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sábado, 29 de junho de 2013

DEPOIMENTO DE EMANOEL ARAÚJO

JORNAL A TARDE,SALVADOR,  SÁBADO, 22 DE NOVEMBRO DE 1975

DEPOIMENTO:

Uma gravura de armar de Emanoel Araújo
R-Emanoel, como você explica a passagem da gravura para a escultura?
EA- Vamos começar desde 1968 quando surgem as primeiras experiências com relevo na xilogravura. Eu fazia uma gravura figurativa de cunho heráltico, simbolista, e comecei a geometrização da estrutura, e relevos.Depois se inicia minha fase abstrata entre 1969 a 1970 e logo em seguida as gravuras de armar, já uma tentativa além daqueles relevos gravados. As gravuras de armar se estruturavam no espaço com interferências do ambiente. A gravura era plana e as interferências de cortes ( matriz) eram feitas com faixas, também gravadas, que projetavam formas no espaço.Daí a gravura se arma mais simples ainda, sugerindo o relevo.
Então começo a fazer uns murais de concreto como uma sugestão que vem da gravura. O relevo e a escultura feitos por mim nasceram da gravura, inclusive do sincronismo entre a gravura e a escultura.
R-Como se deu esta passagem ? Foi uma passagem natural?
EA- A gravura se armou no espaço de tal forma que o relevo foi uma coisa natural.Daí os relevos de madeira, que estou expondo no Rio atualmente, foram sugeridos pelos relevos de concreto nos murais em grandes dimensões que fiz em prédios em Salvador.
O que sempre me interessou foi fazer gravuras grandes. Isto é, que essas gravuras ocupassem um lugar de importância na Arquitetura. Uma importância falada, que ela falasse, gritasse, não timidamente como queria Goeldi, mas que ela tivesse uma importância como teria a pintura, a escultura. Representa um passo mais longo você utilizar a Arquitetura ou uma tentativa não de integração, porque esta é uma afirmação muito complicada, mas de presença da arte na Arquitetura. Então esses murais para mim são importantes e vitais porque é a maneira que você tem de criar em grandes espaços.
R-Você concorda também, que além disto, a arte em grandes espaços ou a arte presente na Arquitetura possibilita que seja vista e valorizada por um  maior número de pessoas?
EA- Claro, a arte ganha maior dimensão e é uma satisfação para o artista porque aquilo que ele fez está em constante contato com o público.
R-Como você se sente com a utilização de novos materiais e também com mais espaços?
EA- evidentemente com esta tentativa da presença da arte na Arquitetura você trabalha com materiais utilizados na Arquitetura, que estão em contato com a Arquitetura, e com o tempo, como o concreto, a madeira a água, a qual utilizei como elemento novo em trabalho. Além disto utilizei granito.
Quero destacar a água porque recentemente utilizei água num trabalho que fiz em São Paulo onde entra o concreto e um material que é extremamente novo, que é vulnerável, se tratando de uma coisa que está em contato com a água. O que me interessa neste trabalho é a sua união com a água. Este material é o xaxim que é matéria orgânica viva.
Este xaxim em contato com a água vai criar elementos vivos ou sejam plantas . Isto vai criar uma alteração orgânica no próprio trabalho.
É uma espécie de cortina de concreto com a água que umedece o xaxim e aí os elementos vão se modificando com o passar do tempo este material é frágil pois dura de sete a dez anos, mas pode ser substituído. São formas mais ou menos geométricas com possibilidades de outras pessoas substituírem esses elementos porque as formas e espaços foram definidos.
R-Como você explica o abandono do figurativo, o abstrato, passando para o geométrico? Seriam fases?
EA- Não sei dizer se por muitas fases.Como jovem artista passei por algumas delas.Melhor dizendo, uma procura. Quando fiz minha primeira exposição no Rio de Janeiro eu estava mais ligado a atmosfera local. Estava revendo há pouco coisas antigas e pude verificar que elementos que apareciam hoje são repetições de coisas feitas em 1968. Esses elementos vão e voltam na medida que você amadurece, que você envelhece e busca mais. É o reencontro que o artista busca em outras linguagens.
R-Como Emanoel Araújo vê os múltiplos?Sua importância para o desenvolvimento do mercado de arte brasileira?
Escultura Aranha de Emanoel Araújo, 1981
EA- Já fizeram muitas tentativas de múltiplos. A gravura é o mais antigo múltiplo na História da Arte. Ela sempre foi feita com o objetivo de alcançar um maior número de pessoas. As tiragens sempre proporcionaram a arte a preços mais acessíveis. Quero destacar que a gravura brasileira surgiu de uma gravura de reprodução como aconteceu na Europa. Ela surgiu com os gravadores fazendo só gravuras com um público que não acompanhou o movimento, dando sua devida importância.
Vale destacar que o movimento dos gravadores, uma das coisas mais importante das artes do Brasil. Isto é muito engraçado pois talvez seja o Brasil que tem  um número maior de gravadores importantes. O público talvez tenha ficado alheio porque o público não era atingido pela gravura de reprodução.
Então a gravura surgiu como experiência, basta lembrarmos Carlos Oswald e Lívio Abramo.
Eram puros gravadores, que gravavam suas chapas, fazendo sua impressão, que lutavam sozinho fazendo sua tiragem. Assim este material nasceu caro e não chegava ao público.
-Este movimento é importante porque a classe média pode adquirir um múltiplo a preços mais acessíveis a arte alcança um maior público.
R-Dizem que existe no Brasil um preconceito contra o papel , é verdade?
EA- No Brasil  existiu um preconceito contra o papel, que foi sempre um elemento rejeitado. O público que compra uma gravura é quase o mesmo que compra a pintura, que compra o quadro de Di Cavalcanti por CR$ 80 mil cruzeiros, e pode comprar uma gravura, dez ou vinte por CR$ 2 mil cruzeiros. Nunca existiu no Brasil como existe na Europa e nos Estados Unidos um público que só compra gravuras.
R-E o desenvolvimento da gravura brasileira?
EA- Acho que a gravura brasileira tem vários estágios e cada um deles com a sua importância no seu tempo. Um tempo heróico foi o de Goeldi, um intimista, um homem muito mais ligado ao expressionismo e sua formação europeia, um homem que fazia sua gravura pequena, com a preocupação de guardá-las em pastas, muito delicadas. Depois em continuação surgem os seus alunos. Outro estágio seria a primeira manifestação, que considero mais importante que é a chegada de Fred Lander com seu trabalho no Museu de Arte Moderna, quando surge Fayga, Ana Letíca e outros gravadores.
Paralelo a este movimento há um em São Paulo iniciado por Lívio Abramo já com outro tipo, mas intimista, impresso a mão, delicada e frágil.
O grande momento da gravura de metal brasileira, quando o metal começa a ser estipulado. É outro estágio onde aparecem novos gravadores, com gravuras de maiores dimensões. Na Bahia Havia um movimento importante, embora nunca chegou a dar o seu grito porque houve uma dispersão. Não podemos negar a importância da gravura das pessoas que foram orientadas por Mário Cravo, e logo depois, por Henrique Oswald, mas como sempre fui rebelde, ela ganhou outra dimensão pelo constante contato que venho com o eixo Rio-São Paulo, que é de suma importância para um jovem artista, para um artista que começava. Ainda mais, a gravura que se fez aqui, que se criou aqui deu uma contribuição nova à gravura brasileira porque fizemos uma gravura de madeira impressa em prensa de metal.
Tirávamos a fragilidade do papel japonês e a impressão de colher a mão. Este papel tem mais resistência e nos dá possibilidades de fazer trabalhos com maior dimensão e de seu uso ao lado da Arquitetura.
No Brasil não há um preconceito contra o múltiplo e sim contra o papel. Isto é muito curioso porque está provado que o papel é um dos mais resistentes que a própria tela. Lembremos que vários desenhos de Da Vinci estão bem conservados e foram feitos em papel, enquanto as suas telas já chegaram a ter 400 restaurações.
O papel, evidentemente, tem que ser cuidado e uma pessoa que adquire uma gravura deve ter a consciência que ela não pode estar exposto a luz ou ao sol.
Emaneol diante de uma escultura de sua autoria num espelho d"água
Mesmo uma tela não resistiria. O preconceito é mais contra o suporte no caso o papel, do que contra o múltiplo.
R-O que acha da responsabilidade com relação a limitação exata da tiragem? Das tiragens irregulares?
EA- Creio que um artista que assina e enumera suas gravuras deve ter a responsabilidade de manter isto.Se ele não mantém, não é um profissional digno. Se isto acontece é lamentável, mas deve ser por falta de informação. Não creio que ocorra com frequência. Foi definido num congresso internacional o que seria uma gravura original, uma gravura reprodução, tiragem, provas, etc. O gravador tem por direito fazer uma tiragem o que se pode chamar comercial numerada de um a dez, por exemplo, e de tirar várias provas que equivalem a um número total. Tira provas dos estágios de impressão, prova de artista e a final, e depois, as  que serão comercializadas. Há essa possibilidade e por isso não vejo como se trair. Esta traição será mais a ele próprio, ao seu próprio trabalho.

FLORIANO TEIXEIRA E A VIDA EM MINIATURA

JORNAL A TARDE, SALVADOR,  SÁBADO, 20 DE SETEMBRO DE 1975

A preferência em desenhar e pintar
tipos populares
Floriano Teixeira, artista plástico dos mais conceituados  nasceu no Maranhão, morou muitos anos no Ceará e, atualmente está radicado em Salvador. Bahia. Homem de fácil diálogo, com tendência a cigano. Ama a terra onde trabalha mais de repente poderá trocá-la por outra.
Desde 1941 que participa de mostras coletivas, tendo sido um dos fundadores do Núcleo Eliseu Visconti, em 1949. Fixou-se em Fortaleza, no ceará onde fundou o Grupo dos Independentes, em 1952. Em 1962 figurou na exposição inaugural do Museu de Arte Moderna da Universidade do Ceará, bem como na mostra de oito artistas no Ceará no Museu de Arte Moderna da Bahia, no ano seguinte.Premiado  com o primeiro lugar, juntamente com Betty King, na I Bienal Nacional de Artes Plásticas que foi realizada em 1966, em Salvador. Até agora só realizou duas exposições individuais: uma na Galeria Convivium, em 1965, em Salvador, e outra na Bonino em 1967.
A criança é presença constante
em sua extensa obra
Grande ilustrador já tendo trabalhado na ilustração dos livros Dona Flor e seus Dois Maridos e A Morte de Quincas Berro D’água ( edição de luxo), de autoria de Jorge Amado e agora está ilustrando todas as obras de Graciliano Ramos que está sendo relançada mais uma vez pela editora Record.
Floriano de Araújo Teixeira, nasceu no ano de 1923, na Cidade de Cajapió, no Maranhão, e desde cedo utilizando o folclore de sua terra e outros motivos religiosos começou a dedicar-se à pintura. Utilizou também tipos populares e objetos de arte popular (naturezas mortas.) Sentiu a influência da corrente abstracionista e depois da figurativista.

O ENCONTRO
Depois desta necessária apresentação vou transcrever o encontro que tive com Floriano Teixeira, no jardim de sua casa no bairro do Rio Vermelho, recanto dos intelectuais baianos. Com seu jeito matreiro iniciou a conversa contando uma estória.
"Quando me arrumaram para fazer a primeira comunhão descobri que não lembrava de um só pecado cometido. Daí pedi ao padre que me confessava que fizesse as perguntas e  comecei a lembrar-me de alguns pecados cometidos. Eram tantos que formavam um rosário". Assim Floriano queria que eu perguntasse o que desejava saber. Perguntei e fiquei sabendo que ele está com 52 anos de idade e que desde os 14 anos leva a pintura a sério, como uma profissão. Jamais pensou em vir morar em Salvador, mas um dia foi convidado para a inauguração do Museu de Arte Moderna da Bahia e aí encontrou o Obá e escritor Jorge Amado, que naquela época acabava de chegar do Rio de Janeiro para residir aqui. Conheceu através de Jorge outros pintores e fez rapidamente um círculo de amizade. O convite foi imediato. "Floriano você tem que vir morar na Bahia."
 A princípio a ideia de vir para a Bahia com uma penca de filhos, deixando no Ceará um emprego público certo era realmente uma decisão muito grande. Mas, o Obá não desistiu e começou a escrever pedindo que Floriano viesse. Jorge Amado arranjou umas trinta assinaturas de personalidades baianas e enviou um telegrama ao Reitor da Universidade do Ceará pedindo o desligamento de Floriano. Aí não teve mais jeito. Eis que chega o Floriano sozinho. Passa alguns dias na residência do Obá e começa a procurar casa para trazer a família. Veio, e veio como profissional para concorrer com os demais artistas que disputavam um mercado em nascimento.
Começou a trabalhar respirando os ares da velha Bahia. O primeiro ano foi um pouco difícil, mas no segundo em diante o trem começou a correr nos trilhos. O círculo de amizade foi aumentando e as pessoas já procuravam o artista Floriano para adquirir uma obra de arte de boa qualidade. Hoje, é um artista amadurecido, respeitado e acima de tudo integrado à paisagem e a vida  baiana.

MERCADO DE ARTE
Diz Floriano Teixeira que antes do grupo de Mário Cravo, Genaro de Carvalho e Carlos Bastos não existia um movimento de arte na Bahia. Depois veio o Jenner Augusto, de Sergipe e, o Carybé, da Argentina .Aí a Bahia se projetou no cenário artístico nacional. O mercado de arte começou a se desenvolver .
Este desenho demonstra a
sua técnica apurada como
grande ilustrador que é
"Quando cheguei este mercado estava dando os seus primeiros passos e até algumas galerias já surgiam. Hoje posso afirmar que o mercado existe só que é um mercado para fora.Trabalhamos e, a maioria das obras que criamos são vendidas para colecionadores de outros estados ou mesmo do estrangeiro."
Sobre a inflação de artista na Bahia Floriano tem uma posição firmada : "O homem que investe numa obra de arte ele sabe o que está fazendo. Sei que existem muitos artistas e que estão vendendo. Alguns destes artistas não tem amadurecimento ou mesmo não estão realizando um trabalho sério, mas conseguem vender e isto prejudica a qualidade."
 E continua: "Toda dona de casa ou jovem que não consegue passar no vestibular inventa que é artista e começa a usar o pincel. Usam de forma indevida. Mas não sou contra ninguém, só que recomendo a essas pessoas que estudem e levem a sério. Uma exposição só deve ser realizada quando agente tem realmente alguma coisa para mostrar. De nada adianta  exposição por exposição.Quando a gente tira um quadro do cavalete e coloca numa exposição ou mesmo numa galeria para ser comercializado fica exposto ao julgamento público. Este quadro pode ser apreciado ou não. É muito chato a pessoa criar uma coisa e os outros depreciarem, porque muitas vezes não tem valor. Eu, até o momento tenho tido sorte e meus trabalhos estão tendo boa aceitação."

MELHOROU
Floriano Teixeira reconhece que deve muito à Bahia porque aqui pode dedicar-se inteiramente a seu trabalho de pintor. Aqui pesquisou e amadureceu a sua pintura: "Até antes de vir para a Bahia não vivia exclusivamente da pintura. Aqui mudei meu sistema de vida. Passei a viver de pintura.Como tinha passado por várias fases e escolas, a minha pintura reflete um pouco de cada uma delas. Este caminho que venho percorrendo no decorrer de minha vida profissional possibilitou o amadurecimento e o encontro de minha individualidade e personalidade artística. Aqui tive e tenho tempo de pesquisar. Melhorei a minha pintura tanto tecnicamente como na concepção. Hoje, faço uma pintura que tem sido aceita, até pelos mais intransigentes."

SUA PINTURA
Seus óleos de grandes espaços e planos com pinceladas largas identificam o seu trabalho. Nesses planos surgem figuras diminutas, homens, mulheres e crianças.Talvez consciente ou inconscientemente Floriano na sua simplicidade queira mostrar quanto pequeno é o homem diante do Universo. Um graveto, uma miniatura que pode ser esmagado a qualquer hora.
Além disto Floriano é um bom desenhista e exímio ilustrador o que de certa forma lhe facilitou o uso da cor, que veio acontecer com mais intensidade depois de sua vinda para a Bahia.
Seu trabalho é tão individual que mesmo sem a sua assinatura é perfeitamente identificado a sua autoria.

UMA FINLANDESA EM SALVADOR

JORNAL A TARDE,SALVADOR,  SÁBADO, 25 DE OUTUBRO DE 1975

A finlandesa Eila é uma tapeceira de fama internacional, com exposições realizadas em Estocolmo e várias capitais européias. Está radicada no Brasil há vários anos. Estudou pintura com Cândido Portinari e durante muitos anos vem pesquisando em busca de novas formas de expressão através da pintura até chegar a tapeçaria. Em seu país o tear é utilizado há centenas de anos e ela transportou a técnica do tapete de chão para o tapete-arte. Os motivos inicialmente foram inspirados na cultura marajoara, pois  viveu muito tempo no Pará. Dos motivos indígenas passou para os hábitos e costumes urbanos das várias capitais onde viveu. Eila que se encontra em Salvador, está preparando uma exposição para os próximos meses na Galeria da Pousada do Carmo.

            INGLATERRA NA XIII BIENAL DE SÃO PAULO

 Vinte e dois artistas foram selecionados para compor a mostra Intitulada Desenhos Britânicos Contemporâneos, que está sendo apresentada pela Inglaterra na XIII Bienal de São Paulo. A Grã-Bretanha planejou sua presença em de São Paulo. Este país sempre esteve presente oficialmente em quase todas as bienais paulistas desde o início em 1951, com exceção da décima segunda, de 1973, quando foi representada apenas como patrocinadora de alguns artistas. Para este ano, o Conselho Britânico planejou uma exposição de desenhos para percorrer a América do Sul. Assim, a representação britânica depois do encerramento da XII Bienal a 5 de dezembro próximo irá para Brasília e depois Rio de Janeiro, antes de ser enviada para a Argentina.
A exposição está composta de 90 desenhos de 22 artistas, todos conceituados no circuito mundial de arte. Desta forma o visitante da Bienal fica sabendo  que está acontecendo na cena artística britânica. A exposição inclui desenhos que abrangem um período de mais de 15 anos, da peça Bertram Mills Circus de Peter Blake, feita em 1971, a Fortress 7, de Martin Naylor, de 1975, e revela uma espantosa variedade de  estilos e intenções, variando dos retratos acabados de David Hockney às investigações exploratórias de Michal Sandie sobre os problemas de criação de monumentos que nunca serão construídos, e aos cartões de esboços de Bridget Riley, que seus ajudantes depois a ajudam a transformar em pinturas acabadas. São os seguintes os artistas participantes: Clive Barker, Peter Blake, Bernard Cochen, Michael Craig-Martin, Rita Donagh, Barry Flanagan, David Hoskney, John Hoyland, Paul Huxley, Bill Jacklin, Peter Joseph, Jeremy Moon, Martin Naylor, Tom Phyllips, Cahl Plackman, Bridget Rley, Michael Sandle, Colin Self, Richard Smith, Lan Stephenson, William Tucker e Jonh Wlaker.

           TRINTA VÃO PINTAR BELAS SEREIAS
Yurita suas mostrará  sereias aos baianos

No próximo dia 6 de novembro a Galeria Sereia estará reunindo sob a direção do marroquino Dimitri Ganzalevitch trinta artistas que mostrarão aos baianos belas sereias. O tema da exposição será Sereias, com quadros também com dimensão estipulada: 25 de comprimento por 30 de largura.
Esta exposição será uma das mais movimentadas tendo em vista que Dimitri, além de ser um grande marchand está tomando muitas providências que já asseguram de início o êxito da mostra. Basta dizer que os artistas convidados aceitaram a ponderação para limitação da temática e dimensão dos trabalhos que expostos.
Dimitri justifica a solicitação, quanto ao tamanho das telas porque "a nossa galeria tem pouco espaço e não comportaria um grande número de trabalhos grande". Assim Mirabeau Sampaio, Carybé, Sante Scaldaferri, Floriano Teixeira,  Carlos Bastos, Juarez Paraíso, e outros de renome, como a paulista Yuriko, participarão da exposição.
MARCHAND
O marchand Dimitri nasceu em Marrocos em 1936, e lida com arte desde os 16 anos de idade. Estudou arte em Madri, Lisboa, Londres e Paris, e até pouco tempo estava radicado em Portugal. Está em Salvador desde 2 de julho último para onde veio trazendo sua experiência com vistas a fortalecer o mercado de arte baiano que infelizmente funciona de dentro para fora, isto é produzimos aqui para vendermos a visitantes.

                 JOSÉ BANDEIRA E SUA PINTURA PRIMITIVA

Está expondo no foyer do Praiamar Hotel, na Barra, o artista Jorge Bandeira.Um primitivo autêntico onde os traços simples e o colorido enchem a vista do espectador. As igrejinhas  e o casario colonial em toda sua existência vão surgindo espontaneamente nos quadros de Jorge Bandeira. Ao fundo o colorido da vegetação tropical e bem a frente as figuras humanas a desfilar, com seus trajes sacros.
Quando visitei a exposição de Jorge Bandeira pude sentir as cores do tropicalismo brasileiro e sua preocupação em não particularizar os detalhes das figuras, dos coroinhas e das imagens.
Jorge é baiano do Salvador. Nasceu em 1952 e já realizou quatro viagens ao exterior, e é o Presidente do Centro do Nordeste de Artes Plásticas, desde 1969. Conhecedor e admirador do homem nordestino, de onde capta inspiração para seu trabalho de artista. Em determinados momentos por uma existência vivencial  chega perto da documentação através de seus trabalhos, da vida e da alma nordestina.

SÉRGIO VELLOSO INAUGURA GALERIA PORTAS DO CARMO

Sérgio Velloso na Galeria
Portas do Carmo
A inauguração de uma galeria sempre é motivo de satisfação para o crítico de arte.Orgulho, porque é através da galeria que o movimento artístico ganha força e o mercado de arte sempre funciona como elemento impulsionador para o surgimento de novos artistas. Agora é a vez da inauguração da Galeria Portas do Carmo, que contará com uma exposição coletiva de pintura e desenho. A data de inauguração foi no dia 24 de outubro passado. Participaram da mostra Réscala, Lygia Milton, Gilberto Gomes, Sérgio Velloso, José Tiago, Pedroso e Sampaio. Dois deles ainda não tive oportunidade de conhecer seus trabalhos: José Tiago e Sampaio. Mas, pela seleção dos demais acredito que merecem confiança. Já o Sérgio Velloso tenho visto alguns de seus trabalhos e acredito na carreira deste jovem pintor. Ele está expondo alguns quadros com a temática que denomino de Paraíso. As figuras estão despidas numa paisagem quase que surrealista.

TRABALHO EM PASTEL E BICO DE PENA DE CARLOS COSTA

Trabalho em pastel e bico de pena
de Carlos Costa
A princípio pensou-se em uma exposição com trabalhos de vários alunos da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, em homenagem ao engenheiro Américo Simas, que eve uma grande ligação com o espaço urbano de Salvador. Com a paralisação das aulas, no entanto, houve uma modificação na programação que foi elaborada pela comissão organizadora: a data foi transferida e a exposição A mostra estará aberta ao público a partir do próximo dia 1º de novembro, e os trabalhos apresentados estarão sob a responsabilidade dos artistas Carlos Costa,Roberto Aranha, que se propõem a levar ao público baiano num espaço de 15 dias , o aprimoramento e o aperfeiçoamento das técnicas que foram estudadas para a elaboração de seus trabalhos. São trinta e três quadros, alguns elaborados através da fusão de técnicas como: pastel com bico de pena,pastel e óleo ou ainda óleo e entalhes,cuja experiência de alguns de seus idealizadores , já bastante conhecida na Bahia, outros, apesar de pouca idade tem gravado no seu curriculum exposições na Bahia e em outros estados.

            A PINTURA SURREAL DE JORGE VIDGILI

Com vinte trabalhos a óleo, o artista carioca Jorge Vidgili inaugurou, dia 23 no Centro de Pesquisa de Arte que funciona na Rua Paul Redfern, 48,  no bairro de Ipanema uma mostra individual de temática surrealista.
Autodidata, Jorge Vidgili começou artísticamente pelo retrato, tendo participado das exposições coletivas no Rio de janeiro nas Galerias Nono Andar e Soarte. Em 1973, transferiu-se para São Paulo, onde atualmente reside, dedicando-se não somente  à retratística como também à pintura, tendo realizado na Capital paulista sua primeira mostra individual na Tocha Galeria de Arte.
Nesta volta ao Rio diz a apresentação - Jorge Vidgili é um pintor embrenhado numa linha surrealista, sem pretensões a inovar, mas sabendo acrescentar alguma coisa de sua personalidade nessas cenas onde iniciam-se e integram-se num misto de sonho e irrealidade. A exposição de Jorge Vidgili fica aberta no CPA até o dia 15 de novembro Horário: das 14 às 23 horas aos sábados das 14 às 19 horas.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

FEIRAS DE ARTE NO INTERIOR

JORNAL A TARDE SÁBADO 02 DE AGOSTO DE 1975



Fui convidado pela Casa da Amizade de Feira de Santana para participar da  I Feira de Arte que se realizará amanhã, na praça da Matriz, a partir das 10 horas até às 21 horas, quando mais de uma dezena de artistas e artesãos estarão expondo seus trabalhos. A feira é patrocinada também pela Secretaria de Turismo do Município e o Museu Regional e ela se repetirá em todos os primeiros domingos de cada mês. Tem como objetivo levar a arte ao povo com a participação de pinturas, esculturas e trabalhos de artesanato. Participarão desta feira os artista: Juracy Dórea Falcão, Miguel Alves, Vivaldo Lima, Nailson Chaves, Manuel de Souza, Charles Albert, Ana Pinto Cláudio, Allan Guimarães, Míriam Paciência, dentre outros. O professor e grande ceramista Udo Knoff também estará presente e haverá apresentações do repentista Caboclinho e do músico Peter.
A pintora primitiva Maria Araújo expõe  durante o
Festival de Inverno de Morro do Chapéu
Recebi também o convite do I Festival de Inverno de Morro do Chapéu que foi iniciado ontem, e que se estenderá até amanhã reunindo artistas da região, entre os quais o escultor Carlito.Como diz Wilson Rocha "suas figuras compactas e monumentais, com fortes tendências abstracionistas lembram guerreiros helênicos.''
O que pretendo é mostrar a importância do trabalho que algumas pessoas estão interessadas em desenvolver em cidades do interior de nosso Estado, levando a arte ao povo. Esta interiorização da arte faz-se necessário e é de primordial importância para o desenvolvimento cultural.
Li recentemente que a Bahia apresenta um alto índice de analfabetos, o que certamente não condiz com a nossa formação. É preciso que a arte seja levada ao interior, cada vez mais, com afinco e sobretudo com o objetivo de educar.

             ANITA DANTAS E SUAS BONECAS

Foi feliz na escolha do tema para a realização de alguns quadros da série Bonecas que agora são mostrados na Panorama Galeria de Arte . Sim bonecas que não falam, não andam mas, que mostram grande expressividade e pureza. Principalmente, as bonecas não morrem. Vivem eternamente no coração daquelas pessoas que, quando crianças, as embalaram em seus braços.
Assim a artista Anita Dantas vai retratando as bonecas, desde as mais simples de pano às mais sofisticadas, criadas e fabricadas pela sociedade de consumo, que mesmo com sua crueldade não conseguiu roubar-lhes a pureza. Anita Dantas não é mais uma madame que resolveu pintar nas horas vagas. Sim, porque estamos assistindo pasmados e de braços cruzados a fabricação de artistas. É artista pra todo lado. Em cada casa tem um artista. Não. Anita Dantas tem criatividade e sensibilidade e vem realizando um trabalho consciente.
Com poucas pinceladas ela consegue expressividade em suas Bonecas. Notei uma tendência a espontaneidade de pinceladas, sem a preocupação com a rigidez do traço. Notei também, nos trabalhos que tive a oportunidade de ver, a preocupação da artista com o back ground e também com a profundidade. Dentro desta temática, Anita Dantas deve continuar pintando, pois tenho certeza que conseguirá maior leveza em sua pintura.

          SÉRGIO RABINOVITZ MOSTRA GRAVURAS

Já falei de Sérgio Rabinovitz, um jovem gravador que a partir de 8 do corrente estará expondo na Mini-Galeria da USIS, no Corredor da Vitória, 1883 artigo 214.
Com esta exposição se despede da Bahia, devendo viajar para os Estados Unidos onde cumprirá um programa de estudos patrocinado pelo Instituto of International Education.

         SÁVIO ARAÚJO E SUAS ILUSTRAÇÕES EXPRESSIVAS

O artista pernambucano Sávio é um bom ilustrador
Conheci alguns quadros do pintor e ilustrador Sávio Araújo através de seu pai Valter Vieira Araújo que me levou ao Praiamar Hotel, no bairro da Barra, onde mais de uma dezena de quadros inspirados em temas sacros estavam expostos. O trabalho de Sávio mesmo os quadros a óleo, mostram uma tendência nata  à caricatura. As figuras são tão estilizadas que ora confundem-se com caricaturas e os volumes são executados em cores planas e outras vezes com uma fusão de tons similares, sem perder a sua própria unidade. Tons claros e limpos dando aos santos retratados uma atmosfera angelical de pureza. Embora com 19 anos, Sávio já é o editor de arte de uma estação de televisão em Recife e trabalha como ilustrador do semanário Jornal da Cidade, também da capital pernambucana. Nascido em Garanhuns, Pernambuco, o menino Sávio sempre gostou de desenho. Aos 12 anos realizava sua primeira exposição de desenhos feitos com crayon. Aos 15 anos já trabalhou em algumas agências de propaganda em Recife e com 16 anos foi trabalhar na Rede Globo. Vive hoje exclusivamente de seu trabalho e espera dentro em breve deslocar-se para o sul do País, onde pretende desenvolver melhor a sua arte.
Sua rápida exposição no Praiamar Hotel, na Barra, foi o primeiro contato com o público e o mercado de artes baianos. Mas Sávio deverá voltar a Salvador para mostrar melhor sua arte, com novos trabalhos que certamente serão ainda mais concebidos.

  OS ÍNDIOS, UMA MINORIA VÍTIMA DA CIVILIZAÇÃO

Objetos utilitários da tribo Krahó, do estado de Goiás
Os dirigentes do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro pretendem realizar uma série de exposições e outras promoções de trabalhos e outras manifestações das minorias indígenas, com o propósito de sensibilizar autoridade e o povo brasileiro sobre a necessidade da preservação da identidade e coerência dos seus sistemas culturais. A primeira é a mostra de objetos da tribo Krahó e desenhos do alto Xingu. Consta, portanto, de suas partes distintas, porém complementares:de um lado a mostra em torno do grupo tribal Krahó, que habita o Norte de Goiás armada com um ambiente em que se pode sentir o seu envolvimento material-cultural diário.
A outra parte reúne 135 desenhos espontâneos recolhidos entre índios do Alto Xingu e interpretados didaticamente em termos da visão do mundo através deles e de seus símbolos se fixa.
A exposição é patrocinada pela Funai, com a colaboração do Centro Nacional de Referência Cultural. Os desenhos cerca de 800 foram coletados e depois selecionados 135 pela etnóloga Heloísa Fenelon que afirma a existência da predominância dos homens, a seguir as crianças e depois as mulheres na feitura dos mesmos. Esta mostra permanecerá aberta até o dia 31 de agosto.
Faço este registro em homenagem a todos os índios brasileiros e especialmente aos índios que habitam terras baianas como os Kiriris, em Ribeira do Pombal, os pataxós, no extremo sul da Bahia, e fazendeiros e pela falta de atenção dos órgãos competentes. Seus trabalhos em vez de expostos são vendidos a preços de bananas a turistas que aparecem por lá. Talvez uma etnóloga não encontrasse, juntando todas as tribos que vivem na Bahia, muitos desenhos ou mesmo objetos, e isto tem uma só explicação: a miséria não deixa ninguém criar.

               CONCURSO DE FOTOGRAFIAS EM GOIÁS 

Há cerca de um mês noticiei que tinha recebido da Secretaria de Educação do estado de Goiás um programa de um concurso de Artes Plásticas e que se alguém estivesse interessado poderia me procurar na redação de A Tarde. Acontece que o primeiro interessado que apareceu levou o programa e outros ficaram sem o mesmo. É por esta razão que decidi publicá-lo, sempre que possível, na íntegra como fiz a semana passada com um concurso de Cartazes e faço agora com este de Fotografias.
Regras:
1.º) O concurso é aberto a todo fotógrafo amador ou profissional, de qualquer parte do mundo.
2.º) São elegíveis fotografias tiradas com câmeras de 35mm., tais como Nikon, Nikkormat Nikonos Calypso/Nikkor.
3.º) Fotografias já publicadas ou aquelas já entregues para publicação não serão aceitas. 
4.º) 0 Os participantes poderão submeter até um máximo de cinco fotografias em cada uma das seguintes categorias, sempre acompanhadas do formulário de inscrição 
 Categoria A: preto e branco deverão ser ampliações com tamanhos variando de 20x25 cm, até 28x36 cm. 8x10 a 11x14 polegadas, sem montagem. No verso de cada fotografias deverão constar: nome completo do participantes, endereço e título de fotografia. 
Categoria  B: Colorido:
a) slides montados molduras de papelão, plástico ou vidro.Deverá ser escrito na parte superior de cada slide, o nome do participante. Além disto deverá ter um ponto vermelho assinalado no canto esquerdo e inferior de cada slide, indicando o lado sem emulsão para que seja usada a posição correta durante a projeção no julgamento, e na posterior reprodução.
b) Fotografias coloridas, sem montagem. Deverão ser ampliadas em tamanhos não inferiores a 20x25 cm. (8x10 polegadas, podendo ser maiores que esta medida. Deverá ser anotado no verso, nome completo de participante endereço e título de fotografia. Os motivos da fotografias não serão restritos sendo de livre escolha do concorrente o assunto.
5.º) As fotografias serão julgadas por um júri composto de nove fotógrafos japoneses de renome, um crítico de arte e um artista gráfico, todos eles são líderes  suas atividades e membros  da direção de Nikkon Club.
6.º) Os formulários do concurso, devidamente preenchidos deverão ser entregues juntamente com as fotografias 
7.º) As fotografias deverão ser enviadas a T. Tanaka & Cia. Ltda rua Martim Francisco, 438 Sta Cecília Caixa Postal, 5.988, São Paulo, até o dia 15 de outubro deste ano 
8.º) Nenhuma fotografia será devolvida exceto de slides positivos a cores desde que tenha sido preenchido o cumpon de retorno. 
9.º) Os vencedores inclusive Menção Honrosa serão convidados a  apresentar os negativos originais não duplicatas antes de receber os prêmios. Quem não o fizer será desclassificado. 
10.º) Os promotores não serão responsáveis por nenhuma reclamação ou queixa de modelos que apareceram nas fotografias a serem publicadas ou exibidas. Se necessário exigiremos do fotógrafo a autorização do modelo para publicação. 
11.º) Os vencedores receberão os prêmios através do representante do promotor conforme endereço acima. 
12.º) Em fevereiro de 1976, serão anunciados os vencedores do concurso, e cada vencedor será notificado pessoalmente. E uma publicação especial das fotografias vencedoras serão enviadas a cada participante. 13.º) Todos os direitos são reservados ao promotor quanto á reprodução e publicação de todas as fotografias. Todavia os promotores não se responsabilizarão por possíveis extravios ou danos ocasionados no transporte.

Prêmios para ambas as categorias
1º Prêmio - A - preto e branco e B colorido - o vencedor de cada categoria receberá uma Medalha de Ouro com nome do vencedor gravado, e mais direito a escolha de uma das câmeras e duas das objetivas Nikon
2.º Prêmio -dez vencedores em cada categoria: Medalha de Prata com o nome gravado e escolha de um corpo câmera Nikkomart E1 ou Nikkomat TF2 e uma objetiva 
3.º Prêmio - vinte vencedores em cada categoria Medalha de Bronze com nome gravado e um corpo de câmera Nikkomart MT2 .
Menção Honrosa: quarenta vencedores em cada categoria Medalha de Bronze e uma caneta tinteiro especial Nikkon.

EDSOLEDA E A CIDADE

JORNAL A TARDE, SALVADOR,  SÁBADO, 07 DE JUNHO DE 1975

A Cidade, a artista Edsoleda
"É anômalo que numa sociedade tecnologicamente tão avançada e tão afluente quanto a nossa, existam tantos quilômetros quadrados de favelas e áreas ainda mais extensas de melancólica decrepitude e expansão caótica."Edward C. Banfield, A Crise Urbana: Natureza e Futuro. 
Estas palavras de Banfield traduzem uma preocupação de vários estudiosos e artistas com o futuro das grandes metrópoles. E esta artista Edsoleda sem dúvida é uma grande artífice na retratação desta situação caótica em que vivemos. Seus desenhos, suas cidades mostram este caos. As janelas, portas, e arcos confundem-se com pedaços de corpos humanos. Alcança o sentido corporeidade com implicações surreais. Assim, com a utilização de elementos da arquitetura, Edsoleda nos mostra em sugestões fantásticas uma arquitetura humanizada.
Os problemas da solidão, da massificação e outros, são jogados misturados aos elementos da arquitetura através a elaboração de uma composição de massas e volumes que são separados por vigorosos traços.
Ela não usa figuras humanas quando     elementos sugestionam qualquer observador a presença do humano. Tudo é feito dentro de uma espontaneidade de criação e tamanha [e a sua força criadora que muitos ficam surpresos quando a conhecem por sua aparente fragilidade. Mas, na realidade, Edsoleda esconde uma grande capacidade em criar o que nos é revelado através de seus excelentes trabalhos. Falta a esta artista uma maior oportunidade para que possa mostrar os seus quadros não somente em Salvador mais também em outras capitais onde o mercado de arte é mais desenvolvido.
Edsoleda acredita que nós, que vivemos nas grandes metrópoles, estamos sofrendo a todo instante impulsos que sofremos mais influências do meio que nos cerca."Não sei se sofro influência de algum artista, mas certamente as motivações dos veículos de comunicação, do viver numa metrópole me condiciona a reagir desta ou daquela forma. Juarez Paraíso acha por exemplo, que na minha fase atual, da arquitetura humanizada, a cidade, resulta um mundo de sugestões fantásticas, o absurdo aparente de um Gaudi. Sinceramente não sei explicar se isto ocorre.
A artista estudou Belas Artes na Universidade Federal da Bahia, concluindo o curso de Escultura em 1965. Abandonou a escultura e foi estudar Desenho, terminando por licenciar-se nesta matéria. Hoje divide seu tempo dando aulas de Artes Plásticas no Colégio  Severino Vieira,  onde ela formou um grupo especial de alunos que vem desenvolvendo um trabalho no campo das Artes Plásticas. Os alunos trabalham livremente ficando sua atuação restrita à orientação na utilização das técnicas e também no ensino da melhoria do desenho. Assim ela está levando sua experiência de uma artista madura para jovens com tendências a ingressar no campo das artes visuais.

BEL BORBA

O jovem artista Bel Borba está trabalhando para sua exposição que será realizada na Galeria Cañizares. São quadros onde utiliza o spray e objetos, com uso de sucata formando o assemblage. São os sub-produtos da sociedade de consumo que ele encontra facilmente no quintal de sua residência ou mesmo nas oficinas. Se residisse numa fazenda talvez Bel Borba utilizasse também coisas consideradas imprestáveis, fazendo sua transmutação com a força criadora de artista. É o entrosamento do homem com a chamada segunda natureza, que ele criou e cujos detritos são utilizados em formas plásticas. A maioria desses quadros é de insetos e também figuras de fetos e do homem. Tudo é indefinido. As figuras podem representar um homem de qualquer parte do globo. A outra série de trabalhos Bel Borba usa o spray, onde lança jatos tênues de tinta e cujo contorno é feito com pincel, dando traços firmes separando os volumes. Tudo é feito livremente e principalmente nas horas da folga, quando não está estudando para o vestibular de arquitetura que fará este ano.
O primeiro contato com arte foi nos Estados Unidos onde passou algum tempo e aprendeu as técnicas do batik e do mosaico. Voltou para Salvador e com incentivo de seus pais, ele vem desenvolvendo o seu trabalho que prima por um colorido que n]ao choca o observador.
Os problemas sociais, como a libertação da mulher, motivam de perto esta jovem que criou vários quadros mostrando exatamente que a mulher é realmente vítima desta sociedade que foi citada pelos homens. A mãe solteira, a mulher como simples animal reprodutor, estão em seus quadros como que
Esses trabalhos caracterizam-se por grandes espaços semi-vazios ocupados apenas por pequenas figuras e manchas tênues de tinta.

                                    SÁ PEIXOTO E AS MADONAS

..".As Virgens de Sá Peixoto mantém um fundo musical que não se escuta, mas se adivinha. Diante dessa seqüência real e religiosa, sem tempo e sem fronteira, as Madonas realizam em prata aquelas imagens que compositores de todas as épocas viram, vêem e verão, transportando-as para sua música." Estas palavras do grande Paschoal Carlos Magno sobre a obra de Sá Peixoto o credenciam para esta exposição que fará em Salvador a partir do próximo dia 12 do corrente na Galeria da Pousada do Carmo. Serão mostrados 30 trabalhos com a utilização fico de prata.


                                                 SÉRGIO VELLOSO

Desde ontem que o pintor Sérgio separa os seus pincéis para a feitura dos relevos .Velloso vai expor na Galeria Panorama utilizando uma temática que   classifica de mística, misteriosa e surrealista. O interessante é que utiliza normalmente a paleta para compor suas telas.
Pinta desde 1968 e esta exposição, da qual também participam Eduardo Araújo Filho e Heddy Cajueiro Perez, será o último passo para sua primeira individual.

                   O VAZIO BAIANO...


O critico Frederico de Morais, que recentemente esteve em Salvador ministrando um curso na Escola de Belas Artes, escreveu um artigo num jornal do sul do País, depois de sua tournée pelo Norte e Nordeste do Brasil. Diz Frederico de Morais que "a situação, porém, é mais grave na Bahia, onde rigorosamente nada de novo ocorre há quase uma década, se excluirmos o talento isolado de Mário Cravo Neto, cuja obra recente, lamentavelmente não pude ver.!"
Ele acredita que isto pode ser fruto do fechamento da II Bienal da Bahia, que teria funcionado como um golpe fatal à criação. Realmente seu pensamento vem comungar com as declarações do artista Edson da    Luz, divulgadas na semana passada. Muita gente continua expondo essa coisa que vem fazendo há 10 anos.

              JUNG E IMAGENS DO INCONSCIENTE

Uma das obras da mostra Imagens do Inconsciente
Duas exposições interligadas tematicamente foram abertas no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. A primeira, comemorativa do centenário de nascimento de Carl Gustav Jung, com 50 painéis, fornecendo por meio de  textos e ampliações fotográficas aspectos da vida e obra desse grande estudioso suíço. A segunda, imagens do Inconsciente, tem como principal objetivo ilustrar os conceitos de Jung através do acervo do museu criado pela Dra. Nise da Silveira, no Centro Psiquiátrico Pedro II, no Engenho de Dentro. Estão sendo mostradas 200 obras em oito grupos, conforme os arquétipos jungianos do inconsciente coletivo: Sombra, Azima, Grande Mãe, Ritual, Mitos, Animal Fantásticos, Imagens Cósmicas e Mandelas

                        SECRETÁRIO

O meu amigo Geraldo Edson de Andrade foi indicado para o cargo de Secretário da Associação Brasileira de Críticos de Arte. A diretoria está assim composta: Presidente, Antônio Bento; Primeiro Vice-Presidente, Marc Berkowitz; 2.º Vice., Lizetta Levy; Secretário, Geraldo Edson de Andrade e Tesoureiro, Esther Emílio Carlos.

VERNISSAGE OU VELÓRIO ?

JORNAL A TARDE , SALVADOR, SÁBADO, 23 DE AGOSTO DE 1975

Um belo quadro que foi ofuscado na
vernissagem pélo vedetismo do autor.
No último dia 12 do corrente tive a infeliz ideia de ir à vernissagem do pintor Roberto Franco. Ao entrar no salão do ICBA deparei-me com algumas senhoras com seus cabelos esbranquecidos, vestidas de preto ao redor de quatro grandes corbélias. Das flores exalava um cheiro que lembrava um velório de uma pessoa abastada e rica que acabara de desaparecer. Passei as vistas pela sala e me apontaram o autor dos trabalhos ali expostos: um jovem, que trazia a cabeça completamente encoberta por um chapéu de feltro de abas largas e em uma das mãos um lencinho devidamente bordado que servia para enxugar o suor, que inexplicavelmente não caía de seu rosto queimado pelo sol da Bahia. Fiquei observando aquele quadro que me apresentava aos olhos e que  chamava muito mais a atenção do que os quadros pregados nas paredes. Uma cena que também surpreendeu muita gente, especialmente jovens que diariamente vão àquele instituto para participar do movimento cultural. Certamente aquela vernissage era para ter acontecido em outro lugar qualquer, menos no Icba, onde uma juventude descontraída comparece com freqüência tendo em vista a grande atividade que este órgão desenvolve aqui na Bahia, ocupando até os espaços vazios deixados por órgãos governamentais. Com isto, quero eximir o Icba de qualquer responsabilidade, por aquele quadro estranho que presenciei.
Comecei daí a me interessar pela pessoa do pintor e fiquei sabendo tratar-se de um venezuelano que vivia radicado no Sul do País e que agora está residindo na Ilha de Itaparica, onde pode encontrar a paz necessária para produzir a sua arte.
Seu aprendizado artístico segundo fui informado começa com incursões pela Literatura, publicando contos em suplementos literários e que estudou na Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia e até em Paris.
Depois de receber algumas informações sobre o autor daquele quadro que poderia figurar num filme de Fellini, fui observar os trabalhos expostos. Confesso que gostei da técnica empregada e de alguns quadros, principalmente daquelas figuras de mulheres. O artista tem domínio da técnica e seu trabalho é cuidadoso, só que precisa cuidar mais ainda daquilo que está fazendo no campo artístico em detrimento do exibicionismo que é deprimente e lhe recomenda mal.

Gravura de Calasans na Galeria Tempo
OBRAS INÉDITAS NA GALERIA TEMPO

Foi aberta, ontem, uma grande exposição de obras inéditas de reconhecidos artistas plásticos baianos. O pessoal da Galeria conseguiu reunir obras de Calasans Neto, Fernando Coelho, Carybé, Floriano Teixeira, Emanoel Araújo, Carlos Bastos, Luís Jasmim, Luís Preti, Juarez paraíso, Tati Moreno, Mirabeau Sampaio, Sante Scaldaferri, Jenner Augusto e Lev Smarcevski.
Quero destacar a qualidade do convite que me foi enviado pelo pessoal da Galeria Tempo onde está impressa uma gravura do mestre Calá.

                    Ferjó NA MINI GALERIA ACBEU

Retornando dos Estados Unidos, para onde viajou a fim de fazer um curso de especialização, o artista plástico baiano Fernando de Jesus Oliveira, mais conhecido por Ferjó, que desde ontem, está mostrando alguns de seus últimos trabalhos na Mini Galeria Acbeu, na Avenida Sete de Setembro, 214.
Sua temática é quase sempre a mesma: o casario e as baianas. Sem dúvida, uma temática muito batida e desgastada. Conheço há algum tempo o trabalho de Ferjó e posso assegurar que alguns apresentam certa qualidade técnica no desenho e na combinação de cores.
Outros, no entanto, não despertam o interesse de qualquer pessoa que entenda o que seja uma obra de arte.
Espero que com este curso que lhe foi oferecido pelos Companheiros das Américas ele possa desenvolver melhor seu trabalho.

                          TAPETES DE  LENA DA BAHIA

Na galeria do Grande Hotel da Barra a tapeçaria Lena da Bahia expõe mais de uma dezena de trabalhos. Todos sobre temas baianos onde surgem os velhos casarios nas ruas enladeiradas e as baianas em seus trabalhos típicos. O tema, como disse acima, no caso do artista Ferjó, não nos apresenta novidades. Vale porém, pela composição plástica, pelo cuidado com os pontos das tapeçarias que são executadas por suas auxiliares mas acompanhadas de perto pela artista. As cores exuberantes, e constantes ajudam a composição. Quem conhece Lena da Bahia sabe a identificação de seu trabalho com seu modo de ser. Uma alegria facilmente só encontrada no clima tropical baiano.

                    OS GRAVADORES FRANCESES

A Aliança Francesa da Bahia e a Escola de Belas Artes da UFBa., estão patrocinando a mostra de Gravuras de Jovens Artistas Contemporâneos Franceses, na Galeria Cañizares.
Considero a gravura de grande importância para o desenvolvimento das artes plásticas, especialmente no seu papel de educar a população e despertar o interesse para as artes. Por proporcionar tiragens mais ou menos grande, uma gravura de um artista famoso pode ter um preço accessível a um maior número de pessoas.
Uma forma de divulgar a arte e nos últimos anos tanto a gravura como a litografia estão ganhando um impulso muito grande em todo o Mundo. Temos em Salvador a Coperarte, no ICBA, que  já realizou algumas feiras de arte onde presenciei jovens e pessoas da classe média adquirindo gravuras. Se pensarmos numa tela de um artista mais ou menos conhecido concluímos que seria impossível ser adquirido com tanta facilidade.
O mais importante é que muitos artistas famosos estão partindo para a gravura como uma forma de divulgar o seu trabalho a um número maior de pessoas.Pensam corretamente, porque não adianta você fazer um trabalho e cobrar alguns milhões e depois esta tela ou escultura ficar trancada nos aposentos de um colecionador. É muito mais importante a sua divulgação e que este trabalho seja visto por muita gente. È muito maior a satisfação do artista neste último caso, embora muitos não pensam desta forma:
Mas, voltando ao desenvolvimento da gravura, foi criada em 1968 a Bienal Internacional da Gravura e um organismo capaz de controlar o problema de tiragem. É um problema muito sério e que merece uma consideração especial pelos organismos encarregados de nossa cultura. É o caso da matriz da gravura que fica em poder do artista e muitas vezes ela é utilizada para novas reproduções, que não estavam previstas quando foram vendidas as primeiras gravuras.

 ADELSON DO PRADO DA GALERIA O CAVALETE

O primitivo Adelson do Prado está expondo na Galeria O Cavalete, no bairro do Rio Vermelho. São quadros onde a flora, a fauna e o homem estão presentes em todo seu esplendor, Nesse quadro (foto) pudemos observar a presença do papagaio com toda a intensidade de suas cores, que lembram as cores nacionais. Ao seu lado uma mulher vestida de branco trazendo um ramo de flores nas mãos com uma expressão de ingenuidade e pureza que caracteriza a mulher do interior nordestino.
Adelson capta com grande facilidade todo o clima tropical que estamos acostumados, e que nem percebemos também a pomba outro símbolo de sua pintura e constante presença em seus quadros. Considero o trabalho de Adelson do Prado da maior importância, guardando, é claro, as limitações de um primitivo. O que mais me impressiona é que este ´pintor vindo de baixo, levando costumes e valores primitivos para a grande cidade, permanece até hoje, preso às suas origens, mesmo com as motivações constantes e diárias dos meios de comunicação. Assim ele consegue realizar um trabalho fiel e de relevância.


quinta-feira, 27 de junho de 2013

REVIVENDO 75

JORNAL A TARDE SÁBADO, 03 DE JANEIRO DE 1976

Vamos reviver nesta coluna o que de mais relevante aconteceu nas Artes Plásticas em Salvador, no ano que passou. Destaquei dez exposições que para mim representaram o que de mais importante aconteceu. As exposições foram de Fernando Coelho, José Guimarães, Hansen-Bahia, Floriano Teixeira, Carlos Bastos, Adélson do Prado, José Pinto, Ramos Melo, Luís Brito e Líber Friedman.
Esses artistas juntos mostraram aos baianos vários ângulos da arte e várias técnicas de expressão através dos seus trabalhos expostos nas mais significativas exposições realizadas aqui.
Tive contato direto com esta gente, que contribui para aumentar os meus conhecimentos, e também, para avaliar o desenvolvimento da arte, e ainda, no mercado de arte em Salvador. Por isto, falo ou relembro ligeiramente estas exposições e seus responsáveis.
Por outro lado, não podemos deixar de falar sobre o surgimento de novas galerias de arte: a Galeria Sereia, NO Pelourinho; a Galeria RAG, na Boca do Rio e a Galeria das Portas do Carmo.
Também, perdemos o artista que muito contribuiu para o desenvolvimento das artes: Euler Pereira Cardoso, que fundou a Galeria Panorama, escolas de artistas.

          FLORIANO TEIXEIRA NA GALERIA TEMPO

Esta exposição foi realizada nos últimos dias de dezembro na Galeria Tempo, no Salvador Praia Hotel. Ali estavam reunidos alguns óleos de Floriano Teixeira.Uma pintura lírica e cheia de detalhes, que eram descobertos pelos visitantes à medida em que começavam a olhar os seus quadros.
De longe destacavam-se as figuras maiores, mas esta era complementada pelas menores, com rico detalhes: Pintor e ilustrador, Floriano Teixeira vive instalado no bairro do Rio Vermelho criando estas personagens.
Em quase todos os quadros expostos notamos a presença de um animal, uma ave e o homem. Todos os espaços foram devidamente ocupados por esses personagens numa mistura de tons que deixavam as pessoas admiradas com as tonalidades conseguidas por Floriano. Está foi sem dúvida uma das mais importantes exposições do ano que passou.

                      LÍBER FRIDMAN NA POUSADA DO CARMO

Trouxeram de longe o pintor Líber Friedman e o jogaram sem qualquer publicidade ou preparação na Galeria da Pousada do Carmo. Na sua vernissage este artista, considerado um dos mais importantes da América Latina, compareceram poucas pessoas. Por isto muita gente perdeu de ver a sua obra.
Na década de 40 ele andou pela Bahia voltando em 1974 para rever amigos e a velha Salvador completamente modificada, segundo declarou. Seu trabalho é inspirado em rituais, mitos e costumes do Peru e de outros países latino-americanos.
Suas experiências plásticas com a cultura pré-colombiana nos proporciona o conhecimento da importância desta cultura e a sua significação artística.

           FERNANDO COELHO E OS PALHAÇOS

O Tocador de Bumbo, de Fernando Coelho
Em agosto assistíamos uma exposição de um artista que resolvera dar uma guinada de 180 graus. Era o Fernando Coelho que entrava triunfante  no Museu de Arte Moderna, Unhão completamente novo, alegre carregando bandeiras e bombos com seus palhaços. Paramos para observar o seu traço e a mistura das cores leves. Sim, porque estávamos acostumados a admitir a pintura de Fernando Coelho por outro prisma, diverso e oposto do que ele mostrava naquele momento.
O homem passou a ser o centro de sua pintura. Os conflitos e as guerras dos últimos anos marcaram sensivelmente este criador. Seus quadros mostrados no Unhão, juntos, representavam um livro, sendo cada quadro um capítulo. Uma verdadeira crônica do cotidiano, onde tocadores de bumbo, equilibristas e fantoches brincam e choram.
Como o tempo passa  e não volta, como o tempo muda o Fernando está aí para mudar, para amadurecer. Vem passando por uma transformação que só faz acrescentar a seu trabalho criativo.
Ele explica esta transformação afirmando que começaram a surgiras primeiras mudanças, reflexo do que aos poucos também ocorria comigo. Simplesmente uma preocupação maior com a existência do que o formal. Passei a cuidar das coisas interiores com uma maior preocupação criativa e uma elaboração mental objetiva.
Eu tinha necessidade de dizer coisas e mais coisas através dos meus quadros. Fui pintando uma crônica, fazendo de cada quadro uma folha de um diário.
O Fernando é também um jovem artista com muita vontade de criar, de fazer e de estar presente. Quem o conhece gosta de seus papos e de ler as páginas do seu diário.
Quando vi pela primeira vez seus novos quadros fiquei espantado com a mudança. Ao abrir a exposição apareci por lá umas três vezes para examiná-los para ler as páginas de seu diário. Cada vez encontrava novas coisas belas para ler e sentir. Encontrei, por lá, também pessoas que procuravam encontrar defeitos no traço e na mistura das tintas. Elas se perderam e terminaram por gostar daquela crônica do cotidiano.

     HANSEN BAHIA NO MUSEU DO CARMO

Cinco grandes exposições marcaram as comemorações dos 60 aos de vida do gravador Hansen Bahia. A primeira foi a realizada no Museu do Carmo; em Bonn, outra em Frankfurt, ambos na Alemanha, a quarta, no Palácio Pamphily, na Itália, e a última em São Paulo.
Assim os movimentos, as expressões, as cenas eróticas de suas gravuras foram mostradas aos baianos nas seculares paredes dôo convento do Carmo. Tudo mostra a inquietude de Hansen Bahia. Embora busque tremendamente um lugar calmo para trabalhar e viver, este artista é antes de tudo um inquieto, um inconformista. É incapaz de permanecer alguns minutos sentado numa cadeira . Vive eternamente a sua odisséia e quer ser o próprio Ulisses , que lhe inspirou para fazer um álbum. Quando falei sobre sua exposição, que foi aberta no dia 19 de abril ele não pensava em deixar Salvador
Vivia com Ilse sua esposa numa mansão rodeada de coqueiros e amendoeiras nas imediações da praia de Piatã. Agora ele coloca sua casa à venda e vai partir para morar numa fazenda no Recôncavo Baiano. Quer fugir segundo conta, da barulheira  dos carros e das máquinas e não quer ter vizinhos. Os vizinhos estão surgindo e ele está saindo. Também conheço o Hansen há alguns anos quando ele ministrava um curso de gravura no Icba. Cheguei a matricular-me e ali mantive muitos contatos e conversas com este artista inquieto.
Hansen mostrou no Museu do Carmo gravuras que testemunham toda a sua trajetória, desde o lançamento do álbum Flor de São Miguel até as novas e eróticas gravuras que integram seus livros no exterior.
Mostrou àquelas gravuras feitas no Maciel, onde as prostitutas e malandros surgem às portas do casarões com seus corpos alquebrados e malandros.Hansen recriava assim toda aquela paisagem prostituída e marginalizada que é tão cantada em verso e prosa e tão triste na sua realidade.Ali ele passou algum tempo de sua vida e portanto é um dos indicados para falar sobre o mangue. Hansen mostrou também a Odisséia que viveu em águas mais mansas e hospitaleiras. Foi sem dúvida uma das principais exposições que aconteceu em 1974.

ADELSON DO PRADO

Adelson do Prado, de Vitória da Conquista, expôs na Galeria O Cavalete. Seus quadros estão sendo muito aceitos no sul do país. Ele explora a flora, a fauna e tipos de rua. Este artista capta com grande facilidade todo o clima tropical brasileiro. Suas cores, sua magia e alegria, que normalmente deixamos passar despercebidos. Desde a década de 1960 que conheço Adelson do prado e o trabalho que ele vem realizando , pelo qual mantenho respeito.É um artista que tem muito a mostrar aos baianos.

                     JOSÉ PINTO NA POUSADA DO CARMO

Adão e Eva e o Fruto do Pecado
Em outubro foi realizada a exposição de José Pinto na Galeria da Pousada do Carmo. Uma exposição onde os temas populares, as cores e o romantismo ingênuo surgem espontaneamente nos quadros de José Pinto. Um ingênuo, que diariamente é bombardeado com centenas de informações e imagens do mundo moderno, mas que se conserva ingênuo com consciência e escolha.
Como escrevi na época da sua exposição ele poderia estar fazendo outros tipo de trabalho. No entanto, ele prefere manter-se fiel às suas origens, as fazendas de cacau, ao roceiro.


                  
             LUÍS BRITTO NO TEATRO CASTRO ALVES

A exposição realizada no dia 19 de maio no Teatro Castro Alves trouxe ao seio das artes plásticas baianas o pintor Luís Britto. Um jovem talentoso que inicia a sua carreira onde dezenas de artistas lutam para chegar.
Sua pintura, bem verdade, é resultado de um trabalho solitário, de um trabalho de pesquisa em busca da cor e da temática. Conheço de perto este artista . Inicialmente pintava quadros com influência da pintura européia com os casarios com predominância do verde e do azul. As paisagens serviam de tema . Hoje o Luís Britto, adulto, amadurecido, mostrar a Bahia uma pintura nova e acima de tudo cheia de força.
A arte sempre foi uma necessidade para este artista e ela reflete muita coisa que tem dentro de si. Uma vitalidade, muitas vezes incompreendida por aqueles que lhes cercam. É exatamente esta vitalidade que Luís Britto transcende para as suas figuras caboclas. Corpos agigantados e cabeças pequenas. As mãos calejadas pela enxada, pela picareta ou mesmo de segurar o laço do boi. Sinto na arte de Luís um cheiro de mato, de roça, de Brasil. Portanto, uma pintura que não tem nada a ver com a que ele fazia quando o conheci pintando.
Neste ano que passou foram revelados alguns talentos. Porém, a meu ver o mais importante e que apresenta perspectiva de continuar  elaborando um trabalho sério é o Luís Britto. É verdade que ele tem muito a correr, a corrigir. O traço, a mistura das cores, a maneira de apresentar o tema, mas isto é um processo de enriquecimento que se consegue pintando. Pintando e pintando muito sem parar, sem olhar para trás. É uma trajetória artística que gostaria de seguir, de acompanhar. Este ano de 1976 será certamente um ano de criação para o Luís.

                   RAMOS MELO NO HOTEL PRAIAMAR

O Ramos Melo expôs alguns entalhes no Hotel Praiamar. Homens e mulheres surgiram com seus olhos profundos. Ramos é um artista identificado com sua gente. Natural do Rio Grande do Norte ele transportou para a madeira a seca e o sofrimento dos nordestinos. Os animais sofridos, felinos e desconfiados foram trazidos da caatinga , do sertão para a grande cidade nos trabalhos deste artista. Um nordestino que sabe falar e acima de tudo interpretar a sua terra e a sua gente.


 Os 50 anos de idade do artista Carlos Bastos foram comemorados com uma retrospectiva do seu trabalho que representou uma mostra completa de tudo aquilo que este artista fez. Depois de realizar um levantamento completo de tudo aquilo que fez de mais representativo, ele abriu a sua exposição no teatro Castro Alves,conseguindo até transportar grandes painéis que fez para edifícios particulares e públicos.
Carlos Bastos tem seu nome ligados às artes plásticas na Bahia, e sua primeira exposição que foi realizada em 1943, num dos salões da antiga Biblioteca Pública, na Praça Municipal marcou época. Os acadêmicos não aceitaram sua arte moderna e partiram para cortar de gilete os seus quadros, alguns dos quais são considerados peças importantes e valorizados. A própria igreja manifestou-se através de um artigo no jornal da Arquidiocese . No entanto A Tarde, Diário de Notícias e outros jornais da época saíram em defesa do jovem que iniciava sua carreira.
Porém, este incidente não desanimou o então jovem Carlos Bastos e em 1944 juntamente com Genaro de Carvalho participava do 1º Salão de Arte Americana, dedicada aos artistas baianos no Icbeu, em Salvador. Daí passou a integrar um grupo de artista que tornou-se famoso não apenas na Bahia e no sul do país, como também no exterior.
Tem vários livros publicados com desenhos seus. Os murais feitos por Carlos Bastos são famosos, como aquele da Assembléia Legislativa , no Centro Administrativo da Bahia, e do edifício Martins Catharino e o da Capela do Museu do Parque da Cidade, na Gávea, no Rio de Janeiro.Uma verdadeira guerra foi movida por pessoas incapazes de compreender o que seja uma obra de arte.
Por isto seu mural não foi encoberto de tinta, certamente reaparecerá como uma das grandes peças artísticas as do país.

   JOSÉ GUIMARÃES NO MUSEU DE ARTE SACRA

A exposição de quadros e desenhos de José Guimarães 1899-1969 – realizada no Museu de Arte Sacra, da Universidade Federal da Bahia, também foi outro grande acontecimento no setor.
Se analisarmos a obra de José Guimarães poderemos distinguir três fases: Na primeira, as obras de caráter pós impressionista,pintada sobre a influência da Escola de Belas Artes e notamos a presença de Presciliano Silva. Na segunda,agrupamos as paisagens, figuras e naturezas mortas, pintadas na Academia Julian . Na terceira, realizada na Bahia depois de 1932, notamos sua obra vanguardista, moderna com uma tendência crescente ao abstracionismo , prescindindo de detalhes, tratando vigorosamente planos e luzes.
|A exposição de José Guimarães serviu não apenas para uma reavaliação críticas , como queriam seus organizadores, mais acima de tudo para mostrar às novas gerações este talento quase desconhecido.
Também fizeram justiça: é um homem que ajudou a arte moderna a percorrer seus caminhos hoje tão procurado em todo o mundo.
Pesquisa Itaú Cultural:
José Tertuliano Guimarães (Nazaré BA 1899 - Rio de Janeiro RJ 1969). Pintor, gravador, 
ilustrador, desenhista. Estuda com Robespierre de Farias e Presciliano Silva, na Escola de Belas Artes da Bahia, em 1929. Nessa instituição recebe o Prêmio Caminhoá, ao concluir o curso Lopes Rodrigues. Com pensão do governo, viaja para Paris e estuda com Albert Laurens na Académie Julian. Recebe o primeiro prêmio de composição desta instituição e é admitido no Salon Officiel des Artistes Français.
 Em 1932, de volta a Bahia, realiza uma individual em Salvador. Esta exposição, considerada o marco inicial do modernismo na Bahia, teve crítica favorável,mas não agrada os artistas nem o público. Entre os anos de 1932 e 1939, faz ilustrações em xilogravura para a revista Seiva e Flama. É membro do Partido Comunista Brasileiro. Transfere-se para o Rio de Janeiro, onde retoma seu antigo oficio de pintor de paredes, e torna-se catedrático de Desenho no Colégio Pedro II.