JORNAL A TARDE, SALVADOR, 11 DE NOVEMBRO DE 1985.
A METAMOFORSE ENRIQUECE OS PERSONAGENS DE CALÁ
Obra Transformando os Habitantes. Um pássaro com cara de gente |
Certamente
que ao pintar Calasans Neto é acima de tudo um gravador. Prefiro suas gravuras,
principalmente para traduzir estes seus momentos diante da própria terra, que é
o seu espaço vital. Como um velho comandante de binóculo em punho o mestre
Calá divisa seus personagens que podem figurar em qualquer capa de um livro de
cordel. Suas telas formam. Uma verdadeira estória em quadrinhos, destas que
encantam as crianças e mesmo muitos adultos.
AMIGO DOS ANIMAIS
Calasans pensando em seus personagens |
O artista é amigo das aves noturnas que voam ao redor de Abaeté das cabras e ainda conseguem sobrevier comendo as folhas das poucas árvores que ainda resistem a sanha devastadora dos homens, e das baleias que sumiram das águas de Itapuã, mas que Calá insiste
Acredito
que a gente é a mesma que no dia a dia brinca e saúda este sujeito brincalhão e
amigueiro. É muito bom que Calasans Neto continue cultivando os animais este
seu mundo imaginário. Aqui eles são preservados e retratados voando ou nadando
ao alcance dos predadores. O artista os protege numa redoma criativa para que
este paraíso não seja ultrajado pelos homens diabos.E, Calá é dono absoluto
deste paraíso, planeta solitário que integra estes cosmos iluminados pelo
cometa de Halley,embalado pelos sons maviosos das aves noturnas.
ARTISTAS
LUTAM POR UM ESPAÇO NO RIO VERMELHO
O painel pintado pelos artistas no tapume do terreno |
APAGARAM
Diante
destas dificuldades os artistas resolveram fazer um protesto pintando os
tapumes com belos painéis. Qual não foi a surpresa deles, os proprietários do
terreno mandaram cobrir de tinta verde todos os painéis.Eles retornaram á
semana passada e repintaram os painéis , e ainda estão por lá. Porém, é bom que
se diga o movimento ainda não alcançou a ressonância que merece!.
O
artista Zivé Giudice critica a insensibilidade de alguns órgãos públicos que
não aproveitam ou capitalizam os quais prestam um serviço importante na luta
pela preservação dos nosso bens culturais e em defesa da criação de novos
espaços. Na realidade são arquitetos, músicos, artistas plásticos que
necessitam de apoio dos órgãos oficiais para se expressarem em benefício da
própria população.
Para
a luta por este novo espaço, no Rio Vermelho, os artistas receberam a
solidariedade de alguns órgãos oficiais, mas o prefeito não se pronunciou. Eles
têm informação de que o então prefeito Clériston Andrade teria desapropriado
aquele terreno, mas não concretizou o ato e esgotado o prazo o decreto perdeu
sua validade.
XILOGRAVURA
DE JUAREZ É HOMENAGEM A JOSÉ MARIA
O destaque do Museu de Arte Moderna da Bahia – Mamb – deste mês é uma das mais expressivas xilogravuras do artista e professor Juarez Paraíso, que retrata “ uma figura humana de força extraordinária na boca entreaberta e sofrida.No olhar reflexivo e penetrante e na sólida e negra cabeça”. Ao promover a exposição desta obra até o mês de dezembro o MAMB e a Fundação Cultural prestam uma homenagem ao artista baiano José Maria que morreu no dia 16 de setembro deste ano.
José
Maria de Souza nasceu em Valença, em 1935. Estudou na Escola de Belas Artes da
Universidade Federal da Bahia. Foi aluno de Mário Cravo Junior, Henrique Oswald
e Juarez Paraíso. De origem humilde conseguiu superar todas as dificuldades com
força de vontade e talento. Aliás, o talento lhe levou ao reconhecimento
nacional.
Suas
gravuras e pinturas foram mostradas em diversas exposições coletivas e
individuais em todo o Brasil e até no exterior. Sobre a arte de José Maria
tanto nas suas gravuras como nas pinturas o professor Juarez Paraíso escreveu:
Da mesma maneira que as suas gravuras foram fruto de uma terna observação, de
suas vivências pelas madrugadas baianas, a sua pintura atual cristaliza a sua
experiência com o Nordeste pernambucano: Olinda, Caruaru, São Caetano, Vitória
de Santo Antão, Palmares, Bezerros. A melancolia e solidão do homem nordestino,
irremediavelmente atado ao seu destino telúrico, é o que procura expressar José
Maria através de uma gama tonal , onde o branco é instrumento de revelação como
se tudo fosse tão claro e limpo quanto a própria miséria, ou, como declarou o
próprio artista como se a miséria fosse o próprio sol”.
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