JORNAL A TARDE, SALVADOR, 02 DE
DEZEMBRO DE 1985.
ALDEMIR MARTINS VOLTA À BAHIA OITO ANOS DEPOIS
Aldemir e Nelson Pereira,encontro de amigos |
Agora
ele retorna para expor aqui, oito anos depois, trazendo debaixo do braço suas
figuras inesquecíveis e inconfundíveis: o cangaceiro, o galo, o gato e para
amenizar a vida, mulheres bonitas nuas. “Trouxe um apanhado daquilo que faço no
cotidiano”, disse-me ao lado do também talentoso Nelson Pereira, que neste
momento está envolvido com as filmagens de Jubaibá, baseado no romance de Jorge
Amado.
Aldemir
Martins falando sobre exposições revelou que não tem mais saco para
organizá-las.“Tudo
é chato. As pessoas que tenho que receber, a roupa que tenho que vestir, o dono
da galeria.Uns
estão preocupados em beber, outros em ser fotografados ao lado do artista, e
alguns não olham nem os quadros na parede. O vernissage é uma coisa que me
deixa entediado. Mas com relação a esta exposição tem uma vantagem porque revi
meus amigos, estes pintores baianos que tanto engrandecem o nome desta terra”.
O gato verde com seu porte à espera de uma presa. |
Falando
do mercado de arte Aldemir disse que nos últimos anos vem melhorando
substancialmente. Falou das dificuldades de alguns exemplificando. “O mercado
está bom para quem tem um Mercedes-Benz para vender e ruim para quem tem um
Volks velho”. Ele se refere aos artistas consagrados que têm mercado garantido
e aos iniciantes ou mesmo artistas de menor expressão ou qualificação que
sempre estão reclamando do mercado porque não conseguem vender sua produção.
Continua
argumentando dizendo que “o dono de um Mercedes sempre tem condições de comprar
outro, e o do Volks velho mal consegue mantê-lo.”Adianta
Aldemir Martins, hoje com 63 anos de idade e 41 de arte que é preciso que o
artista além de saber trabalhar tenha conhecimento do metier. Ninguém consegue
ser gênio na pintura aos 14 anos, no entanto consegue ser na música. Veja você
que são sete notas musicais, e, também, são sete cores primárias. “Mas, a gente
geralmente só consegue algum reconhecimento nas artes plásticas depois de
alguns anos de muita luta”.
Além
de bom papo Aldemir Martins já demonstrou que também é bom de política. Foi
presidente da Associação dos Artistas plásticos do estado de São Paulo e
confessa que conseguiu apaziguar as correntes “muito divergentes” naquele
estado. Porém, resolveu sair depois de reeleito para que novas lideranças dessem
continuidade ao seu trabalho á frente da entidade.
Disse
Aldemir que a discórdia entre a classe é tão grande que alguns ficam até
zangados porque você conseguiu uma tinta de melhor qualidade, um azul mais
bonito. Enfim, qualquer coisa serve de pretexto. E, nesta disputa, a gente tem
que mostrar competência e vencer, evidente, preservando a sua dignidade e os
direitos dos outros.”
Confessa
ser amigos dos jovens artistas e também dos velhos. Além da artista, Aldemir
foi durante anos repórter e mantinha uma coluna sobre pugilismo. Chegou até a
ser um dos diretores da Associação Paulista de Pugilismo.
Quando
indagado se não era um contraste que um artista sensível gostasse de boxe, um
esporte tido como violento, ele respondeu: o boxe não é violento. O esporte é violento para quem não sabe lutar.Tem
pugilista que é campeão e nunca foi nocauteado. Outros não são bons boxeadores
e levam pancada.
“Mas,
imediatamente, ele retoma o seu tema preferido e a razão da sua existência que
é a arte. Fala dos tempos em que freqüentava as redações onde foi ilustrador do
jornal Estado de São Paulo, de A Noite, dentre outras, e da gratificação que
sentiu ao ilustrar a novela Gabriela, que considera a mais bonita e grandiosa
de todas as mostradas pela televisão brasileira. Ele está expondo na Escritório
de Arte da Bahia.
CARLOS
BASTOS FESTEJA 60 ANOS COM EXPOSIÇÃO
O olhar vivo de um jovem sessentão que conhece o seu ofício. |
Carlos
continua jovem e irreverente, sempre atual e em contato com os jovens. É um dos
poucos artistas baianos no seu patamar que ouve os jovens artistas que é capaz
de conversar sobre o trabalho e dar alguma dica. Disposição também não lhes
falta e poucos dias antes da exposição estava trabalhando como uma desesperado
para concluir alguns quadros dos que estão agora expostos.
“...A
exposição de Carlos Bastos possui uma significação especial para nós, baianos.
É que, praticamente sem precedentes locais, aparece em nosso meio um artista
com a visão da arte moderna, e criador no sentido rigoroso da palavra;
produzindo com o desembaraço de um verdadeiro artista”. Estas palavras de José
Valladares, escritas há alguns anos, servem para a gente sentir como Carlos
Bastos vem no decorrer da sua trajetória pictórica procurando inovar.
Numa
entrevista recente ele disse que nunca teve intenção de romper, e que seu
processo de criação é inconsciente e o que gosta mesmo é de pintar. Ninguém
duvida que Carlos Bastos gosta de pintar. Basta a gente acompanhar a sua
produção para constatar que realmente ele gosta de pintar.
Porém,
quando passamos a estudar ou olhar melhor a sua obra não concordamos que ele
apenas goste de pintar. Isto é modéstia de Carlos, porque o verdadeiro artista
por si é um inovador, um criador que rompe fronteira. O processo criativo
desabrocha dentro de um universo de informações que borbulha, que explode e
sempre é inovador.
As flores do jardim imaginário de Carlos Bastos |
A
figura humana ganha um clima especial na obra de Carlos Bastos. Ele brinca com
as freiras, com as negras e com jovens colocando-os num clima quase surreal
onde as formas e as cores trazem a sua marca inconfundível. Tão presente que tem
sido irritado por muitos jovens artistas que ainda não acertaram o passo ou não
conseguiram uma personalidade pictórica e ficam presos ás influências de Carlos
Bastos. Nesta sua exposição fomos mais uma vez
brindados com o seu talento, comprovado, inclusive, que nenhuma temática
é por demais gasta. O que importa é a forma de abordá-la. Vejamos a flores que
o artista está expondo como são belas, agradáveis e principalmente como diferem
do tradicional. A simplicidade das formas e a composição de suas flores é um
dos momentos fortes de sua arte. Estou, portanto, gratificado com esta
exposição de Carlos Bastos que é uma prova da sua vitalidade, e que, os 60 anos
sejam bem vividos, como ele sempre viveu, e que esses 22 quadros se
multipliquem em centenas de outros.
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