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terça-feira, 4 de abril de 2023

MERCADO DE ARTE - AINDA SE PREFERE UMA GRAVURA DE REVISTA A UMA OBRA DE ARTE

A página original.
 Jornal A Tarde ,25 de janeiro de 1971.

Texto Reynivaldo Brito  

Pintor Adelson do Prado

Diversas galerias de arte de Salvador   fecharam suas portas. As razões ainda   não foram bem esclarecidas. Para uns ,   é  falta de mercado, porque os   colecionadores são poucos e os turistas   só querem levar quadros baratos, como   quem compra um objeto num mercado   popular, principalmente o turista   nacional, o estrangeiro paga um pouco mais. Isto para Renot “é porque eles têm um padrão de vida mais elevado". 

Obra de Adelson do Prado.
“O proprietário da Galeria Panorama diz que a maioria das pessoas prefere colocar uma gravura de uma revista qualquer, com uma linda moldura do que comprar uma verdadeira obra de arte”. Talvez a falta de cultura artística de nosso povo ou o baixo poder aquisitivo não permitam que os baianos consumam arte.
Acima o pintor Adelson do Prado que foi lançado na Galeria Querino , hoje é um conhecido artista baiano. Atualmente, está no sul do país . É primitivo e veio de Vitória da Conquista

                                           IDEALISMO

O Euler de Pereira, artista de profissão e proprietário da Galeria Panorama, é de opinião que "para se tiver uma galeria de arte é necessário, acima de tudo, que a pessoa seja idealista e sonhadora. Não recebemos nenhuma ajuda governamental  e os órgãos encarregados do turismo desconhecem as galerias de arte e, muito pior, distribuem roteiros turísticos da Cidade sem constar o nome d galeria. Isto é uma situação ruim e prejudicial para a cultura da Bahia".

Quanto ao problema de mercado de arte na Bahia, o Euler de Pereira disse que "o turista, em geral, gosta de arte barata. Um quadro para ser vendido ou comercializado pode custar mais de Cr$300,00. Já o turista estrangeiro emprega mais dinheiro, porque sabe que é um bom investimento. Mas, esses turistas são poucos. Os sulistas preferem um berimbau, que custa vinte cruzeiros. O importante para eles é levar uma lembrancinha da Bahia".

                                                        MERCADO

O Mercado de arte na Bahia é considerado fraco pelos proprietários de galerias e entendidos de arte. Os pintores são o que mais sofrem. Alguns de talentos excepcionais ficam aí a "ver navios". O Euler de Pereira acrescentou  que "o baiano ainda não está acostumado com o consumo da arte plástica. A gente em Salvador ainda entra numa casa suntuosa de gente rica e encontra uma gravura de uma revista numa moldura ricamente confeccionada".

"E não precisa você levantar-se desta cadeira para constatar o que afirmo: veja naquele belo apartamento aquela gravura". E aponta para um edifício em frente à galeria, onde realmente existe uma gravura de revista emoldurada.

Para ele a falta de idealismo é a principal razão do fechamento de galerias em nossa cidade. Adianta: "Muita gente pensa que montar uma galeria "é negócio da China" e que vai ficar rico. Na realidade, isso no ocorre".

                           INTERMEDIÁRIOS

Euler de Pereira Cardoso.

Pelo visto, o artista é quem mais sofre com a comercialização de sua arte. Muitas vezes entrega os seus trabalhos a um marchand que só visa o lucro e não tem nenhuma sensibilidade artística e nem procura conhecer as dificuldades do artista. O que eles querem é vender a obra de arte por um preço elevado e pagar bagatela ao pintor. Para o Euler de Pereira os marchands deveriam ser artistas, porque assim, teriam mais sensibilidade e conheceriam melhor as dificuldades do profissional. “Não se pode vender arte como se vende um metro de pano”.

As galerias geralmente cobram uma taxa para quem quiser expor. A taxa varia de acordo com a galeria e são destinadas ao pagamento da luz, fotografias, garçons, coquetel, impressos, e despesa com os Correios. Mas, os proprietários das galerias ainda cobram mais de 30% por cada obra vendida durante a exposição. A duração de uma exposição individual ou coletiva é de quinze a vinte dia e algumas deles não passam de dez dias. 

                                               VIVER DE ARTE

O Euler de Pereira afirma "que embora existam todas essas dificuldades, é possível se viver de arte na Bahia. Falo como artista e dono de uma galeria, porque atualmente só vivo de arte". Para  que um pintor realize sua exposição em nossa galeria, nós recebemos os seus trabalhos e entregamos a cinco professores que são artistas plásticos para apreciarem os trabalhos. Caso a |Comissão goste e aprove, ele expõe. Caso contrário, devolvemos os trabalhos. “Desde que fundamos esta galeria, já devolvemos mais de cinquenta”.

                                         NÃO HÁ GALERIA

O tapeceiro Renot acha que não há galerias de arte na Bahia e que sua casa não é uma galeria e sim seu atelier. "Registrei a minha casa como atelier. Já tentei, durante algum tempo, manter uma galeria - a Quirino- onde realizei e promovi várias exposições de artistas novos. Fui eu quem desenvolveu e criei o mercado de arte na Bahia. Mas, desisti da galeria porque os colecionadores baianos continuam sendo os mesmo de 1957, quando comecei. Não consegui um desenvolvimento satisfatório. Desejava expandir a arte para a classe média baiana, mas, infelizmente o baixo poder aquisitivo dessas pessoas não permitiu que obtivesse sucesso."
Ao lado o tapeceiro Renot  ex-proprietário da Galeria Querino que fechou as portas. Atualmente, o Renot está voltado para seus tapetes. e entalhes. A comercialização da arte e lançamentos de outros pintores novos não está por enquanto em suas cogitações.

Belo tapete de Renot.
Para Renot, a galeria de arte tem que ser um ambiente comercial por excelência e o capital de giro é indispensável. Os proprietários das grandes galerias compram os trabalhos dos artistas e revendem com lucros. Isto acontece em toda parte do mundo. Mas, também é preciso que esta pessoa tenha sensibilidade e esteja integrada com a História da Arte Brasileira. Com isto, evitaria que fosse levada ao público uma imagem distorcida de arte e mesmo distorções culturais, que prejudicam, sensivelmente, o nosso povo e a cultura do país. “Para se abrir uma galeria de arte, deveriam ser exigidos requisitos rígidos como se faz com qualquer meio de comunicação (rádio, emissora de televisão) porque arte é um dos principais meios de comunicação”.

 Para ele "A Bahia possui um mercado pequeno, mas existe. O que não há é galeria de arte. Alguns pintores de talento estão jogados e esta gente precisa ser aproveitada. Eu, agora, estou voltado para os meus tapete-se os meus entalhes, de maneira que não posso mais promover exposições. Já tenho um mercado no país e, agora estou abrindo novos no exterior.  Nesta minha viagem recente, vendi alguns trabalhos em Londres. Aliás, todos que levei", frisou o tapeceiro Renot.

 


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