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terça-feira, 25 de junho de 2013

AS ESCULTURAS DE WANDA DO NADA

JORNAL A TARDE , SALVADOR,SÁBADO, 24 DE MAIO DE 1975


Wanda sentada no braço de uma
de suas esculturas gigantes
O paradoxo entre o seu frágil físico e as esculturas gigantes que ela cria é explicado pela grande força interior que a escultora Wanda do Nada possui. Ela quer criar e criar sem parar. É capaz de permanecer o dia inteiro com seus instrumentos de trabalho esculpindo um grande tronco. Ela confessa preferir esculpir uma figura grande porque lhe proporciona mais liberdade de criação e tudo acontece de uma espontaneidade. Por outro lado, a figura ou escultura de menor porte, em sua opinião limita um pouco a sua força criadora mas terá que partir para feitura de trabalhos menores porque os maiores exigem um espaço relativamente grande, além de outros inconvenientes.
Somado ao grande volume de suas escrituras muitas gentes choca-se com a nudez das figuras esculpidas.
Não é preciso a gente pensar que a arte é amoral, não tem moral. O problema da imoralidade está nos preconceitos de cada um e o artista não pode ficar preso ao falso moralismo.
Uma estátua nua deve ser vista com a mesma simplicidade de uma estátua ou escultura vestida. O que se deve observar é o trabalho artístico propriamente dito e não o sexo que forçosamente terá que está presente numa obra de arte que represente uma figura humana nua. Pior seria se o artista apresentasse uma figura assexuada. As esculturas gigantes e despidas de Wanda do Nada na agridem ninguém. Elas são puras como a artista que realiza o seu trabalho com consciência e é falsa a ideia de conotação de qualquer problema sexual revelado pelo inconsciente de artista.
Wanda do Nada é uma jovem escultora que gostaria de ver os seus trabalhos nas praças públicas, sendo admirados e tocados por todos aqueles que admiram o trabalho artístico.O seu trabalho não é feito para ser colocado numa sala de um colecionador, porque ele tem um sentido e uma função mais ampla que é a da participação do povo.
O seu trabalho é, acima de tudo, livre. Ela não parte de uma ideia preconcebida que vai fazer este ou aquele tipo. Simplesmente vai esculpindo e surge inesperadamente a figura. O tronco é imenso e o que sobre utiliza para fazer outras figuras menores que apresentam ao final uma bela composição.
Foto atual de Wanda com uma escultura 
Ela não modela antes no barro aquilo que vai esculpir. O que faz é trabalhar diretamente com a madeira onde consegue transmitir todo o seu calor humano. Diz Wanda do Nada que não consigo entender certas pessoas que ficam chocadas diante de uma escultura despida, principalmente se a figura é de um homem. Quando acontece a figura ser de uma mulher ninguém fica abismado. O que tenho a dizer é que minhas esculturas devem ser vistas como uma obra de arte que fala por si.
Observando os trabalhos de Wanda do nada podemos afirmar que até a figura do homem despido tem um semblante e uma expressão de pureza. Os braços, pernas e troncos fortes contrastam com o rosto que reflete calma, pureza e ternura. É assim que deve ser visto o seu trabalho que não pretende chocar ou agredir a ninguém.
Além de escultura, Wanda do Nada trabalha no atelier do mestre Mirabeau Sampaio há cerca de cinco anos. É uma artista que vive do seu trabalho e o seu maior desejo é a instalação de seu atelier, onde pretende esculpir uma série de obras que já ficarão sem a preocupação de vender. O que preciso é esculpir, é criar,pois somente assim darei evasão minha força.

                  PETACCIA E SUA PINTURA

Já a jovem artista Petaccia dedica-se a pintura. Já participou também de salões e de uma série de coletivas em Salvador.Formada em Licenciatura em Desenho. Está atualmente concluído o curso de Artes Plásticas. Hoje desenvolve uma temática afro baiana. Embora as baianas do acarajé, da roda-de-samba e do candomblé sejam alvo de grande exploração por vários artistas  Petaccia tem características  que diferem de tudo que já foi feito por aí. Certamente com o passar dos anos o seu traço e a sua técnica tendem a melhorar, mas já podemos sentir o traço forte de sua personalidade e individualidade. Ela não é mais uma artista que apenas retrata o folclore baiano. Ao contrário, é uma artista que está acrescentando em termos de pintura. A utilização de tons claros e escuros e superposição de figuras em planos diferentes dão aos quadros de Petaccia grande vitalidade. Os tons amarelos refletem o quanto esta jovem artista capta de luminosidade, que somente Salvador possui. Reflete também a própria alegria de viver e principalmente de criar de Petaccia. As figuras das baianas possuem expressões místicas e todos que observam o seu trabalho ficam surpresos em achar algo mais naquelas baianas que parecem estar movimentando-se no espaço. São leves e puras numa expressão talvez fora da realidade que nos cerca. Outras figuras de mães pretas, Petaccia revela o sentimento de proteção da maternidade. Elas quase sempre estão com as mãos e o próprio corpo envolvendo seus filhos.
Esses quadros nos dão a impressão de movimento constante.
Diz Petaccia que esta temática que estou desenvolvendo no momento é a realmente muita batida, mas certamente isto me proporciona um trabalho maior, porque tenho a preocupação de sempre criar algo de novo. Nada de fazer um quadro simplesmente e sim buscar aquilo que está dentro de mim e que traga minha marca. Acho que cada artista deve desenvolver um trabalho onde encontre sua individualidade.
Tive também a oportunidade de observar outros estudos que estão sendo desenvolvidos por Petaccia onde a movimentação e o espaço são suas preocupações imediatas. Assim figuras estilizadas movimentam-se nas telas em tons azuis e amarelos, num grande contraste de claros e escuros. Como a dança é a libertação do corpo e da mente, a pintora Petaccia tem, assim, uma grande temática a desenvolver.

QUATRO ARTISTAS NA PANORAMA

O pintor Capellotti sobre o qual já fiz um extenso comentário, volta a expor alguns quadros na Galeria Panorama desde o último dia 23. Repito que Capelotti é uma das grandes esperanças das artes plásticas na Bahia. Ao seu lado estão participando da coletiva da Panorama as pintoras Déa Miranda, Helena Mello e Willy Kubli.

ADERBAL RODRIGUES

A Secretaria de Educação e Cultura do Estado, através  a Fundação Cultural, promoverá a partir de 06 de junho a exposição do artista Aderbal Rodrigues na igreja do Solar do Unhão.
A exposição constará de 33 trabalhos entre cerâmicas, tapeçarias, óleos e quadros, tendo como tema problemas da Humanidade. Aderbal é um pintor surrealista monocromático e explora os tons lilás, violeta e azul da Prússia. Confesso que ainda não tive oportunidade    falar sobre o artista.

BONFIM DEVE LEVAR  IAÔS PARA NIGÉRIA

O escultor Manoel Bonfim concluiu a série de entalhes que há meses vem realizando com carinho especial, pois pretende levá-los para Lagos, na Nigéria quando da realização do Festival Internacional de Arte Negra. Sem dúvida, o escultor Manoel Bonfim deverá ser um dos escolhidos para participar do referido festival por suas raízes e trabalhos enquadrados dentro do afro brasileiro. Enquanto aguarda a decisão final da comissão encarregada de escolher os artistas brasileiros que participarão do Festival, o escultor Manoel Bonfim vem trabalhando com afinco a fim de mostrar seu trabalho a seus ancestrais.

LEONARDO ALENCAR NA GALERIA CAÑIZARES


O artista Leonardo Alencar abriu sua exposição,  na Galeria Cañizares. Estão expostos trabalhos a óleo e várias gravuras. O artista colocou algumas gravuras sem molduras com o objetivo dos visitantes manusearem, porque assim terão um maior contato com sua obra. Leonardo Alencar, sergipano de nascimento e baiano por adoção, é um dos bons artistas que temos atualmente em Salvador. Vive para sua arte que tem se destacado não somente no Brasil como também no Exterior.

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