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sábado, 30 de dezembro de 2023

A ARTISTA QUE SÓ PINTA MULHERES

Tereza Mazzoli e suas obras onde
retrata as mulheres e  vaidades.
S
eu nome artístico é Tereza Mazzoli nascida na cidade de Nova Canaã, no interior da Bahia e iniciou sua carreira em 1999. Confessa ser “apaixonada por explorar as infinitas possibilidades que as cores e formas oferecem para expressar a complexidade da alma feminina”. Sua arte parece mesmo ser feita de imagens refletidas num espelho do tempo onde ela retrata as suas vivências e emoções. Cada pincelada que dá e as cores que escolhe ajudam a compor esta narrativa poética apresentando a nós a essência feminina.  Sua linguagem é contemporânea e tem uma predileção especial de só pintar figuras femininas. Segundo a Tereza Mazzoli estas figuras que aparecem com um jeito angelical em cores terrosas são mulheres que conheceu pela estrada da vida e que  pode conviver e saber um pouco de suas histórias de vida. Portanto, “é uma homenagem à força, à resiliência e a graça que encontro nas mulheres ao meu redor, e nas diversas mulheres outras que habitam em mim”, diz Tereza Mazzoli. Fui encontrá-la no bairro do Carmo, em pleno Centro Histórico em Salvador, num casarão colonial onde tinha seu ateliê de nome Atelier 29, o qual passou recentemente para um artesão ED e foi rebatizado para Atelier 72, que corresponde ao número o imóvel na nomenclatura oficial da Rua Direita do Carmo. Isto porque já está de malas prontas para ir morar em Viena, na Áustria.

Mais mulheres pintadas de Tereza .
Sua introdução na arte começou com a restauração de móveis antigos. Com a disposição que lhe é peculiar decidiu iniciar outra atividade e começou restaurando os próprios móveis e de conhecidos. Foi quase uma intuição natural e até hoje dedica uma atenção especial ao mobiliário antigo. Fez um curso de arte na Escola Panamericana, quando morava em São Paulo. Veio para Salvador foi quando conheceu a artista Sandra Lopes e fizeram amizade e passou a desenhar e pintar. Fez alguns cursos livres no Museu de Arte Moderna da Bahia – MAMB. Já tinha algumas obras prontas e resolveu sair para vende-las e no trajeto encontrou uma senhora que adquiriu as três telas que carregava. As coisas apertaram quando morava no bairro Patamares, em Salvador, e em parceria com o artista Luiz Oliveira  montaram um ateliê na Rua Minas Gerais, no bairro da Pituba, em Salvador. Fizeram uns panfletos e distribuíram anunciando um curso de pintura que foi ministrado por Rui Oliva. Enquanto ela dava apoio e continuava pintando e comercializando suas obras e assim as coisas foram melhorando. Com o artista peruano Cholo, que residia no Centro Histórico, aprendeu a trabalhar com espátula, aí foi se entrosando no meio artístico da Bahia. Quando Leonel Mattos criou o Sindicato dos Artistas Plásticos da Bahia começou a frequentar as reuniões tornou-se membro e em seguida passou a ajudar nas atividades administrativas da entidade. A Tereza Mazzoli tem uma perspicácia especial e sempre está atenta para aprender coisas novas. Uma pincelada diferente, uma composição enriquecedora da obra, enfim procura observar e retirar algo de positivo para o seu fazer artístico.

                                                       SUA TRAJETÓRIA

A Iansã majestosa e guerreira.
O nome de batismo é Tereza Angélica Santos Souza, nasceu em 14 de setembro de 1954 na fazenda As Piabas, no município de Nova Canãa, no interior da Bahia. É filha de Aristodemene Alvarenga Santos e Tercília Rosa de Jesus. Seu pai era um abastado fazendeiro de cacau, de descendência grega, enquanto sua mãe era índia, e na sua tribo chamada de Cotia. Se conheceram quando o pai da Tercília foi trabalhar de meeiro na fazenda do Aristodemene. Ela tinha apenas quinze anos de idade. Naquela época era muito comum mulheres bem jovens, porque não dizer, crianças, casarem-se com homens bem mais velhos e experientes. Também isto aconteceu com meu avô que já estava com 35 anos quando se casou com minha avó de quinze anos de idade. Ela disse que sua mãe lhe relatou que a tribo a qual ela pertencia passou a ser nômade com a chegada dos colonos que passaram a cultivar as terras onde antes viviam. Foi quando houve a expansão da cultura do cacau na Bahia.

O talco Gessy que já foi 
presença em muitos romances.
 Quando a notícia do relacionamento chegou ao seu avô ele mandou dois de seus irmãos armados com espingardas de repetição buscá-la na Fazenda As Piabas. O Aristodemene não se intimidou partiu ao encontro deles e quase houve um confronto trágico. Ao chegar os irmãos empunharam suas espingardas de repetição Winchester e o Aristodemene também empunhou a sua. Houve um diálogo ríspido foi quando sua mãe Tercília que já estava na garupa de um dos cavalos dos irmãos voltando para a tribo desceu e montou no cavalo do Aristodemene. Tereza Mazzoli disse ainda que sua mãe também contou que os índios respeitam muito a opção de cada um. Se quer ficar que fique. Também seus parentes nunca mais a procuraram. Neste interim aconteceu um fato interessante é que sua mãe indígena o que mais lamentava é que durante este entrevero ela perdeu uma latinha de talco Gessy, que tanto gostava.

Duas lindas mulheres do universo
pictórico de Tereza Mazzoli.
Aos oito anos de idade seu pai levou para São Paulo ela e uma irmã e foram criadas pela madrasta, que era a esposa do Aristodemene. Sua mãe permaneceu na Fazenda As Piabas e depois foi morar em Vitória da Conquista. Aos 15 anos saiu de casa e foi morar com seu primeiro marido, o que deixou seu pai frustrado já que queria que se formasse em Direito, como a maioria dos filhos. Depois de alguns anos o relacionamento se desfez e no segundo nasceu seu primeiro filho o Rui Neto, que reside em Florianópolis. Passou a trabalhar na Joalheria Tolentino, em São Paulo, chegando ao cargo de gerente. Veio o terceiro relacionamento com um italiano, daí o sobrenome Mazzoli, que durou 26 anos e nasceu sua filha Paloma. Vieram para Salvador e aqui se divorciaram. Disse, decidida como sempre, já que está iniciando o seu quarto relacionamento e espera que seja o último. O seu novo parceiro austríaco mora em Viena e já esteve por lá e conheceu a sua família. Ele montou um ateliê para Tereza na casa onde mora, inclusive ela pintou alguns quadros e vendeu a amigos do casal. Resta, portanto, partir em meados de janeiro do próximo ano para nova aventura. Assim ela vai continuar a pintar as mulheres que diz terem personalidades e almas. “São todas as mulheres que habitam em mim. Elas carregam o que tem dentro de mim”, diz Tereza Mazzoli. Que venham novas obras e que seja feliz!


sábado, 23 de dezembro de 2023

BIDA TALENTO NA PINTURA E NA MÚSICA

Bida segurando uma tela com mulheres tocando 
pífanos e o músico Alexandre Rodrigues
executando um frevo pernambucano.
Estive na sexta-feira, dia 15, pela tarde no Centro Histórico, exatamente no Pelourinho para entrevistar o artista plástico, cantor e compositor Raimundo dos Santos, o Bida, que há décadas mora na área desde quando decidiu ser artista plástico. Por ser sexta-feira e próximo dos festejos natalinos o Pelourinho estava em festa. Os bares e restaurantes lotados de gente bebendo e comendo e até um pequeno bloco de batuqueiros animava a área. Via a satisfação nos rostos dos gringos por estarem naquele ambiente descontraído, bem alegre, e diferente de onde vieram. Lá onde moram as ruas no inverno são muito frias e o povo no dia a dia não tem esta descontração como ocorre nos trópicos. Aqui tem mais calor humano, embora o clima quente também os incomode um pouco. E esta entrevista foi feita neste clima de festa e reencontros. Quando começamos a conversar entram em seu ateliê o cantor paulista Renato Braz, acompanhado do músico Alexandre Rodrigues tocador de pífanos de Recife, que logo empunhou seu instrumento e começou a tocar um frevo animado. O terceiro integrante do grupo era um jovem jornalista Cláudio Leal, acompanhados do produtor musical e fotógrafo free lancer baiano Geraldo Badá, que os ciceroneava na Cidade. Aí a entrevista foi interrompida para dar atenção aos visitantes. Imprevistos acontecem, e quando se trata de reencontros de artistas o clima ganha outra dimensão.

Foto 1 - Pelourinho em festa. Foto 2.
Jornalista Cláudio Leal,cantor Renato
Braz,Bida,músico Alexandre Rodrigues
e produtor musical e fotógrafo  Badá.
Foto 3. Cantor Nancinho,do Olodum e Bida
Recomeçamos a entrevista e de repente chega outro personagem e entra cantando uma música que tinha um refrão desses que pega ."Pera aí, pera aí...", era o cantor Nancinho, do Bloco Olodum, cantando uma música de autoria do Bida. Depois da cantoria e das dancinhas refiz as perguntas e foi quando fiquei sabendo que ele nasceu em Nazaré das Farinhas, no Recôncavo baiano em 25 de janeiro de 1971 e seus pais vieram para Salvador quando ele ainda era criança.  Hoje Bida é um dos artistas mais criativos e reconhecidos da área do Centro Histórico de Salvador e já fez exposições em vários países e suas obras estão espalhadas pelo mundo afora. Ele faz uma pintura naif tendendo mais ao figurativo e os personagens que pinta lembram de longe os que o Cândido Portinari imortalizou em suas pinturas retratando os nordestinos. As cenas rurais também sempre estão presentes na obra do Bida e talvez aí tenha uma explicação e influência de sua infância porque sua mãe gostava de morar nos arredores de Salvador, especialmente em locais onde tivesse alguma mata ou mesmo um espaço verde. Isto porque, sendo natural de Nazaré das Farinhas ela gostava de cultivar e sempre dava um jeito de ter um pedaço de terra para trabalhar.

Obra retrata fazenda de cacau na Bahia.
Hoje Bida é um artista que tem sua própria maneira de pintar e criar seus personagens com um desenho e composição de qualidade. As cores verdes, azuis, amarelas e vermelhas, dentre outras presentes em suas obras estabelecem um clima rural , interiorano de pureza e aconchego, diferente da crueza e da conotação de protesto de quem possa ter lhe inspirado. Já expôs em vários países e tem obras em  coleções particulares pelo mundo afora. Figura entre os artistas que pintaram grandes telas no exterior sendo que as suas estão na cidade de Marbach, no sul da Alemanha exatamente no Castelo Bela Vista, às margens do Lago Constance. Um mede 5 m x 8 m e o outro 1,68m x 21 metros. Tem aqui na Rodoviária de Salvador dois painéis  com 3m x 10 m cada um. Lembro do entusiasmo do meu saudoso amigo o empresário Alfeu Pedreira, que tinha a concessão da Rodoviária, e hoje é tocada pelos filhos, quando conheceu o Bida e o convidou para fazer os painéis. O Alceu Pedreira era um verdadeiro mecenas. Ajudou muitos artistas, alguns em começo de carreira, e me recomendou que fizesse uma matéria com ele na coluna que escrevia no jornal A Tarde.

Uma das ilustrações do disco de
Raimundo Sodré.
Os pais de Bida  se conheceram em Periperi e foram morar em Nazaré das Farinhas e lá ele nasceu. Quando completou uns três anos de idade seus pais resolveram vir para Salvador e foram morar em Águas Claras, no Loteamento Nogueira, quase às margens da BR-324. Foi estudar na Escola Clarita Mariani, que pertencia a um orfanato do mesmo nome, que ele lembra que a sede tinha um estilo colonial. Hoje a escola é estadual, e não encontrei nenhuma referência do orfanato que existia na época. O bairro além de ficar distante do centro comercial de Salvador, era carente de qualquer infraestrutura. Hoje tem muitos galpões de armazenamento de containers e um forte comércio popular e é servido pelo metrô. Neste bairro nasce o Rio Jaguaribe com o nome de Rio Cascão, e se encontra com a Represa de Ipitanga, passando a se chamar Rio Trobogy e segue seu curso até a Avenida Luiz Viana Filho (Paralela) aí pega o seu nome de Rio Jaguaribe e deságua na praia de Piatã, no Oceano Atlântico.

                                                     O COMEÇO

Uma obra diferenciada do Bida. 
Tudo começou quando sua mãe que era cozinheira na residência de d. Eunice Vianna, sobrinha do então governador Luiz Vianna Filho, quando conheceu seu pai que acabara de ficar viúvo com dois filhos menores para criar no subúrbio de Periperi. Nesta época sua mãe de nome Maria de Lourdes dos Santos gostava de cantar e foi através dos Vianna que ela passou a cantar no rádio e conheceu as principais cantoras da época como Inezita Barroso, Ângela Maria, Dalva de Oliveira entre outras.  Enquanto isto seu futuro pai Paulo Francisco dos Santos era casado e tinha dois filhos e trabalhava na Leste Brasileiro, que tinha um sistema de trens que servia ao subúrbio de Periperi e outros. Também era músico do Trio Tapajós que animou muitos carnavais na Bahia. Aconteceu que o Francisco ficou viúvo e conheceu sua mãe e terminaram casando-se.

Sua mãe nunca pensou em se profissionalizar como cantora foi quando o amor falou mais alto e o casal decidiu ir morar em Nazaré das Farinhas para cuidar melhor das duas crianças. Do relacionamento nasceu o Raimundo dos Santos, o Bida. Foi assim que Paulo Francisco deixou de ser ferroviário para exercer a profissão de pintor automotivo. Vieram para Salvador morar inicialmente em Águas Claras, no Loteamento Nogueira, depois se transferiram para o subúrbio de Paripe,

Obra de Bida "Mulher Sambando."
perto da Estrada da Concisa, uma indústria que funcionava no local. Nesta época o local era pouco habitad0 e tinha uma extensa faixa de mata que sua mãe resolveu fazer uma roça para cultivar verduras e frutas. Este terreno pertencia a um espanhol chamado de Feliciano, que era dono da Casa Chic, na Rua Chile, e a Renato Schindler e quando o prefeito Renan Baleeiro resolveu criar o bairro de Fazenda Coutos tiveram que indenizar sua mãe das benfeitorias que tinha feito no terreno. Bida conta rindo da situação que viveu. Aí ele tinha uns cinco anos de idade e para estudar tinha que andar numa trilha de mata até a localidade de Tubarão. A escola era pertencia a  Raimundo Varela Freire pai do apresentador de televisão Raimundo Varela, recentemente falecido. O dono da escola era amigo do pai de Bida desde que eles moravam em Periperi. Hoje a escola é estadual com o nome de Visconde Cairu. Nova mudança e a família foi residir no subúrbio de Paripe, na localidade chamada de Casa da Base, próximo a Base Naval de Aratu, e ele foi estudar na Escola Almirante Barroso, hoje Colégio Estadual Almirante Barroso, que fica na rua Almirante Tamandaré, s/n em Paripe. Houve uma divisão do colégio. Uma parte ficou o pessoal da Base Naval em outra  os moradores . Bida foi  para a Escola Edson Tenório "porque tinha uma quadra de futebol", conta. Terminado o primário foi para o Colégio Luiz Tarquínio muito afastado de onde morava na Rua da Alegria, no subúrbio de Paripe. Lembra que andava uns três quilômetros para pegar o   trem por ser mais barato, descia na Calçada e caminhava mais uma boa distância até o colégio que fica na Avenida Luiz Tarquínio, no bairro da Boa Viagem. Disse que enfrentou muitas dificuldades. 

                                                          O APRENDIZADO

Mulher Tocando Sanfona, obra
em execução pelo artista.
Um amigo chamado Val, não sabe o nome e praticamente perdeu o contato, disse que se quisesse aprender a pintar fosse para o Pelourinho. Este amigo  que o incentivou a vir para o Pelourinho, onde ele está até hoje, tinha um irmão chamado Orlando, que era instrutor da Escola de Menor, Fameb, que funcionava no subúrbio e ele gostava das pinturas e desenhos do Bida. Passou a lhe incentivar dando papéis e lápis e assim o artista foi se formando. Em compensação o Orlando tinha uma dezena de casas alugadas no subúrbio e pedia a Bida para desenhar as fachadas. Era uma criança e fazia letreiros de bar, nomes de casa comerciais nos muros e já ganhava algum dinheiro com a arte. Foi aí que passou a frequentar a região. Muitas vezes ao invés de ir para o colégio descia na Calçada e caminhava até o Pelourinho, passando pelo Carmo. Conheceu Palito, que era perito do Instituto Pedro Melo, o IML, que funcionava no prédio da Faculdade de Medicina. O Palito também era escultor. Conheceu os artistas Gildásio Feliciano Costa, o Gil Abelha, já falecido, que teve uma grande influência no seu aprendizado. Depois vieram  Totonho, Babalu, Faróleo, Nivaldina, Índio, José Tiago, Calixto Salles, Hamilton Ferreira, Pedroso, Luiz Lourenço dentre outros. Passou a pintar nas ruas e a observar esses pintores populares do Centro Histórico. Os primeiros quadros vendeu para o padrinho de um irmão.
Foto I - Gil Abelha, falecido.(Google).
Foto 2 -Bida em seu ateliê , Pelourinho
.
O primeiro contato de Bida com Gil Abelha foi na Praça da Sé, em Salvador, quando o encontrou ele pintando um quadro que pegava a igreja da Misericórdia tendo o Palácio da Aclamação ao fundo. Ele estava sentado num dos bancos da praça. “Fiquei umas duas horas observando, e pensando na distância que tinha para percorrer para voltar para casa. Fui pegando amizade e terminei frequentando com assiduidade o ateliê deles que ficava bem em frente ao Hotel Pelourinho,” relembra Bida. Foi um aprendizado importante para o Bida e os artistas e em 1986/87 fundaram a Associação dos Artistas Populares do Pelourinho e seu primeiro presidente foi Wal-Ba, hoje é museólogo, mora em Brasília e quer fundar o Museu de Arte Naif em Salvador. Aos 19 anos foi um dos diretores desta entidade. Em 1988 teve seu primeiro ateliê. Este local era ocupado pelo ateliê que Calixto Salles que resolveu pintar em casa e lhe cedeu o espaço. Aos 20 anos teve o primeiro filho o Ramon Santos, já falecido. Comprou uma pequena casa e doou a seu irmão mais velho com dinheiro da venda de suas obras. Quando meu filho nasceu já tinha uma casa também comprada com o dinheiro de venda de seus quadros. Nasceu sua filha e comprou mais duas pequenas casas e passou a alugar. 

                                        EXPOSIÇÕES NO EXTERIOR

Painéis em Marbach, na Alemanha, e
 Bida falando no dia da apresentação
.
Sua primeira exposição fora do país foi em 1988 em Córdoba, na Espanha, no Palácio Del Congresso; em 1990 participou de uma exposição com Totonho que levou suas obras ao London Cultural Center, em Londres, Inglaterra; em 1991 expôs em Munique , na Alemanha, no Maximilian Universitat ; em 1993, em Madri, na Espanha; em 1994,  no Prix Suisse e Prix Europe de Pinture Moderne, Galeria Pro Art, Kasper Morges, Suiça; e neste mesmo ano expôs em Miami, na Flórida; 1997 na mostra O Pelourinho Popular Art From the Historic Heart of Brasil – USA and Canadá ; e neste mesmo ano no Siena Heights College, em Michigan; na Unique Images Gallery, em St. Paul, no Hannepin Country Governament Center e no Thomas Charles Salon, ambas em Minneapolis; em 1998 na Universidade da California – UCLA, em Los Angeles; em 1999  participa da mostra  Brasilidade na Galeria Praça do Mar, Quarteira, Loulé, e na Galeria Nova Imagem, em Lisboa, 
Capa  docatálogo da
mostra na Holanda
.
ambas em Portugal; 2000 na Galeria da Câmara Municipal de Portimão, Algarve e da mostra Junho da Lusofonia na Biblioteca Municipal de Alenquer, ambas em Portugal; 2001 participou da mostra Encontros do Sem Fim – Fortaleza de Sagres-Algarve, em Portugal; da Brasilidade II no Parlamento Europeu, em Bruxelas, na Bélgica quando fez uma palestra sobre o movimento negro na Bahia e pintou ao vivo uma tela de Nelson Mandela; expôs ainda em Milão, na Itália no Brasil 500 Annin II Giorni-ExPalalido; na Espanha no Museu Guggenhein de  Bilbao; e em Portugal na Galeria LCR, em Sintra; 2005 mostra Brasilidade na Galeria Geraldes da Silva, no Porto, Portugal;  na mostra From Brazil with Love – Het Kunstbedriif - Exposities & Workshops – Heemsted – Netherlands, na Holanda ; em 2006 no Rouge Ebene, no Musée des Emaux, em Longwy e depois no Espace Pilot, em Montpellier, ambas na França; 2013 na Matices de Las Americas, em San Diego, Califórnia, EUA; 2019 no The Soul of the People of Brasil, em Nova York, nos Estados Unidos. A partir deste ano participou de outras exposições, porém o catálogo que tinha os demais registros ele não conseguiu encontrá-lo.

                                                 EXPOSIÇÕES AQUI

Bida e os  painéis que estão na
Estação Rodoviária de Salvador.
 
Disse que expôs muito mais fora do país do que aqui. "Não precisa explicar, porque isto acontece”, queixou-se Bida. Foi premiado em 1991 na I Bienal do Recôncavo no Centro Danneman, em São Félix, Bahia em 1º Lugar como Pintor Naif e em 8º Lugar Prêmio Aquisição. Tem obras em exposição permanente no Museu de Arte Naif no Rio de Janeiro. Em 1988 fez sua primeira exposição aqui na I Expo Natura, Galeria Abrigo da Arte, Salvador ,depois na Biblioteca Central e na Expo Primavera do SESC/SENAC, todas em Salvador; Em 1990 no Centro de Cultura Alternativa Pau Brasil e no Hotel Praiamar, em Salvador; 1991 na I Bienal do Recôncavo em São Félix; 1992 no Projeto Pelourinho Via Brasil, no Shopping Barra, Salvador e na Eco 92, no Rio de Janeiro; 1993 Inauguração do Shopping do Pelô , na mostra Plasticidade Poética, na inauguração do Ateliê Portal da Cor; 1994 na Biblioteca Catalão de Castro, Salvador; 1996 no II Festival de Artes Visuais do Pelô – Pinte o Pelô,  na II Bienal Internacional Afro-Americana de Cultura e  na Raquel Galeria de Arte, em Salvador; Participou da mostra  Oito Primitivistas Baianos  - no Espaço Cultura Rococó, em BH, Minas Gerais; 1997 Tempo e Temperatura no Grande Hotel; da Barra, na Raquel e Galeria de Arte e Paletas do Pelô, no Solar do Ferrão, ambas em Salvador; 1998 na Galeria Pedro Arcanjo, em Salvador e no SPAMED em Lauro de Freitas, Bahia; 2002 no Hotel Sofitel, Sauipe, Bahia; 2003 Galeria do Solar do Ferrão, Casa Cor 2003 e Centro Cultural dos Correios – Fundação INAC, todas em Salvador; 2004 Angola Bahia na Galeria Solar do Ferrão, em Salvador; 2012- 2013 Novidades - Galeria Jacques Ardis, em São Paulo; 2013 Um Olhar sobre a Bahia na TVE – Tv Educadora, Salvador; 2015 no Lara Hotel, Aquiraz, Fortaleza, Ceará e Reflexos do Recôncavo ,no Senac, Pelourinho, Salvador; 2016 Estilos -Instituto de Radiofusão Educativa da Bahia, Exposição Santana Ceia, no Convento do Carmo, Expoart Primavera, Restaurante casa de Tereza Sala Iemanjá, Exposição Solar das Artes e Atempo na Galeria Cañizares da UFBA, todas em Salvador.


 

sábado, 16 de dezembro de 2023

LEONEL MATTOS EXPLOSÃO DE TALENTO E SUPERAÇÃO

Leonel Mattos com  autorretrato que expôs na galeria
 do Acbeu na mostra Gaveta de Memória,  em 1998.
Vamos conhecer mais um pouco a partir de agora um dos artistas mais talentosos, inquietos, criativos e produtivos que já conheci e talvez o que mais tive oportunidade de acompanhar sua trajetória artística. Seu nome é Leonel Rocha Mattos ou simplesmente Leonel Mattos que demonstra nos primeiros instantes da nossa conversa uma disposição em contar sua história sem rodeios ou restrições a ponto de querer com a espontaneidade característica de sua formação  e personalidade conduzir a entrevista. Foi graças a este seu jeito de ser que vem superando problemas e tragédias que surgiram e surgem em sua vida. Conhecedor do personagem e sendo um velho   jornalista propositadamente marquei a entrevista fora do seu ambiente de trabalho e fomos conversar em minha casa para que assim pudesse entrevistá-lo com mais tranquilidade. O Leonel Mattos com seu temperamento impulsivo é também um dos artistas baianos mais presentes nas redes sociais onde sempre está postando as visitas ao seu novo ateliê no bairro da Saúde, em Salvador, suas andanças por exposições, e eventos que promoveu como o Circuitos de Arte e Moda no Shopping Salvador com várias edições e o Circuito Cultural Carmo e Santo Antônio , em 2014, suas idas às praias, restaurantes e outros eventos que comparece. Às vezes alguns acham exagerada esta exposição, mas tudo isto é fruto de um impulso quase incontrolável desta criatura que está sempre disposto a ajudar os colegas, a imaginar formas de enaltecer o trabalho de alguém ou mesmo acolher como fez com o Jayme Fygura que pintou por um bom tempo em seus ateliês nos bairros do Carmo, Amaralina e depois na Saúde, usando suas tintas e pincéis, e ainda conseguiu a venda de um lote de obras para um galerista em São Paulo que o possibilitou a comprar e mobiliar uma casa no bairro de Castelo Branco, em Salvador. Infelizmente o Jayme veio a falecer de um enfarte quase fulminante. Quando Leonel Mattos me ligou para falar desta triste ocorrência passei a me preocupar com ele, porque estava inconsolável e corria até mesmo risco de enfartar. É sempre fácil, e ao mesmo tempo ruim julgar e criticar as pessoas por seus atos externos e aparentes. É preciso conhecer melhor a pessoas e verá sempre coisas muito positivas que estão por trás de cada indivíduo, de cada artista.

Leonel no ateliê do bairro da Saúde,2023.
Leonel Mattos  é um artista que vem evolundo e  melhorando a cada dia sua pintura, tem uma produção contínua e de qualidade, com personalidade pictórica conhecida aqui e em outros estados. Já ganhou vários prêmios e fez várias exposições individuais e coletivas, participou de salões na Bahia  e no sul do país. Fez muitas intervenções em Salvador e até mesmo em Feira de Santana sozinho e com outros colegas. Está sempre atento ao que ocorre não só no Brasil como no exterior. Sua mãe cunhou a frase que resume o seu jeito de ser: “o Leonel chega saindo”. Ele mesmo conta que às vezes sente até dificuldade de parar a si próprio. Nasceu na cidadezinha de Coaraci, no sul da Bahia, em 4 de fevereiro de 1955 onde seu pai era funcionário da Petrobras e dono do primeiro cinema da cidade, além de radioamador. Como saiu de lá muito criança não conhece bem sua terra natal. Sempre teve uma curiosidade pela arte e gostava de desenhar em seus cadernos de escola e onde encontrasse espaço. Não era afeito aos estudos, fez o primário na Escola Nossa Senhora da Guia, no bairro da Boa Viagem. Conviveu com um colega de escola que só lembra do apelido como o chamavam por Serginho, que era filho de um coronel da Polícia Militar da Bahia. Moram muitos militares naquela região porque ali fica o principal quartel da PM, em Salvador. Juntamente com o colega ficavam desenhando animais e tudo que surgia de interessante. Fez seu primeiro ateliê ainda criança num apartamento onde morava na Rua Pirai, no bairro do Bonfim.

                                                SUAS HISTÓRIAS

Leonel recebendo o Prêmio das mãos de Pietro
Maria Bardi, diretor do Masp, no Salão de Pintura
Jovem da Pirelli, 1987.
Disse que nasceu em casa e quem fez o parto foi seu padrinho Gilson e que no momento do parto entraram alguns bois na sua casa causando um reboliço. Lembro que era comum nas cidades do interior animais soltos nas ruas. Em Ribeira do Pombal na minha infância muitos animais ficavam soltos comendo nas ruas especialmente nos lixões que se espalhavam pelos fundos das casas. Eram jumentos, cavalos, bois, ovelhas, porcos e galinhas. Certa ocasião o prefeito mandou recolher os porcos e como não obedeceram a ordem que era fruto de uma recomendação sanitária do médico local o alcaide  resolveu mandar atirar nos porcos que estivessem soltos. Deu uma confusão danada! Certa vez um jegue no cio entrou perseguindo uma jega na missa que o padre Hildebrando  estava celebrando na igreja de Santa Tereza. Foi um Deus nos acuda! 
Voltando ao Leonel Mattos ele contou ainda que quando   sua mãe estava grávida tomou um choque muito forte no microfone do sistema de rádioamador de seu pai e ela costumava brincar que ele “não foi parido, foi chocado”, e avisava brincando aos amigos e conhecidos que não prometessem nada ao Leonel porque ele sempre vai cobrar.

Foto 1 - Intervenção na igrejinha da Ponta do
Humaitá que estava abandonada. Foto 2 - Velório de
protesto por mais combate a AIDS. Foto 3- Intervenção
em árvores mortas na Cidade, anos 90
Foto 4- Painel 
no Terminal Marítimo de Mar Grande , década de 80.


Em 1956 seus pais resolveram vir morar em Salvador  e assim foram estabelecer residência numa casa na Baixa do Fiscal. Tempos depois se transferiram para a Rua Arco Iris, no bairro da Boa Viagem, aí sua infância foi dividida entre os banhos de mar, babas e passeios de bicicleta pelas ruas próximas à sua casa. Teve portanto uma infância normal como a maioria das crianças. Depois foram morar na Rua J. Carlos Ferreira, também na Boa Viagem. Foi neste período que conheceu o Serginho e passaram a desenhar e mudou novamente desta vez para a Rua Piraí, no bairro do Bonfim, foi aí que improvisou um ateliê no quarto e decidiu criar alguns pintos. Talvez isto tenha influenciado a desenvolver estes elementos estilizados que alguns confundem com galos. Ele nega 

peremptoriamente que algum dia tenha pintado alguma galinha ou galo. Passaram alguns anos nesta rua quando foi estudar em 1964 no Colégio São Jerônimo, que funcionava defronte a famosa fábrica de refrigerantes Fratelli Vita, no bairro da Calçada. Foi nesta época que a Polícia Federal bateu  em sua casa e levou alguns livros e outros objetos pertencentes ao seu pai João Mattos que era da Petrobras e atuava politicamente contra a ditadura militar. Ele era do MDB e se candidatou a deputado estadual e não foi eleito, e em 1968 morreu de um enfarto fulminante no Hospital São Jorge. 
Acima Foto 1- Com Jayme Fygura exibe sua escultura Baiolé, 1998. Foto 2- Pinta uma Iemanjá na Colônia de Pescadores do Rio Vermelho. Foto 3- Pintando com alunos da Escola Sátiro Dias com o tema Paz. Foto 4- Com presos do seu projeto de Pintura na Penitenciária Lemos de Brito.

                                              O PRIMEIRO QUADRO

Com  tinta óleo pintou a primeira tela em 1971.
 Pintou seu primeiro quadro em 1971 após visitar uma afilhada de sua mãe chamada Sônia Sinval, que residia na Ladeira da Fonte Nova. Viu vários quadros pintados por ela nas paredes e aquilo lhe encantou, especialmente um deles que tinha uma casinha, solitária,  num local alagadiço. Logo depois a tia Dalva Mattos lhe presenteou com umas tintas, pincéis e telas e começou a pintar o que vinha à cabeça. Lembra que um dia foi para a Rua Rio Almada, no bairro da Boa Viagem, onde tinha um casarão abandonado e da janela avistava o mar. Foi quando resolveu pintar este quadro que está aí que foi o primeiro feito em tela. Lembrou da casinha que a Sônia Sinval havia retratado e desenhou e pintou assim a casinha no  quadro. Neste período conheceu o desenhista e pintor Edmundo Simas, o Super Boy, que era um exímio desenhista que lhe deu muitas dicas importantes.

Já adolescente disse a minha mãe que iria passar uns dias na ilha de Itaparica na casa de um parente e na realidade foi para o Rio de Janeiro de carona com um colega que tinha família que morava lá. Só o irmão mais moço o Fernando Antônio Mattos,j á falecido,  sabia da aventura. Foram de caminhão até Feira de Santana e ao chegar à noitinha pretendiam dormir num posto de gasolina foi quando o dono do posto os ameaçou: “se estes hippies tentarem dormir aqui vou colocar gasolina e tocar fogo”. Neste interim apareceram dois carros para abastecer e diante da ameaça foram pedir carona. Para sorte eram pai e filho que estavam dirigindo cada um dos carros. Foi o filho que lhes deu carona até Brasília. Ele ainda os acolheu em sua casa e de lá foram de trem para Belo Horizonte, sempre pedindo ajuda e carona para viajar. O destino era o Rio de Janeiro e assim conseguiram chegar. Lá chegando os viajantes se desentenderam e o Leonel ficou sozinho. Conseguiu naquela noite dormir na cozinha de uma pequena pousada, e quando estava dormindo "veio um gay fritar ovos e quase pisa em mim," conta Leonel Mattos rindo.  O jovem deu um grito e ele tentou acalmar preocupado que o dono da pousada lhe descobrisse e o expulsasse. Pediu que ficasse calado, e saiu ao amanhecer do dia. Já na noite seguinte teve que dormir na praia de Copacabana. Eram outros tempos... Confessa ter passado muitas dificuldades e fome. "Resolvi voltar para casa. Fui até a Rodoviária do Rio e passei a pedir ajuda para vir para
Obra de 2005  já mostra  evolução .
Salvador. Teve um dos passageiros na Rodoviária que se aborreceu dizendo que era a segunda vez que ele pedia ajuda. Geralmente davam de um a dois cruzeiros. Foi então que aborrecido o passageiro lhe deu dez cruzeiros e completou o valor da passagem. Sentou-se junto de uma senhora que durante o trajeto estava chupando  laranjas e comendo outras guloseimas  e ele olhando, até que ela ofereceu e a partir daí dividia os lanches com ele. 
Resolveu retornar aos estudos e foi para o Colégio São Jerônimo, no bairro da Calçada, estudar Contabilidade, mas na realidade seu interesse era desenhar e pintar. Veio outra mudança e foram morar na Rua Rio Itapicuru, perto do Forte de Monte Serrat. Continuou pintando e entalhando e em 1971 participou  de uma coletiva na Galeria O Candeeiro. Com o apoio da tia Dalva Mattos que trabalhava na Receita Federal conseguiu realizar em 1974 fiz a primeira individual na Galeria da ESAF, no rall do prédio do Ministério da Fazenda, no Comércio, em Salvador e teve a apresentação de José Dirson. Não foi de pintura e sim de entalhes que aprendeu com os entalhadores Paulo Bahia e Hugo Rios, que residiam no bairro de Roma, em Salvador. Em 1980 fez outra exposição
Esta obra de 2023 é resultado de muitos anos de
pintura num crescimento contínuo.
desta vez na Galeria Panorama, no Jardim Brasil, no bairro da Barra, em Salvador e eram pinturas primitivas inspiradas na obra do pintor naif Faróleo. Este artista nos anos 70 vivia no Centro Histórico, em Salvador, e chamava-se Josaphat Honorário de Santa Cecília, era já um senhor, natural de Sergipe.  Faleceu em 1987 num hospital público em Aracaju vítima de uma úlcera. Lembro que divulguei na coluna uma exposição coletiva em 1975 , na Galeria Sereia, no Pelourinho, eram cerca de trinta artistas, e um deles era o Faróleo, com obras tendo como tema as sereias. Nesta época o Leonel Mattos vendia seus entalhes e muitos outros artistas, inclusive o Faróleo mostravam sua arte numa feira que existia no Terreiro de Jesus e que numa dessas intromissões da administração municipal, resolveu “organizar” a feira e terminou foi acabando. Ali muitos artistas moradores de área do Centro Histórico mostravam e viviam da venda de suas obras e objetos de artesanato  aos turistas.

Foto 1- Obra da Gaveta de Memória, no ACBEU.
foto 2- Leonel com o casal Vera e Paulo Prado,
famosos galeristas paulistas Foto 3-Leonel jovem .
Foto 4- Bel Borba, Chico Diabo, Justino Marinho,
Sérgio Rabinovitz e Maria das Graças, na
Galeria O Cavalete , década de 90. Foto 4- Com
o artista Siron Franco e Cleber Gouveia, na 
Galeria Abaporu, no Pelourinho, década de 90.
Foi nesta época em 1974 que decidiu casar-se com a hoje artista Rogéria Mattos. Comprou uma toalha rendada e uma sandália de couro na feira do Terreiro de Jesus. Da toalha fez uma bata, colocou uma pena de pavão num chapéu e assim se apresentou para casar-se na igrejinha da Ponta de Humaitá. Os noivos chegaram numa carroça puxada por um burro e o celebrante foi o padre Hugo, pároco da igreja. A recepção foi feita com dois quilos de balas jogadas no estilo galinha gorda. A noiva estava vestida de cigana e deste casamento nasceu sua filha Rebeca que mora em São Paulo. 
Nesta época Leonel Mattos também fazia impressões em camisas que eram vendidas a um barraqueiro do Mercado Modelo chamado Bernadino Machado  com motivos da Bahia como capoeira, o casario, puxada de rede e outros desenhos inspirados na cultura popular. Foram morar em Umburanas, na ilha de Itaparica e lá fez muitos entalhes das placas indicativas do Hotel Mediterranée que foi um grande sucesso este resort que recebia turistas de todo o mundo. Com esta encomenda conseguiu construir uma pequena casa em Mar Grande, na Fonte da Prata defronte para o mar. Decidiu fazer um mural  no terminal das lanchas em Mar Grande e pintou muitos quadros inspirados nas coisas e gente da ilha e contou  com a ajuda do prefeito de Vera Cruz Aginoel Aquilino dos Santos . Depois fez um mural no terminal de Bom Despacho no desembarque   tendo como suporte placas de Eucatex com 4m x 3m que ficou muito tempo e foi retirado durante uma reforma e não mais o recolocaram no lugar. Ele não sabe o paradeiro da obra.

                 SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO

Decidiram ir morar em São Paulo em 1985 e ficaram durante uns quinze dias numa pousada procurando uma casa para alugar no bairro do Sumaré. E foi através de d. Helena, que era russa e amiga de sua tia Dalva Mattos que conseguiu alugar uma pequena casa na Rua Desembargador do Vale e partiram para procurar galerias que pudessem aceitar o seu trabalho. Algumas nem os recebiam até que o Paulo Prado, conhecido galerista da Galeria Prado, que sempre apoiou jovens artistas os recebeu e expôs suas obras. O primeiro prêmio na carreira do Leonel Mattos foi em 1977 no Festival de Arte de Itapuã recebido das mãos do saudoso Sante Scaldaferri. Os artistas Leonel e Rogéria Mattos se inscreveram em vários salões inclusive no Salão de Pintura Jovem da Pirelli que teve uma participação de cerca de três mil artistas de todo o Brasil, e tanto Rogéria quanto o Leonel foram premiados e a exposição foi realizada no Museu de Arte  de São Paulo -MASP, sendo que Rogéria ficou entre os três melhores, segundo o júri especializado. Neste mesmo ano foi premiado no  Prêmio Chandon Arte e Vinho, no Paço das Artes e no VII Salão de Arte de Presidente Prudente, ambos em São Paulo; em 1986 foi premiado na I Bienal Arteoeste de Presidente Prudente, em São Paulo, com o Prêmio de Aquisição; em 1995 premiado na III Bienal do Recôncavo Baiano, realizado em São Félix/Cachoeira, com o Prêmio de Aquisição e em 2004 com o prêmio Braskem de Cultura e Arte com a Caixa Preta, que expôs no MAMB.

Obra recente onde incluiu rostos de conhecidos.
 Ficou cinco anos e meio em São Paulo, se separou e foi para Rio de Janeiro . Quando chegou ficou provisoriamente num apartamento do artista Jadir Freire, que foi para a Alemanha e lhe cedeu por um tempo. O Jadir também era baiano e  já faleceu. Continuou fazendo suas exposições na Galeria Anna Maria Niemeyer, no Rio de Janeiro; no Museu de Arte Moderna, no Paraná; no MAMB, e na Galeria O Cavalete, ambos em Salvador; em 1987 cria o projeto Extremo juntamente com Dina Oliveira, que é paraense; Ricardo Aprígio, de Pernambuco e Brito Velho, do Rio Grande do Sul, que foi uma exposição itinerante que percorreu dez estados brasileiros, inclusive teve uma exposição aqui no Museu de Arte Moderna da Bahia. Logo depois foi convidado pelo crítico de arte Jacob Klintowitz para participar da 1ª Seleção Helena Rubinstein no MASP, em São Paulo, e as obras foram mostradas em Paris e em Bordeaux, na França. Voltou para  Salvador e conheceu Indaiara e daí nasceu seu filho Leonel Rocha Mattos Filho, o Leo, já falecido, do qual eu era o padrinho.

GRANDE REVÉS E SUPEERAÇÃO

Fazendo escultura de
  cimento na prisão.
E
m 2000 sua vida sofreu um revés quando foi preso permanecendo 3,5 anos de reclusão, mas o Leonel Mattos não parou. Três meses depois que foi preso e sentenciado já dava a volta por cima e passou a pintar  inclusive as portas das celas e a ensinar alguns presos a trabalhar com tintas e pincéis. Quando faltava tinta improvisava com pó de café e continuavam pintando. Passou a escrever muitas cartas em qualquer papel que encontrasse, inclusive tenho algumas delas guardadas, onde mostrava toda sua revolta e sua ansiedade e o desejo de voltar a ser livre. Sou testemunha do empenho e da tenacidade de Isa Oliveira, com quem viveu 28 anos, sua ex-mulher, que teve um papel fundamental juntamente com seu irmão mais velho o João Mattos, que sempre procuravam as pessoas, inclusive a mim, que trabalhava no jornal A Tarde, e na época o veículo tinha um grande prestígio na sociedade baiana, e assim conseguiram que algumas reivindicações fossem atendidas. Ele é grato também ao André, da Bigraf, que fornecia os papéis para desenhar, e quem intermediava tudo isto era ela e o irmão João. Mesmo preso sua esposa à época conseguiu por exemplo, vender 173 telas para o Hotel Plaza de Camaçari e isto deu um certo alívio financeiro.

O Cristo que integra sua grande obrada Caixa
Preta onde conta toda a suatrajetória com 
com muitas fotos e textos .
Atualmente está no seu quarto relacionamento desta vez com Alba Trindade, que também pinta. É um artista diferenciado, reconhecido aqui e em outros estados brasileiros, inclusive com apreciação dos principais críticos de arte brasileiros como Geraldo Edson de Andrade, Olívio Tavares de Araújo, Olney Kruse e Theon Spanudis além dos críticos locais. Já participou de dezenas de salões, exposições coletivas e mais de vinte individuais em Salvador; Goiânia em Goiás; Porto Alegre; Brasília; Olinda em Pernambuco; Belém, no Pará; Recife, em Pernambuco; São Paulo, Capital; Santos, Ribeirão Preto, Presidente Prudente e Campinas, em São Paulo; Belo Horizonte, em Minas Gerais; Curitiba, no Paraná, e no Rio de Janeiro. Estas exposições foram anotadas até 2004, deste período para cá tiveram outras que ele deixou de computar. Com a sua capacidade de criar coisas novas e de pintar com entusiasmo de um iniciante Leonel Mattos continuará nos brindando com sua arte singular hoje disputada por colecionadores e galeristas.  E tem ainda muita estrada pela frente e coisas a realizar.



sábado, 9 de dezembro de 2023

ANTONETO O ARTISTA VELEJADOR

O artista Antoneto explicando sua relação com a 
 arte e o mar. Ele disse que são duas fortes paixões.
O Antônio Francisco Souza Neto ou simplesmente Antoneto é um artista inquieto desses que gosta de aventuras. Já fez uma viagem na juventude daqui até a Bolívia de carona, agora na maturidade velejou até o Cabo Horn que “é o último território ao sul do continente americano. É considerado o Everest dos navegadores. É tão isolado que a Marinha chilena  leva mantimentos e medicamentos para os moradores deste ponto afastado da civilização. Agora está se preparando para mais uma longa e arriscada viagem pelos oceanos até a Antártica. Dizem que as pessoas que gostam de aventuras têm um gene que não deixa ter medo e os impulsiona às aventuras. Portanto ao lado da sua pintura Antoneto tem a paixão especial pelo mar. Aliás desde criança que ele desenvolveu esta dupla relação com a pintura e o mar. É uma relação tão forte com o mar que em determinados períodos de sua vida dedicou-se mais às atividades de velejador do que a própria arte. Mas, ele afirma categórico que nunca vai abandonar
Casamento Nordestino,  obra d o artista  Antoneto,
integrante do meu acervo.
a sua arte e que sempre está produzido, e até me apresentou algumas aquarelas que fez durante a pandemia. Acrescentou que há vários  anos não fazia aquarelas e produziu muitas neste período. Tem pintado ultimamente com certa regularidade, mas o Antoneto com seu temperamento calmo tem estado mais reservado, mais restrito inclusive nos poucos eventos de arte que ainda são realizados em Salvador sua presença não tem sido observada. Desde que acompanho a sua trajetória lembro de suas idas à redação do jornal A Tarde anunciar suas exposições e sempre fazia um registro nesta coluna. Ele iniciou fazendo casarios, depois fez uma viagem ao Piauí e ficou encantado com a simplicidade daquele povo, foi quando iniciou uma fase de retratar os nordestinos, que teve uma aceitação de público e crítica, e atualmente está pintando um figurativo com uma pegada de surrealismo focado nas atividades circenses.

Uma bela xilogravura da fase Nordestinos,
autoria do artista Antoneto.
Lembrou que tinha casado recentemente e resolveram viajar com muito pouco dinheiro confiando nas caronas que poderiam tomar. Naquela época surgiu um movimento mundial de andarilhos pedindo carona por toda parte. Foi assim que ele e a Emília pegaram inicialmente um ônibus e foram para o Paraguai. De lá viajaram para o Norte da Argentina e depois para a Bolívia onde subiram em locais com quatro mil metros de altitude. A Emília começou a se sentir mal e tiveram que voltar. No retorno foram passar uma temporada na casa dos pais da Emília. Porém como os pais do Antoneto possuíam um apartamento no bairro de Armação, em Salvador decidiram morar  neste imóvel  que seus pais só frequentavam no verão. Certo dia seu amigo Calasans Neto disse “rapaz você não pode ficar morando aí sem um carro. Vou lhe apresentar o Juscelino que é  gerente da agência do Banco Econômico, na Barra, e ele vai conseguir um empréstimo para você comprar um carro.” Foi assim que adquiriu um fusquinha usado e as coisas foram melhorando. Nesta época estava sendo construído o Hotel Praiamar, também o Porto da Barra e o Juscelino lhe apresentou aos empreendedores espanhóis que resolveram comprar de uma só vez cem quadros para colocar no novo hotel. Antoneto trabalhou muito e conseguiu entregar as obras dentro do prazo acertado e recebeu como pagamento 5 mil dólares. Com este dinheiro e umas economias que tinha feito porque já estava vendendo bem aqui e até em outros estados resolveu ir para os Estados Unidos, isto nos anos 80. Foi
exatamente para a Filadelfia para estudar escultura, desenho e pintura durante seis meses na Pennsylvania Academy of Fine Arts. Lá teve contato com importantes mestres, estudou escultura com modelo vivo e abriu mais seus horizontes artísticos. Terminado os estudos na Pensilvania decidiu dar um giro por alguns países da Europa sempre com interesse em visitar museus, galerias e ter contatos com a arte produzida no continente europeu. Outra atividade desenvolvida muito tempo por Antoneto foi de empreendedor tocando a Gioconda que é uma galeria e molduraria que funciona há muitos anos no bairro do Chame-Chame, em Salvador. Hoje é sua filha Eva quem administra a Gioconda, ela também é dona da Pena Cal Galeria de Arte, que fica no bairro Caminho das Árvores, em Salvador. 
Ao lado uma aquarela que fez durante a pandemia intitulada Flores, de 1922.

                                                                       TRAJETÓRIA

Vemos nesta foto de 1978 Chico Diabo e Edison
da Luz ( falecidos), J. Cunha, Antoneto e Roberto
Goes, da Galeria RAG, também falecido
.
O Antônio Francisco Souza Neto  nasceu em 30 de setembro de 1948 na cidade de Saúde, que fica na Chapada Diamantina, na Bahia, e dista 353 Km de sua capital, Salvador. O município tem três rios o Itapicuru-Açu, das Pedras e o Paiaiá. Foi aí que iniciou a sua relção com as águas. Seu pai Waldemar Sousa e sua mãe Zita Rodrigues Sousa tiveram cinco filhos e ele exercia o cargo de agente ferroviário no município. É bom lembrar que o Brasil já teve uma grande rede ferroviária e que em vários municípios brasileiros e baianos o trem era muito utilizado para o transporte de cargas e pessoas. Lembro que era bem jovem e tomei na cidade de Alagoinhas o trem que foi batizado com o nome da miss Marta Rocha, por ser luxuoso, e nesta viagem encontrei o Oliveira Britto, que foi ministro da Justiça e da Educação no governo João Goulart e era um dos mais influentes políticos do Nordeste viajando para Salvador num dos vagões.

Antoneto com o pai Waldemar Souza 
numa de suas exposições. O pai
adquriu uma obra
.
O Antoneto permaneceu na Saúde até os onze anos de idade, tempo suficiente para atravessar muitas vezes nadando o rio Paiaiá. Ali brincou muito com seus amigos de infância, pescou, andou de canoas, enfim era uma vida de ribeirinho. Trouxe este gosto pelas águas para sua vida e hoje é um velejador que ama o mar.  Depois período seus pais vieram morar em Salvador, exatamente no bairro do Barbalho e ele foi estudar no Instituto Central de Educação Isaías Alves- ICEIA que era um belo complexo escolar criado em 1836 que vem aos poucos sendo deixado de lado por administrações catastróficas de governos estaduais. Fez o restante do primário no ICEIA e parte do ginásio. Conta Antoneto que descia com frequência a Ladeira de Água Brusca e ia para o então porto de São Joaquim aonde os barcos chegavam do Recôncavo baiano com mercadorias para abastecer a antiga Feira de Água de Meninos que desapareceu depois de um grande incêndio em 1963/64, e hoje funciona no local a Feira de São Joaquim. Ao lado tem um pedaço de praia que faz fronteira com o prédio da antiga sede da Petrobras, e lá muita gente costumava tomar banho de mar e as águas eram límpidas.  Também costumava solitariamente se arrumar e pegar um ônibus dizendo a sua mãe que iria assistir à missa na igreja do Bonfim e olhar seus azulejos, e na realidade seguia depois para a Ribeira onde ficava apreciando o movimento dos barcos e apreciando e o mar. Os azulejos ele costumava tentar copiá-los e pintar era a arte puxando o Antoneto que sempre dividia o seu tempo entre a escola, o mar e a arte. Atualmente o tempo é ocupado pelo mar e a arte.

Aqui vemos o casario, que ele pintou
muito no início de sua carreira. E suas
paixões a arte e o mar, onde se aventura.
 Esta aquarela é de 2022.


Ao terminar o ginásio foi estudar no Colégio Central, na Avenida Joana Angélica, em Salvador, e lá conheceu um colega que já trabalhava e era um exímio desenhista industrial, técnico, que lhe passou informações sobre perspectiva e outros elementos básicos para desenhar com alguma técnica. Ele não lembra o nome do colega quando estudavam no turno noturno do Central. Sua primeira esposa e mãe de sua filha Eva foi estudar na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia e tinha um nível de informações que também o ajudou enquanto conviveram casados durante sete anos. Comprou um apartamento de dois quartos no bairro do Costa Azul, em Salvador ao também artista, o saudoso J. Arthur. Onde foi morar com sua então esposa Emília, hoje conhecida como uma exímia restauradora. Na época pintava muito e foi expor na Portal Galeria de Arte, que ficava na Rua Augusta, na capital paulista, juntamente com seus colegas baianos Tati Moreno e César Romero.

                                                          MUITAS AVENTURAS

Foto 1- Antoneto e a tripulação comemorando a 
chegada ao Cabo Horn. Foto 2- O veleiro
Endurance. Foto 3- O cabo Horn com tempo
chuvoso. Foto 4 - Antoneto no timão, ao lado
 Fábio Pena Cal e Lauro Malheiros.
No ano de 1969 era a época dos hippies, do cabelo grande, calças de bocas largas, e ele Álvaro Simas (hoje arquiteto aposentado) e Marcos, um boliviano que estudava arquitetura na Bolívia e que veio passar uma temporada aqui decidiram sair daqui de carona até a Bolívia, com muito pouco dinheiro nos bolsos. Foram para São Paulo com o objetivo de procurar o consulado boliviano para pegar os passaportes. Acontece que houve um problema e os documentos foram extraviados pela Varig, que era a grande companhia aérea brasileira, e em compensação a empresa doou três passagens áreas até Porto Velho, capital de Rondônia. De lá atravessaram a fronteira pelo mato e tomaram o chamado Trem da Morte, onde viajaram até no teto do trem.O famoso Trem da Morte é o trem que liga Quijarro a Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia. Construída na década de 1950 este trecho da ferrovia tem mais de 600 km de extensão. O trem leva cargas e passageiros e é operado por uma empresa norte-americana. Há quem diga que o apelido Trem da Morte já nasceu com a própria ferrovia onde milhares de trabalhadores teriam morrido durante a construção por causa da malária.”

Exposição Nordestinos, 1978.
Lembra que no percurso teve uma blitz do exército boliviano e entre os passageiros do Trem da Morte tinha um alemão que resolveu dar a testa com os soldados bolivianos e recebeu em troca uns tapões e aí ficou quieto. Nesta época havia muitos grupos guerrilheiros em toda a América Latina. Seguiram até a cidade de Cochabamba e depois para La Paz. Enfrentaram muitas dificuldades para pegar carona, mas chegaram até Cuzco. A intenção era chegar a Machu Picchu onde ia ter um grande festival que atraiu gente de todo o mundo. Mas, o festival terminou sendo proibido pelas autoridades bolivianas com receio de danificar o patrimônio histórico.

Quando retornou foi trabalhar. Não concluiu o colegial no Colégio Central e foi trabalhar numa empresa de artefatos de borracha que até hoje funciona no bairro da Calçada chamada de Judabe S/a Indústria Comércio de Artefatos de Borracha, localizada na Avenida Fernandes da Cunha, na Cidade Baixa, em Salvador. Saia de casa às 6 horas da manhã e voltava depois das 18 horas. Ficou por lá uma   temporada, mas achou que não era a sua praia e voltou a estudar e continuou desenhando. Neste período aconteceu que seu pai que era maçom e tinha muitos amigos levou alguns deles a sua casa para mostrar os desenhos e pinturas que tinha feito sem ele saber de nada. Talvez estivesse preocupado em avaliar se o filho tinha algum futuro na profissão de artista. Lembra ter ficado um pouco chateado, mas depois compreendeu a preocupação do pai. Nunca soube o que os amigos maçons de seu pai disseram, só sabe que continuou pintando e está até hoje. Depois começou a se entrosar com o pessoal da Escola de Belas Artes e participou dos grupos que se formavam para decorar o carnaval de Salvador.

Mulher Bordando, acrílica sobre tela.
Relembrou que frequentava muito o Bar Santa Cruz, que ficava na Avenida Joana Angélica, de Gildo Alfinete, que era um mestre da capoeira e o bar reunia muitos intelectuais baianos. Foi aí que o Gildo lhe apresentou a um músico que tocava com o Wilson Simonal e na época o cantor estava fazendo muito sucesso e veio tocar no Teatro Castro Alves. Eles ficaram hospedados no Hotel da Bahia. O músico comprou um quadro dele e aconteceu que o Simonal gostou e resolveu visitar o seu ateliê que ficava na Lapinha. Ele chegou com seus acompanhantes olhou, olhou e não comprou nada. "Hoje pensando com mais calma acho que ele esperava que o presenteasse com uma obra, mas naquele momento não me veio esta ideia de doar um quadro ao Simonal. Ele me deu um cartão e disse quando fosse ao Rio de Janeiro que o procurasse. Fui depois para o Rio de Janeiro expor na Galeria Velha Bahia e conheci o jornalista Claudio Kusch que me apresentou a vários colegas seus. Parti para visitar as redações dos jornais que fizeram matérias sobre a exposição que iria fazer, inclusive estive no escritório de Simonal. No dia da abertura da exposição ele não compareceu, porque tinha um show. Na época  o cantor fazia muito sucesso e tinha uma agenda muito cheia, mas mandou um representante que adquiriu um dos quadros expostos.  Em seguida fiz uma segunda exposição  no Restaurante Cesari, que era muito famoso. Poderia ter ficado por lá, mas decidi voltar", disse Antoneto. Logo depois de voltar a Salvador foi fazer um curso livre de Desenho com o professor Riolan Coutinho, na Escola de Belas Artes, da UFBA, isto foi por volta de 1973. Já vivia exclusivamente de arte.

                                            MAIOR DESAFIO


O artista-velejador Antoneto além de velejar até o Cabo Horn já fez muitas outras viagens singrando as  águas do Atlântico. Foi por quatro vezes de Salvador à Fernando Noronha, seis vezes para Abrolhos, para Parati e Angra dos Reis no Estado do Rio de Janeiro e a perder de vista pelas ilhas que integram a Baía de todos os Santos com seu veleiro Blows de 37 pés. Porém agora aos 75 anos de idade sua aventura maior está sendo planejada com muito cuidado. O amigo Fábio Pena Cal está construindo um barco de 45 pés  todo de alumínio e dotado dos equipamentos mais modernos, adaptado para navegação polar , escolhendo uma tripulação experiente e de nível para sua viagem de Salvador até a Antártida. A tripulação será constituída de quatro a cinco pessoas. E o veleiro está sendo projetado e construído num estaleiro na Baia de Aratu com projeto de Roberto Mesquita de Barros, conhecido por Cabinho, que é um projetista renomado, inclusive já fez veleiro para Amir Klink que já foi à Antártida algumas vezes, inclusive sozinho. O barco vai custar cerca de 3,5 milhões de reais. Ao lado vemos o Antoneto e seu painel de 3,5m x 2,5m que ficava  no Salvador Praia Hotel, o qual foi demolido, e no lugar foram construidas três torres de apartamentos, no bairro de Ondina, em Salvador.