JORNAL A TARDE, SALVADOR, 24 DE JUNHO DE 1985.
GERAÇÃO 70 A CAMINHO
Depois
de marchas e contra marchas, discussões e divergências, a Exposição Geração 70
está caminhando para sua concretização. Esta mostra vem causando um rebuliço
maior do que imaginava, inclusive alguns transtornos. Compreensível até certo
ponto, mas também não é preciso exagerar. Não vamos aqui contar em detalhes as
dificuldades que tiveram e que ainda terão que ser vencidas, mas asseguro que
não foram e não serão poucas.
Fico
contente com a riqueza e a força das posições de algumas pessoas convidadas ou
não para participarem desta primeira exposição da Geração 70. Evidente que aqui
estarão representados apenas 10 nomes e que outros poderiam estar compondo esta
constelação de bons artistas.
Esta
exposição não é exclusivista e tampouco determinante. O que procurarei mostrar
é que considero importante, que é a produção destes artistas que continuam
batalhando por um lugar ao sol.
Não
estamos preocupados em agradar este ou aquele segmento e nem tampouco queremos
criar uma nova panelinha. Já existem
panelinhas demais em Salvador e este fechamento é prejudicial ao relacionamento
entre os artistas e ao próprio desenvolvimento da arte.
A
escolha dos nomes é de inteira responsabilidade deste colunista e por isto
assumo todos os riscos. Quanto a ligação com a Fundação Cultural, confesso que
publicamente que não morro de amores por alguns métodos da política cultural
adotada em nosso Estado e que não me foi feita qualquer exigência. Já disse e
repito que Heitor Reis tem demonstrado o maior interesse e despojamento. Quanto
a afirmação de que o órgão estaria usando o colunista para arregimentar
artistas que normalmente estariam numa postura crítica em relação a política
cultural, digo que se assim pensarem perderam tempo. A consciência de cada um
não pode ser abalada com tanta facilidade! A não ser que fossem consciências
malformadas, o que não é o caso.
Também
quero alertar àqueles que por acaso não integrem esta mostra que certamente
haverá novas exposições enfocando momentos da arte baiana, organizadas por
outras pessoas, quando terão também oportunidade de mostrar os seus talentos.
Sou
apenas o curador desta mostra. Uma exposição que procurará mostrar o que estes
artistas têm feito com os cinco trabalhos que cada um apresentará partir do dia
25 de julho no Museu de Arte da Bahia. Serão suficientes para o,julgamento
público. Eles serão postos á apreciação pública desde o momento que o museu
abrir suas portas. As críticas positivas ou negativas serão muitas, o que
realmente vem corroborar que a Exposição Geração 70 mexeu um pouco com as
pessoas.
Não
esperam grandes inovações, emoções mirabolantes ou mesmo posturas vanguardistas
de primeira hora. O que você vai ver é a boa arte, a arte feita com conteúdo e sentido
profissional. Os trabalhos já foram fotografados e depois de muitas
dificuldades consegui reunir todos os 10 artistas e Ivo Vellame para uma foto
coletiva que deverá integrar o catálogo. Esta semana terei os cromos e o layout
do catálogo para começar o trabalho na gráfica. Enquanto isto, os artistas
estão trabalhando e cuidando das molduras.
O
grupo que vai apresentar a performance também está trabalhando e já na próxima
semana estarei em condições de dar definitivamente os nomes daqueles que vão participar
da mostra, tanto os artistas plásticos como os dançarinos e músicos.
Espero
que todos contribuam para o êxito desta exposição porque ele não será apenas
meu, mas de todos os artistas e colaboradores.Como
sou uma pessoa muito ocupada com meus afazeres profissionais na área do
jornalismo, é preciso que receba apoio significativo daqueles que foram
convidados.
Vamos
dar as mãos para que esta Exposição Geração 70 seja um marco na história da
arte baiana, um divisor de águas. Ela deverá refletir o resultado de uma
produção sistemática de quase 15 anos, que nós vamos apresentar na sua forma
mais transparente e translúcida para que vocês apreciem.
MUROS
DE SALVADOR JÁ MOSTRAM NOVO VISUAL
Os
muros de Salvador ganham um novo colorido. Vários artistas que apoiam um
prefeiturável estão realizando um trabalho digno de destaque. Com tintas e
pincéis eles realizaram um verdadeiro mutirão, contribuindo para diminuir o
péssimo visual que herdamos dos prefeitos que se sucederam nos últimos 20 anos.
Uma cidade que, ultimamente, tem todo muito azar com seus dirigentes. A
incapacidade é tamanha que não cuidam nem
de dar a esta cidade uma roupa nova, um novo visual para que o turista
não saia tão decepcionado e, principalmente, os que aqui residem possam
desfrutar melhor das suas belezas naturais. Quase sem ajuda de ninguém, um
grupo de artista está trabalhando em pontos estratégicos da cidade colorindo os
seus muros. Uma postura que realmente merece ser aplaudida, embora pessoalmente
discorde do que realmente os mobilizou. Preferia que a mobilização tivesse
nascido espontaneamente, como aconteceu com aquele painel do Rio Vermelho.
Estes d’agora são integrantes de um trabalho em prol de uma candidatura.
Política á parte, o que realmente nos interessa são os painéis bem coloridos
fortes e significativos. Eles não pertencem a seus autores ou mesmo ao
prefeiturável que os condicionou. Eles pertencem a todos nós, porque estão lá
expostos nas ruas para que possamos desfrutar de cada traço, de cada composição
e sentirmos a emoção que cada um dos artistas consegue passar.
Sei
da boa vontade destes jovens artistas para com a cidade. Sei que a momentânea
vinculação a uma candidatura, sem muitas chances, é fruto ainda do arrojo da
juventude que os une. Como sei também que eles têm uma potencialidade a dar a
esta cidade que os abriga.
Os
painéis estão localizados na Rua da Paz, na Graça; na Pituba próximo ao
Baitakão e na Liberdade. Foram pintados por Zivé Giudice, Murilo, Guache, Otávio
Filho, Flori, Bel Borba e Chico Diabo, dentre outros.O
projeto que eles intitularam de Salvar Salvador vem realmente calhar com a
necessidade que ora vive esta cidade carente.
E
esta demonstração destes artistas e de outros que possam surgir contribuirá
para melhorar o visual de Salvador e por isto só deve ser incentivada e
aplaudida.
Tenho
lido muito sobre as manifestações espontâneas que estão acontecendo em todo o
mundo, quando os artistas de vanguarda ou mesmo jovens artistas, ainda
desconhecidos, colorem os muros de suas cidades. Além de contribuir para
melhorar o visual, também realizam um trabalho educativo na medida em que a
obra de arte bem diversificado. Basta dizer que pelas ruas passam pessoas dos
mais variados níveis sociais e culturais. E as formas e composições muitas
vezes vão até provocar reações muito interessantes porque alguns até não estão
ou estão familiarizados com elas. E este jogo ao ar livre é muito importante,
porque os que rejeitam ou reagem negativamente poderão ser no futuro também
apreciadores de arte.
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