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sábado, 15 de dezembro de 2012

PRESSÃO POLÍTICA JÁ ATINGE A TAPEÇARIA - 30 DE SETEMBRO DE 1985


JORNAL A TARDE SALVADOR, 30 DE SETEMBRO DE 1985

PRESSÃO POLÍTICA JÁ ATINGE A TAPEÇARIA

A tapeçaria, assim com as artes e educação, hoje se ressente da pressão política militarista que marcou o Cone Sul nos últimos anos. Esse é um dos pontos em comum a que chegaram três expressivos nomes do Encontro dos Artistas Têxteis durante o Evento Têxtil 85, que reuniu perto de 200 participantes do Brasil, Argentina e Uruguai em Porto Alegre. Além disso, apontam eles, a tapeçaria passa por transformações que tanto pode ter suas raízes na transição da tapeçaria tradicional para a nova tapeçaria, como pelo fato de se constituir num produto de um mundo em crise, e que expressa esta crise, como já definiu Sábato Magaldi.
O uruguaio Luiz Ernesto Arostegui
Na opinião do tapeceiro uruguaio Luiz Ernesto Aroztegui, esta arte, assim como todas as artes plásticas, está em crise hoje no mundo. Ele lembra Magaldi e diz que é uma questão de valores. Mas reconhece também a falta de uma formação sistemática e qualitativa de profissionais desta área. “O tapete nasceu no período da ditadura na Argentina e Uruguai, mas os governos democráticos anteriores também não fizeram nada por ele. Na verdade, a tapeçaria é o resultado de iniciativas individuais.
Enquanto o ensino nas escolas reúne vários mestres, o ensino em tapeçaria nos ateliers sofre as limitações de possuir um mestre só. Falta a preparação cultural, e isto é muito sério, diz Aroztegui, que atuou como professor de desenho durante 18 anos e é tapeceiro há 25.
Ele ressalta ainda que na América do Norte e Europa, é dedicado um ensino de nível universitário à Tapeçaria.
Ainda que entenda como importante a observação das últimas novidades que vêm de fora, em termos de ponto e material, diz que elas não devem servir como meta ou padrão para o Terceiro Mundo, que “olha” demais para lá. Às vezes, afirma,, as limitações ajudam na criação.
Os índios Paracas, anteriores aos Incas, foram os melhores tecedores do mundo e não tinham nada. Na África, em pequenas aldeias no meio da floresta, fazem maravilhas em esculturas e máscaras.
Ainda mais expressivas que as de Picasso, que nelas se inspirou em seu período expressionista. Mas nós não somos Índios nem africanos e temos que ficar com olhos atentos para nos defendermos do colonialismo.

MAIOR LIBERDADE

Apesar de todos os problemas que a Argentina enfrenta hoje, destaca Tana Sachs, representante do Centro Argentino de Artistas do Tapete, a tapeçaria alcançou uma situação de destaque em seu país. E aponta duas bienais que se intercalam, uma nacional e outra municipal, em Buenos Aires, e as 14 mostras itinerantes anuais, feitas em vários museus da Argentina, como prova disso. Mesmo assim, ele considera a falta de identidade que a tapeçaria está sofrendo como causa de uma crise que não sabe no que vai resultar.
A tapeçaria passou de um estágio de arte menor para maior, e essa mudança implicou numa falta de limites de interferências de outras artes nela. A tradicional tapeçaria passou por uma liberdade maior, dentro das artes cênicas. Está bem, mas na sabemos a que isso conduz.
Um tapete de Zorávia Bettiol
Ela explica que foi ao sair da parede e conquistar um maior espaço, que teve início este processo responsável por hoje ela se confundir, de certa maneira, como outras formas de arte. “De qualquer modo, isso nos preocupa porque a tapeçaria não é mais como á define o dicionário.
Uma das precursoras da nova tapeçaria no Rio Grande do Sul, Zorávia Bettiol, é de opinião de que esta expressão artística no Brasil tece sua expansão cerceada em razão dos 21 anos de ditadura militar.
A nova tapeçaria no Brasil está em absoluto crescimento.
Não acredito em crise e, sim, num retardamento de sua evolução por causa da repressão política violenta que sofremos nos últimos anos.
Zorávia lembra que a nova tapeçaria apropriou-se da tridimensionalidade, usa, sem preconceitos, fibras as mais variadas, além de outras técnicas têxteis e outras linguagens plásticas quando acha necessário. Ela surgiu por volta de 1955, na Europa, depois da guerra. As mudanças de pós-guerra, através de reformulações de conceitos, também atingiu esta forma de expressão plástica, da Linguagem milenar, passou à sua forma mais contemporânea.
Então, historicamente, é pouquíssimo tempo para que esta forma de expressão plástica, como qualquer coisa em termos de cultura ou arte, esteja solidificada. E, sabendo que a nova tapeçaria surgiu no Brasil no final da década de 60, com Nicole Douchez, em São Paulo, podemos dizer que aqui ela é recentíssima.
Assim, conclui ela, a tapeçaria é uma linguagem muito nova, tendo no Brasil, muitos poucos profissionais realmente atuantes, embora exista um número muito grande de pessoas interessadas e envolvidas com ela. Segundo Zorávia, é fundamental que aconteçam mudanças em todos os níveis no País, proporcionando também que mais artistas têxteis se aprofundem nesta área e se profissionalizem no seu sentido mais amplo e profundo, em busca da qualidade. “E, para isso, seria necessário que a tapeçaria fosse mais difundida que os mistérios da área de educação e cultura se empenhassem em divulgá-la”.

ESTUDANTES VÃO À BIENAL

Professores e estudantes da escola de Belas Artes estão recebendo doações de artistas baianos para arrecadar recursos para visitarem a 18.ª Bienal de São Paulo que será aberta ao público de 4 de outubro a 15 de dezembro. Vários artista há doaram seus trabalhos entre eles Calasans Neto Floriano, Mário Cravo, Maso, Bel Borba, Ângela Cunha, Rescála, Astor Lima, Ailton Lima e muitos outros.
Todos os trabalhos ficaram expostos na Galeria O Cavalete, gentilmente cedida por Jacy Brito, e os interessados devem aparecer por lá porque os prelos são convidativos.Com o dinheiro arrecadado os estudantes terão oportunidade de conhecer o que está se fazendo de novo neste País e no exterior.
Portanto, além da oportunidade de você adquirir um trabalho de qualidade soma-se o mérito de estar ajudando na formação profissional de muitos jovens. Na foto alguns dos trabalhos que serão vendidos.

LEONEL MATTOS E ROGÉRIA PREMIADOS PELA PIRELLI

Dois baianos foram selecionados no II Prêmio Pirelli “Pintura Jovem”. Trata-se do casal Mattos. O inquieto Leonel Rocha Mattos e sua esposa Rogéria Teixeira Mattos.
Eles saíram de Salvador para tentar a sorte em São Paulo e estão participando de salões e exposições em várias cidades.
O júri final foi constituído por Icléia Cattani, de Porto Alegre; Maristela Tristão, de Belo Horizonte; Marcus de Lontra Costa, do Rio de Janeiro e Roberto de Lima Galvão, de Fortaleza, sob a presidência de Olney Kruse, de São Paulo, selecionou várias obras dentre as quais 20 foram contempladas com o prêmio-aquisição de três milhões de cruzeiros cada.
Três deles foram escolhidos pelo professor Pietro Maria Bardi para receber as medalhas de prata que levam o seu nome e entre eles está Rogéria Teixeira Mattos. Os outros dois são: Antônio Eduardo Eloy Ferreira (CE) e José Roberto Costa Gonçalves (RJ)
Já Leonel Mattos está entre os que ganharam o prêmio aquisição. Nenhum dos artistas baianos que aqui participaram da pré-seleção foram premiados. Eis os demais premiados:

PRÊMIO AQUISIÇÃO

Juscelino Ferreira Ramos, SP; Tito Luiz Fadel Camargo, SP; Francisco S. F. de Oliveira, SP; Leonel Rocha Mattos, SP; Antônio Malta Campos, SP; Rogéria Teixeira de Mattos, SP; Marcelo Reginato, SP; José Guedes Martins Neto, CE; Antônio E. Eloy Ferreira, CE; José R. Costa Gonçalves, RJ; Genilson Paes Soares, RJ; Jadir Falcão Lino Freire, RJ; Mário César de Azevedo, RJ; Mohamed Ali EL Assal, PR; Milton Wurdig Júnior, RS; Fernando O. F. Lindote, SC; Marcos Sestini, MG; Rui Antônio Santana, MG; Mário Lúcio Arreguy Maia, MG; Maia, MG; Egídio Dias Maciel Júnior, MG.

                DANIFICADO MURAL DE DIEGO  RIVERA

Parte do mural de Quetzalcoatl, de Rivera
 Cidade do México (AFP)- Um dos mundialmente mais conhecidos expoentes do muralismo mexicano, a obra “México através dos séculos”, de Diego Rivera, sofreu várias rachaduras devido ao terremoto que afetou a capital e seu reparo exigirá vários meses.
A obra, instalada no Palácio Nacional e visita quase obrigatória dos turistas que chegam a este País, consta de 12 secções que mostram a história do México desde o início de suas culturas indígenas até a época atual.
Três rachaduras atravessam uma das sessões, “A lenda de Quetzalcoatl”, na qual se representa o mundo pré-hispânico, simbolizado pelas três principais culturas do antigo México: Maia, Tolteca e Asteca.
Esse mural foi um dos maiores que realizou Diego Rivera, a quem no próximo ano o México dedicará uma infinidade de atos culturais para comemora o centenário de seu nascimento.


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