A OBRA DE JUSSARA E SUA RELAÇÃO
COM A NATUREZA
As manchas lembram a vegetação exuberante |
Embora
meiga, sua rebeldia foi suficiente para não aceitar as imposições e continuou
trabalhando. Muitas vezes rasgava o que produzia em busca de um resultado que
melhor lhe satisfizesse.
A
NATUREZA
A
obra de Jussara é totalmente ligada a natureza.Naturalista
por opção ela capta entre o concreto da cidade grande aqueles respingos de
natureza que ainda existem. Tem uma capacidade incrível de percepção e de
captar momentos e coisas que passam despercebidos pela grande maioria dos
transeuntes nas avenidas de uma grande cidade. Tem por outro lado uma grande
noção da importância da liberdade não apenas no momento da criação, mas como
uma necessidade inerente à própria vida. E seu trabalho é isto, o discorrer
sobre a natureza dentro de sua visão de vida e liberdade.
Um
dos quadros que trouxe para que pudesse sentir melhor a sua arte noto a
presença de manchas claras-escuras em contraposição que lembram as colchas e
toalhas de mesa bordadas com tanta arte por milhares de artistas anônimas deste
interior do Brasil. E esta relação existe na realidade, porque Jussara é também
bordadeira. Dirão os mais ortodoxos, que estou falando de bordadeiras, de
bordados! Lembro que existem verdadeiras obras de arte feitas em bordado e que
mais recentemente o Museu de Arte de São Paulo (MASP) fez uma exposição de
bordados feitos por garotas numa cidade do Piauí que foram muito apreciados,
inclusive por críticos estrangeiros.
Mas
vamos falar dos 19 trabalhos que Jussara estará apresentando ao público baiano
na Mab Galeria de Arte, que fica na Rua Guanabara nº187, na Pituba a partir do
próximo dia 17 de julho. Os guaches de Jussara nos dão momentos de alegria
porque nos transportam para as florestas, os lagos e as sombras das árvores.
Você pensa estar vivendo num local de muita vegetação em plena primavera com as
flores, e as borboletas voando. Uma verdadeira poesia que esta artista consegue
arrancar dentro desta cidade, que os prefeitos que estão se sucedendo e que teimam em
acabar.
A imagem do concreto na cidade |
O
que importa é que a gente tem mais é que pintar flores, aves e outras coisas
que existem por aí. O problema é a maneira de pintar, a técnica e a criação. A
temática não morre jamais. O difícil é exatamente conseguir a marca de sua
personalidade criadora. E Jussara que expõe em público pela primeira vez numa
galeria conseguiu esta façanha. É claro que ela ainda te muito que amadurecer
em termos de técnica e isto só vem com o passar dos anos. É um aprendizado no
dia-a-dia, na intimidade com o pincel, com as tintas em frente a um suporte.
“Aqui
em Salvador não vejo natureza!”. Porém ,ela consegue buscá-la em outras plagas e
nos brinda com a natureza. Diz Jussara que o que vejo aqui são barracas onde as
frutas estão sendo vendidas misturadas com cigarros. Se abro a geladeira
encontro a melancia envolvida por um plástico, isto me preocupa,
principalmente, quando certa vez, confundi uma árvore com um poste!
Conta
a artista que se tratava de uma palmeira com seu caule na parte inferior
envolvido por uma camada de cimento. Quando pensa nos animais que vê aqui são
os bois que passam esquartejados nos caminhões frigoríficos e as galinhas
mortas. Mas ela não esmorece e continuará pintando a natureza talvez até como
uma forma de protesto, de respeito e também pra compensar esta destruição feita
pelo homem, este destruidor e predador.
Seu
nome soa bem semelhante ao de Jussara. Só que esta é uma palmeira da subfamília
das ceroxilineas (Euterpe Edulis) que está disseminada em todo o litoral baiano
e em São Paulo. Desta
palmeira se tira o palmito doce, que é um alimento muito procurado nas mesas
mais grã-finas. E a nossa Jussara é uma artista que através de sua arte defende
a necessidade de conservar a natureza, e também a Jussara que derrubam para
retirar um simples palmito!
ESCULTURAS
DO NIGERIANO LAMIDI FAKEYE
Ayan, Deus da Música |
Ele
é um dos mais bem conceituados artistas da Nigéria, integra a tradição yorubá
que considera o escultor como o principal representante de valores e crenças
sociais. São os escultores que materializam os deuses através de sua criação.
São eles que criam nas sociedades mais primitivas as figuras dos deuses que
passam a ser adorados como se tivessem verdadeiramente aquelas imagens.
Transportam os demais membros dessas sociedades do estado de fantasias para o
de contemplação através as figuras escultóricas. As forças e as expressões se
transformam através dos anos, dos séculos, como definitivas e verdadeiras.
Olhando
as esculturas da Fakeye me transportei para a África, onde mergulhei nas tradições
daquelas tribos que cultuam os seus deuses alheios aos efeitos nocivos das
civilizações industrializadas.
Ayan, de outro ângulo |
Durante
a década de 60 Lamidi se dedicou a trabalhos particulares no seu estúdio em
ibadan, resultando em quatro pilastras para a varanda do Instituto de Estudos
Africanos da Universidade de ibadan e portas monumentais para o Hospital
Universitário, o escritório do primeiro ministro, a velha região oeste e o
Centro Cultural Americano, todos em Ibadan.
Seus
trabalhos de menor porte foram adquiridos por colecionadores particulares e
universidades americanas.Dedicando
a arte e culturas tradicionais africanas Lamidi tem contato também com a arte
contemporânea, inclusive recebeu uma bolsa de estudo do governo francês, para a
Universidade de Besancon e para a Escola de Belas Artes, de Paris onde
permaneceu dois anos e mais seis meses na Inglaterra como convidado do governo
britânico, onde fez várias conferências e exposições em universidades. Mais
recentemente, em 1982, ele ofereceu um “Workshop” de três semanas no Centro de
Estudos Afro Orientais, em Salvador.
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