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sábado, 28 de julho de 2012

ARTES VISUAIS - MURAIS NOS GALPÕES DO PORTO


ARTES VISUAIS
                                                             PAISAGEM RENOVADA

Texto Reynivaldo Brito
Fotos do catálodo de Edson Ruiz
A Cidade Baixa está mais alegre com o colorido dos murais de vários artistas que foram selecionados pela Codeba, através de concurso , para participar do projeto “Salvador, Porto e Mar”. A variedade das formas e cores veio quebrar a monotonia da Avenida da França, obrigando as pessoas que passam a dar uma olhadela nestas obras de arte. Tenho uma predileção especial pelas obras que estão nas ruas das grandes metrópoles porque elas ajudam na educação do povo, através do estímulo à sensibilidade criativa, além de democratizarem a arte. Nos museus e galerias , a arte como que fica enclausurada e talvez até mais elitizada, porque é preciso que haja uma atitude de ir visitá-las. 

Na foto o mural de autoria do artista Murilo e um popular lendo um jornal. A importância da integração da arte com a vida da cidade.
Porém, a arte exposta em via pública, o passante cruza com o mural, o painel ou escultura e termina incorporando-a no seu dia-a-dia. Com isto não estou negando o fundamental papel dos museus e galerias, ao contrário, acho que a arte na rua é mais um elemento chamativo para despertar o público a frequentá-los.
Assim, os imensos galpões do porto, acostumados ao vai-e-vem das carretas transportando mercadorias, têm em suas paredes externas uma pequena amostra da arte produzida na cidade.É uma iniciativa que merece registro e aplausos por várias razões: primeiro, porque deu oportunidade aos artistas de mostrar para o grande público o que estão produzindo atualmente, além de contribuir para enriquecer o conhecimento de pessoas que nunca freqüentaram uma galeria de arte. Por outro lado, neste momento de crise que afeta todos os segmentos produtivos e até mesmo a atividade intelectual, foi uma oportunidade dos artistas serem remunerados, servindo ainda como estímulo para que outras iniciativas surjam. Enfim, poderíamos citar outras razões . O fato é que, ao completar 450 anos de fundação, a cidade ganha este acervo que deve ser visto e preservado por todos nós para que num futuro as pessoas possam avaliar o que nossos artistas produziram neste final de século.
A seleção foi feita com todo o critério pelo júri do qual tive a grata experiência de participar, juntamente com Juarez Paraíso, Graça Ramos, Justino Marinho e Matilde Matos. O tema previamente escolhido “Salvador , Porto e Mar”, agradou a todos. Os três convidados especiais  - Juarez Paraíso, Graça Ramos e Justino Marinho - vieram enriquecer ainda mais o projeto com seus murais bem elaborados.
Nas dimensões em que foram executados ( 4,90 metros de largura por 2,00 metros de altura) , os murais podem ser vistos de longe, o que facilita a decodificação das imagens e mensagens neles contidas. As várias formas e estilos estão ali representados, indo do “ naif” ao contemporâneo, passando por várias escolas. Daí considerar de muita valia esta iniciativa de Afrísio Vieira Lima, atual presidente da Codeba. Todos puderam se inscrever livremente, sem muitas exigências, num ambiente democrático, e assim também foi feita a seleção, através de uma discussão ampla. Portanto, se você ainda não passou pela Avenida da França, vá até lá e observe que nossa cidade está mais colorida.
Recentemente, Salvador ganhou várias esculturas de Tati Moreno, no Dique do Tororó, de Fernando Coelho, no Jardim dos Namorados , de Calasans Neto, no Parque Costa Azul e de Bel Borba em vários pontos da cidade. Com isto a cidade está ficando mais alegre  e dentro em breve, caso continue neste ritmo, será também conhecida por suas obras de arte em espaços públicos.
Nota – Recentemente derrubaram, me parece dois ou três  galpões, onde estavam alguns murais . A saída dos antigos galpões é para a reforma do porto. Desejo saber  se eles foram destruídos ou preservados. Estamos tentando apurar.
 Foto de Juarez Paraíso ultimando o seu mural num galpão da Avenida da França.
Participaram do projeto os artistas: Graça Ramos,Juarez Paraíso e Justino Marinho na qualidade de convidados. Os artistas selecionados foram: Antonello L`Abatte, Ary Costha, Carlos Augusto, Djalma Soares, Dulce Couto, Edmundo Simas ,Edson Calmon, Elísio Filho, F. Macêdo, Gilson Cardoso, Gilson Maciel, Humberto Gonzaga, Iêda Oliveira, Juraci Dórea, Leonardo Silveira, Leonel Mattos, Lívia Marinho, Lizatte Ventura,Marilton Rodrigues, Mário Brito, Maurício Alfaya, Maxim Malhado, Murilo, P`estana,Pynewma Ahenbhy,Rodrigo Aranha, S.F.Rodrigues, Simanca, Thelma Ferraz, Tonico Portela,Wagner Lacerda e Walter Pão.

domingo, 22 de julho de 2012

CARLOS BASTOS - 53 ANOS DE ARTE


SALVADOR, 1° DE  JULHO DE 1997
GALERIA ANARTE
Texto Reynivaldo Brito
Foto Divulgação / Beto Oliveira
                                                                                 APRESENTAÇÃO

Carlos Bastos é um anjo enviado dos céus para resgatar nesta cidade do Salvador a grandiosidade do barroco, a alegria de nossa gente, a beleza de nossa arquitetura e a nossa religiosidade. Em outra encarnação deve ter sido um lorde, daqueles que carregam uma bagagem cultural sólida e educação refinada. Sua arte tem uma marca indelével do grande desenhista que é, base importante para qualquer artista que se debruce sobre uma tela. Seus anjos andróginos, suas freiras, o casario majestoso e os palácios que permeiam sua obra misturados com objetos surrealistas demonstram que o artista brinca com estilos, mistura-os propositadamente como se estivesse querendo testar o resultado. Tudo surge espontaneamente de uma simples mancha que ele faz na tela branca e daí começam a chegar os personagens que vêm povoar este seu mundo onírico.
Foto da obra Anjo da Guarda, onde vemos o próprio Carlos Bastos no leito.
Uma presença importante nesta cidade desde que fez sua primeira exposição na então Biblioteca Pública, que funcionava na Praça Municipal, e que foi demolida para dar lugar ao famoso “Cemitério de Sucupira”, hoje sede da Prefeitura Municipal. Já teve vários de seus painéis e murais destruídos pelo fogo ou pela sanha de insensíveis proprietários de imóveis.
Mas ele ressurge como fênix e vem com mais força, escudado por seus anjos andróginos numa atmosfera mágica que é a sua marca registrada. Suas telas não precisam de assinatura para serem identificadas, porque Carlos Bastos tem uma caligrafia pictórica própria. Nesta exposição, ele faz uma leitura de sua vida, como se quisesse contar para nós os momentos de sofrimento e alegria que passou nos últimos anos. Por três vezes viu a morte de perto, e certamente esta experiência, à qual tive a oportunidade de vivenciar uma vez, nos abre a visão para a nossa própria fragilidade como ser humano.
Examinando seus quadros podemos identificá-los em várias etapas de suas vidas. O cidadão na cabeceira de uma mesa, como um vaqueiro diante do castelo de Garcia D’Ávila que ele recriou a partir das ruínas, no astronauta que visita o prédio renascentista, no anjo que paira abençoando o casal, enfim, Carlos Bastos esta aí anunciando que já esteve por aqui outras vezes encarnando personagens diferentes. Com esta multiplicidade de vidas, o artista aparece entre os seus companheiros de jornada não numa atitude narcisista, mas com a intenção de revelar, para nós mortais, que já esteve por aqueles lugares que admiramos em suas telas.

HENRIQUE PASSOS - PAISAGENS URBANAS


PAISAGENS URBANAS
30 DE NOVEMBRO DE 2001
MCR GALERIA DE ARTE
Texto Reynivaldo Brito
Foto Divulgação / Beto Oliveira

O homem apressado que passa dirigindo seu automóvel preocupado com o trânsito e os buracos nas pistas não dispõe de tempo de olhar a paisagem da cidade. Somente o carona ou pedestres sensíveis conseguem ver e valorizar um pedaço de um espaço urbano ou mesmo rural. Um simples tronco ou a copa de uma árvore frondosa, a florzinha que se debruça sobre uma pedra, a pequena moita de capim que balança ao vagar das águas de um riacho. Este olhar sensível está presente nas obras de Henrique Passos, um paisagista que retrata a Bahia romântica como ninguém.
Foto da obra  Monumento ao 2 de Julho.
É capaz de vivenciar uma imagem poética nas margens da movimentada Avenida Centenário, e nos encantar com a grandiosidade do Campo Grande. Henrique Passos transporta personagens de outras épocas para as paisagens de hoje e vice-versa. Ele brinca com seus personagens e as paisagens que pinta como uma criança com suas figuras de armar. A qualidade do traço, a composição, as pinceladas ou mesmo quando usa a espátula, Henrique define, com segurança, seus personagens. É um mestre da paisagem.Trinta e duas telas inspiradas na grande obra do escritor Jorge Amado foram pintadas por Henrique Passos numa iniciativa do jornal Tribuna da Bahia em parceria com a Associação Comercial da Bahia e a Fundação Casa de Jorge Amado. Esta mostra é uma homenagem ao centenário do escritor baiano que tanto escreveu sobre a gente simples, as ruas e ladeiras da velha Salvador.

                                               HOMENAGEM A JORGE AMADO


Henrique retrata em suas pinturas os lugares históricos que Jorge Amado visitava e tinha imensa satisfação de levar para conhecer seus amigos e visitantes ilustres que o procuravam quando aqui chegavam à sua bela casa no bairro do Rio Vermelho. Ele costumava levar ao Mercado Modelo, ao Pelourinho, ao Bonfim, Feira de Água de Meninos, enfim, a estes pontos que marcam a nossa cidade. Diz Henrique Passos que nas suas telas “tento mostrar com minha visão de artista o cotidiano de Jorge Amado, os pontos históricos que ele visitava e retratava em suas obras com uma sabedoria fantástica voltada para a baianidade”. Na foto o pintor ultimando o retrato de Jorge doado à sua fundação.
Ele foi ver com um olhar mais meticuloso o acervo da Casa de Jorge Amado onde encontrou referências sobre a Feira de Água de Meninos, Pelourinho e seu entorno, orla marítima, o candomblé, as festas populares e outros pontos e assuntos tão presentes na obra de Jorge.
Sabemos que Henrique Passos além de um grande pintor de nossas paisagens é também um retratista reconhecido, e para homenagear com mais uma atitude marcante o centenário ele pintou três retratos de Jorge e Zélia que estão sendo doados para sua fundação. Portanto, este baiano de Ubaitaba, que chegou aqui em Salvador aos 14 anos, vem fazendo um trabalho ligado às nossas raízes que merece ser enaltecido. Parabéns a Tribuna da Bahia,  Associação Comercial da Bahia e a Fundação Casa de Jorge Amado por esta mostra.
Atualizado em 29 de julho de 2012

LYGIA MILTON - PINTURAS DA ALMA

VERNISSAGE: 13 DE SETEMBRO DE 1984
GALERIA ÉPOCA
Texto Reynivaldo Brito
Foto : Divulgação
“As árvores desfolhadas deram lugar aos pinheiros perfilados e a figura humana antes estática, move braços e pernas numa mudança significativa na obra de Lygia Milton. O movimento é agora presença  nos gestos da figura humana e nos pinheiros perfilados. Estes por sinal mais parecem seres humanos prontos para invadir os espaços vazios do mundo imaginário e límpido de Lygia Milton. Tudo é feito cuidadosamente com a homogeneidade na textura, mesmo quando existe uma variação maior de cores.
Fora da paisagem Lygia Milton mostra também a sua capacidade criadora e a sua técnica. Os monumentos são apresentados por meio de detalhes que ganham força e pujança. A técnica, o jogo dos personagens são elementos incontestáveis do seu talento e uma demonstração que continua produzindo com seriedade.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

I SALÃO METANOR / COPENOR DE ARTES PLÁSTICAS DA BAHIA


ARTES VISUAIS
Salvador de 2 a 25 de outubro de 1986.
Texto: Reynivaldo Brito
Curador do Salão

O Júri decidiu dividir o primeiro prêmio entre os artistas Gabriel Lopes Pontes  com a obra "Dois perdidos numa noite imunda", abaixo e Ayrson Heráclito com "Jesus no Monte da Oliveiras, ao lado.

Desde o instante em que tomei conhecimento da idéia da Metanor / Copenor em promover um evento na área das artes visuais através à jornalista paulista Fiorella Fatio que decidi apoiá-la. E, na medida em que esta idéia foi amadurecendo, nas várias reuniões das quais participaram figuras as mais destacadas da cultura baiana, aumentava ao meu envolvimento, com o único objetivo de proporcionar aos artistas mais uma possibilidade de mostrar suas produções.

Finalmente, fixou-se que fariam um Salão dedicado aos iniciantes. Não poderia surgir idéia melhor, isto porque sei das dificuldades de quem começa a dar os primeiros passos no difícil caminho da profissionalização. Abracei a idéia e, para surpresa de todos nós, 287 artistas se inscreveram 130 foram selecionados, sendo quatro premiados com aquisição de suas obras, além de 30 menções honrosas.
O Salão foi uma festa da juventude e de alegria pela presença, entre os expositores, de artistas até então desconhecidos, mas com muito talento. O Salão foi uma explosão de cores e formas, que impressionou até os experientes críticos Frederico de Morais de “O Globo”, do Rio de Janeiro, e Olney Kruze, do “Jornal da Tarde”, de São Paulo.
O Salão Metanor / Copenor proporcionou ainda uma participação do público através de um júri popular, que escolheu seus favoritos. As obras foram expostas no Museu de Arte da Bahia e depois numa ala do Shopping Iguatemi, quando foram visitadas por milhares de pessoas.
Neste momento, de realização , quando já estamos sentindo alguns frutos deste evento, proporcionada por essas duas empresas do nosso Pólo Petroquímico, não podemos esquecer da presença marcante dos professores da Escola de Belas Artes, Ivo Vellame, Juarez Paraíso, Ailton Lima, Graça Ramos, Márcia Magno e Carmen Carvalho, e, também, de sua diretora Ana Maria Villar. Enalteço a disposição de alguns deles e mais ainda dos artistas Antônio, Capelotti, Renato Viana, Juraci Dória e Andrea Hollnagel em participar da Passarela de Arte, quando pintaram 10 belos painéis os quais ficaram instalados ao longo da Avenida Garibaldi.
Para que isso se transformasse em realidade foi vital o apoio do diretor superintendente da Metanor / Copenor , Aldo Carneiro Júnior, e seu diretor financeiro , Dirceu Sampaio Eloy, e principalmente do gerente de marketing , José Francisco Presser, que juntamente com Fiorella Fatio, da Inform, funcionaram como verdadeiro esteio deste evento. Essas duas pessoas viveram todas as etapas do Salão e agora, ao término de minha participação, desejo que fique aqui registrado o meu mais sincero agradecimento pelo profissionalismo de ambos.
Quanto aos artistas, mesmo aqueles que não foram selecionados , é hora de agradecer a presença da empresa privada num evento plástico. Vamos continuar trabalhando e até um próximo Salão.

                 PASSARELA DA ARTE


Foi na manhã doa dia 18 de setembro de 1986 que tudo começou. A princípio parecia mais uma colocação de out-doors em mais uma avenida de Salvador. Mas, de repente, os automóveis foram chegando , as pessoas se aglomerando , a imprensa presente.
Como um mutirão, dez artistas plásticos de renome a nível nacional, subiram em andaimes e começaram a pintar dez painéis, num esforço promocional conjunto de divulgação do I Salão Metanor / Copenor de Artes Visuais da Bahia, fazendo da Avenida Garibaldi uma Passarela da Arte.
Ailton Lima, Andrea Hollnagel, Antoneto, Capelotti, Carmen Carvalho, Graça Ramos, Juarez Paraíso, Juraci Dórea, Márcia Magno e Renato Viana, estes artistas que fizeram esses trabalho sem remuneração, emprestaram seu apoio aos novos talentos que surgiram neste Salão, trazendo à cidade do Salvador, momentos de poesia e cor.

terça-feira, 17 de julho de 2012

ARTES VISUAIS - SANTE VESTIU OS EX-VOTOS

ARTES VISUAIS

Salvador - Bahia,12 de julho de 1982.
Texto de Reynivaldo Brito

Uma arte influenciada pelas manifestações populares 

Eles podem ser encontrados nas cruzes abandonadas à beira da estrada, ou mesmo nas igrejinhas de povoados onde a civilização ainda não chegou com a sua febre de modernidade. São esculpidos por gente sem cultura, mas sensíveis por acreditarem no mundo após a morte e temerem a Deus. São os ex-votos, encomendados por familiares de pessoas que acreditam, ter alcançado uma graça ou mesmo beneficiados por um milagre. E assim como homens- em sua grande maioria - temem a morte e o que poderá acontecer após a sua chegada, enquanto vivem, cultuam os espíritos e um ex-voto é a prova desta postura. Porém, Sante enxerga o ex-voto com toda sua misticidade e importância, que transcende a própria concepção de quem mandou fazer ou mesmo o esculpiu em barro cerâmica ou ferro. Sua obra está completamente ligada ao ex-voto, uma manifestação tão forte quanto a sua própria arte. A identificação chega a tal ponto que só enxergo Sante colocado num cruzeiro daqueles enormes, que ficam encimados, rodeado de alecrins e unhas-de-gato no alto de pequenos morros que circundam as cidades do sertão. Este é o lugar, mais apropriado para entendermos o Sante Scaldaferri. Seu físico e também seu nome, têm algo que transcendem a própria matéria e dão aquele místico que cerca o ex-voto. Conheço outros artistas que têm influência marcante em suas obras dos ex-votos. Mas ouso assegurar que ninguém tem uma identificação tão perfeita como Sante.
Nesta obra acima  "Oração do Beato", de 1968, vemos claramente  os devotos inspirados nos ex-votos.
Esta identificação passou do campo do imponderável para o material. E vejo as fraquezas do caráter humano incorporados nos ex-votos. Uma dualidade digna de registro. O misticismo, a pureza do ex-voto sendo invadida propositadamente para mostrar as fraquezas do homem. Como que a pureza do homem rude do sertão, que ainda venera o Padim Padre Cícero, Antônio Conselheiro ou Frei Damião foi impregnada, pela fraqueza que povoa os escritórios, as universidades e outros locais urbanos tão freqüentados. Os ex-votos ganharam pernas, mentes e uma representatividade. Como que estão trabalhando numa peça de teatro e vão percorrer os quatro cantos deste mundo conturbado, tentando, sensibilizar as pessoas com a estampa dura dos horrores da gula, da inveja, do puxa-saquismo, da traição, da mentira e tantos e tantos outros atributos que tem os mortais.
Sante não é um artista de formação primitiva. É um erudito que sabe ser simples. Ele sabe ser simples e com esta temática é capaz de nos mostrar quanto contemporâneo ele é ao ponto de ter acesso a qualquer mostra do que tem sido feito ultimamente neste país em termos de artes plásticas. Além disto, Sante dos artistas considerados realizados profissionalmente em Salvador, é o mais simples, o mais aberto, o que procura dialogar com os mais jovens. Não vive fechado no sucesso e numa roda de poucos amigos. É irônico no falar, no pintar.
Suas formas desconcertantes muitas
vezes não são entendidas por alguns. Essas pessoas, menos avisadas, sacam de imediato que seu desenho é primário. Incapazes, portanto, de alcançar a ambientação mística, toda a conotação que transcende o simples desenho alcançado sua plenitude no conhecimento posterior. Não conseguem penetrar, nem sentir este mundo puro dos ex-votos ou não querem enxergar as suas próprias fraquezas estampadas nas figuras desproporcionais que ganharam vida e, acima de tudo as fraquezas do caráter humano.
Dão de ombros e continuam seu caminho, mergulhados na inveja, na luxúria, na vaidade e em muitos outros defeitos que normalmente as pessoas não enxergam em si próprias.

ARTES VISUAIS - VIGA GORDILHO MISTURA VÁRIOS MATERIAIS


ARTES VISUAIS
Texto Reynivaldo Brito
Sem preconceitos, a artista utiliza materiais desprezados pela maioria. Sem se afastar de nossas raízes, transcende o folclórico e faz uma arte que é universal.

 Além de utilizar vários materiais ,demonstra competência no tratamento da pintura propriamente dita,conseguindo tonalidades que transforma uma cor em outra com suavidade. Ou seja, passa com maestria de uma cor para outra sem ruptura.
Ela vibra com tudo que faz,  se joga de corpo e alma nos projetos que abraça.É acima de tudo uma operária da arte, uma criatura que se envolve com o processo criativo, que busca novidades.
 Como uma verdadeira xamã, na medida em que desempenha o papel de criador , na medida em que tem funções e habilidades inerentes àqueles que aqui chegaram com este destino e souberam desenvolver este ofício,afirmando seu talento. 
Vejo nela uma busca constante e coragem de mudar. 
Nota: Este pequeno texto consta do livro 100 artistas da Bahia organizado por Dênisson de  Oliveira.
Vemos que na obra acima Viga Gordilho utiliza uma pena,  que me parece  ser de  galinha de angola ,tecido e outros materiais, dando um belo efeito plástico.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

ARTES VISUAIS - SANTE SCALDAFERRI - NO UNHÃO COMEMORA 20 ANOS DE ARTE

ARTES VISUAIS
SALVADOR, 14/05/2003
Texto e foto de Reynivaldo Brito
Sante em sua casa com seu santuário de ex-votos.
O pintor Sante Scaldaferri está expondo no Solar do Unhão desde ontem em comemoração aos 20 anos dedicados à arte. Uma pintura vinculada às raízes da cultura popular onde o artista explora toda a dramaticidade e a religiosidade do povo nordestino. Uma pintura forte como expressa a própria temática carregada de um misticismo a toda prova. A própria figura de Sante lembra um beato de fala mansa e de fácil conversa. As caras que preenchem todos os espaços de suas telas são repetitivas, mas não cansam. São figuras representadas pelos nordestinos quando necessitam pagar uma promessa e fazem seus bonecos de cerâmica ou madeira colocando escondidos nos cruzeiros, quase sempre afastados dos centros das vilas e cidades do interior. Os cruzeiros estão localizados nos arredores, em pequenos montes como verdadeiros vigilantes das vidas e destinos dessas localidades.
Sante sabe assim captar todo este misticismo e transportá-lo para tela e por isso vem marcando seu lugar no panorama pictórico da Bahia. O desenho não é apurado e não precisava ser porque ele busca exatamente traduzir os conhecimentos desta gente sofrida e esquecida do nosso Nordeste. Um detalhe curioso é que todas as suas figuras têm olhos grandes e vigilantes como a demonstrar que embora esquecidos, estão vivos e a qualquer momento poderão se agrupar, como já aconteceu com milhares que seguiram Antônio Conselheiro e outros fanáticos, que de vez em quando aparecem.
A pintura de Sante Scaldaferri tem assim uma importância histórica muito grande, porque ele retrata esta gente que tende a desaparecer à medida que o progresso vai chegando com as rodovias asfaltadas, com a invasão de “turistas” que só lhe trazem malefícios.
As cabeças são grandes, como também os narizes e os lábios grossos e curtidos pelo sol.
Tenho diante de mim uma de suas telas datadas de 1976, “Casa do Romeiro”, onde aparece um romeiro vestido “a rigor”, uma mulher de longos cabelos e muitas cabeças de beatos e um boi à  frente. Uma verdadeira “família” reunida dentro da visão pictórica deste artista de linhas e contornos fortes, que vive captando o misticismo do nordestino.
Nesta mostra Sante apresentou vários desenhos de alta qualidade,numa clara demonstração de que por trás dos ex-votos de traços irregulares está um artista completo. O texto acima está do catálogo-livro da exposição.

terça-feira, 10 de julho de 2012

LEONEL MATTOS - PINTURAS RECENTES



ARTES VISUAIS
Texto Reynivaldo Brito
Este texto escrevi para sua mostra realizada no dia 17 de março de 1987 na Galeria ArteMaior,no Rio de Janeiro. Esta mesma exposição aconteceu também em 23 de abril de1987 na Galeria de Arte O Cavalete, então localizada no bairro do Rio Vermelho, em Salvador.


Vejo na obra de Leonel Mattos o desfilar de signos, que traduzidos são mensagens do inconsciente de um jovem artista inquieto que explode em criatividade. Sua arte reflete exatamente uma personalidade que está sempre perscrutando, sempre com os olhos abertos em busca de novas formas de expressão. Agora, o homem é o centro de suas atenções,  resultado de sua permanência numa grande metrópole, onde enfrenta a escravização imposta pela modernidade. O buzinar dos carros, o som das portas do metrô fechando e abrindo sem parar, no atravessar do sinal luminoso e nas letras de neon ou eletrônicas que anunciam os produtos mais variados. Até mesmo o aluguel de corpos que se desnudam e se dão por alguns instantes, estão refletidos na a obra de Leonel Matos. E sua forma de expressão beira a arte chamada de “Bruit” onde é preciso traduzir toda sua linguagem simbólica que sobressai da própria linguagem do cotidiano.
O vigor das cores e da própria ocupação dos espaços vem ao encontro de seu lado emocional, impulsivo. Sim, porque aí é o lado irracional do artista, que em determinado momento se deixa dominar pelo impulso desta contemporaneidade contraditória.  Sua arte traz a marca inconfundível deste Brasil, explorado e espoliado,mas principalmente deste Nordeste quente e forte. Só que a sua linguagem embora respaldada numa cultura brasileira é entendida por todos aqueles que têm oportunidade de examinar com atenção a sua obra, sim porque é uma linguagem que tem elementos da universalidade. E um dado importante é que ele não se fecha em si mesmo.
Deseja que todos participem de sua obra. Lembro que certa vez colocou nas ruas de Salvador algumas placas de compensado e deixou que os que passavam dessem algumas pinceladas. Fez isso em locais diferentes,. Num sanatório , no Campo Grande, no bairro da Liberdade, Instituto dos Cegos, na Casa de Detenção, no Porto da Barra, e em seguida fez uma exposição desses trabalhos. Na rua dialogava com o povo, ouvindo os mais variados comentários, inclusive taxado de louco por alguns transeuntes menos avisados. Leonel procurava exatamente sentir as reações, mesmo àquelas que poderiam lhe incomodar. O fruto desta experiência foi o surgimento de elementos que passaram a compor novos trabalhos do artista. Uma experiência rica em manifestações das mais variadas. Cada traço , cada desenho, aparentemente desconexo foram importantes no desenvolvimento do trabalho de Leonel Mattos.
Recentemente participou de exposições importantes, e foi premiado em vários salões oficiais.É um artista que tem fôlego para enfrentar adversidades que se apresentam, fundamentado no seu forte talento.

25 ANOS DE CRÍTICA DE ARTE

domingo, 8 de julho de 2012

BEL BORBA REVISITA PIERRE VERGER

ARTES VISUAIS 
Novembro de 2003
Texto Reynivaldo Brito
Estamos vivendo um momento muito difícil em todo o mundo, fruto da globalização de um sistema financeiro que deixa milhões de pessoas na exclusão social. O nosso país particularmente, sempre um emergente que insiste em seguir os mandamentos colonialistas, é um dos que mais registram esta exclusão. Mas dentro deste mesmo país, que exclui milhões de seus filhos, temos alguns momentos de alegria com o nosso futebol vencedor, com a melhoria de um índice qualquer que mede o desenvolvimento e, principalmente, com sua arte pulsante, seja na música popular, nas artes visuais, no teatro, no cinema, seja em outras manifestações populares. Ao olhar as obras dos artistas brasileiros, especialmente dos baianos, reacende a minha esperança, não a esperança guiada por uma estrela cadente, mas na criatividade do artista brasileiro, que ainda não foi descoberto pelos grandes mercados desta globalização.
Tenho acompanhado de perto alguns deles. Vejo e sinto as inúmeras dificuldades, que se manifestam nas mínimas coisas, como na falta de dinheiro para comprar suporte para registrar a sua criatividade. Com o empobrecimento da classe média, os compradores sumiram. Mas os artistas resistem e produzem suas obras, mesmo não tendo para quem comercializar. Faço estas considerações com o simples intuito de lembrar às pessoas como é difícil fazer arte aqui, pois os incentivos quase inexistem. E chego até a Bel Borba, que vi começar fazendo seus primeiros desenhos em pedaços de papel, numa pequena garagem da casa de seus pais no bairro do Canela. Enxerguei juntamente com o saudoso Ivo Vellame, a sua potencialidade criativa  e acreditei no seu crescimento, na sua explosão. Não deu outra.
Aí está Bel Borba já apresentando os seus primeiros cabelos brancos, mostrando para todos nós que a quietude não é seu forte.
Ele saiu das galerias e museus e ganhou as ruas. Com cacos de ladrilhos coloriu paredes, barrancos, casas de burguesias e levou seus animais para hospitais e todos os lugares possíveis. Em Portugal, criou numa esquina uns quebra-molas com a figura de homem estendido com os braços abertos. Agora reencontro o artista trabalhando em 21 pinturas em acrílica sobre telas de 1,70 x 1,40 inspiradas nas fotos que o inesquecível etnólogo e fotógrafo francês Pierre Verger produziu desde seu desembarque em Salvador, nos idos de 1946. Notamos uma verdadeira transposição de momentos e flagrantes da vida da gente e da paisagem baianas numa releitura de fotografias para a pintura em acrílica numa linguagem contemporânea. Este é o Bel que nos encanta e que consegue manter viva a nossa esperança, com a sua arte vigorosa e popular.


A CAIXA DE SURPRESA DE LEONEL MATTOS


ARTES VISUAIS

MUSEU DE ARTE MODERNA DA BAHIA
20 DE AGOSTO A 26 DE SETEMBRO
Texto Reynivaldo Brito



Estive no atelier improvisado de Leonel Mattos numa antiga casa na Rua da Castanheda e fiquei impressionado com a capacidade de produção do artista.
Nervosamente ele ia retirando de um local mais alto e estendendo em minha frente, no chão, centenas de folhas com desenhos, fotos e reportagens colados. As folhas são imensas, resultado de colagens de páginas inteiras de jornal com as bordas pintadas de preto. Ao terminar de mostrá-las estava diante de mim um monte, formado por aquelas grandes folhas. Fiquei parado a imaginar a cena terrível de Leonel preso. Ai me veio a imagem de um tigre bravo aprisionado numa pequena jaula, andando de um lado para outro, sem parar. Imediatamente surgiu uma segunda imagem em meu pensamento. Uma imagem vibrante, nervosa e explosiva. Imagem que era traduzida em ações gestuais rápidas e firmes. E, aparecia Leonel com canetas e pincéis observado com curiosidade, espanto ou admiração por outros colegas de presídio.
Lembrei-me que mesmo naquela adversidade o artista cria. Foi aí que a ficha caiu e voltei a examinar e avaliar a importância daquela obra que estava ali amontoada diante de meus olhos. Obra cujo projeto arrebatou merecidamente o Prêmio Braskem de Artes Plásticas, que ele denominou Caixa Preta.
Para mim ver ele produzindo estes trabalhos foi como se abrisse uma caixa de belas surpresas.
Na primeira foto Leonel e eu na loja Wine & Music. Em seguida um conjunto de fotos de sua produção no presídio. \Flagrantes de sua vida .
Para termos uma idéia da grandiosidade desta obra vou traduzir os seus números. São 601 desenhos de Leonel, 86 de seus colegas de presídio, 18 feitos por crianças parentes dos internos, e mais 7 por seu filho de 10 anos, 38 por Das Brita, 21 por Carlos Alberto, 24 por Meu Nego e 37 por “49”, seus colegas de prisão; Isa, sua mulher tem 5, e mais 210 fotografias feitas no presídio durante sua permanência e 26 reportagens publicadas nos jornais enfocando a sua arte e sua vida na prisão.
As folhas têm 1.20 por 1.80m e serão utilizadas como suporte através de pedaços de cami e unidas por grandes ilhós e cordas de nylon formando labirintos e paredes por onde as pessoas poderão circular para observar os desenhos, pinturas, fotos e reportagens. Muita gente vai ficar perdida sem saber por onde sair.
Muitos dos desenhos trazem mensagens e tons sombrios. Outros apresentam algum colorido, porém com a marca da falta de liberdade. Tem uma série de desenhos com predominância verde.
Enquanto esteve no presídio esses desenhos eram levados e guardados por seu irmão João, sendo alguns alvos de cupins. Os estragos não são consideráveis, porém, fazem parte da obra, inexoravelmente.
Diria que esta obra é um diário onde estão registradas as alegrias e, principalmente, os momentos de angústia, que de certa forma acompanhei daqui de fora, preocupado com a integridade física de Leonel Mattos.
Ele passou um ano e três meses no Corpo III, sendo posteriormente transferido para o Corpo IV, ficando por 30 dias, na Penitenciária Lemos de Brito, em Salvador, onde cumpriu o resto da pena, até ser liberado pela Justiça graças ao seu comportamento e entendimento das autoridades presidiárias, especialmente do Dr. André Barreto, diretor do presídio, e judiciária através do magistrado Dr. Rilton Góes. Este Corpo IV é um pouco pior que o anterior.
Mas foi no Corpo III onde ele pintou com os demais presos as fachadas das celas e muitos dos trabalhos expostos nesta exposição. No Corpo IV fez apenas um trabalho com as crianças e duas fachadas de celas.
Durante o período de sua prisão o visitei na Lemos de Brito e nos comunicávamos quase toda semana ou através do telefone ou por cartas que ele escrevia em qualquer papel que aparecesse em sua frente. As cartas geralmente traduziam o seu espírito angustiado, querendo livrar-se daquele pesadelo em que havia se metido. Tenho uma admiração especial pela obra de Leonel Mattos, porque ela brota límpida, como a água que sai das pedras de uma montanha. É uma obra de sentimento, de vibração, de mensagens simbólicas muito fortes. São símbolos e traços gestuais que representam a emoção de pintar, que valoriza a pintura enquanto pintura, e surgem na tela composições que parecem emitir sons empolgantes como os da 9ª. Sinfonia de Beethoven.



segunda-feira, 2 de julho de 2012

GOELDI E SUAS IMAGENS SOMBRIAS


Texto Reynivaldo Brito
Fotos Divulgação

Duzentas e uma obras de Oswaldo Goeldi estão expostas no Museu de Arte de São Paulo cobrindo o período que vai de 1920 a 1960 com curadoria de Paulo Venâncio Filho. Ele não considera que seja uma retrospectiva do artista e, sim uma exposição do período mais importante de sua produção. Quem conhece a obra de Goeldi sabe que destoam completamente do que era produzido em sua época, quando as cores eram vibrantes. Ele ao contrário, vinha com suas gravuras soturnas, com pouca luz e muitas vezes sombrias. Destoava, portanto, de seus contemporâneos como Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti e muitos outros. 

Foto da obra Noturno que está no Mam paulista.
Goeldi gostava de retratar a vida subterrânea da cidade como as prostitutas, bêbados e vagabundos que perambulavam durante as noites no Rio de Janeiro. Dizem os estudiosos de sua obra que ele tinha uma forte ligação com os expressionistas e, que mantinha uma amizade com o austríaco Alfred Kubin (1877-1959). 
 Sua vida foi marcada por turbulências. Consta de sua biografia que o pai de Goeldi, o naturalista suíço Emílio Augusto Goeldi morreu em 1917  e, que seu cunhado de nome Martin Wagner passou a dominar a cena .Este   expulsou Goeldi de casa, e teria obrigado a desistir da herança a  que tinha direito . Em seguida o enviou para a Europa no ano de 1922, onde teria sido resgatado pela amiga Béatrix Reynal (1892-1990) a quem ele deixou em testamento suas obras. Esta rejeição teria sido provocada por sua vida boêmia e pelas obras sombrias que produzia. Com a morte de Béatrix e de seu esposo, que não deixaram herdeiros, os direitos das obras voltaram a pertencer à família Goeldi.
Foto de Goeldi no Liceu de Artes e Ofícios em 1930.

Assim o museu teve que pagar R$24 mil para a Associação Artística e Cultural Oswaldo Goeldi pelo direito de imagem das 240 obras que estão nas duas mostras abertas ao público.
Segundo informa sua sobrinha-neta Lani Goeldi este dinheiro será utilizado para viabilizar uma publicação sobre o artista. Realmente Goeldi merece ser perpetuado, porque sua obra tem grande valor artístico e precisa ser conhecida pelas gerações futuras. Quando se fala em gravura no Brasil vem logo o nome de Goeldi. A mostra permanece até 19 de agosto próximo.
Quero lembrar aos diretores de museus baianos que está na hora de ser promovida uma grande exposição da obra de Hansen Bahia, que tem uma produção grandiosa e de grande valor estético. Está na hora que aparecer um curador para concretizar esta idéia que ainda quero presenciar e celebrar.



EXPOSIÇÃO DE JASPER JOHNS EM SÃO PAULO



Texto Reynivaldo Brito
Fotos Divulgação

Um dos precursores da arte Pop está com uma bela exposição no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. É o enigmático Jasper Johns, hoje com 82 anos de idade, e o último sobrevivente desta geração, e que ainda está produzindo. Dizem que tudo começou com um ataque de fúria que ele teve quando fez suas primeiras obras e não ficara nada satisfeito com o resultado. Depois sonhou que estava pintando uma bandeira norte-americana e revelou este sonho a Robert Rauschenberg, colega de arte que residia no mesmo edifício. Daí ele passou a pintar bandeiras, que hoje são uma marca de sua produção.

Sabemos que os americanos têm uma ligação muito forte com a sua bandeira. Eles têm orgulho de seu país. Você encontra em todas as cidades americanas bandeiras hasteadas em mastros improvisados nas casas, inclusive nas localizadas nos bairros da periferia.

O artista não gosta de ver rotulada sua arte de Pop. Segundo o curador da mostra paulista Bill Godston, “ele acha que sua arte tem uma imagem pura e não Pop”. Nesta mostra só estão sendo apresentadas suas gravuras. As pinturas não vieram. Só que a temática é a mesma das pinturas com as bandeiras e experimentos em colagem. Esta mostra ficará aberta ao público até 26 de agosto próximo. Portanto, uma boa opção para quem for à São Paulo. Foto ao lado do pintor quando jovem.
 Revelam os organizadores que as pinturas não puderam vir porque sairia caro demais transportá-las, especialmente por causa do seguro. Quem acompanha o movimento artístico tem mais uma comprovação ai de que o recurso limita sim, o tamanho e, até o tipo de obra que é exposta. Quando organizei a Geração 70, alguns criticaram que o recurso não era justificativa para ter só àqueles artistas na mostra. Disseram uma bobagem.
Na 9ª. Bienal de São Paulo, em 1967, ele foi premiado com uma pintura que mostrava três bandeiras do seu país sobrepostas. Nesta bienal tinham ainda obras de Andy Warhol e Roy Lictenstein, grandes nomes da arte Pop. Curiosamente, esta bienal foi realizada no período da ditadura militar e algumas obras de brasileiros que tinham símbolos nacionais foram retiradas e não puderam ser expostas por proibição da censura.
     Dois exemplos acima dos Flag             onde Jasper Johns faz interferências
    na bandeira dos Estados Unidos.

domingo, 1 de julho de 2012

ARTES VISUAIS - RETROSPECTIVA 1997 - A ESTÉTICA DA RECESSÃO

A TARDE SEGUNDA-FEIRA, 22 DE DEZEMBRO DE 1997
Texto Reynivaldo Brito 


Foi um ano atípico para as artes plásticas. Apesar da resistência com o surgimento de espaços culturais alternativos, lançamentos de livros, exposições importantes, o resultado comercial foi baixo e, com isto, muitos artistas e galeristas tiveram que “apertar o cinto”. O Parque das Esculturas, no Solar do Unhão, foi o acontecimento mais importante do setor, na Bahia, que perdeu alguns de seus mais importantes representantes: Carybé. Além das mortes de  Manabu Mabe, Robert Rauschenberg e Roy Lichtenstein 
.Foto ao lado de Carybé,um mestre insubstituível na cena plástica brasileira.

JANEIRO

Almandrade, em São Paulo, juntamente com outros dezessete artistas, expõem no Centro Cultural São Paulo. O artista Antônio Rebouças, do alto de sua experiência de vida, mostra sua produção recente, com obras baseadas nas viagens que empreendeu ao Nordeste e à Amazônia, preocupado que está com o desmatamento desenfreado nas regiões.

FEVEREIRO

Época do Carnaval. As roupas ficam mais leves e as pessoas, mais sensuais. Isto inspira a argentina Lili Sanchez, que expõe no Instituto Mauá, enfocando a festa. Leonel Mattos denuncia, em instalação, o abandono da igreja de Humaitá, enquanto Wasghinton Santana mostra-se indignado com a atitude da Prefeitura, de retirar suas esculturas, às escondidas, da Avenida Paralela.

MARÇO

Vários gravadores, entre os quais Calasans Neto, realizaram uma mostra na Galeria Cañizares, na tentativa de soerguer a produção de gravura que a Bahia tinha. Maria Adair expõe 60 telas no Museu de Arte Moderna da Bahia, resultado de estudos viabilizados por uma bolsa oferecida pela Fundação Rockfeller. A Copene patrocina três projetos na área.

ABRIL

Antonello L’Abatte, responsável pelo renascimento da gravura, expõe na Acbeu. Na Escola de Belas Artes, Fernando Freitas Pinto lança a idéia de um painel da obra de professores e artistas. Hilda Oliveira é lembrada, merecidamente. Ferjó (residindo nos EUA) acerta contrato com a Perry Art Gallery, para distribuir sua produção nos States.
Yuriko e Martinesi expõem. Dois mundos: o chinês e o espanhol. No museu Carlos Costa Pinto, a arte oriental.

MAIO

A NR Galeria traz José Goiana, ou Zezito, como é mais conhecido: um arquiteto que também se revela bom pintor. Uma idéia interessante de um grupo de artistas, que faz exposição com as obras em forma de pizza, na Bonna Pizza. O filho do governador de Pernambuco, Miguel Arraes, expõe na Galeria Frazão. A mineira Jucira traz a arte milenar da cerâmica, com peças muito criativas, na Acbeu.

JUNHO

A Fundação Hansen Bahia renasce e a tela de Antônio Parreira, chamada 25 e cinco de junho, fica exposta por lá. É um espaço entre Cachoeira e São Félix que merece ser visitado. Um museu dentro de uma fazenda. O artista Carlos Bastos faz uma bela exposição na Galeria Anarte, que encerra, temporariamente, suas atividades. O IV Salão Mam-Ba abre inscrições. Jamison Pedra ganha o prêmio Copene.

JULHO

Calasans Neto coloca uma escultura chamada Sol Dourado no Parque Costa Azul.Chegam notícias de Luiz Ferraz, que expõe nas cidades de Paris e Los Angeles. No dia 18, o Museu de Arte da Bahia inaugura a exposição Vieira e a Bahia do Seu Tempo, com trabalhos contemporâneos sobre a vida do missionário jesuíta. O sucesso é grande.Ponto para Sylvia Athayde.

AGOSTO

O artista plástico Jenner Augusto é homenageado na Casa Cor, instalada no belo palacete que, outrora, abrigou o Colégio Sophia Costa Pinto. O ator e pintor Guilherme Leme expõe Peles, em Salvador, na NR Galeria de Arte, com grande tietagem. As pinturas mostram sua preocupação com a ecologia. Bons efeitos visuais e texturas que convidam ao toque.

SETEMBRO

Cláudia Toscano usa materiais extraídos dos coqueiros para criar esculturas. Fernando Oberlaender mostra 30 trabalhos, com traço forte. Jacy Brito faz leilão do que restou de sua saudosa galeria, O Cavalete. Edson Calmon rompe com novos trabalhos. Murilo conta estórias, com seu lirismo peculiar. No Mam-Ba a exposição de Goya. E o Salão do museu bate recorde, com 1.143 inscritos.

OUTUBRO

Floriano Teixeira faz uma miniretrospectiva de sua obra e pinta Savonarola, um fervoroso reformador. Henrique Passos pinta as paisagens bucólicas baianas. Itamar Espinheira mostra sua produção dos últimos 40 anos -  das espátulas, com suas texturas densas, à pintura acrílica, na Galeria Atrivm. Zivé, que está exilado em Brasília, apresenta a evolução de sua arte, na Galeria de Arte Casa Thomas Jefferson.

NOVEMBRO

Isa Moniz celebra 50 anos de arte.Uma produção rica e o despojamento em repassar para os jovens o que sabe : Desenhar. Os professores aposentados da Escola de Belas Artes da Ufba, Ailton Lima e Ana Maria Villar, abrem escola no Caminho das Árvores. Zu Campos inaugura espaço cultural, na cervejaria Okka Bier.João Augusto Bonfim ensina arte em seu ateliê, na Rua Frederico Costa.Salvador celebra a arte africana.

DEZEMBRO

Leonel Matos expõe na Galeria Arte Abaporu. Raimundo Nonato mostra arte primitiva na Okka Bier Artistas fazem exposição utilizando o giz. Realizada a feira de gravuras, no Espaço Cultural Calasans Neto (Uec /Pituba). Os museus Carlos Costa Pinto e de Arte da Bahia lançam livros, com seus acervos. Aplausos para Mercedes Rosa e Sylvia Athayde. Chico Liberato expõe seus Orixás. O Mam-Ba inaugura o IV Salão.

                                                      MUNDO & BRASIL

Exposição de Monet, em São Paulo e Rio de Janeiro, atrai milhares de pessoas, com filas de jovens e pessoas, do povo interessados em ver a pintura do mestre.

As obras de Camille Claudel, em São Paulo, levam muita gente para apreciar suas belas esculturas. Estes dois eventos são provas incontestáveis de que boas exposições e mídia levam o povo ao museu.

A exposição de obras de Michelangelo Buonarroti (no Masp, encerrada em 13 de  novembro) é outro evento de destaque no Brasil.

No Moma, em Nova Iorque, faz grande sucesso a exposição de Egon Schiele, chocando algumas pessoas, com uma obra onde o artista se masturba.

O baiano Mário Cravo Neto ganha matéria de destaque no The New York Times, elogiando a exposição de suas fotos na Witkin Galery, em Nova Iorque. No Brasil, ganha prêmio no Panorama das Artes Brasileiras.

O escultor baiano Paulo Pereira é outro nome premiado pelo Panorama das Artes Brasileiras, no Museu de Arte Moderna de São Paulo.


                                           OS CINCO MELHORES

1-     Criação do Parque de Esculturas do Mam-Ba, no Solar do Unhão, com a retirada da favela e tratamento paisagístico da área. Espaço que precisava ser resgatado, para dar mais dignidade àquele conjunto arquitetônico. ( Foto)

2-   Exposição de Goya, no Museu de Arte Moderna da Bahia, trazendo para a Bahia desenhos importantes deste grande mestre da arte, dando oportunidade aos menos favorecidos de conhecer a obra do artista.

3-    Livros com os acervos dos museus Carlos Costa Pinto e de Arte da Bahia. Iniciativas que vieram preencher uma lacuna. Já existia o livro do Museu de Arte Sacra. Os demais museus devem se mobilizar para editar os seus.

4-  Exposição de Carlos Bastos, na Anarte. Há anos sem fazer individual, mostra sua arte participando, como personagem, de várias telas. Dentre elas, destaque para a tela em que aparece sentado diante de uma bela mesa.

5- A bela exposição de Floriano Teixeira, pela primeira vez, empenhado no                               sucesso de uma mostra. É, na realidade, uma ligeira passada sobre sua obra, uma espécie de miniretrospectiva.
                                




ARTES VISUAIS - ANTOLOGIA PICTÓRICA


ARTES VISUAIS
    A TARDE QUARTA FEIRA 03 DE MARÇO DE 1999                                            
  Texto Reynivaldo Brito                                     

 
              Nas fotos obras de Carybé, Floriano Teixeira e Bel Borba que constam da Antologia.
Fico apreensivo quando alguém se dispõe a relacionar obras de arte e artistas como os melhores, os que aparecem mais na mídia, enfim estas listas sempre geram discussões e preferências. Mas este livro de Dênisson de Oliveira pelo menos serve de referência para as pessoas que daqui a alguns anos vão estudar o movimento de arte na Bahia nestas últimas décadas. A obra destaca os trabalhos de 100 artistas baianos que tiveram uma presença ativa no mercado. O livro 100 Artistas Plásticos da Bahia, na realidade, é um catálogo, ou seja, um apanhado organizado pelo marchand da galeria Prova do Artista.
Com patrocínio da Copene Petroquímica do Nordeste S.A., através da Fazcultura ( projeto de incentivo fiscal do Governo do Estado), o livro será lançado no próximo dia 10, das 19 às 22 horas, no Museu de Arte Sacra (Rua do Sodré, 276, Centro), com o vernissage da exposição com obras dos artistas enfocados.
O livro reúne textos com comentários de críticos e outros profissionais, com ilustrações de obras de uma centena de artistas do Estado.
Na exposição que  permanecerá aberta no Museu de Arte Sacra até 18 de março estarão sendo exibidas as 100 obras retratadas pelo livro.O único critério de seleção foi a presença do artista no mercado de artes plásticas da Bahia. “Nós não privilegiamos estilos, personalidades, técnicas ou qualquer tipo de julgamento acerca do talento dos selecionados”, garante Dênisson de Oliveira. O resultado do projeto, segundo o organizador, reflete o ecletismo que impera hoje no mercado baiano de artes plásticas.
O objetivo foi elaborar uma obra de referência, que auxilie no trabalho de colecionadores, pesquisadores, marchands e artistas, insiste Dêrnisson. “Com exceção dos livros sobre a obra de alguns artistas consagrados, há poucos livros do gênero disponíveis no mercado baiano. Com isso, a História das Artes Plásticas na Bahia acaba sem registro”, destaca.
Acredito que dentro desta ótica do autor seu objetivo foi alcançado e merece aplausos. Também podemos afirmar que nem este nem qualquer outro livro poderá se arvorar de completo. E certamente Dênisson com sua fleuma e tranqüilidade sabe que isto é verdade. Foto de obra de Raimundo Oliveira.
O formato do livro buscou o registro. No verbete dedicado a cada artista, há, além da foto de uma obra e textos assinados por nomes tão diferentes quanto Décio Pignatari, Clarival do Prado Valadares, o psiquiatra Ricardo Chemas e Jorge Amado, o nome completo de cada autor, ano de nascimento, descrição, ano de criação e valor de mercado da peça ilustrada.
A publicação conta ainda com textos dos críticos de arte Carlos Eduardo da Rocha, Matilde Matos, Reynivaldo Brito, Ivo Vellame, Aldo Tripodi, Cesar Romero, dentre outros que traçam um panorama das artes plásticas na Bahia do início do século até os dias atuais. No final do livro, há um glossário de termos e movimentos artísticos e uma relação das principais galerias e museus de arte de Salvador.