seu talento já talhado em outras plagas. Lá sua depois esposa Ilse entrou para o curso de gravura e depois se transformou numa espécie de assistente terminando por uma união que durou até sua morte. Ilse morreu logo depois.

CENTENÁRIO

Se estivesse vivo Hansen Bahia teria completado cem anos de vida no dia 19 de abril último. Nasceu na Alemanha  e teve uma infância pobre, inclusive contraiu a tuberculose. Sempre teve este espírito de aventureiro  chegando a pedalar até a Itália, foi sorveteiro, participou de uma trupe de circo, também foi marinheiro embarcado . Teve três filhos do primeiro casamento. Mais dois no segundo relacionamento. Lutou na Segunda Grande Guerra ,quando foi ferido e no porto de Hamburgo recolheu cadáveres. Era um assunto que não gostava de falar. Tinha certamente, horror às  guerras e àquela intolerância dos que já viveram em períodos conturbados  Esteve na Etiópia onde ficou entusiasmado com  a cultura popular e com o ditador Selasiê, que o convidou para ministrar um curso de gravura.