JORNAL A TARDE, SALVADOR, 23 DE SETEMBRO DE 1985.
EUNICE OLIVEIRA ESTÁ RETRATANDO AS CAPELAS
Estava
viajando quando foi realizada a exposição da artista Eunice Oliveira, no foyer
do Teatro Castro Alves. Ela reuniu dezenas de trabalhos enfocando principalmente
a religiosidade dos baianos através dos conventos, das igrejas, capelas e
principalmente das imagens de santos que tão bem ele cultua. Na paisagem da
velha Bahia sempre desponta uma torre encimada por uma cruz e assim Eunice vai
construindo o seu mundo pictórico, com sua alegria de viver ímpar. E irradia
felicidade e disposição em realizar, em criar.
Um trabalho da artista Eunice Oliveira |
Ela
tem uma coleção de pequenas capelas que é primorosa.
Toda
aquela ambientação das capelinhas, muitas vezes esquecidas no pé de um morro,
na curva de uma rua antiga. Estas capelinhas surgem com muito amor, com a
dedicação dos fiéis que vão juntando os tostões através dos anos até
construí-las. Viveram os tempos áureos com seus bancos repletos de gente
rezando. Os tempos mudaram, os fiéis sumiram e elas quase sempre vivem hoje
fechadas só abrindo em dias especiais. Toda esta mística que envolve as
capelinhas parece que foi captada por Eunice Oliveira, que continua pesquisando
e descobrindo novas capelas pelo interior do estado e nas ilhas do Recôncavo.
Eunice Oliveira |
Eunice
Oliveira é uma das boas coisas que está acontecendo em termos de produção na
arte baiana e acredito mesmo que ela tem seu lugar garantido entre os artistas
de qualidade. É preciso trabalhar muito e ela está disposta a isto, e tem
talento.
HANS PETER NA PRIMEIRA INDIVIDUAL DE SUA ARTE
Descendente
de alemão, há cinco anos lidando profissionalmente com arte, Hans Peter faz sua
primeira exposição individual na Galeria do Hotel Merídien, de 27 de dezembro a
07 de janeiro. Ele começou fazendo teatro, pintando painéis e quadros sem
definição própria até que descobriu sua inclinação pela pintura, resolvendo se
dedicar inteiramente.
A vivacidade das figuras do artista Hans Peter |
Ainda
é difícil se conjugar arte com educação popular aqui na Bahia, segundo Hans
Peter, porque o mercado é fechado. Os órgãos públicos não dão ainda o respaldo
necessário para que o artista erudito também passe a ser popularizado e o mesmo
acontece inversamente, ou seja, para conseguir mercado os artistas, notadamente
iniciantes, têm que lutar sozinhos. A empresa privada começa a entrar no
mercado, mas só agora, e assim mesmo nos chamamos grandes centros como São
Paulo e Rio de Janeiro.
Hans
Peter define seus quadros e painéis como um sopro aerográfico que transporta o
apreciador ao mundo da ficção científica, semelhante aos filmes de Hollywood ou
ao ambiente retratado na literatura de Issac Asimov ou mesmo Ray Bradbury. Este
espaço imaginado pelo artista é construído por tinta atomizada espargida em uma superfície
desejada, onde passam habitar figuras, antes comuns ao cotidiano das revistas e
jornais, agora recriadas em outra dimensão de espaço, tempo e forma. Segundo o
critico de arte Umbelino Brasil, a viagem proporcionada a quem olha os painéis
de universo aerográfico é de múltipla dimensão e atiça a sensibilidade do
observador em diversos sentidos: Na dualidade das figuras projetadas, no
erotismo que fica espelhado em nossa retina e na sensualidade dos objetos impregnados
de uma plástica impressionante.
AS
CERÂMICAS DE CÉLIA PRATA
Através
dos séculos o homem sempre utilizou o barro para guardar e depois cozinhar seus
alimentos. Faz adornos para se embelezar e imagens para adorar.Entre
o adorno e a adoração transpassam sentimentos outros que se encontram e se
conflitam. A morte também está presente nesta relação porque os mortos eram
enterrados em grandes urnas de barro. Portanto, é uma relação muito forte e
eterna. Desta forma, a cerâmica sempre é bem vista, bem recebida,
principalmente quando é feita com criatividade. É o caso das peças que a
professora e ceramista Célia Prata está expondo no salão de festas do edifício
Quinta do Candeal onde reside. Célia é uma doublé de educadora e artista
plástica e uma entusiasta dos movimentos artísticos estudantis. Sempre está
inventando maneiras dos jovens se manifestarem. É quase uma necessidade
intrínseca a esta artista que vibra com a sensibilidade da juventude. Suas
formas são sensuais e inéditas. Uma das peças é um grande carneiro com belos
chifres enrolados e com um corpo sinuoso e sensual. Noutra é uma figura de
baiana que parece estar chamando o espectador para dançar, outra é uma máscara
com cara de mulher. Enfim, uma variedade que enche dos olhos e transborda talento.
LIANE
KATSUKI DARÁ CURSO DE VITRAIS
A
escultora Liane Katsuki está de novo na terra, depois de alguns meses na Europa,
especialmente na Holanda.
Lá
ela realizou um trabalho com uma performance Intitulada “Nós, Os Nós”, com
texto e participação de 13 dançarinos, jóias, ambiente e escultura. Além de
quatro exposições na Holanda, duas na Alemanha e duas na Bélgica. Mas, foi a
performance que fechou com chave de ouro sua permanência na Holanda, no teatro
de Emmen.
“Desde
o nascer estamos envoltos em
nós./Do início, nós no útero da grande mãe-natureza/ Pelos
mesmos nós no cordão umbilical materno/ Nós passamos dos intrincados nós do
existir./ No mundo postos, feitos estão os nós./ No emaranhado dos nós impostos
de cada dia/ Nós tracemos o caminho./ Atando ou desatando os nós, como a nós
melhor convir/ Não é conformismo, não é fatalidade, não é prisão./ Não será
liberdade, se nós não soubermos tornar os nós em nossas mãos”...Agora,
é soltar a imaginação e deixar que o eu vire nós e que juntos cultuemos a beleza
que existe na criação e na pessoa humana. Antes o nós.
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