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quarta-feira, 5 de junho de 2013

A ARTE PERDE ANTÔNIO REBOUÇAS

      Conheci Antônio de Almeida  Rebouças há muitos anos. Era uma pessoa altamente inteligente e criativo. Na última vez que estivemos juntos em 2010 notei que estava muito agitado e tinha horas que oscilava entre a alegria e a tristeza. Às vezes indignado com tudo que acontecia em nosso país no mercado de arte. Era difícil de relacionamento exatamente por causa de sua grande sensibilidade. Rebouças faleceu aos 90 anos no dia 27 de maio último.Infelizmente, por motivo alheio à minha vontade, não pude comparecer  ao seu enterro.
Rebouças  gostava de sair pela manhã, cedo, e andar pelo Porto da Barra e, às vezes, "dar umas braçadas", assim confessou naquela  tarde que passamos conversando sobre tudo.Costumava me enviar algumas cartas ou bilhetes expressando os seus sentimentos naquele momento, reclamando e esbravejando de alguma coisa que o incomodava . Tenho várias delas guardadas. Leiam esta cartinha que me enviou em 6 de outubro de 1997.

"Amigo Reynivaldo: 
Sei mais do que ninguém que sou jogo duro,mas não consigo levar um ente querido ao enterro.Peço, para você, por esta mensagem no seu jornal".
"Reynivaldo Brito:
Encontrei Carybé passando por "Saturno",ia puxando uma batucada da pesada, a nave estava toda orvalhada,mas depois verifiquei que não era orvalho, eram lágrimas do artista com saudades de Nancy, que representava para ele não apenas a esposa mas um orgulho. 
A. Rebouças ( Para Carybé - "Tonio".

Publico agora esta mensagem única e sentimental por entender que ela reflete um pouco quem era Rebouças e como  sofria com as perdas e os dissabores da vida. Sua sensibilidade acurada fazia sofrer e o abalava mentalmente.Era difícil a convivência com ele que mudava repentinamente de humor, mas o seu grande talento de artista nunca foi abalado. Rebouças deveria estar entre os primeiros artistas de nosso país porque suas obras têm uma qualidade acima da média.
Nunca contou com um agente, um marchand ou  um galerista  que trabalhasse junto ao mercado, as suas obras levando-as pra leilões, exposições e bienais, para que pudessem ser apreciadas por um número cada vez maior de pessoas. Vejo novos talentos, ainda carecendo de muito aprendizado, despontando com facilidade enquanto outros pintores de conteúdo sendo esquecidos por marchands, galeristas e colecionadores. Reparem um pouco mais para a produção de Rebouças. Não é porque ele morreu, já afirmei isto nas décadas de 70 e 80 com o mesmo entusiamo de hoje.

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