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sábado, 22 de abril de 2023

A QUALIDADE ESTAMPADA NA OBRA DE LEONEL BRAYNER

Leonel Brayner em seu ateliê ao lado de sua última obra.
Já estive em ateliês de muitos artistas. Uns mais organizados, outros mais desprendidos e alguns que lembram locais onde residem esses acumuladores que aparecem em programas de televisão americana. Porém, esta semana visitei Leonel Brayner, artista que conheço há mais de quarenta anos, e sobre o qual já fiz alguns textos em momentos que expôs suas obras em Salvador. É um artista diferenciado, organizado, sua pintura é pensada, racional, limpa e bem resolvida. Você chega a imaginar como aquelas paisagens ou mesmo as naturezas-mortas que desenha e pinta saíram realmente através de simples pinceladas ou usou outra ferramenta mais sofisticada. Esta organização tem uma razão de ser. Ele é de uma família de militares. Seu avô paterno, seu pai e um tio eram militares e  terminou entrando para a carreira militar, dando baixa com a patente de capitão do Exército Brasileiro. A arte foi mais forte que abraçou desde a sua infância quando começou a fazer os primeiros desenhos e pinturas incentivado por
Vemos naturezas-mortas e paisagem do artista.
 sua avó materna Gilberta Brayner e pelo tio Hélio Brayner, que eram pintores amadores. Daí passou a frequentar exposições, e ateliês de alguns artistas principalmente do pintor e cenógrafo italiano Inos Corradin, que fixou residência de Jundiaí onde Leonel Brayner morava com sua avó materna.

Com sua pintura realista ele vai registrando em suas telas paisagens de cidades como aconteceu no Rio de Janeiro, em Goiás Velho, e na Bahia. Suas pinturas lembram de longe aqueles momentos mágicos onde você consegue captar a atmosfera e a beleza de uma bela paisagem através de uma máquina fotográfica e hoje por meio de uma camêra do celular. Parece ficar ali fixado aquele instante que não volta mais. Como as águas do rio que descem lentamente e tomam destino ignorado. Ninguém sabe onde elas vão desaguar. Quem viu, viu. Daí em diante são outras imagens que passaram porque o tempo não para. Quanto às naturezas-mortas são também de uma perfeição ímpar parece que as frutas, objetos em geral estão ali reproduzidos com àquele toque cheio de criatividade na composição, na escolha das cores adequadas repousando esperando por um olhar sensível. Tudo feito dentro de uma delicadeza que só vemos nas obras dos grandes pintores

                                                                                            QUEM É 

Leonel e Inos Carradim por 
quem devota forte gratidão
.
 Embora seus avós e pai sejam do sul do país por uma imposição profissional eles foram transferidos para a cidade de Maceió, capital de Alagoas, durante a Segunda Guerra Mundial para integrar a força que guarnecia a costa alagoana. Seu pai já namorava a Newta Brayner que seria sua futura mãe. Casaram e tiveram alguns filhos e infelizmente ela veio a falecer do parto de seu filho Leonel Brayner. Viúvo o pai, que se chamava Leonel resolveu levar o filho para viver com sua avó materna Gilberta Brayner na cidade de Jundiaí, interior de São Paulo. Foi aí onde começou a se interessar pela arte porque sua avó e um tio Hélio gostavam de pintar. Com este incentivo a arte passou a ser uma atividade predileta do jovem nordestino, nascido em 25 de abril de 1944, portanto Leonel vai completar este mês 79 anos de idade. Tem dois filhos, um morando no Havaí e outro no Rio de Janeiro. Mora em Salvador juntamente com sua esposa Ana Brayner no bairro do Itaigara, há quase cinquenta anos. 

Após a guerra seu pai foi estudar Engenharia Química, no Instituto Militar de Engenharia - IME, na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. Formou-se e logo depois foi trabalhar na iniciativa privada. O filho Leonel passou a dividir seu tempo entre o Rio de Janeiro e Jundiaí. Prestou exame foi aprovado quando estava com 15 anos para a Escola Preparatória de Cadetes, onde ficou internado até concluir o curso e seguir sua carreira militar para a prestigiada Academia Militar de Agulhas Negras, que fica em Resende, estado do Rio de Janeiro, onde saiu como tenente do Exército Brasileiro. Ao mesmo tempo continuou desenhando e pintando. Transferiu-se para Curitiba e lá participou de grupos de artistas. A arte estava muito presente na Cidade com o incentivo do governador Jayme Lerner. Passou três anos por lá e fez duas exposições em galerias curitibanas. Transferido para Salvador passou a trabalhar no Colégio Militar, mas aos 26 anos decidiu pedir baixa do Exército e saiu com a patente de capitão. Foi trabalhar na década de 90 no Polo Petroquímico, em Camaçari, no setor de planejamento, e por lá ficou uma década e meia e paralelamente tocava sua carreira artística.

                                                                O MERCADO DE ARTE

Foto 1.Dorival Caymi e Inos Carradin, na Galeria Época,
anos 80. Foto 2. Com Calasans Neto. Foto 3. Leonel e
Luiz Jasmim. Foto 4.Carl Brussell, Kátia,Leonel e Jenner
Augusto, na Katia Galeria de Arte,1984. Foto5.Leonel, Tati
Moreno e Mário Cravo, Galeria O Cavalete,1977. Foto 6.
Sua primeira mostra em Curitiba, na Galeria Arcaica,1978
.



Não perdeu o contato com seu grande incentivador Inos Corradin, hoje com 93 anos de idade, e ainda trabalhando em Jundiaí, SP. Foi ele  que lhe apresentou ao mercado e sempre o orientou, por isto tem uma gratidão muito presente ao pintor ítalo-brasileiro quando fala de sua carreira. Por falar em mercado para Leonel Brayner "o mercado de arte se modificou muito com as novas tecnologias e vem influenciando em todas as artes. Facilitou por um lado e por outro restringiu o pensamento crítico e criativo e a própria criatividade. Com as facilidades oferecidas o artista corre o risco de ficar meio preguiçoso. Antes o artista tinha que buscar soluções com colegas, com estudos, hoje com um clique ele consegue o que quer ou quase tudo. Por exemplo antes tinha que pegar seu cavalete e ficar diante de uma paisagem para pintar tendo aquele contato direto com a natureza, escolhendo a melhor hora de pintar, a luz e assombra . Hoje num clique você tem paisagens de onde quiser. Viaja para a China num simples clique. Também o manejo das tintas, as misturas que os artistas faziam era únicas, individuais e com o tempo conseguiam algumas habilidades que lhes permitiam efeitos diferenciados no que pintavam. Hoje está tudo pronto industrializado. "E citou um caso interessante contado por seu amigo Sérgio Ferro, pintor paranaense que mora em Paris que lhe disse que as tintas acrílicas e outras dominaram de tal forma o mercado que você não encontra com a facilidade de antes  todas as cores que deseja de  tintas a óleo. Ele mesmo ainda trabalha com tintas a óleo e faz misturas com standard oil, terebentina que é tirada do pinheiro e evapora rápido. É um solvente e tem também de origem do petróleo. Verniz para proteger. Também trabalha com técnica mista a óleo e acrílica sobre tela. Material que os clássicos utilizavam para pintar. 

                                                                      O MODELO

Foto 1. Paisagem Panorâmica de Goiás Velho. Foto 2.
 Floresta da Tijuca e igreja.Foto 3. Lagoa do Abaeté.
Foto 4. Praia de Guarajuba.
A paisagem para mim é o modelo pronto. Não precisa da presença da figura humana, ela está ali para ser apreciada, para ser pintada. Já os frutos que pinto é uma pintura contemplativa. São naturezas-mortas que vou construindo com paciência e determinação. De uns vinte anos para cá decidi mergulhar no meu gosto pessoal sem me preocupar com o mercado ou mesmo com o gosto de terceiros. Isto é resultado de um amadurecimento pessoal e também porque atualmente não tenho necessidades prementes financeiras ou mesmo de algo que precise . A vida está mais estável, meus dois filhos estão adultos, formados, um é arquiteto e mora no Havaí , o outro é engenheiro e está no Rio de Janeiro. Eles têm suas vidas próprias e estão levando bem, e então eu fico aqui no meu atelier pintando o que gosto. ", disse Leonel Brayner

Ele ainda tem uma disciplina necessária a todo artista profissional. Levanta bem cedo e dá sua caminhada nos arredores da rua onde reside no alto do Itaigara, numa bela casa que construiu juntamente com os filhos ao seu gosto pessoal .Disse que acompanha as coisas que acontecem no segmento das artes plásticas, sempre procurando se atualizar. Mas, que tem visto muita coisa apresentada como arte, que na realidade não considera que vale a pena ser vista desta maneira. A arte se impõe por ela mesma, não ainda criar narrativas para querer transformar alguma coisa em arte. É perda de tempo. O que concordo. Eu mesmo não consigo aceitar muitas manifestações de protestos e algumas instalações como arte. Para mim pode ser outra coisa, mas não tem beleza, não emociona, não me causa qualquer reação de conhecimento, enfim são como objetos ali jogados sem qualquer critério artístico e sim de chocar, e nem isto conseguem. A arte tem que ter conteúdo, tem que emocionar, agradar aos olhos e aos sentimentos. 

                                                                              VIAGENS

Pintura a óleo Canal do Leblon.
 O Leonel Brayner gosta muito de pintar paisagens. Fez uma viagem para Goiás Velho, a terra da grande poetisa Cora Coralina e lá pintou a Cidade de muitas paisagens. Ele gosta de sentir a atmosfera dos locais para criar a sua arte com sua visão pessoal do casario, das árvores e arbustos, do azul do céu. Entende que cada paisagem encerra uma história própria, particular e por esta razão prefere estar presente onde vai pintar. Foi a Goiás Velho, que fica no Estado de Goiás, em homenagem a seu pai que é de lá. "A cidade parece um presépio. Tudo está bem conservado e ali parece que o tempo parou para que possa ser apreciada aquela atmosfera de uma época que não volta mais. Fiz esta viagem no ano 2000, e até hoje fico emocionado com o que vi e pintei. "

 Também ele fez um livro sobre o Rio de Janeiro em 2012 juntamente com o escritor Rui Castro e sua esposa Heloisa Seixas chamado de Rio, Pena e Pincel onde estão reproduzidas várias paisagens do Rio de Janeiro feitas por Leonel Brayner e textos dos escritores citados.

Sua última exposição foi no Palacete da Artes e, Salvador onde apresentou dezenove obras de 1m x 1m de naturezas-mortas. Ele disse que demora mais de um mês para fazer uma obra nesta dimensão, e às vezes até mais dependendo das dificuldades que surgem e que precisa buscar soluções . Outros são mais rápidos e as soluções aparecem espontaneamente. ", explica.

                                                                 DIFICULDADES 

Leonel Brayner e Reynivaldo.
Voltando a falar do atual mercado de arte e da relação dos artistas com as galerias falou que temos observado que o mercado está mais severo com os artistas, especialmente com aqueles que estão iniciando na carreira artística. Antigamente você era convidado para fazer uma exposição pelo galerista e ele conseguia um patrocinador para o coquetel e inclusive para outras despesas como o catálogo e que o artista cuidava das molduras para melhor apresentar seu trabalho. A galeria já ficava com 33% por cento das obras vendidas e tudo funcionava bem. Agora tem que ter um curador, o patrocínio está difícil e as exposições diminuíram muito em quantidade e muitas galerias fecharam ou estão funcionando com precariedade. Hoje o artista precisa tomar cuidado para não ser engolido por este mercado que se apresenta voraz. "

Sua primeira pintura.Óleo sobre madeira,1951.
Disse Leonel Brayner que "por outro lado tem surgido formas de reproduções onde até um quadro a óleo ou acrílica como estes que pinto podem ser reproduzidos em materiais muito parecidos como por exemplo lona que se utilizam para fazer as telas, em papéis especiais. São reproduções perfeitas e dizem que a duração é bem maior que uma obra comum. Sabemos que um quadro pintado com 20 e 30 anos apresenta oxidação e outras reações devido ao tempo e a umidade e calor do ambiente. "

Falou também que hoje o artista jovem muitas vezes é levado pela exposição midiática a se achar um gênio de um dia para noite. Procura o sucesso imediato, sem a maturidade necessária dele e do que realmente está produzindo e oferecendo ao mercado. Estamos vivendo tempos que todos se consideram artistas, mesmo sem qualquer talento digno de apreciação. Existe uma certa obsessão pelo sucesso rápido, e por isto se exibem demasiadamente, mais que a própria arte que criam. Lembro de uma frase de Oscar Wilde que diz "O objetivo da arte é revelar a arte e ocultar o artista, no seu livro "O retrato de Dorian Gray".

 

 



28 comentários:

  1. Parabéns Reynivaldo Brito, pelo resgate e registro da nossa história tão importante para futuras gerações ...

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  2. Pô Reynivaldo , estou emocionado7 e agradecido com seu texto comentando minha arte e longa caminhada artística . Fique certo que faço por onde , me esforçando a valorizar a pintura tradicional de tela , tinta e pincel , hoje infelizmente , considerada ultrapassada pelo dito mercado de arte , em detrimento , muitas vezes , de um experimentalizmo vazio e com pouca consistência artística . Na contra- mão da história , acompanho os teimosos artistas que ainda acreditam na pintura convencional , na certeza que ela ainda tem muitas surpresas a nos revelar , desde que as procuremos com sensibilidade e respeito . Mais uma vez obrigado pelo seu importante trabalho para as artes baianas .

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  3. Maria Alair Cardoso
    Muito tocante o jeito como você vê o artista!Bravo! Sempre sua admiradora !

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  4. Leonel R. Mattos
    Parabéns Reynivaldo Brito , sempre contribuindo com a nossa cultura. Leonel Brayner é um grande artista de personalidade forte e coerente na sua trajetória .

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  5. Marluce Maria Morais Brito
    Parabéns Reynivaldo, por mais essa matéria rica e que nos apresenta mais um grande artista da nossa terra.

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  6. Márcia Cristina Silva Barros
    Obrigada, Mestre Reynivaldo Brito por me
    apresentar a linda obra e a personalidade marcante de Leonel Brayner, que eu não conhecia! Seu texto sempre bem escrito e de certa forma poético, nos leva ao mundo do artista e nos instiga a conhecer mais! Concordo com tudo que li sobre: o conceito de arte vigente (desvalorizando o belo), a pressão do mercado artístico, a dificuldade de patrocínio para expor numa galeria (as poucas que resistem) e, especialmente, o excesso de "artista imediato" nos dias atuais. Parabéns pelo texto e parabéns ao artista pelas obras e pela coerência no seu fazer!

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  7. Terezinha Brandão
    Parabéns pelo belo texto. Artista admirável!! E ainda mora perto de mim. Alto do Itaigara. Valeu!!!

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  8. Graça Gama
    Linda obra de Leonel .Belo texto parabéns amigo

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  9. Maria Adelaide Dantas Costa Cruz
    Parabéns Reynivaldo pelo seu texto. Parabéns ao grande artista Leonel Brayner!

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  10. Teresinha Nogueira
    Oi bom dia .Vc está de parabéns com tudo que vc escreve

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  11. Severina Ferreira Severina Ferreira
    Rey você tem o dom e a leveza para escrever os textos, realmente você é de gêmeos.
    Parabéns!

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  12. Edison da Luz
    Esse critico de arte mestre R.Brito realmente é fora de serie um critico porta e mistico. Quando entrevista um artista com sua voz macia arranca tuto que ele quer saber do ARTISTA e na harmonia e leveza. Olhe como ele entrevistou o artista Leonel. Leonel como todos sabem é um artista acadêmico cheio de rigor e prudência. O acadêmico ou clássico quer ver a realidade nua e crua como ima máquina fotografica e não admite intervenção criativa. E a copia fiel da natureza. Como Leonardo e Miguel Angelo. Porque na epoca era um desafio por não existir a fotografia. Leonel com todo meu respeito pelas suas obras e pelo artista que você é giwue tranquilo. Porque a atte acompanha a evolução no tempo e espaço. Todo ser humano tem o don das artes ja vem com o espírito e qualquer toque, risco, ação ou manifestação simplesmente É você ainda tem tempo de entrar na história. Como um grande artista recuperando todo tempo. A tecnica você usa é muito importante pra você fazer o que quiser na arte. Leonel Matos se soubesse fazer o que você faz ficaria muito feliz. Imagine se você fosse entusiasmado pela arte Mexicana. Se você conhecesse Pereira seu colega de farda tem um centro de arte na pituba com mais bde mil obras e esquecido simplesmente por ser militar. Tudo na vida é arte e arte é vida. Exemplo: um dia que você fizer uma exposição. E por acaso voce fizer uma instalação, com ss obras cortadas em tiras. O mundo da imprensas e colecionadores cai de joelho em seus pés. Avante artista continue sua caminhada e seja o que Deus quiser. Deus lhe ilumine

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  13. Ana Brayner
    Obrigada Reynivaldo! Lindo texto! Fico sempre orgulhosa por participar há mais de 50 anos deste trabalho tão importante de Leonel!

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  14. Liane Katsuki
    Parabens com minha sincera admiración desde Holanda .
    Liane Katsuki

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  15. Edicarlos Santana
    Parabéns seu reynivaldo Belos textos

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  16. Angela Lisboa Dabush
    Parabéns Reynivaldo Brito .

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  17. Wellington Lôbo
    Taí o grande Rey, com os seus RESGATES de grandes TALENTOS.
    Parabéns Rey.
    Abraços!!!

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  18. Renilde Pedreira
    Parabéns para o artista e para o Jornalista!

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  19. Anna Georgina Rocha Cardoso
    Beleza de texto e dos trabalhos de Leonel Brayner.

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  20. Edna Silva
    O texto está tão esclarecedor que dá vontade de conhecer o artista.

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  21. Carmen Carvalho
    Linda a arte de Leonel Brayner e o texto de Reynivaldo, a quem nós artistas devemos gratidão por tudo que ele tem feito pelas artes na Bahia ! Um abração pra você amigo

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  22. Maria Helena Morais Barreto
    PARABÉNS GRANDE REY , PELO TRABALHO QUE NOS ENRIQUECE. SUCESSO SEMPRE!!

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