JORNAL A TARDE SALVADOR, 03 DE
SETEMBRO DE 1984
O ÁLBUM DE VIAGEM DO PINTOR
JUAREZ MACHADO
O humorista e artista plástico Juarez Machado mostrou o seu Álbum de Viagem, no Bahia Othon Palace Hotel. Para a exposição, foram selecionadas 60 fotos, feitas a partir de 78, quando, em Londres, por brincadeira, Juarez pegou uma câmara “Xereta” e começou a fazer fotos, que, de alguma forma, mantém uma relação com as suas pinturas.
A
mostra foi apresentada inicialmente no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte.
Depois de Salvador, onde permaneceu até ontem, seguirá para
Recife, Fortaleza e outras capitais. A exposição consta de fotografias
coloridas e em preto e branco, sem truques, com flagrantes de cenas e objetos
do cotidiano, ao lado de outras de quadros seus, além de pequenos textos, que
melhor explicam a relação entre a foto e a pintura.
Esta
é a primeira vez que Juarez Machado expõe fotografias. Mas faz questão de
explicar: Não sou um fotógrafo e estas não são fotos feitas a partir do ponto
de vista de um desses profissionais. Sou um artista plástico que, em
determinado momento de seu trabalho, resolve utilizar uma câmara para registrar
emoções, locais. Olho através da lente com os olhos de um pintor. A minha
cultura de pintor está presente em todo este meu trabalho.
Basta
ver as cores pastéis, suaves, como aquelas saídas de minha palheta, empregadas
em quase todas as fotos.
Em
78, Juarez estava em Paris com o fotógrafo e artista plástico Carlos Eduardo
Zimerman fotografando o Sena com uma “Xereta 1” . Em determinado momento, conta ele,
“Zimerman atirou minha máquina ao rio e comprou um equipamento decente que está
comigo até hoje. “Desde então, a cada ano que passa, Juarez Machado acrescenta
mais fotografias a seu Álbum de Viagem.
“Fotografar
para mim é recortar da realidade uma cena que eu imaginaria-diz Juarez,
tentando definir esta sua nova exposição. Viajar talvez seja meu maior prazer.
Cada novo endereço é um universo de estímulo que se soma à minha bagagem de
artista. Na pintura, tento registrar minhas fantasias para que se tornem reais.
Como pintor, mostro algumas fotos de meu álbum de viagem.
Exercícios
de isolar com o olhar, enquadrar um espaço que me emocionou.
“UM
CANTO À VIDA"
Uma
viagem por outros caminhos para enriquecer o universo de sua atividade é como
Juarez Machado define o trabalho com fotos, enquanto a mostra, para ele, é “um
canto à vida, á alegria de viver, um jeito de colorir isto que está aí”. Agora,
ele expões fotos, mas o lado de pintor não foi esquecido. “Trabalho das 7 às 22
horas, como um operário, muito disciplinado”, diz o artista, que faz, também,
uma declaração surpreendente: “Não acredito na existência da inspiração”.
Afirma ainda ser uma pessoa “normalíssima”, observando que “não digo nada de
novo, apenas confirmo”.
Foi
em 1965, quando passou a residir no Rio de Janeiro, que Juarez Machado
enveredou pelo caminho do humorismo. Na sua opinião, o humor cresceu nos
últimos tempos, inclusive no teatro, porque os políticos deram maiores motivos
para serem explorados. O humorista repete o que o político diz, mas de uma
forma engraçada, explicou. E por falar em política, confessou preferir Tancredo
Neves para a Presidência da República, que representa “uma esperança para todos
os artistas do País”.
SENSIBILIDADE
Há
sete anos que tinha estado em
Salvador. Mas agora, mesmo antes de dar uma volta pela
capital, declarou: “Duvido que houve cuidado com a cidade”. Por isso fez
questão de percorrê-la para ver como Salvador se encontra, confirmando assim a
sua preocupação com a preservação da melhoria cultural. Há alguns anos, por
exemplo, comprou uma antiga casa em Joinville (Santa Catarina), onde nasceu,
para evitar que o imóvel fosse destruído.
É
com tristeza, por exemplo, que Juarez vê hoje a situação de Santa Catarina, que
por dois anos seguidos se viu vítima das cheias, trazendo sérios transtornos
materiais e humanos. “Santa Catarina é a menina dos meus olhos”, comenta,
observando que, embora faça muitas viagens ao exterior, “acabo ficando mais
patriota, quando mais longe vou”. Defende a importância de se preservar a
história e, referindo-se a Salvador, lembra a riqueza de elementos, que
precisam ser conservados e cultuados.
Considerando-se
“casado com a pintura, e amante da televisão”, Juarez Machado começou a
trabalhar em TV, em 1960, em Curitiba, como ator e cenógrafo e ao chegar ao
Rio, 10 anos mais tarde, faria mímica. Atualmente não atua na TV, mas vai
participar do programa “Balão Mágico Especial”, que deve ir ao ar na segunda
quinzena de setembro. Quanto aos livros, tem dois no preto: “O Velho
Passarinho” e “O Rei que foi embora”, destinados ao público infantil.
O
BAIANO TERCILIANO JR NOS ESTADOS UNIDOS
O
baiano Terciliano Jr está nos Estados Unidos, onde já realizou algumas exposições
individuais e coletivas. Recentemente recebi outra carta do artista informando
de sua participação numa mostra na cidade de Oakland, na Califórnia, a convite
da Blue Cross. Este mês completa exatamente um ano que ele saiu da Bahia para
participar de Los Angeles Country Fair, festival que durou alguns dias com
grande presença popular. Durante a feira foi lançado um número especial da
revista “Black Arts Magazine” sobre o Brasil e o Suriname. E, nas páginas 12
a 15, aparecem vários trabalhos de Terciliano Jr ilustrando uma matéria sobre o
candomblé, escrita por Sheila Walker.
Terciliano Jr ao centro na sua exposição |
A
primeira foto, uma aquarela de Terciliano intitulada Diante da Beleza de um Crepúsculo, um Grito de Dor Atravessa as Gargantas...
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