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quinta-feira, 27 de junho de 2013

SÉRGIO RABINOVITZ EM QUATRO PARTES

.JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 12 DE JULHO DE 1975

Sérgio Rabinovitz mostra uma de suas gravuras
A partir de oito de agosto os baianos terão oportunidade de ver os trabalhos de Sérgio Rabinovitz na Galeria Usis, na Vitória. É uma exposição que apresenta quatro partes distintas, porém, integradas, revelam a capacidade criativa e o cuidado na sua realização. Embora jovem, o Sérgio leva muito a sério o seu trabalho, ao ponto de abandonar tudo e seguir nos próximos meses para os Estados Unidos onde passará algum tempo.
Sua mostra em quatro partes apresenta em primeiro lugar gravuras onde o artista utiliza sombras naturais que são transferidas através de cortes e sulcos cavados com maestria na madeira. Notamos a presença de elementos geométricos, no conjunto dessas gravuras, e mesmo formas distanciadas do elemento natural que foi captado inicialmente. Na segunda parte, as gravuras de Sérgio Rabinovitz demonstram uma perfeita ligação com a gravura tradicional japonesa e por isto ele pretende expô-las sem molduras, apenas com dois pedaços de madeira presos nas extremidades, como os japoneses faziam antigamente. Nesta parte, o artista trabalha com elementos geométricos como o triângulo, o círculo e outros. Já a terceira parte é formada por gravuras que revelam um trabalho de pesquisa onde Sérgio faz alguns estudos de cabeças humanas. Aí ele passa a trabalhar com formas planas e recortadas com utilização de tons fortes e fracos, os quais consegue dando maior ou menor força no momento a impressão.
Ainda destacamos a sua preocupação com o back-ground. E, finalmente, a última parte formada de gravuras baseadas em larvas, onde Sérgio fez um trabalho meticuloso, dando vários cortes como muitos fazem com a fotografia, destacando, assim, detalhes que apresentam uma grande composição plástica. Essas gravuras vistas em conjunto dão ao espectador uma ideia geral do desenho original.
Sérgio trabalha no atelier de Mário Cravo Júnior, na Avenida Garibaldi. O escultor cedeu-lhe uma prensa onde ele vai confeccionando suas gravuras. Já trabalhou com Calasans Neto, porém sem qualquer compromisso profissional. Agora o artista está realmente voltado para o seu trabalho. Passará de 1 a 4 anos nos Estados Unidos, como bolsista da Universidade de Wasleyan, estudando artes plásticas.

O DECEPCIONADO VENCEDOR DE UM SALÃO NACIONAL

Esta bela escultura de Haroldo Barroso data de 1971.

Acabo de ser informado que o vencedor do Salão Nacional de Arte Moderna de 1973, o escultor Haroldo Barroso, voltou decepcionado de sua viagem de estudos e tomou uma decisão que para alguns foi considerada drástica , inconsequente e para mim correta, ou seja: comunicou à Comissão Nacional de Belas Artes sua desistência do restante do prêmio em favor de outros artistas. Ele apenas sentiu de perto o que os artistas brasileiros premiados enfrentam lá fora para viver com 500 dólares mensais que hoje equivalem a cerca  de CR$4.500,00. Simplesmente o indivíduo não pode sair de casa, quando os vencedores devem visitar museus, exposições, etc. Em outras palavras, participar da vida artística. Como?

A POLUIÇÃO NOS VITRAIS DA CATEDRAL DE CANTUÁRIA

A poluição está atacando os vitrais das janelas e portas de importantes monumentos históricos em todo o Mundo. Muitos desses monumentos resistiram ás investidas dos homens e das bombas, e agora a fuligem, subproduto do progresso, está destruindo-os. Uma terrível corrosão é causada pelo depósito de pó e materiais gordurosas. Um dos elementos potencialmente destrutivos da camada externa protetora do vitral é o dióxido de enxofre, que provoca furos nos vitrais. Uma solução é formada pela umidade da atmosfera que se mistura com dióxido de enxofre e transforma-se em ácido sulfúrico.
Agora os vitrais da Catedral da Cantuária estão sendo restaurados e o processo é semelhante ao utilizado há alguns anos para as janelas medievais da Catedral de Nova Iorque, quando é tratada separadamente cada seção. São 600 metros quadrados de vitral colorido que terão que ser restaurados. Este edifício de 800 anos já ofereceu refúgio e prazer a milhões de peregrinos estudiosos, amantes da música e turistas, inclusive baianos. Dentro de suas paredes maciças foi assassinado Thomas Becket.
Voltando aos vitrais, para quem não sabe eu explico: vitral colorido é obtido aquecendo-se pó de sílica potássio, cal e outros materiais, com sais metálicos para dar cor. Alguns sais metálicos produzem o vidro incolor que é mais usado hoje em dia, outros produzem as cores. Os óxidos de ouro, por exemplo dão a cor vermelha ao vitral, enquanto que os óxidos de cobre produzem os íons verdes e os óxidos de cobalto, os azuis.

     MAIS DE QUARENTA NA BIENAL PAULISTA

O número de países inscritos na Bienal de São Paulo já ultrapassa a casa dos 40. Quando iniciou, em 1951 a Bienal contou com a participação de 21 países e chegou a contar com mais de 60. Hoje, os seus organizadores estão mais preocupados com a qualidade das obras internacionais apresentadas do que com a quantidade de participantes.
Seria uma tendência contra a realização de uma macro-exposição.
O setor de arte experimental terá destaque especial principalmente com a participação de latino-americanos. Já estão confirmadas as salas especiais hors concursos para os artistas: Fernado Szyslo, do Peru: Edgar Negret, da Colômbia: José Luiz Cuevas do México: Mário Toral, do Chile: Ary Brizzi da argentina; e Alejandro Otero, da Venezuela.
Quanto à representação brasileira, muita coisa ainda vai acontecer.

             O INGÊNUO JOSÉ TIAGO FOI À CACHOEIRA

A ingenuidade é sempre bem vista. Em qualquer setor da vida social. Os sentimentos e as manifestações populares mais puras devem ser defendidas com afinco e o pintor primitivo combatido por muitos com sua ingenuidade característica deve ser bem visto. Para muitos devido às motivações dos meios de comunicação ninguém escapa  das influências. Mas esquecem que alguns conseguem filtrar essas motivações e permanecem puros. É o caso de Tiago. E não podemos esquecer que a pintura brasileira contemporânea deve muito aos primitivos muitos reconhecidos internacionalmente.
Tiago está expondo na Galeria Amanda Costa Pinto, em Cachoeira, numa promoção daquela cidade histórica do Recôncavo baiano.
                 DESENHOS DE BARTIRA

A desenhista Bartira estará a partir do dia 14 até 24 do corrente no Solar do Unhão numa promoção da Fundação Cultura. Serão mostrados 25 desenhos a bico de pena e alguns com ligeira presença do guache, dando uma perfeita composição cromática e formal. O tema da exposição é o resultado de minhas observações do cotidiano, da gente que vive nesta cidade tão cheia de beleza e mistério. É uma captação de energias, que transformam em conhecimento a minha vivência e assim vou registrando dentro de uma perspectiva artística, explica Bartira o conteúdo do seu trabalho.

                         FIGURAÇÃO DO PORTUGUÊS MÁRIO SILVA

Desenho do português Mário Silva
Portugal está a toda hora nas manchetes dos jornais.Porém, este português nos traz uma imagem diferente daquela que lemos diariamente. Trata-se de Mário Silva, natural de Becanta, distrito de Coimbra, onde graduou-se como engenheiro geógrafo. Quando estudava engenharia Mário Silva frequentou a Escola de Belas Artes e assim foi acumulando conhecimentos que lhe permitiram uma opção e a realização de um trabalho sério. Bolsista da Fundação Calouste Gulbenkian, em Estocolmo, o artista pode, assim, continuar o seu trabalho realizando, inclusive, exposições em outros países, e particular da 1ª. Bienal Internacional de Pintura Contemporânea, em Florença, Itália. Ele já é conhecido no Brasil, pois em 1974 realizou uma exposição no Tijuca Thenis Clube, no Rio de Janeiro.
Além de sua atividade de pintor, Mário Silva fundou o Círculo de Jazz da Associação Acadêmica de Coimbra. Hoje está desenvolvendo algumas pesquisas tentando uma renovação na técnica do vitral. Esta renovação é feita através de suas esculturas de alumínio, onde aproveita os espaços vazios enchendo-os com uma cola especial, que depois de seca é pintada com tintas transparentes verniz grasse. Coloca outra acamada de cola e consegue uma transparência à semelhança dos vitrais antigos.
Os conflitos e agora mais do que nunca da sociedade moderna, que se debate com problemas aparentemente sem soluções é o seu tema preferido. Seus trabalhos servem também como um alerta para os perigos de uma catástrofe. Sua temática é influenciada pelo surrealismo, e açor, pelo expressionismo.
Mário Silva está expondo desde o último dia 10 no Gabinete Português de Leitura, na Piedade.

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