JORNAL A TARDE , SALVADOR, 09 DE
SETEMBRO DE 1985
O FASCÍNIO DO TRANÇADO BRASILEIRO
ESTÁ NO MAM
O trançado brasileiro fascina. Belo e instigante os objetos deixam os
turistas eufóricos e são comuns exclamações de alegria diante de um objeto
feito pelas mãos hábeis de anônimos artesãos deste Brasil afora. Mãos que
tecem, que colorem, que cortam as fibras para confeccionar os objetos e que
realizam uma verdadeira dança mística e primitiva. Eles são utilitários ou
mesmo decorativos, mas sua função primordial quase sempre é transformarem-se em
utensílios domésticos nos lares simples do interior. Às vezes são enaltecidos e
tornam-se objetos de arte, quando algum colecionador ou crítico encontram em
suas formas, os elementos capazes de elevá-lo a este patamar. Quando não,
permanecem como expressão do homem simples na escala de artesanato.
Agora
para satisfação nossa a Rhodia nos traz uma exposição onde o trançado
brasileiro é enaltecido como um elemento significativo da cultura popular.
“O
trançado é constante nos atos da vida. Ele é a rede que eleva o homem do solo
para o seu espaço de sonho e sono. O trançado é a esteira na qual o homem
senta-se e na qual dorme em estreito contato com a terra. É a corda que une as
partes, a cesta que contém os tesouros e os produtos da terra”.
Tradicional
patrocinadora da publicação de livros de arte brasileira, a empresa, que
comemora este ano, seus 65 anos de atividade empresarial, decidiu promover
também exposições de objetos de valor estético e cultural, ampliando desse modo
o número de pessoas beneficiadas por sua política de incentivo à arte
brasileira.
Até
novembro, cerca de 600 peças representativas de trançado brasileiro estão sendo
expostas durante 15 dias em
São José dos Campos (SP), Porto Alegre (RS), Campinas (SP),
Rio de Janeiro (RJ), Santo André (SP), Salvador (BA), Cubatão (SP), Recife
(PE), São Paulo e Brasília, em mostras organizadas com a supervisão de Alice
Lunardelli, pesquisadora e promotora de cultura popular, e Paulo Figueiredo,
galerista.
Abertas
ao público de cada cidade durante duas semanas, as exposições são visitadas
também por milhares de crianças das escolas locais, que, além de poderem
conhecer grande quantidade de objetos trançados de desenhos, padrões e cores,
recebem ainda explicações e informações dadas por monitoras, com auxílio de
painéis fotográficos e didáticos, que mostram todo o processo de elaboração do
trançado.
“Todos
os povos conhecidos- explica o crítico Jacob Klintowitz, autor do livro
“Trançado Brasileiro”, que será publicado sob os auspícios da Rhodia- tiveram
algum tipo de transado. A trama, o nó, o ligamento e o dilaceramento, o vazio
entre a trama esteve e está presente em todas as civilizações. Para o ser
humano, a existência do trançado reveste-se de ancestrais significações. É certo
que a idéia do trançado está vinculada à utilidade das coisas cotidianas e tem
constância diária. Mas o trançado, além disso, possui significações simbólicas
extremamente ricas e variadas”. A partir do dia 13 no MAM.
OS
GIRASSÓIS CHEGARAM PARA COLORIR A BAHIA
A artista baiana Dionéa e uma tela com girassol |
Os
girassóis exercem realmente um fascínio pela exuberância de sua forma, o
tamanho, e o colorido de suas pétalas. Gira acompanhando o rei dos astros, e em
torno desta magia é que a artista retira o essencial de sua arte. Girassóis que
parecem desejar abandonar as telas, ou que querem andar por este mundo afora
multiplicando-se para fazer cumprir de qualquer forma o decreto do poeta. Hajam
girassóis para amolecer os corações insólitos, os corações solitários e também
os corações embrutecidos pelos embates da existência. Que hajam girassóis
grandes e belos para enfeitar os corações que amam, os corações que são
solidários com os mais fracos que assim possam vencer àqueles que estão cheios
d maldade. É hora de povoar este mundo de girassóis. É hora de dar espaço a
Dionéa para que ela plante seus girassóis que tem a grande vantagem de não
murcharem. Eles ficam eternamente acompanhando o movimento do sol e mesmo
durante a noite continuam abertos espalhando a densidade de suas cores.
Ela
tem encontrado em Sergipe o local ideal para desenvolver o seu trabalho, e
declarou que a Fundação Cultural daquele estado, tem dado uma contribuição
muito significativa aos artistas locais.
Os
trabalhos de Dionéa estão expostos na Época Galeria de Arte, até o dia 15.
JADER
RESENDE EXPONDO AQUARELAS NA ART GALERY
Jader Resende é um batalhador. Um artista dedicado e disposto a acertar. Conheço o seu trabalho e venho acompanhando a sua luta, muitas vezes até incompreendida pelos mais apresados. Com isto ele fica em determinados momentos inconformado e ganha forças para ir adiante. Seu objetivo será alcançado, e agora, para minha alegria, vejo uma exposição individual de aquarelas deste artista. É um observador nato e dá prova disto ele mesmo escrevendo no catálogo da mostra: “Vando,Trimano e Elifas Andreatto, fazendo as ilustrações de capa do Pasquim em 73, que a idéia de uma arte para o povo me encheu a cabeça, passei a riscar papéis sempre pensando em fazer capas de discos, de livros, etc... Passei a sentir que a arte estava também na escolha das letras para um título ou texto, nas fotos e desenhos de uma revista, na diagramação de jornais ou mesmo na simples placa de uma loja anunciando uma liquidação, ou seja, o mundo gráfico penetrou
Ele
trabalhou alguns anos na propaganda e conseguiu manter um laboratório
fotográfico, onde reproduzia seus trabalhos. “Nesta minha exposição tenho dar
início a fase final da decomposição dos objetos.
Reduzo
o tema a tal ponto de não haver qualquer ação dramática ou literária. Tento dar
uma visão de vários ângulos interligando e desarrumando os planos, procurando
não deixar um ponto fixo. “Realmente, Jader nos apresenta aquarelas onde os
planos e os objetos estão muito bem situados e no despojamento do desenho com
linhas retas e curvas, ele consegue uma atmosfera lírica, o que é um pouco
difícil.
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