JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 21 DE
JUNHO DE 1975
Uma obra exposta de Dicinho |
Segundo o Dicionário Brasileiro
da Língua Portuguesa, 11ª Edição, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, a
palavra fragmento significa cada uma das partes em que se dividiu um todo;
pedaço; fração; migalha. Assim podemos classificar a arte de Dicinho que está
dividida em pedaços ou partes que juntas formam um todo. Sua exposição aberta
ontem, no Solar do Unhão, promovida pela Secretaria de Educação e Cultura
através de trabalhos em artesanato, esculturas e objetos feitos com materiais
considerados imprestáveis pela sociedade de consumo e até móbile.
Durante a exposição, o artista
dança e faz pequenas representações criando um ambiente de criação contínua.
Seu temperamento inquieto e criador permite que chegue a torna-se
incompreendido por determinadas pessoas. Conheço-o há vários anos e juntos já
fizemos uma peça dirigida por Gey Espinheira no Grupo de Arte da Faculdade
de Filosofia. Ele fazia o papel de um soldado e ninguém se controlava quando
recebia as instruções militares. Era uma cena engraçadíssima. Assim, é Dicinho
um artista nato que é capaz de fazer você rir e ao mesmo tempo ficar pasmado
diante de seus trabalhos,
Visitei o seu ateliê antes da
exposição e tomei conhecimento dos trabalhos que agora são mostrados ao público
baiano.
Ele não sabe explicar, aliás não
precisa, a razão porque misturou trabalhos de artesanato com esculturas e mesmo
móbiles. Acha apenas que sua arte é um todo formado de pedaços e assim deve ser
entendida. Muitos dos trabalhos surgiram inesperadamente. Foi ao Mercado Modelo
e lá encontrou-se com um homem que vendia centenas de bonecas de pano num saco.
Comprou algumas bonecas e começou a trabalhar. Montou várias representando a sociedade, guerra, desespero. Umas das cenas: um trabalho
de arte popular Suas raízes interioranas verdadeiras permitem a feitura de um trabalho
eminentemente popular com a utilização de materiais populares com as caixas de cigarros, tiras de chita barata, lâminas de papelão e bonecas de pano . Considera babaca os que não aceitam seus trabalhos e diz que falam por si.
Dicinho é um baiano, magro e
elétrico, conforme vocês vão constatar. Ele está andando, falando e de repente
resolve concentrar-se. Como um boneco elétrico levanta-se de sua posição yôga e
começa a saltitar, a dançar. Braços e pernas giram de um lado para o outro como
que a representar o papel de suas bonecos de pano. Não é mais um
aventureiro que surge no cenário das artes plásticas baianas. Tem um curriculum,embora desconhecido da maioria do público baiano, que merece ser relembrado:
Montou em São Paulo
a mais rápida exposição. Chegou, mostrou seus trabalhos e foi-se em apenas 10
minutos. Foi o que chamou de Uma Exposição Relâmpago, no Museu de Arte de São
Paulo. Juntamente com Adinísio Primo fez o figurino da peça Na Selva das
Cidades, de José Celso Martinez. Ilustrou reportagens para várias revistas como
Pop, Planeta, Realidade, e também para o Jornal da Tarde, de São Paulo.
Ilustrou vários livros para a editora José Olímpio e trabalhou no Jornal A Flor
do Mal, dirigido por José Carlos Maciel, que teve um fim precoce, porque foram
editados apenas cinco números.
Um objeto que você normalmente
considera imprestável como uma boneca de plástico sem braços, uma metralhadora
de plástico quebrada, e mesmo uma loteria de uma velha geladeira tem um grande
significado para Dicinho. De posses desses fragmentos, ele vai reunindo-os e
finalmente surge um trabalho, uma escultura, um móbile, etc.
A gula humana, por exemplo,
serviu de tema para um de seus trabalhos. Sendo macrobiótico, detesta a carne
bovina ou mesmo de aves. Diz Dicinho que "fico triste quando observo os homens
nos açougues comprando carne. Eles também chupam balas e tem dentes cariados.Tomam injeções e seus braços
embora aparentemente fortes são verdadeiros gravetos. Assim vão segurando suas
muletas e cada vez mais se armando. Enquanto isto, o sexo passa de bico aberto.
É isto que significa o meu trabalho", diz ele, apontando para um objeto.
BENÉ FONTELES EXPÕE NO ICBA
A 15 de julho próximo, o artista
Bené Fonteles estará expondo no Instituto Goethe, na Vitória, trabalhos áudio-visuais,
montagens gráficas, curta-metragem, fotocópias e cartazes.
Também é um trabalho de
aproveitamento do chamado lixo industrial. Na parte de slides o artista utiliza
fotolitos de um jornal offset, onde recorta e superpõe imagens,
cola, pinta e risca. É assim o cotidiano do jornal recriado em forma plástica e
cada slide é uma matriz gráfica para capa de livros, cartazes e serigrafias ou
mesmo outras formas de programação visual.
Curta-Metragem Conceitual foi
iniciado em Fortaleza em 1974 em O Alvo onde ele mostra que a vernissage é mais um
acontecimento social que artístico, quando na realidade deveria ser o
contrário.
Cartazes Conceituais - segundo
Bené são decorrentes dos trabalhos conceituais em pranchas. Partiu para os trabalhos em cartazes, assumindo um tamanho maior e um maior
compromisso conceitual como depõe sua proposta: Fotografia /encontrada a imagem
mastigada,/ impressa,/ rotulada, /porém não consumida, /graficamente o recorte se recompõe e
cria estética e um novo conceito.
Vencedor de vários salões, a
exposição de Bené Fonteles promete ser uma das mais importantes já realizadas em
Salvador durante o corrente ano.
MARIZA DERRAMA CORES NAS TELAS
A carioca Mariza está expondo na
Galeria do Hotel do Pelourinho, seus quadros inspirados nos personagens dos
livros do escritor Jorge Amado. Ele entende que o artista tem liberdade de
expressão através das cores, além das formas e traços, estado de espírito,
sentimentos e paixões. Nesta sua exposição mostra que derramou cores vibrantes
sobre as telas brancas misturado com o feitiço baiano.
Já realizou exposições em várias
capitais brasileiras e iniciou estudos de pintura com o mestre Guido Viaro, em
Curitiba, no Paraná
GARRIDO NA PANORAMA
Foi inaugurada ontem a exposição
de desenhos e pinturas dos artistas Eugênio Roberto Gordilho, Afonso Roberto
Martins Garrido e Odília Bouzas. São alunos e novos pintores que recebem
orientação do pessoal da Galeria Panorama. Anda não tive oportunidade de ver os
trabalhos deste trio de pintores que agora estréia mostrando aos baianos a sua
obra.
SIRON FRANCO NA GALERIA COSME
VELHO, SÃO PAULO
Este artista foi recentemente
premiado com uma Viagem ao Estrangeiro, do XXIII Salão Nacional de Arte
Moderna.Agora expõe na Galeria Cosme
Velho, em São Paulo. Seu
aparecimento meteórico no cenário das artes plásticas. Suas figuras distorcidas
na realidade não retratam ninguém em especial. São pessoas do coletivo que podem estar
tanto em Goiás Velho ,
sua terra natal, como em
São Paulo.
São imagens de sua infância e
juventude vividas nos chapadões onde as mais cruéis aberrações aparecem aos
olhos de todos aqueles que tem capacidade em enxergar.
Essas míseras criaturas estão em
vários pontos deste País, no Norte, no Nordeste e mesmo nas aglomerações
populacionais marginais das grandes metrópoles. São distorcidas não apenas
fisicamente, mas também mentalmente. Outros a grande maioria acostumaram-se com
a crueldade e são capazes de olhar com maior tranqüilidade e indiferença um
filmete na TV onde pessoas são mostradas completamente destroçadas pelas
bombas. A primeira de Siron Franco é, sem dúvida, uma crônica subjetiva da
época em que vivo, como ele mesmo afirma.
COR COMO LINGUAGEM
A exposição Cor como Linguagem
está aberta no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro até o próximo dia 20 de
julho e tem como principal objetivo apontar os rumos e as inovações radicais
que enriqueceram a produção pictórica nos últimos 25 anos, abrangendo os
diferentes estados de realidade na Arte Pop, às retomadas recentes do rigor
formal.
Foi organizada pelo Conselho
Internacional do Museu de Arte Moderna da Nova Iorque. A mostra reúne 56
artistas, na maioria pintores norte-americanos, entre os quais Andy Warhol,
Robert Rauschemberg, Roy Lichtenstein, Jackson Pollock, Mark Rothko, Barnet
Newman, Morris Louis, Frank Stella e Kenneth Noland. Dos europeus temos os
italianos Enrico Castellani, Piero Dorazio e Lúcio Fontana, os franceses Yves
Klein e Daniel Buren, os ingleses Richard Smith e John Hoyland, além de outros,
totalizando 63 trabalhos.
A apresentação é de Kynaston
Msnine, curador de Departamento de Pintura e Escultura do Museu de Arte de Nova
Iorque que afirma A seleção dos expositores inclui alguns renomados artistas
contemporâneos, sem deixar de lado outros mais jovens, alguns ainda pouco
conhecido, mas todos plenamente afirmados em sua contribuição à arte de nosso
tempo, merecendo ser atentamente vistos por sua disposição criadora.
Esta exposição já foi apresentada
em São Paulo
e depois irá para Bogotá, Montevidéu, Caracas e México.
ARTE NO METRÔ
A Régie Autonome des Transportes
Parisiens está organizando pequenos museus permanentes em suas estações, onde
ficam expostos quadros e esculturas de famosos artistas. Por outro lado, será
organizada ainda este ano uma exposição permanente na parte antiga da estação
Montparnasse-Bievenue, em comemoração aos 75 anos dos transportes parisienses.
DOIS NO CHALÉ
Os artistas Yrene Corbett e Naso
Heck, ambos paulistas, residindo há alguns anos em Salvador, vão expor a partir
do dia 6 de julho próximo, seus trabalhos no Restaurante Chalé, que fica ao
lado do clube Costa Azul. Yrene apresentará óleos retratando figuras humanas no
estilo primitivo e Naso Heck , figuras estilizadas.
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