A CIDADE DA BAHIA DE MÁRIO CRAVO
NETO
Na capa do álbum uma foto onde aparecem uma mulata e um homem negro |
Durante
a noite sopra um vento gostoso. É hora dos cabarés abrirem suas portas! É hora
de movimento no Maciel, na Ladeira da Praça e nas boates mais sofisticadas e
agora, mais recentemente, nas danceterias que abrem suas portas para receberem
os últimos boêmios, os marinheiros que acabam de desembarcar e os jovens ávidos
em busca de emoções.
Esta
Cidade do Salvador, ou melhor, esta Cidade da Bahia recebe a todos com carinho
e do seu ventre nascem pretos, brancos amarelos e caboclos que são acalentados
no mesmo espaço.
Uma
convivência fraterna, embora a pobreza esteja espalhada por todos os cantos.
Aqui, não só as pessoas se misturam numa miscigenação invejada em todo o mundo.
Também as religiões estão mescladas e Deus é Olorum, Senhor do Bonfim é Oxalá,
santa Barbara é Iansã e assim por diante.
Mesmo
sendo uma cidade pobre e sofrida, sua gente é hospitaleira e acima de tudo
festiva.Dança
todos os dias e a partir do dia 29 de novembro a cidade ganha um aspecto de
festa de São Nicodemos ou do Cachimbo, com os trabalhadores do Porto
homenageando seu padroeiro e só vai terminar na Quarta-Feira de Cinzas. Tem
festa de largo em Itapuã, Pituba, Rio Vermelho, Pilar, Boa Viagem, Lapinha,
Ribeira e no Carnaval é a explosão de alegria!
É
nesta cidade da Bahia, mágica e misteriosa, pobre e festiva, alegre e sofrida
que o fotógrafo Mário Cravo Neto vive e enaltece com a sua sensibilidade
aguçada os detalhes que enriquecem o seu trabalho. Seu novo álbum de fotografia
apresenta inicialmente algumas fotos onde o mar reina em toda a sua plenitude.
A ligação desta cidade com o mar, desde os tempos ido dos descobridores
demonstra sua vocação de marinheiro que tão bem foi destacada por Pancetti ao
pintar como ninguém as nossas praias.
Cansado de tanta alegria |
Uma
alegria difícil de ser entendida e o visitante só encontra explicação quando
conversa com sua gente que abre os dentes ao primeiro contato. Um riso largo,
deixando muitas vezes aparecer as marcas de sua pobreza, por total falta de
dentes. Esta gente que não acredita muito na promessa dos políticos, que está
alheia ao processo sucessório continua á beira da praia comendo caranguejos,
tomando sua cervejinha gelada e banhando seus corpos brancos, morenos, mulatos
e negros nas águas deste mar azul.
A expressão da dor |
Noutro trecho afirma Jorge:
“Essa
é a minha cidade, e em todas as muitas cidades que andei eu a revi num detalhe
de beleza.Nenhuma
assim, tão densa e oleosa. Nenhuma assim para viver.Nela
quero morrer, quando chegar o dia. Para sentir a brisa que vem do mar, ouvi á
noite os atabaques e as canções dos marinheiros. A Cidade da Bahia, plantada
sobre a montanha, penetrada no mar”.
O
lançamento do álbum A Cidade da Bahia, de Mário Cravo neto, será no próximo dia
10, ás 18h30min, no Desenbanco. Também haverá o lançamento em São Paulo , numa livraria
da capital paulista.
A
UNIÃO ENRIQUECE O FOTOBAHIA
Agora,
Fotobahia não significa somente uma exposição anual, que vem se realizando
ininterruptamente, desde 1978. Daqui está nascendo uma proposta inédita e
única, em todo o País. O Grupo de Fotógrafos da Bahia é o Fotobahia que se
transforma em uma ação permanente, profissional, cultural, experimental e
humana, onde a fotografia é o princípio de tudo. O homem é o objetivo maior e
todo o trabalho começa na Casa Fotoviva, em Ubaranas de Amaralina, onde a idéia
nova do Fotobahia está frutificando agora, todos os dias do ano.
Projetando
um trabalho de ação política, social e, principalmente, de educação, o
Fotobahia realiza, além da exposição e seminário em novembro, um grande número
de atividades permanentes na Casa Fotovia, como as oficinas de aprimoramento
técnico e profissional, reuniões de debate, experiências no laboratório,
estudos e pesquisas, além de uma ação em defesa do fotógrafo, especialmente no
que diz respeito á regulamentação profissional, direito autoral e outros. E
tudo é aberto para quem quiser participar, seja amador ou profissional.
O rádio de pilha e a máquina fotográfica, irresistíveis. Foto de Carlos Santana |
Então,
está acabando, entre os fotógrafos da Bahia, o tempo das estrelas. “Nas
oficinas, fazendo um trabalho conjunto dentro do laboratório, aprimorando
técnicas, discutindo outras novas, descobrimos que a união brilhava mais que as
estrelas individualmente” observa Adenor Gondim.
Foi
a partir dessa união que o Grupo de Fotógrafos da Bahia, Fotobahia conseguiu
gerar o fortalecimento do projeto, tornando a Casa Fotovia um espaço aberto
para quem quiser chegar e sair, a qualquer tempo
“Antes”,
como lembra Manu, “não havia consciência entre nós de que podíamos fazer isso.
Nos reunimos aqui, trabalhamos, discutimos, estamos aqui todos os dias e
descobrimos que o que era impossível antes agora é real. Fazemos a participação
com liberdade”.
Rino
Marconi explica que se desenvolve uma relação entre a ação profissional e o
papel de cada um como homem, buscando-se sempre estabelecer, através da
discussão e de análise, a igualdade humana e profissional. “Com a exposição,
tínhamos apenas a nossa reafirmação como artista. Aqui, podemos transformar o
processo de educação, desenvolvendo-o através do trabalho. Com uma relação mais
interior, podemos aproximar mais a fotografia do público, que receberá um
produto mais útil, mais limpo”.
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