JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 07 DE
JUNHO DE 1975
A Cidade, a artista Edsoleda |
"É anômalo que numa sociedade
tecnologicamente tão avançada e tão afluente quanto a nossa, existam tantos
quilômetros quadrados de favelas e áreas ainda mais extensas de melancólica
decrepitude e expansão caótica."Edward C. Banfield, A Crise
Urbana: Natureza e Futuro.
Estas palavras de Banfield traduzem uma preocupação
de vários estudiosos e artistas com o futuro das grandes metrópoles. E esta
artista Edsoleda sem dúvida é uma grande artífice na retratação desta situação
caótica em que vivemos. Seus desenhos, suas cidades mostram este caos. As
janelas, portas, e arcos confundem-se com pedaços de corpos humanos. Alcança o
sentido corporeidade com implicações surreais. Assim, com a utilização de elementos
da arquitetura, Edsoleda nos mostra em sugestões fantásticas uma arquitetura
humanizada.
Os problemas da solidão, da
massificação e outros, são jogados misturados aos elementos da arquitetura
através a elaboração de uma composição de massas e volumes que são separados
por vigorosos traços.
Ela não usa figuras humanas quando elementos sugestionam qualquer observador
a presença do humano. Tudo é feito dentro de uma espontaneidade de criação e
tamanha [e a sua força criadora que muitos ficam surpresos quando a conhecem
por sua aparente fragilidade. Mas, na realidade, Edsoleda esconde uma grande
capacidade em criar o que nos é revelado através de seus excelentes trabalhos.
Falta a esta artista uma maior oportunidade para que possa mostrar os seus quadros
não somente em Salvador mais também em outras capitais onde o mercado de arte é
mais desenvolvido.
Edsoleda acredita que nós, que
vivemos nas grandes metrópoles, estamos sofrendo a todo instante impulsos que
sofremos mais influências do meio que nos cerca."Não sei se sofro influência de
algum artista, mas certamente as motivações dos veículos de comunicação, do
viver numa metrópole me condiciona a reagir desta ou daquela forma. Juarez
Paraíso acha por exemplo, que na minha fase atual, da arquitetura humanizada, a
cidade, resulta um mundo de sugestões fantásticas, o absurdo aparente de um
Gaudi. Sinceramente não sei explicar se isto ocorre.
A artista estudou Belas Artes na
Universidade Federal da Bahia, concluindo o curso de Escultura em 1965.
Abandonou a escultura e foi estudar Desenho, terminando por licenciar-se nesta
matéria. Hoje divide seu tempo dando aulas de Artes Plásticas no Colégio Severino
Vieira, onde ela formou um grupo especial de alunos que vem desenvolvendo um
trabalho no campo das Artes Plásticas. Os alunos trabalham livremente ficando
sua atuação restrita à orientação na utilização das técnicas e também no ensino
da melhoria do desenho. Assim ela está levando sua experiência de uma artista
madura para jovens com tendências a ingressar no campo das artes visuais.
BEL BORBA
O jovem artista Bel Borba está
trabalhando para sua exposição que será realizada na Galeria Cañizares. São
quadros onde utiliza o spray e objetos, com uso de sucata formando o
assemblage. São os sub-produtos da sociedade de consumo que ele encontra
facilmente no quintal de sua residência ou mesmo nas oficinas. Se residisse
numa fazenda talvez Bel Borba utilizasse também coisas consideradas
imprestáveis, fazendo sua transmutação com a força criadora de artista. É o
entrosamento do homem com a chamada segunda natureza, que ele criou e cujos
detritos são utilizados em formas plásticas. A maioria desses quadros é de
insetos e também figuras de fetos e do homem. Tudo é indefinido. As figuras
podem representar um homem de qualquer parte do globo. A outra série de
trabalhos Bel Borba usa o spray, onde lança jatos tênues de tinta e cujo
contorno é feito com pincel, dando traços firmes separando os volumes. Tudo é
feito livremente e principalmente nas horas da folga, quando não está estudando
para o vestibular de arquitetura que fará este ano.
O primeiro contato com arte foi
nos Estados Unidos onde passou algum tempo e aprendeu as técnicas do batik e do
mosaico. Voltou para Salvador e com incentivo de seus pais, ele vem
desenvolvendo o seu trabalho que prima por um colorido que n]ao choca o
observador.
Os problemas sociais, como a
libertação da mulher, motivam de perto esta jovem que criou vários quadros
mostrando exatamente que a mulher é realmente vítima desta sociedade que foi
citada pelos homens. A mãe solteira, a mulher como simples animal reprodutor,
estão em seus quadros como que
Esses trabalhos caracterizam-se
por grandes espaços semi-vazios ocupados apenas por pequenas figuras e manchas
tênues de tinta.
SÁ PEIXOTO E AS MADONAS
..".As Virgens de Sá Peixoto
mantém um fundo musical que não se escuta, mas se adivinha. Diante dessa
seqüência real e religiosa, sem tempo e sem fronteira, as Madonas realizam em
prata aquelas imagens que compositores de todas as épocas viram, vêem e verão,
transportando-as para sua música." Estas palavras do grande Paschoal Carlos
Magno sobre a obra de Sá Peixoto o credenciam para esta exposição que fará em
Salvador a partir do próximo dia 12 do corrente na Galeria da Pousada do Carmo.
Serão mostrados 30 trabalhos com a utilização fico de prata.
SÉRGIO VELLOSO
Desde ontem que o pintor
Sérgio separa os seus pincéis para a feitura dos
relevos .Velloso vai expor na Galeria Panorama utilizando uma temática
que classifica de mística, misteriosa e
surrealista. O interessante é que utiliza normalmente a paleta para compor suas telas.
Pinta desde 1968 e esta
exposição, da qual também participam Eduardo Araújo Filho e Heddy Cajueiro
Perez, será o último passo para sua primeira individual.
O VAZIO BAIANO...
O critico Frederico de Morais,
que recentemente esteve em Salvador ministrando um curso na Escola de Belas
Artes, escreveu um artigo num jornal do sul do País, depois de sua tournée pelo
Norte e Nordeste do Brasil. Diz Frederico de Morais que "a situação, porém, é
mais grave na Bahia, onde rigorosamente nada de novo ocorre há quase uma
década, se excluirmos o talento isolado de Mário Cravo Neto, cuja obra recente,
lamentavelmente não pude ver.!"
Ele acredita que isto pode ser
fruto do fechamento da II Bienal da Bahia, que teria funcionado como um golpe
fatal à criação. Realmente seu pensamento vem comungar com as declarações
do artista Edson da Luz, divulgadas na semana passada. Muita
gente continua expondo essa coisa que vem fazendo há 10 anos.
JUNG E IMAGENS DO INCONSCIENTE
Uma das obras da mostra Imagens do Inconsciente. |
SECRETÁRIO
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