JORNAL A TARDE, SALVADOR, 01 DE JUNHO DE 1985.
GERAÇÃO 70 - 1.ª MOSTRA
Como
vinha prometendo, que logo que tivesse a definição dos nomes que participarão
desta primeira mostra da Geração 70, eu os traria a público, chegou o dia. São
eles: Murilo, Zivé Giudice, Justino Marino, Fred Schaeppi, Guache, Fiori, Astor
Lima, Chico Diabo, Bel Borba e Maso.
Aguardo
apenas a confirmação esta semana dos nomes que vão compor a performance para
que possa também divulgá-los. As fotos do catálogo foram feitas por Arestides Baptista
e o programador visual é Washigton Falcão.
Tudo
está caminhando dentro do que nos propomos a realizar e espero que os artistas
convidados, realmente, façam jus com a qualidade de seus trabalhos e esta
escolha que representa uma seleção e uma saída na frente.
Também
apresento uma novidade no título deste artigo com o acréscimo da expressão 1ª
mostra. Sim, esta é a primeira de uma série que deve acontecer por aí,
enfocando outros aspectos da Geração 70, que tem uma cabeça inesgotável de
questionamentos e nomes a serem guinados, a serem expostos com muita
qualificação. É verdade também que, mesmo tendo iniciado a trabalhar por este
período, existem pessoas desqualificadas e sem talento que continuam insistindo
sem muitas chances. Isto via de regra acontece em todas as profissões e
geralmente essas pessoas continuam insistindo porque são vítimas dos falsos
elogios.
Por
falar em elogio, sempre tenho dito por aí que o papel da crítica é muito
discutido e muito questionado. Quando um critico, por exemplo, tece comentários
satisfatórios acerca da obra de um artista, para valorizar o elogio ou o
reconhecimento que recebeu, este artista enaltece as qualidades do critico.
Quando, o contrário, o critico tece considerações e faz algumas restrições, o
artista passa a tentar diminuir as qualificações do critico. Isto de certa
forma é compreensível porque todos somos vaidosos e gostamos do elogio, mesmo
aqueles que insistentemente negam que não gostam de serem elogiados.
Tive
com a presença deste grupo de artistas uma surpresa agradável. Depois das
marchas e contramarchas o encontro entre eles me surpreendeu. Porque, se havia
algumas restrições entre eles sobre o trabalho de um ou de outro no momento que
os trabalhos foram apresentados para serem fotografados, as dúvidas e
restrições caíram por terra.
Ouvi
expressões e palavras de satisfação entre eles. O gelo quebrou-se. Esta mostra
servirá também como uma tentativa de aproximação entre alguns artistas que
estavam eqüidistantes.
Quero
esclarecer que não me proponho a liderar coisa alguma. Gosto muito da
espontaneidade do relacionamento e que, também, ninguém quer dirigir ninguém.
Embora entenda que algumas pessoas ainda precisam de amadurecer, porque estão
mordidas pela mosca azul da auto-suficiência e da independência ou da liberdade
absoluta. Posições evidentemente utópicas, passageiras, as quais serão revistas
e reavaliadas com o decorrer do tempo.
Mas
todo este questionamento faz parte do universo humano. Especialmente quando
estão agrupadas pessoas de sensibilidades aguçadas e que carregam dentro de si
uma quantidade de informações variadas. Portanto, reagem diferentemente a cada
estímulo, e de quando em vez algumas reações destoam.
Pretendo
mais próximo da exposição tecer algumas opiniões sobre o trabalho de cada artista.
Um pequeno depoimento de como vejo a obra dentro do contexto da arte baiana.
Não faço agora para não precipitar as coisas, porque a exposição deverá ser
aberta ainda no próximo dia 25 de julho.
Recebi
alguns telefonemas de artistas, solicitando que sugerisse a organização de uma
exposição de primitivos. Que fossem escolhidos uns 10 ou mais primitivos
baianos e que reunidos num catálogo exprimissem a grandiosidade desta
manifestação. Depois de João Alves realmente as galerias tem dado pouco espaço
aos primitivos. Fica aí a sugestão para a Fundação Cultural expor, através de
um de seus museus, os primitivos baianos evidente fazendo uma pré-seleção
porque tem muita coisa ruim nesta área.
UMA PROGRAMAÇÃO QUE PROMETE
Entre
as várias correspondências que tenho recebido acerca da exposição Geração 70 - a
1ª Mostra me chamou a atenção duas delas. A primeira, do Coordenador dos
Museus, Heitor Reis, expressa com a fidalguia que lhe é peculiar. Ele expressa
a confiança na realização da exposição e esclarece aos que tinham dúvidas de
que “a intenção da Fundação Cultural quando lhe confiou a curadoria era a
escolha de 10 artistas emergentes para a realização de uma exposição coletiva”.
E ressalva quanto à afirmação de alguns mais precipitados de que “o órgão
estaria usando o colunista para arregimentar artistas que normalmente estariam
numa postura crítica em relação à política cultural”, não procede porque nunca
foi o posicionamento da Fundação Cultural e você tem razão quando diz que
perderam tempo os que fizeram esta afirmação.
Diz
ainda que a “posição da Fundação Cultural coincide com a sua afirmação de não
estar preocupada em agradar nenhum segmento e não toma conhecimento e nem apóia
nenhuma “panelinha”. E continua dizendo, “mesmo porque tem sido uma constante expressa
por vários meios de comunicação a posição da Dr.ª Olívia Gomes Barradas,
presidenta da Fundação Cultural, contrária a qualquer espécie de paternalismos.
Aproveitando a oportunidade temos a divulgar que a Fundação Cultural produz os
seus projetos e está aberta a analisar qualquer projeto cultural apresentado
por artista ou grupos de artistas.
Portanto a disposição do órgão é
a organização de exposições contínuas e de caráter cultural ou didático,
ocupando os espaços geridos pela Fundação Cultura, tendo preferência- segundo
me informa Heitor Reis- “mostras coletivas e individuais de artista emergentes
da Bahia.
Heitor Reis e o artista Calasans Neto |
Porém, ao lado destas
considerações e informações valiosas provindas de Heitor Reis, recebi uma carta
com texto bem mais curto e não menos valiosa de Calasans Neto. Diz Calá que a
Geração 70 sob sua batuta fico tranqüilo. Espero que dêem a você os meios
‘materiais’ para levar o barco. Critério, isto você tem de sobra. Do seu amigo,
Calasans Neto..
São estas manifestações que nos
levam a tentar realizar as coisas. Não que o colunista só goste de apoio e
elogio.Nada disto! Mas, como a
realização é sempre espinhosa, principalmente quando existe seleção, então é
preciso também que a gente cultive as manifestações de apoio para
contrabalançá-las com as de críticas e àquelas veladas, que, às vezes, a gente
nem toma conhecimento, mas que existem e são fortes.
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