JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 7 DE
FEVEREIRO DE 1976
Bené Fonteles, com um dos últimos trabalhos que foi realizado no sul do país, onde ele faz um estudo ou exposição fotográfica com o seu próprio corpo. |
"Não tenho nenhum compromisso com
uma arte, a não ser a do experimento. Se sou vanguardista conceitual, não cabe
a mim classificar minha situação atual. Sou um comentarista de fatos ligados à
linguagem atual, não só artística mais jornalística. Tanto que chamo uma série
de trabalhos que executo para um indivíduo no Rio, Reportagem - recortes,
colagens, reportagens - que são interpretações de acontecimento de jornais e revistas.
Nascido no Pará em 1953, com um
longo período de vivência no estado cearense, José Benedito Fonteles, mais
conhecido como Bené Fonteles está radicado atualmente em Salvador, onde já
mantém um bom contato com artistas baianos, tendo inclusive iniciado um
interessante trabalho fotográfico com Mário Cravo Neto. Sobre sua arte ele costuma
dizer que está inteiramente divorciada da comercialização, pois não tenho
nenhum interesse em
vendê-la. Para sobreviver, faço programação visual, cartazes,
logotipo, jornal, enfim tudo o que aparecer.
Seu primeiro contato com a arte
foi realizado em 1971, quando ainda se encontrava em Fortaleza. Sem
nunca se preocupar com o folclore local, Bené Fonteles passou por um vasto
processo de pesquisa, estudos e observação. Seus instrumentos de linguagem
podem ser através de trabalhos com lixo, onde ele aproveitava material usado e
outros defeituoso, ou ainda o áudio-visual, a curta metragem, a fotocópia, a
colagem, a escultura, o objeto ou a fotografia, quando incluir ainda aquilo que
ele chama de trabalhos mais sérios ou seja os trabalhos que realizo para bancos
ou firmas comerciais.
"Meu trabalho sempre foi uma
frequentação de coisas, aproveitamento de material e fatos e ele cumpre até
hoje esta finalidade de uma maneira coerente para completar o circuito de uma
vivência que pode se romper e dá lugar a outra realidade e acredito que o
trabalho que comecei a fazer ano passado, com fotografias vai me levar a este
conhecimento."
O trabalho totalmente
experimental a que me dedico possibilita, às vezes surpresas, encontros
imagináveis e o que me comove na arte é a possibilidade da descoberta freqüente
de formações, propostas interiores, imagens.
Num espaço relativamente
insignificante (71-76) para a formação de um artista, Bené Fonteles está
desenvolvendo cada vez mais sua arte, com a realização de um trabalho voltado
para atualidade, utilizando uma linguagem individual e é ele mesmo quem diz: "se
sou um vanguardista conceitual, não cabe a mim classificar minha situação
atual. Sou um comentarista de fatos ligados à linguagem atual, não só artística
mais jornalística".
Na Bahia de onde deverá seguir
para Londres, Bené está com o seu mundo voltado para suas próprias realizações e
mantendo contatos com pessoas ligadas à arte como Mário Cravo Neto, Bartira,
Tati Moreno, Fernando Coelho e entre outros com a jornalista Matilde Matos.
Suas atividades estão tendo continuidade e ele espera concluir dentro de pouco
tempo sua mais nova idealização que consiste em um trabalho onde faz um
resumo total de sua vida até a data em
que foi tirado o título de eleitor ano passado. Neste trabalho, os fatos vão
surgindo de uma caixa mostrando a sua revelação diante do mundo. Em resumo é um
jogo de porcaria que o público joga em cima de mim.
Lá Fora Tudo é Chiqueiro,sequência de três fatos,mostrando a sua revelação diante do Mundo |
Sobre sua participação na Mostra
Arte Agora I Brasil 70-75, Bené ainda não definiu nada. Mas acredita que deverá
apresentar o trabalho que está sendo realizado com Mário Cravo Neto, numa sala
de foto linguagem que sem dúvida alguma deverá ser colocado à sua disposição
pela Comissão Coordenadora. Neste trabalho, ele reúne 160 fotos, como linguagem
do artista. É a reunião de uma sequência de fotografias em cujo trabalho
utilizo o corpo e a mente de Mariozinho, voltados para um determinado fato. É um trabalho que revela conceito, um trabalho de imagem recolhido no momento.A fotografia representa um ponto
de observação da vida, ou melhor de imagens.
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