.JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 12 DE
JULHO DE 1975
Sérgio Rabinovitz mostra uma de suas gravuras |
A partir de oito de agosto os
baianos terão oportunidade de ver os trabalhos de Sérgio Rabinovitz na Galeria
Usis, na Vitória. É uma exposição que apresenta quatro partes distintas, porém,
integradas, revelam a capacidade criativa e o cuidado na sua realização. Embora
jovem, o Sérgio leva muito a sério o seu trabalho, ao ponto de abandonar tudo e
seguir nos próximos meses para os Estados Unidos onde passará algum tempo.
Sua mostra em quatro partes
apresenta em primeiro lugar gravuras onde o artista utiliza sombras naturais
que são transferidas através de cortes e sulcos cavados com maestria na
madeira. Notamos a presença de elementos geométricos, no conjunto dessas
gravuras, e mesmo formas distanciadas do elemento natural que foi captado
inicialmente. Na segunda parte, as gravuras de Sérgio Rabinovitz demonstram uma
perfeita ligação com a gravura tradicional japonesa e por isto ele pretende
expô-las sem molduras, apenas com dois pedaços de madeira presos nas
extremidades, como os japoneses faziam antigamente. Nesta parte, o artista
trabalha com elementos geométricos como o triângulo, o círculo e outros. Já a
terceira parte é formada por gravuras que revelam um trabalho de pesquisa onde
Sérgio faz alguns estudos de cabeças humanas. Aí ele passa a trabalhar com
formas planas e recortadas com utilização de tons fortes e fracos, os quais
consegue dando maior ou menor força no momento a impressão.
Ainda destacamos a sua
preocupação com o back-ground. E, finalmente, a última parte formada de gravuras
baseadas em larvas, onde Sérgio fez um trabalho meticuloso, dando vários cortes
como muitos fazem com a fotografia, destacando, assim, detalhes que apresentam
uma grande composição plástica. Essas gravuras vistas em conjunto dão ao
espectador uma ideia geral do desenho original.
Sérgio trabalha no atelier de
Mário Cravo Júnior, na Avenida Garibaldi. O escultor cedeu-lhe uma prensa onde ele vai
confeccionando suas gravuras. Já trabalhou com Calasans Neto, porém sem
qualquer compromisso profissional. Agora o artista está realmente voltado para
o seu trabalho. Passará de 1 a
4 anos nos Estados Unidos, como bolsista da Universidade de Wasleyan, estudando
artes plásticas.
O DECEPCIONADO VENCEDOR DE UM
SALÃO NACIONAL
Acabo de ser informado que o
vencedor do Salão Nacional de Arte Moderna de 1973, o escultor Haroldo Barroso,
voltou decepcionado de sua viagem de estudos e tomou uma decisão que para
alguns foi considerada drástica , inconsequente e para mim correta, ou seja:
comunicou à Comissão Nacional de Belas Artes sua desistência do restante do
prêmio em favor de outros artistas. Ele apenas sentiu de perto o que os
artistas brasileiros premiados enfrentam lá fora para viver com 500 dólares
mensais que hoje equivalem a cerca de
CR$4.500,00. Simplesmente o indivíduo não pode sair de casa, quando os
vencedores devem visitar museus, exposições, etc. Em outras palavras,
participar da vida artística. Como?
A POLUIÇÃO NOS VITRAIS DA
CATEDRAL DE CANTUÁRIA
A poluição está atacando os
vitrais das janelas e portas de importantes monumentos históricos em todo o
Mundo. Muitos desses monumentos resistiram ás investidas dos homens e das
bombas, e agora a fuligem, subproduto do progresso, está destruindo-os. Uma
terrível corrosão é causada pelo depósito de pó e materiais gordurosas. Um dos
elementos potencialmente destrutivos da camada externa protetora do vitral é o
dióxido de enxofre, que provoca furos nos vitrais. Uma solução é formada pela
umidade da atmosfera que se mistura com dióxido de enxofre e transforma-se em
ácido sulfúrico.
Agora os vitrais da Catedral da
Cantuária estão sendo restaurados e o processo é semelhante ao utilizado há
alguns anos para as janelas medievais da Catedral de Nova Iorque, quando é
tratada separadamente cada seção. São 600 metros quadrados
de vitral colorido que terão que ser restaurados. Este edifício de 800 anos já
ofereceu refúgio e prazer a milhões de peregrinos estudiosos, amantes da música
e turistas, inclusive baianos. Dentro de suas paredes maciças foi assassinado
Thomas Becket.
Voltando aos vitrais, para quem
não sabe eu explico: vitral colorido é obtido aquecendo-se pó de sílica
potássio, cal e outros materiais, com sais metálicos para dar cor. Alguns sais
metálicos produzem o vidro incolor que é mais usado hoje em dia, outros
produzem as cores. Os óxidos de ouro, por exemplo dão a cor vermelha ao vitral,
enquanto que os óxidos de cobre produzem os íons verdes e os óxidos de cobalto,
os azuis.
MAIS DE QUARENTA NA BIENAL
PAULISTA
O número de países inscritos na
Bienal de São Paulo já ultrapassa a casa dos 40. Quando iniciou, em 1951 a Bienal contou com a
participação de 21 países e chegou a contar com mais de 60. Hoje, os seus
organizadores estão mais preocupados com a qualidade das obras internacionais
apresentadas do que com a quantidade de participantes.
Seria uma tendência contra a
realização de uma macro-exposição.
O setor de arte experimental terá
destaque especial principalmente com a participação de latino-americanos. Já estão
confirmadas as salas especiais hors concursos para os artistas: Fernado Szyslo,
do Peru: Edgar Negret, da Colômbia: José Luiz Cuevas do México: Mário Toral, do
Chile: Ary Brizzi da argentina; e Alejandro Otero, da Venezuela.
Quanto à representação brasileira,
muita coisa ainda vai acontecer.
O INGÊNUO JOSÉ TIAGO FOI À
CACHOEIRA
A ingenuidade é sempre bem vista.
Em qualquer setor da vida social. Os sentimentos e as manifestações populares
mais puras devem ser defendidas com afinco e o pintor primitivo combatido por
muitos com sua ingenuidade característica deve ser bem visto. Para muitos
devido às motivações dos meios de comunicação ninguém escapa das influências. Mas esquecem que alguns
conseguem filtrar essas motivações e permanecem puros. É o caso de Tiago. E não
podemos esquecer que a pintura brasileira contemporânea deve muito aos
primitivos muitos reconhecidos internacionalmente.
Tiago está expondo na Galeria
Amanda Costa Pinto, em Cachoeira, numa promoção daquela cidade histórica do
Recôncavo baiano.
DESENHOS DE BARTIRA
A desenhista Bartira estará a
partir do dia 14 até 24 do corrente no Solar do Unhão numa promoção da Fundação
Cultura. Serão mostrados 25 desenhos a bico de pena e alguns com ligeira
presença do guache, dando uma perfeita composição cromática e formal. O tema da
exposição é o resultado de minhas observações do cotidiano, da gente que vive
nesta cidade tão cheia de beleza e mistério. É uma captação de energias, que
transformam em conhecimento a minha vivência e assim vou registrando dentro de
uma perspectiva artística, explica Bartira o conteúdo do seu trabalho.
FIGURAÇÃO DO PORTUGUÊS MÁRIO SILVA
Desenho do português Mário Silva |
Além de sua atividade de pintor,
Mário Silva fundou o Círculo de Jazz da Associação Acadêmica de Coimbra. Hoje
está desenvolvendo algumas pesquisas tentando uma renovação na técnica do
vitral. Esta renovação é feita através de suas esculturas de alumínio, onde
aproveita os espaços vazios enchendo-os com uma cola especial, que depois de
seca é pintada com tintas transparentes verniz grasse. Coloca outra acamada de
cola e consegue uma transparência à semelhança dos vitrais antigos.
Os conflitos e agora mais do que
nunca da sociedade moderna, que se debate com problemas aparentemente sem
soluções é o seu tema preferido. Seus trabalhos servem também como um alerta
para os perigos de uma catástrofe. Sua temática é influenciada pelo
surrealismo, e açor, pelo expressionismo.
Mário Silva está expondo desde o
último dia 10 no Gabinete Português de Leitura, na Piedade.
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