JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 22 DE
MARÇO DE 1975
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Antônio Rebouças trabalhando em seu atelier em Berlim, onde passou dois anos |
O escultor e pintor Antônio
Rebouças está trabalhando sem parar para realização de duas exposições: a
primeira na Guanabara, na Galeria Irlandini,e a outra na Galeria O Cavalete, no
Rio Vermelho. Juntamente com Mário Cravo, o artista Antônio Rebouças representa
o que existe de mais significativo na escultura.
Personagem de livro de Jorge
Amado e integrante daquela geração de grandes e renomados artistas o escultor
Rebouças prefere ficar em seu atelier na Rua Princesa Isabel. É um homem
criativo e gosta de ficar horas e horas na solidão esculpindo ou pintando. Tem
um raciocínio rápido e uma inteligência acima do normal.
Agora ele acaba de colocar uma
bela escultura no prédio da Secretaria da Fazenda, no Centro Administrativo. É uma composição rotacional ascendente de 50 elementos independentes que vão se
alternando na projeção vertical. Os vazios resultantes da superposição dos
elementos em torno do eixo central dá uma bela ondulação rítmica.
Quanto ao aspecto plástico da
escultura apresenta três impactos diferentes quando vista a longa distância, a
distância média e dentro do lago. Em determinados ângulos parece tratar-se de
três esculturas diferentes. É um caso perfeito de deformação da percepção devido
às fugas que ocorrem de acordo com a trajetória visual do observador.
Como os elementos são livres e
desprovidos de solda, o conjunto poderá ser modificado de forma infinita,
girando em torno do eixo central.
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Escultura de 50 elementos superpostos, obra de Antônio Rebouças,na Secretaria da Fazenda, no Centro Administrativo |
Quando da escolha do projeto
desta escultura Rebouças apresentou outro que foi abandonado provisoriamente
devido a dificuldades técnicas em sua confecção. Trata-se de uma escultura em
forma de uma bola gigante que seria confeccionada em acrílico com quatro
centímetros de espessura e com uma parte espelhada. Seria oca e dentro dela
haveria uma lâmina d’água, onde boiavam dezenas de pequenas esculturas também
ocas. Funcionaria em campo eletromagnético que ficaria neutro e quando acionado
por um observador entrava em funcionamento. Assim as pequenas esculturas que
boiavam na lâmina d’água proporcionaria a pessoa a feitura de uma escultura. Seria
um trabalho, onde o observador participaria fazendo um número infinito de
esculturas que acabariam tão logo ele soltasse o interruptor que colocava em
funcionamento o campo eletromagnético.
Na conversa que mantive com
Rebouças resolvemos apresentar algumas perguntas e respostas.
Vejamos.
P. Sendo você um escultor
tipicamente figurativo por que escolheu para seu maior trabalho uma forma
abstrata?
R. Logo depois que eu criei esta
escultura ela deixou de ter uma forma abstrata passando a ser uma figura do
escultor Antônio Rebouças. Está claro que esta resposta irá confundir certos pseudos
críticos. A esses eu pergunto: uma tampa de açucareiro é uma forma abstrata?
P. Você considera sua escultura
monumental?
R. O verdadeiro sentido do
monumental nada tem a ver com o tamanho do trabalho. Eu bem me lembro que foi
num tropical dezembro que executei a mais monumental de minhas esculturas. Foi
um pequeno busto em miolo de pão de minha primeira namorada. Aquele busto
representa uma raridade ou seja o confronto do singelo com o monumental.
P. Por que você demora tanto em
fazer exposição?
R.Porque tenho muitos amigos e
tenho receio que eles modifiquem o conceito que têm a respeito da minha arte
já que ela move-se como as nuvens.
P. Por que você prefere a sua
escultura sem pátina?
R. Você deve saber que certas
obras de arte são como as mulheres, são mais belas em maquilagem e no vesti-la
no decorrer do tempo com uma espécie de pele avermelhada, mimetizante, à
maneira das índias.
P. Você não considera aqueles
pontos por demais agressivos na sua escultura da Secretaria da Fazenda?
R. Segundo Freud é melhor se
agredir com pontas do que com formas arredondadas.
P. Você admite que a mulher, esposa
ou amante tenha influência sobre a vida de um artista.
R. Há mulheres que nascem com o
poder mágico de transformar homens. Mas nenhuma conseguiria ou conseguirá
transformar um verdadeiro artista num mercenário.
P. Entre um artista culto e um
ignorante acha que o tipo de arte executada por cada um apresenta diferenciação em função do nível
cultural?
R. O problema deve ser encarado
do seguinte modo: somente o artista primitivo tem o privilégio de poder ser
ignorante. Um erudito ignorante além de ser um contrasenso, a sua erudição é
falsa.
P. Considera o dinheiro como
fundamental na vida de uma artista?
R. A História está repleta de
artistas que em plena miséria compuseram verdadeiras obras-primas, em
compensação encontramos certos artistas com dinheiro que são verdadeiros
bolhas. Por outro lado, encontramos alguns com dinheiro e que foram gênios e, também artistas na miséria que são e foram bolhas.
P.Acha que a arte que se
distancia do povo está fadada ao fracasso?
R. Não. Compete aos governantes
levar o povo a arte e não o artista colocar freios para chegar a um povo
despreparado.
P. Como poderia explicar sua
escultura?
R. Tudo aquilo que o artista
tenta explicar sobre o seu trabalho é exatamente o que não conseguiu dizer
através dele. Não tem culpa o artista, quando o trabalho diz tudo, e não foi
entendido por alguém.
Exposições Individuais
s.d. - Salvador BA - Individual, no MAM/BA - prêmio viagem ao exterior
1961 - Alemanha - Individual
Exposições Coletivas
s.d. - Salvador BA - Salão Baiano de Belas Artes
1957 - São Paulo SP - Artistas da Bahia, no MAM/SP
1961 - Alemanha - Coletiva
1962 - Alemanha - Coletiva
1966 - São Paulo SP - Coletiva, na Galeria Astréia
1966 - Salvador BA - 1ª Bienal Nacional de Artes Plásticas
1976 - Belo Horizonte MG - Pinturas, Esculturas, na Panorama Galeria de Arte
1999 - Salvador BA - 100 Artistas Plásticos da Bahia, no Museu de Arte Sacra
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