JORNAL A TARDE, SALVADOR 11 DE JUNHO DE 1984.
O ÍNDIO E O COTIDIANO NA OBRA DE WALDEREDO
Até
o dia 30, o artista plástico carioca Walderedo de Oliveira estará expondo 45 de
seus trabalhos no Museu de Arte Moderna da Bahia (Solar do Unhão), Walderedo
morou seis anos na França, onde se formou na Escola de Belas Artes de Paris e
também participou de várias mostras. Nessa exposição, o artista apresenta duas
fases de sua produção mais recente. A primeira, aborda as culturas indígenas do
Brasil do ponto de vista ecológico. A segunda se caracteriza pela representação
do cotidiano, expressado através da pintura, do desenho e da aquarela.
A
intimidade de Walderedo com a pintura começou quando tinha 14 anos, e cabeça
povoada pelas imagens massificantes da televisão. Na maioria dos trabalhos
apresentados. Walderedo utiliza a técnica têmpera de ovo e óleo, mas domina
também a aquarela, o pastel, a litografia, o guache e o lápis de cor. “Eu tenho
uma visão do índio nessa exposição mais é uma visão pop, porque eu sou colonizado
como todo mundo”, afirma.
Walderedo
já expôs em diversas capitais européias e no passado ganhou a medalha de prata
na New York International Art Expo. Em setembro exporá em Brasília e em
seguida, atendendo a um convite da Organização das Nações Unidas, expõe em Nova Iorque.
O
ARTISTA FALA DE SEU TRABALHO
Nesse
trabalho que está sendo mostrado no MAMB, segundo Walderedo, “começou a ser
desenvolvido em 76, quando voltou ao Brasil pela primeira vez, depois de viver
alguns anos do exterior. “o que procuro nessa mostra é uma revalorização do
universo mítico-fantástico indígena, retomando a recriação símbolos de uma
iconografia “brasílies”.
O
interesse pela foram plástica é evidente. Seu trabalho é guiado pela intuição
sensitiva que “vem equilibrar o lado racional de minha formação na Escola de
Belas Artes de Paris”, confessa Walderedo. Em suma, diz que “a emoção sobrepuja
o conceito”.
“A
cor é um elemento muito forte no meu trabalho, explica tendo surgido numa face
inicial que seria enquadrada no estilo pop art”. Mas essa experiência aconteceu
no período de 67-70, quando misturava a fotografia com colagens justapondo com
o desenho, evoluindo para a afirmação do desenho como único elemento de
expressão.
Mais
tarde, o artista passou a impregnar seus trabalhos do branco e preto, entrando
assim numa fase surrealista, utilizando a técnica do bico-de-pena, por volta de
70 a 74.
Foi nesta época que ele realizou sua primeira exposição. Na verdade, foram
esses mesmos índios, que agora estão representados na atual exposição, que
permitiram a Walderedo o retorno a cor aos seus trabalhos.
Começou
pela aquarela até chegar na pintura, na qual, a cor se afirmou como elemento de
grande importância.
TEMAS
“A
temática do índio continua sendo levada adiante, mas paralelamente, em diversos
momentos tive minha intenção despertada para outras fontes de inspiração”,
conta Walderedo de Oliveira. Por isso alguns de seus trabalhos refletem o
período que passou no Marrocos e mais recentemente na Grécia e Creta. A “fauna
urbana”, os punks, o new wave, entre outros temas têm influenciado o trabalho,
conforme narra o artista.
“Mas
essa seria mais uma pintura intimista, na medida em que meu cotidiano é
dividido com o espectador”, diz Walderedo. Na verdade, esse carioca de apenas
28 anos quer “transmitir uma visão fantástica da realidade ou sensibilizar as
pessoas no fantástico que é a realidade”. Assim da escrita psicográfica do
surrealismo evolui para um modo de trabalhar mais seguro, no qual, todavia, o
prazer sensitivo de pintar uma forma plástica o impulsiona subitamente a uma
nova direção.
TARCÍSIO EXPÕE ATÉ DIA 30 NO SOLAR FERRÃO
Afro-Brasil
II, primeira exposição do artista plástico pernambucano Tarcísio, em Salvador,
está aberta ao público até o dia 30 de junho, na Galeria Solar Ferrão, numa
promoção do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC). A
abertura da mostra coincidiu com a
inauguração do acervo permanente da galeria, formado com doações dos artistas
que já fizeram exposições nesse espaço.
Natural
de Pernambuco, Tarcísio José da Silva tem 24 anos atualmente reside em Barra Grande , na Ilha
de Itaparica. Seus trabalhos foram vistos pela primeira vez na Bahia, em
Juazeiro, ao expor, no ano passado, no Museu Regional do São Francisco.
Autodidata, dedica-se à pintura a óleo e aquarela, predomina a figura do negro
nas telas que está mostrando na exposição da Galeria Solar Ferrão. Na opinião
do poeta juazeirense Raymundo Júnior, o trabalho de Tarcísio revela “traços
profundos de uma grande convicção filosófica e artística, onde sobressai a
maturidade”.
Membro
efetivo da Associação dos Artistas Plásticos Profissionais de Pernambuco, ele
tem trabalhos nos acervos do Governo do Estado do Pará, na Fundação de Cultura
da Cidade do Recife, Museu do Sertão e Museu Regional do São Francisco.
Aos
14 anos, Tarcísio começava a se envolver com a atividade artística e, no
momento, vive exclusivamente dela.
Ele
fez muitas exposições coletivas e individuais em vários locais. Em 1976, pela
primeira vez, mostrava ao público a sua obra por ocasião do Salão Expo-Art, em
Petrolina, Pernambuco. Depois, participou de muitas outras mostras, entre a
coletiva na Art creators Galery, em Port-of-Spain, Trinidad/Tobago e outra na
Fine Art Gallery, Bridgetown, Barbados, em 1982. No Brasil, fez uma mostra
individual no Teatro Amazonas, em Manaus, no ano passado, e, este ano,
apresentou “Noturno” em Caxias do Sul e Passo Fundo, no Rio Grande do Sul,
mostra aliás, que terá alguns dos trabalhos fazendo parte também da exposição
do artista na Galeria Solar Ferrão.
A
Galeria Solar Ferrão dispõe agora de um espaço maior que está ocupado, a partir
desta mostra de Tarcísio, com exposições permanentes e temporárias. Além disso,
está funcionando diariamente, inclusive nos fins de semana. Situada na Rua Gregório
de Mattos, número 45, Pelourinho, a galeria está aberta de segunda a
sexta-feira, das 9 às 12 horas e das 14 às 17 horas. Aos sábados e domingos,
porém, as visitas poderão ser feitas somente das 14 às 17 horas.
POVOS
DO CEDRO NO TEATRO CASTRO ALVES
Arte
indígena, Canadense e Brasileira, é o tema da exposição que está no foyer do
Teatro Castro Alves, TCA, até o dia 24 de junho, das 14 às 19h. O evento é uma
promoção da embaixada Canadense e da Funai, e conta com o apoio da Fundação
Cultural do Estado da Bahia.
Os
dois tipos de arte índia são mostrados distintamente. O Canadá apresenta a
cultura dos povos do Cedro, índios canadenses da costa noroeste do Oceano
Pacífico. Esse povo, pela abundância de cedro nas regiões que habitavam, usaram
esta madeira para as mais diversas necessidades: confecção de casas, meios de
transporte, artefatos de cozinha e vestimentas.
O
Brasil por sua vez, mostra toda a riqueza e diversidade das diferentes tribos e
culturas indígenas. Os 220 mil índios que atualmente vivem no país dividem em
tipos físicos diversos e possuem características sócio-culturais diferenciadas.
Atividades comuns entre os Tukanos, habitantes da Bacia do Rio Negro, podem até
serem desconhecidas pelos Xokeng, de Santa Catarina.
A
exposição percorre nove estados brasileiros. É uma oportunidade para conhecer
um pouco da cultura indígena nacional, assim como a dos Povos do Cedro.
ENCONTRO
NO SESC DE TÉCNICOS EM ARTES PLÁSTICAS
Foi
realizado na Colônia de Férias Deraldo Motta, em Piatã, o Encontro de Técnicos em Artes Plásticas do
Serviço Social do Comércio - Sesc, e que contou com a participação de
representantes dos departamentos regionais da Paraíba, Espírito Santo,
Pernambuco, Alagoas, Sergipe, São Paulo e Bahia, e também a presença de órgãos
da comunidade tais como Núcleo Experimental de Atividades Sócio-Culturais,
Colégio Severino Vieira e Instituto do Patrimônio Histórico.
O
encontro teve como finalidade a troca de idéias e sugestões que contribuirão
positivamente no preparo de técnicas e sugestões que atuam na área das artes plásticas,
numa linha prática, respeitando a individualidade de cada participante. Foi
tratada, também, no encontro, a contribuição das artes plásticas no setor
educacional, não apenas no desempenho do trabalho em si mesmo, mas também na
transmissão dessa experiência, por certo, aproveitável dentro do contexto
educacional em qualquer região do país.
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