Translate

sábado, 29 de dezembro de 2012

PROJETO PORTINARI ESTÁ REPERCUTINDO EM PARIS - 04 DE FEVEREIRO DE 1985


JORNAL A TARDE SALVADOR, 04 DE FEVEREIRO DE 1985

PROJETO PORTINARI ESTÁ REPERCUTINDO EM PARIS

Cândido Portinari pintando um painel
Paris (AFP)- O projeto Portinari no Rio de Janeiro, que constitui uma experiência única na América Latina, e talvez no mundo, em matéria de pesquisa pictórica e de aplicação da informática às artes plásticas, provoca muito interesse na capital francesa. Passando recentemente por Paris, o filho do pintor, João Cândido Portinari, revelou a personalidade do mundo cultural francês- e à AFP- a existência e as atividades da Fundação Portinari, criada e dirigida por ele há cinco anos e onde trabalham em Íntima comunhão historiadores de arte, museólogos, documentalistas e cientistas.
Ao mesmo tempo, ele traçou, na sede da Unesco, um panorama sobre o método de trabalho da fundação e aspectos essenciais da obra e personalidade do pintor, além de manter diversos contatos a fim de realizar uma série de manifestações obrigadas com o projeto na frança em 1985. O projeto constitui uma experiência piloto no tocante a definição de uma metodologia para o estudo de um artista e indiretamente da época em que viveu, e o uso da informática para o tratamento da informação e conservação das obras plásticas envolvidas, explicou Portinari aos seus interlocutores franceses.
Após longa trajetória como pintor, professor universitário e deputado, Cândido Portinari morreu o começo dos anos 60 e injustamente caiu no esquecimento, após conhecer a glória nas décadas de 40 e 50, no Brasil e no exterior. Prova disto são suas exposições na Europa e no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (1940), os murais que pintou na Biblioteca do Congresso norte-americano em Washington (1942) e o gigantesco painel sobre a guerra e a paz na sede  das Nações Unidas (1957) em Nova Iorque.
A ideia de inventariar a sua grande produção pictórica surgiu em 1978, quando João Cândido visitou o museu Van Gogh em Amsterdã, Holanda. “Percebi que para os holandeses não se tratava de uma simples exibição harmônica de obras, mas de um verdadeiro testemunho da vida de um país”. Um ano depois, a fundação era criada para redescobri Portinari, e através dele uma época e artistas famosos, como o arquiteto Oscar Niemeyer, o escritor Mário de Andrade e o músico Villa Lobos, verdadeiros pilares da cultura brasileira contemporânea.
João Cândido, filho e responsável pelo projeto
Segundo João Cândido, trata-se de um instrumento a mais para que os brasileiros possam encontrar hoje a sua verdadeira identidade cultural. “Nós também queremos destacar a continuidade com os criadores de hoje. Não se trata de se fazer um passeio, mas de descobrir o passado para explorar o futuro, abrir novos caminhos”, salientou.
Em uma ambiciosa e gigantesca tarefa, João Cândido, matemático e professor universitário, recebeu a ajuda de inúmeros organismos públicos e privados do seu país e do exterior, entre eles a Funarte, Itamaraty, a Fundação Roberto Marinho, a IBM, Kodak e Varig.
Em cinco anos de atividade, a fundação inventariou cerca de 4.100 obras das 4700 atribuídas ao pintor, espalhadas em 17 países do mundo, tão diversos como o Brasil, Finlândia, Israel, França, Itália, Estados Unidos, Uruguai ou Venezuela. Ao mesmo tempo, foram reunidos mais de 15 mil documentos diversos, seis mil cartas da sua correspondência com amigos ou contemporâneos e dezenas de depoimentos de atores ou testemunhas de sua época.
Equipes da fundação estiveram em 12 países para fotografar as obras e entrevista-se com diretores de museus, historiadores de arte, marchands e colecionadores particulares. Uma vez descoberta, reunida e classificada esta imensa massa de informação- primeira etapa do projeto- a fundação pretende divulgá-la e colocá-la ao alcance de pesquisadores e, na medida do possível, do público em geral. Para tanto, criou um banco de dados que poderá ser consultado e que revela a correlação da obra e vida do artista com o contexto social da sua época
Ao mesmo tempo, com a ajuda do Centro de Pesquisas Espaciais de São Paulo e dos técnicos em informática, e com um sofisticado computador, João Cândido conseguiu digitar fotos, (diapositivos) e de quadros do seu pai, respeitando ao máximo as cores e tons, reproduzindo-os numa tela de televisão. Este método, que está sendo aperfeiçoado- é indispensável, já que a maioria das obras de Portinari estão espalhadas pelo mundo. Além disso, permite preservar a obra do pintor, já que a consulta cotidiana das obras acessíveis, terminaria por estragá-las e exigiria também condições de conservações especiais e cartas.
Trata-se de uma experiência única na América Latina, pois une a tradição cultural e a tecnologia mais sofisticada e vem provocando o interesse em inúmeros continentes, concluiu João Cândido, que regressará a Paris em meados de 1985 para estudar com as autoridades francesas a realização de diversas manifestações na França.

A TENTAÇÃO DE SANTO ANTÔNIO, DE MÁRIO CRAVO

A escultura A Tentação de Santo Antônio de autoria de Mário Cravo será recuperada e para isso a Secretaria de Planejamento vai liberar uma verba de CR$ 1 milhão e 800 mil. Será feita a limpeza, patins (pintura) e impermeabilização da escultura que é de propriedade da Seplantec.
A escultura que é um entalhe em raiz de jaqueira, foi esculpida entre os anos de 1953-1954, e encontra-se em área de semi contato com intempéries contudo por estar colocada na parede externa do pequeno auditório da Secretaria de Planejamento no CAB, o que é recuada, não está exposta a ação das chuvas. O trabalho que será realizado pelo autor das chuvas. O trabalho que será realizado pelo autor constará de limpeza por meio de escavação e linchamento da peça, sem provocar desgaste sensível na superfície da forma.
Após a limpeza com jato de ar, um produto protetor será usado na madeira a fim de que uma saturação de superfície proteja o objeto da ação progressiva de destruição pela umidade, agente principal da decomposição da madeira. Por fim será recuperada a pintura original e finalmente será encerrada na sua camada de proteção final. O trabalho será realizado no próprio local para evitar riscos eventuais à peça, será colocado um tapume. Para o início da obra, que está calculado para um prazo de 20 dias, está dependendo da liberação de 50% da verba.

EXPOSIÇÃO ENFOCARÁ A LAGOA DO ABAETÉ

As atividades desenvolvidas até agora pela Comissão de Avaliação Técnica Sobre Abaeté serão apresentadas, amanhã, às 10 horas, no Teatro Miguel Santana, a direção e técnicos  do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia – Ipac , vereadores e representantes de órgãos públicos. Na ocasião, também, haverá o lançamento do cordel Abaeternizar , de autoria de Edmildo Moreno Sobral – O Paraguaio, e a distribuição de cópia do relatório do trabalho da comissão.
 No mesmo dia às 18 horas, vai ser inaugurado no foyer do Teatro Castro Alves a mostra do Experimento Abaeté – Artes Plásticas, realizado nas dunas e lagoas da área em dezembro do ano passado, por diversos artistas.
 Para o dia 6 de fevereiro ,  a partir das 20 horas, a Comissão organizou o programa Abaeté Enluarada, no Abaeté com a participação de repentistas e capoeiristas do Centro de Cultura Popular, ligado ao Ipac, entre outras atrações.
Criada em 15 de agosto de 1984 a  Comissão de Avaliação Técnica Sobre Abaeté é reconhecida pela Universidade Federal da Bahia , Ufba, através da Coordenação Central de Extensão.
Tem o objetivo de reunir os representantes da comunidade, de entidades civis e técnicos de órgãos públicos para analisarem a temática referente ao Parque das Lagoas e Dunas do Abaeté, apontando as diretrizes de ordenamento e assessorando os órgãos públicos pelo gerenciamento da área. A Comissão surgiu com o propósito de conhecer melhor Abaeté, quanto aso seus aspectos científicos, históricos e culturais.



OS FILHOS DE JORGE NO CARNAVAL DA DEMOCRACIA - 11 DE FEVEREIRO DE 1985.


JORNAL A TARDE, SALVADOR, 11 DE FEVEREIRO DE 1985.

OS FILHOS DE JORGE NO CARNAVAL DA DEMOCRACIA

A cidade está em festa. A alegria já percorreu vários bairros, desde o dia 8 de dezembro na Conceição da Praia, depois pilar, Boa Viagem, Bonfim; saudamos Iemanjá no Rio Vermelho e também na Pituba e Itapuã. Agora é chegada a hora de Momo cair na folia e decretar cinco dias de muita bebida, muita cor, plasticidade e amor. É o Carnaval baiano que se espalha por 12 quilômetros transformando esta velha cidade beijada pelo mar em palco da mais autêntica festa popular de todo o mundo. E, este ano por uma feliz escolha um de seus filhos mais queridos: Jorge Amado, é homenageado. Ele que soube como ninguém enaltecer a sensualidade das mulatas e morenas, a malandragem de muitos personagens que alegraram a Bahia em outras épocas. Vadinho é o exemplo maior desta malandragem sadia e, hoje, pelas ruas ainda encontramos muitos desses Vadinhos, homens de muitas mulheres, que durante o dia rezam numa das “365 igrejas” e à noite vão para os terreiros fechar o corpo.
Assim como também existem muitas Gabrielas, Tietas, Lívias e Teresa Batistas, todas belas, sensuais, donas de uma malícia tropical que deságua entre sussuros na mais bela de todas as emoções.
A cidade já está povoada e com os braços abertos recebendo estes personagens de Jorge Amado que encantam os russos, franceses, finlandeses, alemães, argentinos, cubanos, enfim todo o mundo. Eles viajaram nas páginas dos romances do “pai” Jorge e agora retornou a Salvador para dançar conosco durante o Carnaval. É bem verdade que eles com toda sua formosura, beleza e malícia vão estranhar esta liberalidade gostosa, que outrora não havia ou melhor havia em pequena escala ou era camuflada. Agora tudo é aceito com tranqüilidade e as Gabrielas podem deitar sua sensualidade pela avenida. Vadinho pode cultivar pelas ruas a sua malandragem embotado numa mortalha para brincar com mais liberdade. Mas, tem ainda os pierrôs, as colombinas e o saltitante Coringa que encanta a garotada com seus trejeitos.
Nas barracas a cerveja será farta. Os quitutes baianos fervendo em pleno asfalto para encher os olhos dos gringos que ficam embriagados com tanta alegria. A quentura dos trópicos é difícil de ser entendida por quem está vivendo em temperaturas mais frias e onde o relacionamento interpessoal é muito sofisticado e informal. Aqui o abraço é um abraço mesmo! Forte e com tapas firme nas costas. O riso é largo e sincero. A zanga é na base do palavrão, não aquela carretilha do italiano. Aqui até o palavrão tem gosto de emoção. É neste ambiente quente que a cidade vai ficar mais alegre e bonita. As quatrocentas e tantas peças que enfocam a obra e a vida de Jorge Amado, que retratam os seus personagens, serão envolvidas por milhares e milhares de pessoas com suas mortalhas e fantasias coloridas. Salvador será a mais colorida de todas as cidades brasileiras.
Nem mesmo a suntuosidade das escolas de samba cariocas conseguirá desbancá-la. Nem podia, porque lá a organização prejudica e aqui a espontaneidade é que dá força e vida ao nosso Carnaval. Se este tal grupo executivo resolver “organizar”, tudo será um fiasco. O que desejo é que chegue logo a hora do encontro de Vadinho, Gabriela, Dona Flor e Tieta com os carnavalescos baianos entre os quais Rubinho, Vovô, Antônia, Marinalva e Pequinho e muitos outros que enchem de vida esta cidade. Que os personagens de Jorge assistam do alto esta alegria contagiante e indescritível.
E também que saiam das estruturas de madeira e plásticos e desçam para brincar esta Carnaval da democracia. Um Carnaval que certamente será de comemoração do fim de 20 anos de autoritarismo, de um governo centralizado e que provou incompetência. Vamos festejar este primeiro passo e aguardar que no próximo possamos também festejar. Mas, desta vez, as medidas que esperamos que sejam tomadas em benefício deste povão que sofre muito, mas que ainda é capaz de brincar e ter alegria.

LITÓGRAFOS PERNAMBUCANOS EXPÕEM NO MAMB 
ATÉ DIA 14
Litografia de Luciano Pinheiro, de Pernambuco

Até o dia 14 deste mês o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAMB) estará apresentando a exposição Dois Litógrafos Pernambucanos, de Luciano Pinheiro e Tarcísio Silva, representantes de duas gerações da chamada “Escola Pernambucana”. Natural de Recife, Luciano é oriundo do grupo da Ribeira/Olinda, contemporâneo de João Câmara e Delano. Tarcísio, da geração de Flávio Gadelha, também nasceu em Recife, mas teve uma longa vivência no sertão pernambucano.
As 15 litografias de Luciano Pinheiro foram produzidas no período 77/80, fase de fundação da Oficina Guaianases de Gravura, sociedade de aritstas plásticos, que funciona no Mercado da Ribeira, no Sítio Histórico de Olinda.
Tarcísio expõe as 10 litografias do Caderno I da série “Missa do Vaqueiro” (pinturas, litos, objetos), projeto no qual vem trabalhando há sete meses.
Autodidata, membro efetivo da Associação de Artistas Plásticos Profissionais de Pernambuco, Tarcísio já expôs individualmente e participou de coletivas em Recife, Manaus, Belém, Caxias do Sul, Porto Alegre,
Lito de autoria de Tarcísio Silva, está no MAMB

Curitiba e Salvador. Também levou sua arte à Repúblic of Guayana, Trindad-Tobago e Barbados. Luciano foi um dos participantes da mostra Nordeste Du Brésil - Dix Artistes de Recife, realizada no ano passado, no Espace Latino Americain, Paris, França. E, em 83, ganhou prêmio de viagem ao exterior com pintura no VI Salão Nacional de Artes Plásticas, no Rio de Janeiro.
Para Bernadete Andrade, do A Crítica, publicado em Manaus, a arte de Tarcísio é, sem dúvida, “um compromisso com a vida e o homem, manifestando assim, a necessidade de viver o real, para melhor expressá-lo. O critico Frederico Morais, sobre Luciano, escreveu em O Globo: “Na Gravura e no desenho sua linguagem é sempre profundamente critica, por vezes sarcástica e irônica. “Eros e política trazidos ao papel sem qualquer recalque”.
A exposição Dois Litógrafos Pernambucanos conta com o apoio da Fundação Cultural do Estado, através do MAMB, do Banco Econômico e do Restaurante Solar do Unhão, que ofereceu o coquetel no dia da abertura, no dia 1.º de fevereiro. O museu fica aberto de terça a sexta-feira, das 11 às 17 horas e aos sábados e domingos, das 13 às 17 horas.

IMPRESSIONISTAS DE VOLTA A PARIS

Paris (UPI)- Obras de Claude Monet, Pierre-Auguste Renoir e Camile Pissaro chegaram dos Estados Unidos a Paris para participar da maior exposição de pintura Impressionista, inaugurada na capital francesa.
A exposição, nascida por ocasião dos jogos olímpicos de Los Angeles em 1984, foi exibida também em Chicago antes de sua inauguração em Paris, onde ganhou várias outras obras pertencentes ao Museu do Louvre.
Muitas das telas que formam a exposição, recolhidas em mais de 30 museus dos Estados Unidos, não foram exibidas na Europa desde que foram adquiridas por colecionadores norte-americanos depois da Segunda Guerra Mundial.
Os organizadores acreditam que a exposição sobre o “Impressionismo e a campina francesa” terá um sucesso absoluto.
“Há 10 anos, a exposição Centenário do Impressionismo atraiu cerca de 550 mil visitantes, um número recorde. “Mas a atual mostra tem um número de obras três vezes maior e todas elas de estupenda qualidade”, disse Silvie Poujade, funcionário do Museu Nacional.
A mostra segue uma ordem mais temática que cronológica: estão juntas as paisagens marinhas de Eugene Boudin, de cores pálidas e as de Edouard Manet, de tons brilhantes.
O Grand Palais, de Berthe Marisot, exposto ao lado das estações ferroviárias cheias de fumaça, de Monet, são consideradas paisagens urbanas.
As superfícies planas de Emile Bernard estarão junto do Jardim dos Poetas, de Vicent Van Gogh (obra pintada em 1888).Ao lado.
Mas Claude Monet, que deu o nome ao movimento com o quadro Impressão, um Amanhecer (1874) e o autor mais famoso desta exposição.
Pela primeira vez, sua série de nove montes de feno sob as luzes diferentes das diversas horas do dia estará toda junta.
Os visitantes poderão contemplar a tela mais escura, propriedade do Museu de Louvre, os tons vibrantes sob a luz do outono, na tela do museu de Chicago e sentir como o dia vai morrendo nos montes de feno, nos quadros do museu de Boston.

A OBRA DE ISMAEL NERY REVISTA 50 ANOS DEPOIS - 14 DE JANEIRO DE 1985


JORNAL A TARDE, SALVADOR, 14 DE JANEIRO DE 1985

A OBRA DE ISMAEL NERY REVISTA 50 ANOS DEPOIS

 Não podia passar despercebida a  data que marca a presença de Ismael Nery nas artes plásticas brasileiras. E ninguém melhor que Aracy Amaral para organizar a exposição Ismael Nery , 50 Anos Depois, que está aberta no Museu de Arte Contemporânea, da Universidade de São Paulo.
Ele é considerado o mais singular entre os pintores que no Brasil abraçaram o Modernismo, por ter guardado no decorrer de sua trajetória a sua individualidade e o caráter impessoal da sua arte.
Parece que o destino reserva uma trajetória curta a muitos jovens talentosos, exemplo do poeta Castro Alves e muitos outros. Ismael Nery está incluído nesta galeria porque desapareceu aos 33 anos de idade em plena efervescência criativa. Também permaneceu algum tempo na obscuridade, mesmo depois de sua morte, como aconteceu com muitos outros, cujo valor da obra surge às vezes por abnegação de algum estudiosos que deseja fazer justiça.
Auto retrato acima
e foto do artista
Obra de Ismael Nery
Registra o arquiteto Lúcio Costa, criador de Brasília, juntamente com Oscar |Niemeyer que Portinari levava tudo com seriedade profissional – ao contrário de Ismael Nery que, aparentemente não levava nada a sério e em vez de desenhar a carvão o gesso da moldagem na aula de Lucílio Albuquerque imitava com incrível facilidade as garotas da Via Parisiense  e o esfumado romântico das reprodução de Tranqüilo  Cremona.
Segundo Aracy Amaral “ já em início dos anos 20 vemos aparecer sobretudo em sua pintura , um ambiente que Di denominará de Penumbrista, em relação a este mesmo período em seu trabalho,com figuras longilíneas estilizadas verticalmente, a nos recordar idêntica fase de Brecheret, que com este tipo de obras se faria presente na – Semana , com anjo, ou Cristo com trancinhas – ou o Beijo, de Di Cavalcanti de 1923, ou mesmo certos guaches orientalizantes de Rêgo Monteiro, apesar de sua temática amazônica do início dos anos 20.
Por outro lado, não podemos deixar de registrar sua profícua produção gráfica, pois morrendo aos 33 anos, ele deixou mais de mil desenhos e aquarelas de excepcional qualidade. Ai surgem desenhos e aquarelas onde Ismael Nery se auto retratava com as vísceras expostas e produzia uma verdadeira  história em quadrinhos, inclusive sobre sua própria morte. Mas, sem dúvida que as obras intituladas em sua grande maioria de figuras – Fotos – são o forte de suas obras pictórica.

DADOS PESSOAIS

Ismael pintou as mulheres
Ismael Nery nasceu em 9 de outubro no Belém do Pará no ano de 1900. Nove anos depois veio para o Rio de Janeiro onde estudou,nos colégios Santo Inácio e no Antônio Maria Zacarias. Em 1915 matricula-se na Escola de Belas Artes e cinco anos depois embarca para Europa, residindo um ano na França, quando freqüentou a Academia Julian, durante três meses. No ano seguinte foi nomeado desenhista da secção de arquitetura e topografia da Diretoria do patrimônio Nacional do Ministério da Fazenda, quando conhece o poeta Murilo Mendes. Em 1922 casa-se com Adalgisa Noel Ferreira, e desta união nasceram dois filhos: Ivan e Emanoel . Em 1926 deu início ao Sistema Filosófico que chamou de Essencialismo e no ano seguinte retorna à Europa onde manteve contatos com Chagall e outros Surrealistas.
Ao voltar ao Brasil faz sua primeira exposição em sua terra natal, Belém do Pará, não obtendo qualquer repercussão. No ano seguinte realiza outra exposição no Pálace Hotel do Rio de Janeiro. Em 1930 apresenta 100 desenhos no Salão do fotógrafo Nicolas, no Rio de Janeiro. Vieram outras exposições até que em 1931 interna-se no Sanatório de Correias e expões seu trabalho na XXXVIII Exposição Geral de Belas Artes do Rio de Janeiro, também conhecido por Salão Moderno.
Exatamente em 1933 deixa o sanatório e retorna ao Rio de Janeiro de onde articula a sua participação na Spam – Sociedade Pro Arte Moderna . Para tristeza de sues amigos e poucos admiradores, naquela época falece em 1934 vestido como hábito de São Francisco, no dia 6 de abril sendo sepultado no Cemitério São Francisco Xavier.
Além de pintor e desenhista Ismael Nery escreveu alguns textos e poemas. Um deles chamado Poemas Pré Essencialistas que escreveu em 1932 diz em seus primeiros versos: Três mulheres pariram de mim três filhos iguais?, Samuel, Ismael e Israel. O primeiro no mar, o segundo no ar. O terceiro no fogo...
Pouco antes de sua morte escreve o que denominou Testamento Espiritual de Ismael Nery, onde diz “ Esperei até hoje que vós me descobristes. Quis dar-vos o prazer de voz sentir crescer... “ e continua...” A humanidade, como as plantas precisa de estrume dos nossos corpos renasceram àqueles corpos gloriosos que encerraram as almas dos poetas, aqueles de que nós já trazemos o germe. Tudo foi feito no princípio porém tudo só existirá em tempos diversos. Os poetas serão os últimos homens a existir, porque neles é que se manifestará a vocação transcedente do homem. Finalmente, diz” Todo homem recita um poema nas véspera de sua morte – A humanidade recitará também o seu na véspera da sua, pela boca de todos os homens que neste tempo serão poetas”. Poetas ou não, nós que ainda vivemos se não somos capazes de elaborar poemas que pelo menos nos contentemos em admirar a plasticidade das obras dos grandes artistas e com a expressividade de seus versos e frases.

CERAMISTAS DE GOIÁS ESTÃO NA MAB GALERIA DE ARTE

Uma exposição de ceramistas de Divino Jorge, Noé Luís e Sival Veloso será aberta na Galeria Mab a partir do dia 16, juntamente com o lançamento do livro As Imagens do Povo e o Espaço Vazio da Arte Educação. Um estudo sobre Antônio Poteiro, de Ilka Canabrava. Realmente a figura mística de Antônio Poteiro e a riqueza de sua obra merecem que sejam escritos muitos estudos. Seu nome na realidade é Antônio Batista de Souza, nascido em Santa Cristina,Braga, província de Portugal, em outubro de 1925. Seus avós  sempre tiveram cerâmicas e seu pai era marinheiro e, e foi mandado para a África Portuguesa.
Escultura de Sival Veloso
Com a morte da mãe ele foi morar algum tempo com o pai e uma madrasta, mas terminou desligando-se da família e indo trabalhar em várias cerâmicas para sobreviver. De origem simples, Poteiro terminou tornando-se escultor. Um caminho fácil do pote ao trabalho escultórico. O manuseio do barro possibilitou o surgimento de complicadas peças. Ele tem recebido várias denominações desde artista primitivo, primitivista, incita e nata, naif, ingênuo e integrante de art bruit. Não importa muito a designação, mas só a força e a poesia de sua arte fantástica.Ele manifesta livre suas concepções e sua visão deste mundo conturbado dentro do universos limitado de sua existência.
Outro expositor Divino Jorge, natural de Nerópolis, Goiás, fez sua primeira exposição em 1966, através do Departamento de Cultura. Vieram outras exposições, inclusive uma delas em Brasília., Tem obras espalhadas pelo país e algumas no exterior.
Quanto a Sival Veloso  começou em 1969 no circuito estudantil e em 1982 participou de algumas coletivas.



sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

MOSTRA ATESTA TALENTO DE FLÁVIO DE CARVALHO - 01 DE ABRIL DE 1985.


JORNAL A TARDE, SALVADOR , 01 DE ABRIL DE 1985.

MOSTRA ATESTA TALENTO DE FLÁVIO DE CARVALHO


O artista Flavio de Carvalho desfila em 1956 de saiote pelas ruas de São Paulo causando frisson
 Flávio De Carvalho – 1899-1973 – pintor, retratista, arquiteto, escritor, teatrólogo, expoente do Modernismo, - O Divino Louco – como Assis Chateaubriand , o chamava ganha um espaço espacial numa das mais importantes promoções do Núcleo de Arte Desenbanco, que traz , através da Fundação Álvares Penteado, de São Paulo, a mostra do artista em grande estilo com inauguração no dia 9 de abril no Salão de Exposições.
Serão mostrados 14 óleos, 17 desenhos e seis aquarelas de Flávio de Carvalho, imortalizado por suas obras e depoimentos de escritores de sua época, e do presente, entre eles o jovem Luis Carlos Daher, responsável pela edição de um volume com 245 páginas – Flávio de Carvalho e a Volúpia das Formas - . Nele, Daher analisa os múltiplus trabalhos do artista e de sua personalidade. “E foram inúmeros. Não foi só o frisson risonho que os jornais da época alargaram com a Marcha por São Paulo, dentro de um saiote. Antes, Flávio havia trilhado uma vereda de escândalos tropicais, desde construir um monumento para o túmulo de seu pai,enquanto este vivia; andar de chapéu rumo a uma procissão religiosa e ser perseguida por ela; ou ainda realizar uma experiência teatral, uma peça de ritual expressionista. O Bailado do Deus Morto, que acabou com o teatro fechado pela Polícia, e a Série Trágica, quando registrou, em desenhos , várias fases de sua mãe agonizando.”
 Pintura do  artista Flávio de Carvalho
Mas o forte de Flávio de Carvalho é a sua pintura, sobre a qual dizia “ fazer pintura é lidar com as cores, não fugir das cores. Os pintores monocrômicos são indivíduos que têm medo da cor. Quando pinto um retrato me afasto totalmente do mundo em redor e só me preocupo com o que estou fazendo. O que me interessa no retrato é a expressão fundamental do modelo. É esse algo que a pessoa tem mais é percebido por poucos”.
“Quanto as pessoas que mais de agradaram fazer o retrato posso destacar: Nicolas Guillén , Mário de Andrade, Rosa Xirana, Hungaretti e Maria Della Costa”, diz Flávio num dos seus muitos depoimentos. Retratista famoso, tendo no seu acervo uma pintura de Jorge Amado, sempre se mostrou interessado nos problemas que envolviam a sociedade e a política. Disse certa vez que “ o retrato que pinto é exuberante em mecanismos de compensações. O estado social da mulher de hoje é cheio de violentas compensações. O homem, pelo contrário é mais agressivo, porque ele se considera ser dominante”.
A importância da obra de Flávio de Carvalho estende-se aos dias de hoje através de sua pintura abstrata e surrealista. Tive a oportunidade de ver reunida numa sala especial da última Bienal em São Paulo, parte da grandiosa obra de Flávio de Carvalho. Esta é uma rara oportunidade de conhecer o talento deste múltiplo artista.

PERFIL E TRAJETÓRIA DO ARTISTA

De 1989-1973 ´- A sua atuação que se estende nos fim dos anos 20 ao início da década de 70, configura-se segundo uma grande complexidade inventiva e polivalência de indagações e propostas – pintor, desenhista, engenheiro civil, arquiteto, pesquisados do Psico social e do antropológico, escritor, cenarista, teatrólogo e ensaísta.
Desenho de Fávio de Carvalho
Após anos de formação na Inglaterra ´- estudou engenharia civil na Universidade Durham, em New Castle, freqüentando à noite a Escola de Belas Artes da citada universidade – fixou-se em São Paulo no ano de 1923. Aproximara-se dos modernistas de 22, mas apenas de forma secundária envolvera-se com o grupo.
Nesta época, estava dedicado a fazer desenhos e caricaturas do mundo da dança e do balé, além de escrever artigos sobre q qualidade da dança. Suas primeiras e significativas contribuições foram de natureza de projetos de arquitetura, a partir de fins de 1927 – Projeto Pioneiro de Arquitetura Moderna no Brasil , do Palácio do Governo de São Paulo, logo seguidos pelos projetos do Palácio do Congresso, da Embaixada Argentina, no Rio de Janeiro e da Universidade Federal de Minas Gerais.
Época de sua adesão ao Movimento de Antropofagia de Oswald de Andrade e Raul Bopp, representou este Movimento no Congresso Pan Americano  de Arquitetos, onde proferiu duas conferências – A Cidade do Homem Nu – e Antropofagia do Século XX – defendendo teses de despojamento do ser humano dos preconceitos burgueses.
No contexto do clima de irreverência da fase radical de antropofagia, contrária aos tabus, executou a experiência n.º2”, quando em 1931, caminhou em direção contrária à da procissão de Corpus Christi, com a cabeça coberta por um chapéu, negando-se a tirá-lo, apesar dos gritos e da irritação da multidão. O povo enfurecido ameaçou de linchamento. Flávio refugiou-se em uma leiteira/confeitaria, onde foi preso. Pouco depois publicou o livro “Experiência n.º2, onde desenvolveu teorias sobre a natureza do ritual religioso, e comportamento humano, constituindo-se em um esnaio de psicologia das multidões, acompanhado de ilustrações onde o traço do artista demonstrava as deformações e os ritmos tensos do expressionismo e a espontaneidade do inconsciente, surrealizante.
No início da década de 30, Flávio foi elemento particularmente atuante no processo do modernismo :fundou com Carlos Prado, Di Cavalvante e Antônio Gomide o Clube dos Artistas Modernos (CAM). Por esta época, implantou o “Teatro da Experiência”, que funcionava junto ao CAM, inaugurado em novembro de 1933, “O Bailado do Deus Morto”, de sua autoria, com tratamento expressionista da gestualidade e elementos visuais das roupas e cenários, bastante despojados. A primeira exposição individual de Flávio de Carvalho teve lugar em julho de 1934, pouco depois do incidente do Teatro da Experiência.
Entretanto o autoritarismo da época desencadeou nova ofensiva a mais esta iniciativa. A exposição foi fechada pela Polícia, sendo aberta após o recurso judicial com expurgo de cinco obras. O conjunto dos trabalhos indicava que o artista crescera bastante na sua inventiva, após a participação do Salão Moderno de Belas Artes no Rio de Janeiro em 1931, e já se sedimentavam as incursões ao surrealismo e o encaminhamento expressionista, as duas vertentes principais de seu trabalho.
Os salões de maio de 1937, 1938 e 1939 contaram com a ativa participação de Flávio de Carvalho, o que Fez do artista um dos elementos animadores do modernismo paulista dos anos 30.
Estes anos foram de continuada produção de projetos arquitetônicos e de construção: grupos de casas da Alameda Lorena, suas primeiras edificações e da Casa da Fazenda Capuava, da família- projetos significativos de límpido despojamento formal e propostas de funcionalidade. A mais impressionante obra desta década é a “Série trágica, minha mãe morrendo” de 1947- desenhos a lápis, quando com lucidez do registro e a sensibilidade expressiva do artista se unem para a captação dos momentos de agonia de sua mãe.
Em 1948, organizou sua segunda mostra individual de curta duração no MASP, que se encerrou de forma tumultuada com uma conferência sobre a pintura do artista.
No início dos anos 50, Flávio de Carvalho participou da XXV Bienal de Veneza como um dos elementos da representação brasileira. Em 1951, realizou sua terceira mostra individual apresentando pinturas, aquarelas, desenhos, projetos arquitetônicos e cerâmicas, na Galeria Domus em São Paulo.
Dirigindo suas indagações para o campo da moda, passou a escrever, em 1956, uma série de artigos “A moda e o Novo Homem”. Mandou executar um novo traje, por ele idealizado, para o Verão. Provocou um “choque emocional na Nação”, ao desfilar pelas ruas de São Paulo com a roupa tropical que favorecia a ventilação: saiote, blusa de mangas curtas e largas. Na sua caminhada, o artista foi seguido por várias pessoas, provocou diferentes reações de riso, interesse, surpresa, interrogação, etc., polarizou as atenções da imprensa, incluindo a televisão- era sua Experiência nº 3, um verdadeiro happening. Em 1957, teve suas obras recusadas na IV Bienal de São Paulo, expondo-as na mostra paralela Doze Artistas, participando de duas exposições individuais em S. Paulo e Rio. Suas inquietações de ordem etnográfica e psicológica, entre outras, levaram-no a uma aventurosa expedição ao alto Rio Negro, organizada pelo Serviço de Proteção ao Índio, buscava conhecer o primitivo, o selvagem, e captar suas imagens rodando um filme. Nos primeiros anos da década de 60, Flávio de Carvalho envolveu-se em concursos internacionais para realização do Edifício da Organização Mundial de Saúde em Washington, Edifício Peugeot, em Buenos Aires. Apresentou ainda projetos para o monumento mãe em S. Paulo.
Sempre presentes; suas preocupações filosóficas e antropológicas, motivaram-no a comunicar, em seminário, “Notas para reconstrução de um Mundo Perdido”, realizado pela Faculdade de medicina da Universidade de Califórnia (1962).
Em 1967, ampliaram-se os interesses em torno de seu trabalho artístico: realizou duas individuais em S.P e Porto Alegre; foi premiado pelo júri internacional da IX bienal de S.P; organizou-se sala especial permanente no Museu de Arte Brasileira da FAAP onde se inaugurou a primeira mostra retrospectiva de sua obra.
Os últimos anos de sua vida foram de atuação constante decorrente da inquietação criativa de Flávio; do reconhecimento do valor do artista e da sua poderosa diversificada capacidade criativa. Prosseguiu sua militância de arquiteto, em anos subseqüentes, projetou edifícios e monumentos a Garcia Lorca, executado em 1968, projeto para a Biblioteca Municipal da Bahia, em Salvador, igreja catedral de Pinhal (1969); monumento às Forças Expedicionárias Brasileiras (1970), Monumento aos Guararapes (1971) e Recife e projeto inconcluso para sala em homenagem a Maria Martins e Tarsila do Amaral, na XII Bienal de S.P (1973). Sucederam-se vários eventos culturais que foi protagonista: presidiu a Comissão de Artes Plásticas do Centro Cultural Garcia Lorca (1969), teve sala especial na XI Bienal de S.P (1961), concorreu à vaga da Academia Paulista de Letras (1972) e proferiu conferências no Departamento de História da Universidade de SP.
Várias exposições individuais se realizaram em diferentes localidades: Guarujá (1968), São Paulo (1968)/69), Valinhos (1968) e mostras coletivas importantes contaram coma sua participação, como: “Semana de 22” no Museu de Arte de São Paulo e “50 anos de Arquitetura Moderna”, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, ambas em 1972. Faleceu em 4 de julho de 1973. (Pesquisa de Daisey Peccinni).


MIGUEL CORDEIRO VAI EXPOR NO DIA 21 - 18 DE MARÇO DE 1985


JORNAL A TARDE SALVADOR, 18 DE MARÇO DE 1985

MIGUEL CORDEIRO VAI EXPOR NO DIA 21

Outra tela de Faustino , sobre a bomba , tendo ao lado seu autor Miguel Cordeiro


Volto a falar de Faustino. Trata-se daquele misterioso personagem que sai durante as madrugadas pichando com frases inteligentes os muros da cidade. Seu verdadeiro nome é Miguel Cordeiro, economista, e autor das célebres frases: Faustino ouve Júlio Iglesias, Faustino mora com a tia, Faustino leva a Bahia a sério, Faustino parcelou uma excursão para Bariloche, e muitas outras. Agora o nosso Faustino vai expor. E, parafraseando o Miguel Cordeiro diria que Faustino expõe em Museu.
Realmente, é grande a distância entre os muros frios de uma cidade mal-cuidada, como é Salvador, e um museu, como o Museu de Arte da Bahia, que está funcionando num imóvel totalmente restaurado, e ainda por cima, é bem administrado por seu diretor, o artista Luís jasmim.
Mas, o nosso personagem é realmente um artista que merece estar em qualquer museu brasileiro pelo que representa como expressão espontânea, e também, por ter como suporte informações não apenas de forma e técnica plásticas mais acerca do próprio universo que lhe cerca.

PROCESSO NATURAL

Para Miguel Cordeiro ou Faustino, a exposição é fruto de um processo natural, já que havia um conhecimento mias ou menos generalizado das pessoas acerca do trabalho. “E, então, surgiu em mim a necessidade de mostrá-los, não apenas nas ruas, como até agora estava sendo feito, mais num lugar fechado, dando uma visão geral do trabalho individual que não se limita apenas aos grafites do Faustino, mas, também, às pinturas e aos desenhos que surgem no dia-a-dia.
Ele mostrará pinturas sobre tela e Eucatex, enfocando temas universais, geralmente, envolvendo o homem em diversas situações do cotidiano. A corrida nuclear, por exemplo, porém, evitando que a abordagem caia em elocubrações intelectuais ou mensagens herméticas. Um trabalho mais figurativo, utilizando cores quentes, puras e vivas. São telas em proporções médias utilizando desde as colagens, têmpera-vinil, acrílico e óleo. Além das telas, cerca de 30 desenhos comporão sua mostra. Explica Miguel Cordeiro que “são esboços, anotações, observações, pequenos projetos que eventualmente possam ser transformados num trabalho mais elaborado, definido, num futuro próximo”. Geralmente anotações feitas em cadernos, que sempre acompanham o artista. É daí que surgem os trabalhos finais. Ele decidiu mostrar os desenhos porque sempre nas exposições surgem aos olhos dos espectadores apenas os trabalhos finais, onde as pessoas às vezes trabalham somente um período de tempo. Por exemplo: uma exposição realizada em dezembro e na verdade os trabalhos são feito meses antes. Foi com esta sua visão de tempo que Miguel Cordeiro optou por mostrar todo o seu processo de criação que começa do simples primeiro rabisco numa folha de papel qualquer, até chegar ao trabalho final. Uma tentativa de desmitificar a criação em suas fases antes iniciais. Com isto Faustino acredita que possibilitará ao público “ conhecer a alma de todo o trabalho”.

CEDO OU TARDE?

O Semeador, do artista Miguel Cordeiro
Quando indagado por que não fez antes a sua exposição, ele responde com um certo toque de filosofia oriental dizendo: Nada acontece antes da hora: A exposição está sendo feia agora porque antes não foi possível concretizá-la por motivos diversos. Na verdade a ideia original era de realizá-la num local alternativo, independente, que não tivesse ligação com o oficialismo. Isto foi tentado, porém, diante das dificuldades o museu foi a opção viável. Primeiro ele tentou um galpão desocupado, mas a burocracia foi tamanha e terminou desistindo. Além dos custos, que seriam necessários para sua realização, no momento, são proibitivos para o artista. Então, revela Miguel Cordeiro ficou ente a ideia e a prática. Optou pela prática e a exposição vai acontecer no Museu de Arte da Bahia, no próximo dia 21, a partir das 21 horas.
Conformado com a escolha, ele repete: a escolha foi a viável. Quanto aquelas pessoas que argumentam que estou realizando a mostra tardiamente acredito existir uma contradição. Uns acham que é cedo e outros que é tarde. “A unanimidade e o previsível são formas de estagnação da arte. A exposição está sendo feita agora. Arte, é pôr em questão o próprio conceito de arte”.

   AXL LESKOSCHEK E SEUS ALUNOS

O artista Axl Leskoschek trabalhando
A Galeria de Arte Banerj inaugura amanhã, às 21 horas, a mostra Akl Lestoschek e Seus Alunos No Brasil -1940-1948. Trata-se da quarta exposição do ciclo sobre arte no Rio de Janeiro e que se integra, também, no projeto Viva o Rio.As mostras anteriores do ciclo se ocuparam do Neoconcretismo (1959-1961), Grupo Frente (1954-1956) e I exposição Nacional de Arte Abstrata (1953).
Gravura de Axl
Trata-se da maior mostra já realizada sobre o período brasileiro da Leskoschek, reunindo gravuras originais, matrizes, livros, álbuns, guaches e óleos de sua autoria, bem como gravuras, desenhos e aquarelas de seus alunos brasileiros e, finalmente, ampla documentação textual. Além dos óleos e guaches que será vistos pela primeira vez em exposição do artista (tanto no Brasil como no exterior) a exposição vai reunir o essencial de sua produção xilográfica: as ilustrações para a tradução brasileira das obras completas de Dostoievski (1943/1946: O Adolescente, O Eterno Marido, Irmãos Karamázovi, O Jogador e Os Demônios), e para a Odisséia, de Homero (1938-1959) e as miniaturas sobre cenas cariocas feitas originalmente como ilustração para o livro de Ulrich Bechers Brasilianischer Romanzerc, entre 1941 e 1942, e que Renina Katz, sua aluna, considera “uma verdadeira jóia xilográfica”.
O critico José Neisten considera as ilustrações para Dostoievski como “o ponto mais alto da carreira do artista, pela surpreendente adequação formal, psicológica, sócio-cultural e emocional à verdade humana e literária dos personagens o novelista russo”. Já o critico alemão Iná Jun Broda considera suas ilustrações para a Odisséia uma obra pessoal, pois que ele mescla os fatos descritos com sua própria biografia: “é uma autobiografia, uma confissão de sua situação perante o mundo e as pessoas”.
José Neistem diz que, como miniaturista ele é um dos maiores do mundo, destacando “O extraordinário requinte formal e o magistral domínio técnico”. Suas miniaturas foram “uma pequena antologia visual de usos e costumes urbanos, suburbanos e rurais do Brasil”.





OLHE AS PINTURAS QUE ENFEITAM OS BOTEQUINS - 15 DE ABRIL DE 1985.


JORNAL A TARDE, SALVADOR, 15 DE ABRIL DE 1985.

OLHE AS PINTURAS QUE ENFEITAM OS BOTEQUINS
Uma pintura típica de botequim. As figuras e a composição são resultado de manifestação popular
 Algumas pessoas envolvidas com o movimento de arte alimentam uma falsa idéia de que estão inovando quando levam a arte para fora dos ambientes das galerias e museus. Para comprovar isto basta olhar o interior de alguns botequins e outras casas comerciais tanto da Capital,m mas principalmente no interior do Estado que encontrará um manancial rico de arte primitiva e até alguns figurativos de qualidade. É a expressão espontânea do povo que explode ou melhor que brota como uma flor silvestre entre cactos e pedras. Exatamente este ambiente inóspito lhes proporciona um cenário próprio e rico para ser visualizado e enaltecido
E seus autores? Muitas vezes é gente muito humilde que mal sabe escrever o próprio nome. Mas, são pessoas que transbordam de sensibilidade e é, exatamente, esta sensibilidade que consegue sobrevier vencendo a desinformação e mesmo a falta de apoio que me chama mais atenção.
Muitas destas pinturas ricas em expressão e até como documento,porque algumas foram pintadas no princípio do século,resistem bravamente às várias camadas de tintas que os proprietários mandam colocar nas paredes de suas lojas. Às vezes estão até esmaecidas ou sujas pela ação implacável do tempo e principalmente porque ficam expostas.
Agora sou informado com muita alegria que já existe há alguns anos o interesse por parte de alguns pesquisadores em resgatar esta manifestação. O Instituto Superior de Cultura Brasileira, uma instituição privada, sem fins lucrativo, dedicada à pesquisas de etnologia,sociologia, e arqueologia está tentando reestudar e retomar o projeto.Pinturas de Botequins, que deu início em 1983, a um levantamento dessas obras no Meyer, no Rio de Janeiro.
Este exemplo é bom que frutifique. E os nossos burocratas da Fundação Cultural da Bahia precisam atentar para esta e outras manifestações da cultura popular que precisam ser resgatadas e preservadas. Mas, este país é um país do – jeitinho – e do improviso, tudo vai passado despercebido ou deixando para depois – deixa pra outro dia - . Assim já perdemos muita coisa importante tanto nos setor da arquitetura como do patrimônio histórico.
Quem duvidar que dê uma olhada nas ruas adjacentes ao Conjunto Arquitetônico do Pelourinho que ficará alarmado e até pensará que está visitando uma cidade bombardeada pela aviação de um país inimigo durante a Segunda Grande Guerra, tal é o número de prédios em completa ruína.
Estas pinturas esquecidas e apreciadas por àqueles que têm maior sensibilidade merecem ser estudadas e discutidas por seu valor como manifestação e também porque muitos artistas conseguiram e ainda conseguem sobreviver graças a elas. Muitas vezes elas estão escondidas por trás de garrafas de pinga, latas de leite em pó e até engradados.
Em Salvador estas pinturas estão presentes nas barracas que servem de centro de animação nas festas populares. Algumas até com nomes sugestivos e outras calcadas no caráter ingênuo do primitivo.
Atento e sensível o fotógrafo Carlos Santana  ao passar pela barraca do Peléo, em Piatá, foi chamado a sua atenção por estas pintura ingênua, mas que refletem elementos importantes da orla marítima.
O Farol de Itapuã , sempre vigilante, ajudando os navegantes e o grave problema da moradia que aflige o brasileiro e especialmente os baianos, onde grande parte de sua população habita casebres infectos e ficam dependurados nas encostas à espera das chuvas de abril para rolarem com seus ocupantes encosta abaixo.
As gaivotas amenizam um pouco a imagem e o coqueiro que oferece seus frutos para matar a sede e a fome. A cor é forte, como é forte e espontânea esta manifestação. O autor é Climério, o qual ainda não tive o prazer de conhecer. No entanto, acredito que seja uma pessoa do povo onde realmente estão latente as expressões mais vivas e significativas deste país.

PAULO SERRA EXPÕE SEUS CARTUNS SOBRE O ÍNDIO

Mais de sessenta cartuns de Paulo Serra o criador do personagem ecológico Mero, onde figura a problemática indígena no país, serão apresentadas na Galeria Solar do Ferrão, do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia – Ipac – no período de 18 de abril a 11 de maio deste ano, durante a exposição Brancos Fora. A abertura da mostra promovida pelo Ipac será no dia 18 próximo, a partir das 18 horas, mas antes às 15:30 minutos o cartunista fará uma palestra sobre o tema da exposição para os estudantes das escolas da área do Pelourinho, Maciel e a comunidade em geral. A exposição da Galeria Solar do Ferrão, situada na rua Gregório de Mattos, número 45, Pelourinho,é um dos eventos programados em Salvador por ocasião das comemorações do Dia do Ìndio, que
Transcorre em 19 de abril. Os cartuns foram produzidos entre os anos de 1977 e 1985 e não estão á venda, conforme esclarece Paulo Serra. Sua idéia é reuni-los num álbum a ser editado futuramente, cuja renda será revertida em favor da causa indígena.

LINGUAGEM VISUAL

Embora não tenha uma convivência direta com os índios, o artista diz ser apaixonado pelo tema. Os trabalhos, afirma, são criados geralmente a partir da leitura de algum assunto referente aos índios. “Sempre tento engajar a minha arte”, confessa Paulo Serra.Através dos cartuns, ele procura transformar numa linguagem visual uma situação real vivida pelos índios. A linguagem da arte permite um retrato mais fiel da realidade”,comenta ainda Paulo Serra, acrescentando que em seus trabalhos há sempre uma intenção de passar uma verdade, uma crítica, de maneira que o cartum não se limita apenas ao humor.
Com 31 anos de idade , atualmente, formado em Comunicação Social pelas Faculdades Integradas Alcântara Machado, de São Paulo, o artista é baiano e dedica-se a sua atividade desde o ano de 1976, quando criou o personagem Mero. A fama de Mero é tão intensa que normalmente a pessoa associam o nome do cartunista a desse personagem ecológico.
Paulo Serra tem realizado diversas exposições por ocasião da Semana do Índio. Em 1982, por exemplo, mostrou seus trabalhos na Escola de Administração da Bahia – Trabuco . No ano seguinte fez exposição na ECUM – Extensão Cultural da Mulher, e, no ano passado no Sindicato dos Professores, esta última uma coletiva com o artista Fernando Hughes.
No momento além de se dedicar com o habitual entusiasmo aos cartuns, ele faz palestras em escolas abordando assuntos ecológicos, colabora com jornais e presta serviço na área de programação visual a algumas empresas. Também é membro do Grupo Ambientalista da Bahia – Gambá, da Comissão de Avaliação Técnica Sobre Abaeté, Associação nacional de Apoio ao Índio – Anai-Bahia, e do Conselho de Defesa da Paz – Condepaz.



TREZE CERAMISTAS DIA 29 NO MUSEU DE ARTE - 25 DE MARÇO DE 1985.


JORNAL A TARDE, SALVADOR, 25 DE MARÇO DE 1985.

     TREZE CERAMISTAS DIA 29 NO MUSEU DE ARTE



Quando vejo uma cerâmica lembro dos Índios Kiriris, de Mirandela, que através dos séculos amassam o barro confeccionando potes e panelas e às sextas-feiras vão exibi-los na feira da Ribeira do Pombal: Irregulares na forma, mas vigorosos, capazes de suportar o trote dos burros pelas estradas tortuosas das roças até a cidade. Durante o dia elas as poteiras, como costumamos chamá-las, ficam esparramadas no chão com suas saias bem rondadas comercializando os seus potes e panelas de barro.
Aqui na cidade grande a cerâmica é mais bem tratada, as formas são regulares e suas superfície bem lisa. O barro é mais acurado, branco ou moreno, e as peças finas são exibidas nas galerias e boutiques como objetos de arte, utilitários ou adornos.
Na realidade existe um relacionamento muito grande entre o homem e a terra, afinal dela vivemos e é nela onde vão descansar os nossos restos mortais.
O ato de amassar o barro, de dar-lhe formas sempre encanta. Fico realmente entusiasmado quando o torno começa a girar e aquele bolo disforme de barro vai se afinando até surgir, com o auxílio de mãos hábeis um vasilhame ou objeto qualquer.
Agora, Ana Teresa, Suca, Grace, Davi, Messias, Betânia, Hylda, Osmundo, Eckenberg, Regina, Yola, Cate e Udo vão expor, a partir do dia 29, no Museu de Arte da Bahia, os seus trabalhos em cerâmica.
Será um acontecimento importante, especialmente porque são raras as exposições de cerâmicas realizadas em Salvador, e um grupo tão heterogêneo possibilitará que apreciemos os vários estilos e formas.
“Cerâmica a arte da transformação” é o encontro de 13 ceramistas que durante 15 dias vão mostrar o que de mais significativo fizeram ultimamente.
No dia da inauguração está prevista a apresentação de um grupo de dança sob a coordenação de Maria Saback com um espetáculo de expressão corporal, simbolizando os elementos vivos que compõem o processo de evolução da cerâmica: terra, água, ar e fogo.
Além disto, a exposição tem um caráter didático porque o visitante terá oportunidade de observar um painel fotográfico com registro das diversas etapas de transformação do barro.
As fotos registram desde a retirada do barro na jazida, o seu transporte, a mistura, armazenamento, as técnicas de modelagem e cozedura. O grande homenageado é o velho mestre ceramista de Maragojipinho, Vitorino Moreira.
Diz o Gênesis que Deus com um pouco de barro fez o homem à sua semelhança. E à sua semelhança vieram outros homens e também os ceramistas que agora nos apresentam trabalhos simples ou sofisticados, tudo dentro de um critério criativo. Eles sabem dar vida ao barro com a explosão de suas formas que brotam do inconsciente e que vão se compondo quando começa a funcionar a razão.

  UMA FOTO ESQUECIDA NO FUNDO DA GAVETA

Faz algum tempo que guardo esta foto na gaveta. Cada vez que abro a gaveta ele me toca perto dos sentimentos mais caros que ainda conservo ou consigo conservar. Foi feita pelo fotógrafo Valdir Argolo, e, nem mesmo ele sabe, exatamente, quando flagrou esta criancinha com sua boneca e nem tampouco, lembra do local onde isto ocorreu. Mas, nada disto é importante. O que importa verdadeiramente é a lição de afeto, a lição de amor, o carinho que transborda deste ato inocente! Cada dedinho da garota acaricia com mais ou menos intensidade a bonequinha de plástico, sem pernas e braços, com seus cabelos de nylon, revoltos. Talvez até a tenha encontrado num canto qualquer ou numa esquina, abandonada. Talvez até sua mãe tenha trazido de uma residência mais abastada. Porém, tudo isto é insignificante, porque o relacionamento entre esta criança momentânea de uma criança abastada quando recebe um presente caro e pula de contentamento. Minutos depois, o brinquedo caro e sofisticado está largado num canto qualquer da casa ou foi preterido por outro brinquedo, entre tantos que possui. Isto muitas vezes frustra o pai que chegou pensando em agradá-la eternamente.
Aqui não existem outras bonecas. Apenas esta. Todo carinho da criança é expresso na sua face, no seu abraço terno. Para complementar esta bela foto, vemos ao fundo outra criancinha, observando contrita o carinho que sua coleguinha dispensa a sua boneca de plástico !
Não estamos em época de Natal. Mas, certamente não existe época para se falar de ternura e também da plasticidade de um momento que foi captado em toda sua extensão por uma objetiva de um fotógrafo de jornal. Repito: de um fotógrafo de jornal, porque a rapidez da notícia, a corrida diária atrás do fato jornalismo muitas vezes provoca uma certa cegueira em nós. É preciso estar atento para que a sensibilidade esteja viva em nós e que enxerguemos o sorriso ou um ato de amor, por mais singelo que seja. Nós, acostumamos em noticias fatos ruins, a divulgar atentados que ceifam vidas, achamos, erradamente, que um abraço terno é insignificante. A destruição e o horror da guerra é que são insignificantes  e devem ser abolidos dos corações. É preciso procurar e encontrar significado maior no gesto simples, numa mão estendida e num ato qualquer de uma criança anônima ou de um adulto. E, nesta Cidade grande de tantos encontros e desencontros, de tantas incertezas e perplexidades, vamos enaltecer e cultivar os atos ternos, os quais podem muito bem ser representados por esta simples foto de Waldir Argolo. Eu a trazia guardada no fundo da minha gaveta e agora mostro a você leitor para que medite quanto pode significar um gesto de amor.

   O BARBEIRO DE PABLO PICASSO

Arias corta o  cabelo de Picasso
Buitrago, Espanha (AFP) " A vida sentimental de Picasso era um deserto com exceção no período em que viveu com Jaqueline, seu oásis”, segundo declarou à AFP seu velho amigo e confidente, o barbeiro Eugenio Arias . Eugenio, hoje com 75 anos nunca mais cortou o cabelo ou fez a barba de ninguém desde 1973, ano em que morreu o homem que revolucionou a pintura deste século e que era seu cliente exclusivo: Pablo Ruiz Picasso.
Desde aquela época, Arias passa os dias entre Vallauris, sudeste da França, e Buitrago sua terra natal, a setenta quilômetros de Madri onde ele acaba de abrir um museu dedicado a Picasso, que considera como segundo pai.
 Arias passou 26 anos de sua vida com Picasso  " e não apenas fazendo-lhe a barba ou cabelo", como faz questão de ressaltar. Prova desta amizade são as obras que ganhou de Picasso e que doou à sua terra natal. Diversos quadros, cerâmicas, litografias e peças de arte, reunidas numa sala transformada em museu, inaugurada no dia 5 de março pelo prefeito da Comunidade Autônoma de Madri, Joaquim Leguina.
Sobre seu célebre cliente, Eugenio Arias, afirma que " tratava-se de um incompreendido que trabalhou durante toda a vida, e que foi muito maltratado”.
Em sua opinião, o pintor possuía uma inteligência muito aguda e adorava ver-se cercado de amigos, embora “odiasse as pessoas que o bajulavam, sendo talvez por isto que passava bons momentos comigo”.

LIANE KATUSIKI RETORNA COM MAIS EXPERIÊNCIA - 22 DE ABRIL DE 1985.


JORNAL A TARDE, SALVADOR, 22 DE ABRIL DE 1985.

LIANE KATUSIKI RETORNA COM MAIS EXPERIÊNCIA


Liane com algumas jóias que criou
-Aqui de longe,neste Velho Mundo, ainda meio resfriada, me recuperando do terrível inverno que enfrentei, a saudade bate mais forte, quando percebo os primeiros raios de sol mais quentes e brilhantes do início da Primavera. Os campos  começam a ficar verdes e se enchem de flores, as árvores brotam, e os pássaros cantam, combinados com a minha alegria em sentir a minha volta se aproximar”. Este é um trecho da carta que acabo de receber de minha amiga Liane Katsuki que está ausente há quase seis meses na Europa. Ela já expôs em Emmen, na Holanda; na Bélgica;e em Bremen, na Alemanha. E, atualmente expõe em Giethoom, na Holanda. Esta última é uma cidadezinha cortada por canais, e os carros são proibidos de circularem em suas ruas.
No catálogo de suas exposições no exterior Liane Katsuki escreveu: A jóia primeira é a Terra, tirada do Ventre do Criador, posta no infinito Universo. Cada ser vivo é a pedra preciosa na sua harmoniosa composição. Não destruam a Grande Obra de Arte...
Esta, e outras afirmações atestam a sensibilidade desta artista que já residiu durante seis anos no exterior, mas que tem a base de sua formação em Salvador, na Escola de Belas Artes, da Ufba.
Já participou de mais de 2º exposições individuais e 40 coletivas. Também , realizou quatro performances, projetos integrados de jóias,esculturas, música e dança, além de bienais, salões e concursos. Portanto, é uma artista que está sempre trabalhando, procurando mostrar a comercializar o seu trabalho profissionalmente.
Digo comercializar porque é preciso acabar com este falso puritanismo do artista que não pensa em vender a sua obra, e que bom, é aquele que até passa dificuldades. Ao contrário, entendo que o artista tem que sobreviver com muita dignidade do trabalho que faz. Os exemplos que a gente vê por aí são de artistas que sofrem e passam dificuldades, terminam por enriquecer terceiros, como os marchands, donos de galerias e colecionadores. Isto é muito injusto!
Participou do “Grupo No” com artistas de diferentes nacionalidades. Tendo no momento com um grupo de artistas brasileiros, o seu atelier, Galeria e Escola “Claroescuro”, aonde tem exposição constante de seus mais recentes trabalhos em : jóias, objetos, esculturas, desenhos, pinturas, vitraux e espelhos.
Ensina Desenho, pintura e Estética em Salvador, Bahia.
Suas jóias, sempre em material nobre, ouro, prata e pedras preciosas ou semipreciosas, procuram mostrar não somente o lado do luxo destes preciosos materiais, que, vindos de Terra, não-artificiais, materiais que nos levam mais próximos das nossas origens, nossa cultura e da vida em si.
Se integram com a peça falando uma linguagem única.
Quando Liane inicia uma jóia, o material que será usado é respeitado como coisa viva.
Cada pedra tem sua vida e mensagem próprias. O seu desenho e forma, numa comunidade com o Universo interior da artista, fazem nascer uma nova e exclusiva obra de arte.
Cada jóia é tratada como uma miniescultura. Por isso a força e originalidade de seus objetos são aliadas ao cuidado técnico, procurado em cada trabalho.
Algumas jóias de autoria de Liane

Na força criativa de Liane, se percebe a influência sensível e refinada do Oriente, devido aos seus estudos no Japão, e a explosão do mundo de cores e formas devido às suas origens brasileiras.
Seus objetos mostram uma forte estrutura, lembrando a força e sensualidade dos seus desenhos. Ela conseguiu desenvolver variadas técnicas de expressão artística sem perder na força e noO arquivo deve ser uma imagem ou um vídeo.
 respeito a cada diferente forma de expressão tratada. Guardando perfeito equilíbrio, os efeitos de composição e cores, trazido às suas jóias, mostram que ela aplica a técnica para trazer o efeito da pintura no mundo das jóias. Pelo seu “Curriculum Vitae”, opiniões de críticos de arte, e alguns artigos em jornais, selecionados no seu vasto “Curriculum de Imprensa”, conhecemos melhor a vida profissional de Liane Katsuki.
Falando sobre seu trabalho na confecção de jóias, ele explica: “A jóia, da maneira que procuro tratar, perde aquele sentido de simples objeto de luxo. Ela, como minha pintura, tem uma mensagem. Trabalho-a como uma mini-escultura.
Não existe uma separação entre minhas pinturas e minhas jóias. Uma completa a outra.Respeitando  linguagem e as possibilidades de cada uma, eu posso me exprimir”.Em 1972 expôs suas jóias na Galeria Studios, no Rio de Janeiro. Na época, o que mais atraiu a atenção do público foi o lançamento de seus braceletes-anéis e colares-soutiens, uma inovação no campo das jóias, mostrando um simbolismo e um sentido todo pessoal. Antes de seguir para a França, Liane participou na Bahia e no Rio de Janeiro de várias exposições de pintura e realizou importantes trabalhos, dentre os quais o painel do Grande Hotel da Barra, retratando a chegada de Thomé de Souza à Bahia.
A evolução de sua arte pode ser notada no decorrer das exposições e desfiles que vem realizando nas principais capitais do País. Recentemente, na Pousada do Carmo, em Salvador, Liane extasiou os presentes com um desfile realizando para vários visitantes.
Segundo a artista, estão tendo a cada dia de trabalhos em jóias a maior aceitação por parte do público, devido à conscientização deste no tocante ao valor artístico dos objetos. “O importante não é só o valor material do trabalho, mas o seu valor artístico. No meu trabalho, utilizo a prata, o ouro, pedras preciosas e semi-preciosas, procurando sempre criar as minhas jóias partindo do material que eu venha a usar”.
Liane afirma ainda: “Faço jóias como uma maneira de compensar o desejo que tinha de fazer escultura. A jóia é uma escultura de pequeno porte. O meu interesse pela jóia nasceu em Paris, quando frequentei a Federarion de La Seine de Deuvres Laiques trabalhando em esmaltação do cobre e da prata”
Em Salvador, as suas jóias podem ser apreciadas no Museu da Cidade, e em várias galerias (onde estão postas à venda) e no seu atelier.
No Rio de Janeiro, juntamente com Maria Amélia Villegas, Massimo Forti e Hans A. Sthar, Liane fundou a galeria e loja de arte Grupo No, onde existe exposição permanente de suas jóias.
O crescimento de suas jóias está lhe levando a objetos de maiores dimensões, devendo a artista, num futuro muito próximo partir para a escultura de grande porte, aliás, no Centro de Convenções tem uma escultura feita em tubos galvanizados, a qual inclusive está necessitando de restauração.
Liane Katsuki nasceu em Salvador, Estudou na Escola de Belas Artes da UFBa., na França e no Japão. É formada em Jóias pela Escola Francesa e em História Geral da Arte pela Escola do Louvre. Realizou várias exposições no Brasil e em Paris, e desfiles na Bahia, Toulouse e Antilhas. Tem prêmios de salões, trabalhou para Pierre Cardin. Realizou projetos de arte integrada com dança, escultura e jóias, nos quais recebeu prêmios e menção honrosa. Ganhou ainda concursos com esculturas, painéis e murais.
Criou e executou os troféus “Bahia 100 anos de Folia”. É professora em Desenho, pintura vitral e jóias.

                  A ARTE DE CRISTINA MEDRADO

Esta é Cristina Veloso Medrado Santos ou simplesmente Cristina Medrado. Desde os 14 anos que se interessa pelas artes plásticas. Um diálogo que começou cedo com as formas e as tintas. Por ser filha de militar teve que residir em várias cidades. Mas as mudanças nunca impediram que continuasse a sua vocação artística. Morou também na Inglaterra, e aqui chegando resolveu fazer o vestibular de Engenharia. Trabalha em processamento de dados, ligado a engenharia. Ela pintou muita coisa relacionada com o Velho Mundo, e também a paisagem e a vida do Nordeste, especialmente do Ceará. Sua última exposição aconteceu recentemente no Robson Club, na Praia do Forte, onde apresentou 10 telas.