JORNAL A TARDE, SALVADOR,
SEGUNDA-FEIRA 16 DE SETEMBRO DE 1985
A LIBERDADE DO TRAÇO DE GILBERTO
SALVADOR
Esta obra de Gilberto Salvador intitulada Tempo Rei, é uma das mais recentes pinturas do artista |
Gilberto Salvador |
Quando
olhamos Vento Verde Sul, onde os coqueiros aparecem vermelhos a balançar e
com seus caules cortados por um grosso traço, nos reportamos aos ventos fortes
que balançam os coqueiros do litoral brasileiro. As palhas vão largando
pequenos pedaços, mas eles permanecem altaneiros e vigilantes acompanhando o
vaivém das marés á espera da calmaria.É
verdade que sua formação de arquiteto é presença na sua obra. O desenho flui em
determinados momentos com o rigor dos compassos e esquadros. Mas, o gesto é
mais forte, incontido e unido com as cores explode em emoções.
É um perfeito exercício de liberdade onde a mão comanda os pincéis a todos os
pontos até o momento que Gilberto Salvador entende que a obra está concluída.
Esta dicotomia entre os traços contidos por esquadros e réguas e o gestual dá
equilíbrio estético à obra de Gilberto Salvador e nos permite decodificá-la com
a liberdade de nossas emoções.Gilberto
Salvador expõe a partir de quinta-feira suas pinturas no Escritório da Arte da
Bahia.
MISCIGENAÇÃO
BAIANA NA OBRA DE REGINA HELENA
A postura altaneira de uma bonita negra baiana |
“A
figura do negro me conduz a uma retrospectiva das nossas origens, ao Brasil
histórico, ao trabalho escravo, à sua cultura trazida para cá, misturando-se
com a do índio e a do português”, acentua a artista.
Regina
Helena está promovendo a sua segunda exposição individual, tendo participado de
várias coletivas. Revelando que pinta desde criança, sem nunca ter se apegado a
um tema, ela acredita que o seu grande mestre foi o pintor argentino Alfonso
Lafite, que vive no anonimato. Nunca frequentou nenhuma escola de arte, apesar
de ter tomado alguns cursos livres com o pintor Oscar Caetano. EM 1983, ganhou
uma medalha de ouro no Salão Genaro de Carvalho, Regina Helena é formada em
letras, mas não exerce esta profissão, já que absorve todo o seu tempo pintando
e encara a pintura como um trabalho profissional. Esta é a sua primeira
exposição em que destaca a figura do negro não deixando de estar sempre presa
ao acadêmico, já que, segundo diz, ainda não se sentiu inclinada à arte moderna
ou abstrato. O interessante de se notar nas telas dessa artista é a igualdade
de enfoque em que são colocados o negro e o branco, ficando nítida a falta de
qualquer descriminação. Nos seus outros inúmeros trabalhos, os temas foram os
mais variados, desde natureza-morta, ao casario e muitos outros.
“Não
gosto de me rotular em nenhum estilo. Deixo tudo fluir normalmente. Senti
vontade de homenagear o negro que é o maior participante do nosso processo
histórico e acho que ele contribui e contribui para o engrandecimento do nosso
País”, conclui Regina Helena.
CINCINHO
E O LÁPIS DE CERA
Cincinho,
o mago do lápis cera, pintor primitivo que fixa com lirismo e cores doces paisagens
da vida rural do Recôncavo, está expondo este mês, na Galeria de Arte
Jean-Jacques, na Urca, Rio de Janeiro. O artista participou em 83, na mesma
galeria, da coletiva “Seis Artistas Naifs”.
Inocêncio
Alves dos Santos, quase octagenário, mas dono de vitalidade exemplar, vive em
Cachoeira, concedendo-lhe o título de cidade cachoeirano. Cininho,
pintor-decorador de profissão, trabalha exclusivamente com lápis cera sobre
papel desde 1973 e expõe regularmente desde 1977.
O
artista tem trabalhos no Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro, Musée D’Art
Naif de L’lle de France, em Paris, e no Museu de Arte Primitiva em Assis, São
Paulo. Faz parte da coleção da gente famosa como o escritor Jorge Amado e já
expôs trabalhos na Round Hill Community House, de Greenwich e no Brazilian
Primitive Artists ,de New York, nos Estados Unidos.
No
ano passado, atendendo convite do secretário de Cultura do MEC, Marcos Villaça,
Cincinho expôs na Galeria de Arte Macunaíma, da Funarte, no Rio de Janeiro.
Pessoa de extrema simpatia, Cicinho não possui atelier. Pinta em casa, na sala
de jantar, onde recebe a todos que o procuram.
Inocêncio
Alves dos Santos nasceu na primeira década deste século. Seus pais, Laurentino
Alves dos Santos, dono de tenda de barbearia, e Maria Máxima da Silva,
charuteira, moravam em Muritiba, num tempo que todos sobreviviam vinculados ás
empresas manufatureiras do fumo. Inocêncio, até o segundo ao primário, aprendeu
o ofício do pai, quando apurou a mão, dotando-a de firmeza e leveza.
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