JORNAL A TARDE SALVADOR, 08 DE
ABRIL DE 1985
NOSSA ARTE POPULAR É VISTA PELOS
ITALIANOS
O sergipano Antônio Maia tem sua arte calcada nos ex-votos |
Pela
primeira vez, os italianos terão oportunidade de apreciar estes objetos da arte
popular brasileira, pinturas e esculturas dos séculos XVIII, XIX e XX e que
hoje fazem parte de sua arte.
Perdidos até 1938, foram os estudiosos Luís Saia e Mário de Andrade que faziam uma
viagem pelo Nordeste para investigar as raízes da música popular, que os
“descobriram”, dando início a uma primeira análise de crédito artístico sobre
os ex-votos. Uma doença, um acidente, uma operação cirúrgica eram motivos
suficientes para pedir, a Deus ou aos Santos, a graça do “milagre”. Em troca,
os fiéis encomendavam a pintores ou escultores populares uma mão, um pé, uma
cabeça ou coração que representasse graficamente a graça recebida.
Os
objetivos eram geralmente em madeira principalmente os que provinham do estado
de Minas Gerais, encontrando-se ainda os ex-votos em prata da Bahia, em cera ou
em barro, embora este último material com o tempo tenha sido deixado de lado
por causa de sua fragilidade.
As
pinturas, aquarelas ou óleo sobre madeira ou sobre lâminas de metal, também
registradas na arte popular portuguesa, foram a princípio manifestações quase
que exclusivas de famílias de maior nível econômico-social. A medida, em que o
ex-voto se divulgou e generalizou-se, abrangendo outros setores sociais, a
plástica foi sendo abandonada pelos mais abastados.
No
Brasil, os ex-votos ainda são encontrados nas igrejas, em recintos dedicados
para recebê-los ou “sala dos milagres”, mas também em capelinhas à margem de
estradas.
Segundo
a tradição, um ex-voto ajuda para que a alma de algum falecido, que continua “rondando”
o lugar, chegue, mais facilmente ao “Senhor Bom Jesus”. Muitas vezes, um
católico, manda esculpir sua própria cabeça e a coloca dentro da igreja para
que esta, a maneira de um “dublê”, assista as funções religiosas em seu lugar.
O
fenômeno dos ex-votos, divulgado em vários países da América-Latina, tem raízes
nas antigas religiões pagãs. Já na antigüidade, os guerreiros ofereciam suas
armas aos deuses, os atletas suas coroas e as mulheres seus cabelos.
Nas
mais diversas sociedades e culturas, os ex-votos tiveram expressões diferentes,
desde a imolação de animais a outras manifestações incruentas, como a entrega
de madeira perfumada, flores, os primeiros frutos.
Apesar
de ainda constituírem uma tradição nas regiões rurais, o avanço da tecnologia
está destruindo a arte popular.Atualmente,
os ex-votos estão sendo substituídos por fotografias ou artigos de plástico.
A
maioria das obras apresentada na exposição de Roma, que terminará dia 21 de
abril, pertencem ao Museu do Folclore e ao Museu de Belas Artes do Rio de
Janeiro e coleções particulares. Foram, reunidas por Jacquelini Montagu, uma
divulgadora da arte latino-americana a nível internacional.
Acompanham
a mostra 15 esculturas de Anderson Medeiros, que recebeu vários prêmios no
Brasil e no exterior, inspiradas e elaboradas com ex-votos originais. Uma
delas, “O repórter”, que reúne 50 pequenos ex-votos, foi premiada pela Bienal
de São Paulo em 1974. Juntamente com as esculturas, a exposição compreende oito
acrílicos em tela e sete serigrafias de Antônio Maia, também inspiradas nos
ex-votos.
A
mostra, que será depois apresentada em outras cidades européias e
norte-americanas, e completada com a projeção de seus filmes “Padre Cícero”,
“Visão de Juazeiro”, “Jubileu”, “Viva Cariri”, “Graças a Deus”, e “Os Messias
dos Sertões”, com referência ao significado popular desses ex-votos, que foram,
que tendem a desaparecer.
TAPEÇARIAS
DE ANNETTE KAPLAN
Annette
Karplan, artista norte-americana que já realizou exposições em vários países, e
com trabalhos incorporados a importantes coleções nos Estados Unidos;
Inglaterra; Itália e Brasil, que estará expondo seus trabalhos em tapeçarias no
Museu de Arte da Bahia, Av. Sete de Setembro 2340, Palácio da Vitória, a partir
do dia 10 de abril, às 21 horas, quando se dará a inauguração, que será
precedida de uma palestra da própria artista sobre o seu trabalho, às 20 horas,
no auditório do Museu de Arte da Bahia.
Annette
Kaplan há 20 anos se dedica à tapeçaria e esta exposição abrange um decênio de
sua obra. –Elena Canavier, que assina o catálogo de apresentação, disse que
“Annette Kaplan faz parte deste grupo de artistas talentosos e disciplinados
que se inspiraram no processamento de um determinado material para criarem
obras únicas no seu gênero”.
A
exposição que é promovida pela Fundação Cultural do Estado da Bahia- MAB,
ACBEU, e USIS, estará aberta até o dia 24 de abril, de terça à domingo das 14
ás 18 horas.
Annette
Kaplan se ocupa de tapeçaria há 20 anos, tendo começado a trabalhar em
tecelagem em 1965, na Califórnia. Embora em grande parte autodidata, Annette
Kaplan foi profundamente influenciada por Trude Guermonprez na sua colocação
perante a arte, sua escolha de tapeçaria artística como meio de expressão e o
emprego de desenho minimalista nas suas obras. Trude Guermonprez foi membro do
grupo Bauhaus tanto na Alemanha como em Chicago, e suas obras refletem o nível
altamente profissional deste grupo, as suas conhecidas colocações quanto ao
“design” e aos valores funcionalistas.
Annette
Kaplan começa uma obra desenhando um cartão com toda a tapeçaria em papel
“graf” ou fazendo um desenho em tamanho natural, colorido.
Os
desenhos em papel “Graf” são para as obras feitas pelo sistema Jacquard ou
Drawloon que produzem obras tecidas duplamente, pelas quais Annette Kaplan é
mais conhecida.
Cada
linha vertical representa um fio da trama que é levantado por meio de um cartão
perfurado (Jacquard) ou de uma lançadeira (Drawloon). Os seus dois teares foram
montados segundo os teares do século 19. O desenho completo é programado antes
da execução, o que faz desses teares autênticos precursores dos computadores da
era moderna.
Funcionado
com base nos mesmos princípios que os computadores, o desenho tem componentes
verticais e horizontais que são trabalhados linha por linha para criar uma
imagem.
Os
trabalhos mais antigos de Annette Kaplan foram executados num tear Jacquard.
Ela estava muito comprometida naquele tempo com motivos geométricos, desenhos
repetitivos e imagens refletidas. Quando ela mudou para o sistema Drawloon,
conseguiu maior flexibilidade e formas curvilíneas, assimétricas começaram a
aparecer no seu trabalho. As tapeçarias feitas por esses dois sistemas têm uma
tecelagem dupla e uma imagem inversa pode vista do outro lado da tapeçaria.
Annette Karplan pensa que estas imagens conversas/inversas são os símbolos
artísticos do meio ambiente físico e psíquico do homem. Atualmente, ela está
desenhando tapeçarias no estilo francês chamado Aubusson. Estas obras recentes
são mais representativas e mais coloridas do que os trabalhos anteriores.
Annette
Kaplan é uma colorista apreciada, e as cores sutis que ela emprega dão uma
dimensão nova e estimulante á sua obra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário