Translate

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

DOIS FOTÓGRAFOS FOCADOS NA ÍNDIA

Este olhar enigmático captado por Armando nos impressiona
Estamos vivendo a época das selfs e de todo tipo de imagens, muitas delas desnecessárias onde as pessoas expõem suas vidas desmesuradamente nas redes sociais. Tem pessoas que colocam mais de uma dezena de fotos, quase na mesma pose ou cena. Esta superexposição é um espelho desta nova realidade.
Porém, ao lado deste quadro de milhões e milhões de imagens descartáveis, muitas das quais nunca serão impressas num papel fotográfico, estão os  profissionais da arte fotográfica com expertise para clicar com sua sensibilidade a alma das pessoas através um olhar,gesto ou  um movimento inesperado .Eles conseguem captar  com ajuda das suas lentes  além do real dos homens e mulheres, objetos e cenários que surgem em seus caminhos.
Duas mulheres ao encontro do Rio Ganges. Foto de Sinísia.
A fotografia é o documento vivo daquele momento que nunca mais acontecerá. É como a água do rio que segue o seu curso e  jamais será a mesma que passou por você num instante qualquer.
Muitas vezes estranhamos quando alguém nos mostra uma fotografia, mesmo a mais despretensiosa  e espontânea. Não aceitamos porque sempre tem um detalhe que a câmera captou e não gostamos. Quando acontece o contrário  achamos que saímos bonitos, ai salvamos a foto, e até a redistribuímos entre parentes, amigos e amores.
A exposição fotográfica Uma Índia , Dois Olhares que o casal Armando Correia Ribeiro e Sinísia Coni estão fazendo no Museu da Misericórdia, no centro da Cidade, até o dia 17 de dezembro,  é a celebração de um trabalho feito com carinho a quatro mãos.

IMPRESSÕES

A festa Holi (Primavera) com muito pó colorido em Mathura
captada por Armando
Conta Armando Correia Ribeiro que durante dois meses permaneceu na Índia com sua esposa Sinísia, também fotógrafa, especialmente na cidade de Mathura onde acontece todos os anos a tradicional festa Holi, quando os indianos festejam a chegada da Primavera. Eles saem às ruas portando vasilhames e saquinhos cheios de pós coloridos e também, com garrafas de água que atiçam nas pessoas. Todos são molhados e coloridos.
Para se proteger dos pós Sinísia colocou um xale cobrindo a cabeça e uma parte do rosto. Mas, de nada adiantou. Puxaram o xale e lançaram pó e água . Tudo isto é feito num ambiente de cordialidade e doçura.
Indiana imerge parte do seu corpo no sagrado Rio Ganges.
Foto de Sinísia
Os fotógrafos ficaram também impressionados com a religiosidade dos indianos e a capacidade de resiliência em  suportar a pobreza ,como se fosse um carma , na esperança de quando morrer alcançar o Reino dos Céus.
Também, a ligação deste povo com o Rio Ganges é um fenômeno impressionante porque mesmo poluído eles entram, se banham e lançam em suas águas diariamente cerca de 250 corpos, além dos que são cremados em grandes fogueiras em suas margens. Eles chegam conduzindo o corpo do parente ou amigo envolto em flores. Montam uma fogueira e ali tocam fogo e entoam suas preces e fazem meditações.
Na realidade o casal  já tinha informações sobre o que iria encontrar na Índia. Porém, mesmo assim foi uma viagem que marcou as suas vidas para sempre. Conta Sinísia que tinha tomado um barco para fotografar a cidade de Varanasi vista do Rio Ganges. Quando voltava e desceu do barco, algumas moedas que estavam em seu poder caíram no chão. Próximos a ela estavam alguns pedintes que ficaram parados, e um deles veio em sua direção e tocou-lhe levemente no braço apontando as moedas no chão. Se fosse aqui no Brasil será que deixariam a Sinísia ir embora ou avançariam nas moedas?

FOTOGRAFIAS

Armando e Sinísia
O casal de fotógrafos focou com o olhar e sentimento de cada um. Sinísia se fixou mais nas mulheres, nos gestos femininos, na relação delas com o Rio Ganges. Armando está expondo principalmente  algumas fotos de homens com seus olhares fixos e enigmáticos e cenas coletivas.
As imagens falam por si. Elas se bastam, e mesmo o poeta mais sensível seria incapaz de traduzir àqueles momentos mágicos vividos pelos fotógrafos diante desses homens e mulheres anônimos, e dos cenários deslumbrantes.
No catálogo da mostra o psicanalista Marcelo Veras escreveu: Uma Índia, Dois Olhares  "não deixa de ser um exercício de amor, ou seja, fazer surgir o Um onde há dois. A Índia os divide, a exposição os une".
Portanto, não deixe de visitar esta exposição, porque é também uma prova da individualidade  de cada olhar diante do que vemos e vivemos.



segunda-feira, 16 de outubro de 2017

MARIA ADAIR PINTANDO PARA SUA MOSTRA DOS 80 ANOS

Maria Adair em seu atelier na mesa de trabalho, bairro da Graça
 Uma das mais produtivas e criativas artistas da Bahia completará  80 anos no próximo ano, e para celebrar esta data está trabalhando para realizar uma grande exposição que terá o título de "Cruzando Caminhos e Pontuando a Vida", na Galeria Paulo  Darzé, no Corredor da Vitória,Salvador,Bahia
Trata-se de Maria Adair, esta mulher de estatura baixa e que tem uma força criativa indiscutivelmente                           desproporcional à sua massa corporal. 
Ela guarda a primeira tela que pintou
da fazenda de seus pais em Itiruçu, Bahia
Conheço Maria Adair há muitos anos e sempre foi assim quase elétrica correndo de um lado pra outro descobrindo novos suportes para expressar a sua arte. Quase tudo lhe serve de suporte. Um pato de cerâmica encontrado em Maragogipinho, um aviãozinho ou helicóptero artesanal, cadeiras, bancos, copos, jarras,talheres, mesas, etc Enfim, ela lança mão dos mais variados e díspares objetos para transformá-los em arte. 
Sua pintura tem uma identidade própria com suas linhas que se cruzam e se lançam ao infinito. Assim ela está trabalhando freneticamente e todas as pinturas e objetos serão inéditos. Portanto, não se trata de uma retrospectiva, como é padrão entre os artistas que celebram datas especiais. 
Esta tela fará parte de sua exposição dos 80 anos
Na entrevista que me concedeu em seu atelier no bairro da Graça, justificou dizendo que seria muito trabalhoso uma retrospectiva com obras de todas suas fases porque existem trabalhos espalhados em vários estados e no exterior. Por isto ,decidiu  pintar agora todas as obras . É um trabalho de fôlego porque muitas das telas tem 1 m x 1,30 m e até de 1,10 x 1,50 m. Pretende expor oitenta trabalhos.
Esta mostra terá duas séries: Cruzando Caminhos e Pontuando a Vida 
Disse a artista que "os trabalhos não tem nada de realista. São linhas e pontos que se cruzam e se lançam ao infinito. Os pontos ela  representará em 80 cubos de madeira pintados e nas telas está pensando em colocar nomes dos locais por onde passou desde Itiruçu.Vi nestas novas obras de Maria Adair a presença de aplicações de folhas de ouro, prata e de outros metais os quais proporcionam um up ground perceptivo.
Obra Procissão de Nossa
Senhora da Conceição
da Praia


                                      TRAJETÓRIA

Nascida na cidade de Itiruçu Maria Adair veio pra Salvador e aqui estudou na Escola de Belas Artes, sendo depois professora e orientadora de vários artistas iniciantes. Tem um temperamento surpreendente porque gosta de conversar, e de repente faz indagações ou questionamentos que se o interlocutor não estiver preparado e  desinibido vai calar de vez. Durante a entrevista se comportou assim em alguns momentos. Como já conheço a Adair fui levando a conversa colocando outra pergunta, mesmo que parecesse inadequada para aquele instante, mas funcionou como um ponto de seguimento.

Obra Dois de Julho no
Centro Histórico

Ela conta que em 2007 fez uma exposição com obras da sua fase Orgânica no Centro Cultural dos Correios, que fica no Terreiro de Jesus, Salvador, Bahia. Esta mostra ocupou os três pavimentos do imóvel.
Depois vieram outras fases como a Viva o Risco, O Espaço Urbano .Viajou por vários países como Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, Itália, França, Marrocos e Grécia , e dai a surge a  fase Caminhos Cruzados numa clara referência às suas andanças. Nestes países pintou por lá telas e também objetos que encontrou.

           SEU MUNDO

Este trabalho é da fase Espaço Urbano
A artista mora numa casa na rua Djalma Ramos que é  enladeirada e fica no bairro da Graça. Tive alguma dificuldade em encontrar porque além de estreita o volume de carros estacionados nestas ruas da Graça é realmente assustador. Ao entrar a gente se depara com um mundo fantástico e agradável repleto de objetos de arte por todos os espaços. Um verdadeiro bazar de arte onde você encontra copos, jarras,cadeiras, bastões, panelas,patos de cerâmica ,cacos de porcelanas,cadeiras,mesas,bancos. São quatro pisos e todos completamente repletos de obras de arte, inclusive nos quartos onde mora com seus filhos. 
Obra Doce de Banana
de Rodinha , do
Universo Amado
Confesso que senti  mais calma em relação à última conversa que tive há alguns anos atrás. Olhei a janela e vi que os vidros também viraram suportes para sua arte. Ela tinha riscado os desenhos  e mandado jatear . Ao abrir a janela apareceu o céu. Brincando eu lhe disse: Aqui só falta você pintar o céu. Ela riu. Mas, se tivesse um jeito certamente pintava um pedacinho .
Na mostra intitulada O Universo Amado que fez juntamente com Eliana Kertész , no Palácio das Artes, o crítico Marcos de Lontra Costa escreveu : "Ela é uma artista das telas, mas também a artista dos pratos, dos cacos, das farras, das garrafas, das cerdas e das pedras, de todas as coisas que a Terra põe à disposição da mão humana e que Maria com sofreguidão cria e recria como se sua vida fosse regida pelo compromisso de Labão nas palavras de Camões: Para tão grande amor, tão curta é a vida". 



domingo, 15 de outubro de 2017

MORRE O ARTISTA JOÃOZITO

O artista Joãozito trabalhando em seu atelier
Faleceu hoje, dia 15, o artista Joãozito Pereira, casado com a artista Lanussi Pascoali. Era conhecido simplesmente por Joãozito, e sua morte ocorre aos 51 anos de idade, vítima de um câncer. Conheci o artista em novembro de 1990, conforme registro abaixo em minha Coluna Artes Visuais, quando divulguei a sua exposição.
Ele me procurou na redação do jornal e lá conversamos um pouco sobre os trabalhos que ia expor. Estudou na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia .
De lá para cá tive pouco contato com o artista , mas acompanhei de longe seu caminho construindo sua trajetória artística, e infelizmente agora recebo a notícia do seu falecimento.
Tenho conhecimento de que
Obra da série Cabeças do artista Joãozito
participara de uma bienal que era realizada ai no Recôncavo.Fez um trabalho de ocupação artística em casarões que ficam atrás da igreja da Misericórdia. Foi um dos idealizadores da Feira Pedra Papel e Tesouro, e também da exposição Cabeças .
Joãozito fez várias ilustrações para eventos e também gostava de tocar guitarra. Um de seus amigos o  definiu como  um "rebelde,visionário e alegre".
Fez muitos trabalhos de cenografia e realizou sua primeira mostra em 1988 sob o título "encontros com Da Vinci".
Pesquisando hoje, dia 16, sobre a obra de Joãozito fiquei sabendo que pautava sua produção por pintar pessoas marginalizadas e figuras insólitas. Sempre buscando pautar sua produção artística por sair do estereótipos.
Sua obra vai ficar ai eternizada e as boias lembranças que o artista deixa como legado para seus familiares e amigos.
( Fotos Google )





























segunda-feira, 2 de outubro de 2017

TRÊS MOSTRAS SINGELAS E PALESTRA NO MAM-BA

Sabemos que os nossos museus e outras casas de cultura da Bahia a exemplo da Biblioteca Central  estão vivendo à míngua. Não existe uma preocupação do governo em estimular e apoiar a cultura, e o turismo a ponto do Centro de Convenções desabar por falta de manutenção. e o nosso Centro Histórico estar às moscas.
Mesmo assim, alguns dos dirigentes destas instituições fazem um esforço tremendo para apresentar alguma programação.É o caso do Museu de Arte Moderna ,que funciona no combalido Solar do Unhão, que está apresentando três singelas mostras.  
Lá já funcionou um bom restaurante , inclusive era mais um atrativo para que o MAM fosse visitado. O restaurante fechou .Quando estive no ano passado por lá já havia outro inquilino cuidando do restaurante, só que bem mais simples. Agora, não existe mais nada ,nem pra você tomar uma água. O pier de atracação está sem piso.O equipamento  era usado por turistas que ali embarcavam e desembarcavam para navegar pela Baia de Todos os Santos em seus passeios programados . Uma lástima. 
Basta dizer que os museus baianos são subordinados ao Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia - IPAC  ao invés de serem vinculados à Fundação Cultural, e esta mudança foi promovida  por Paulo Souto pouco antes dos petistas assumirem o governo. Piorou.Esta relação é sempre distante e às vezes até conflituosa. 
Agora foi substituído  o Secretário da Cultura. Trocaram seis por meia dúzia. Nada de importante vai acontecer.
No alto à esquerda  pintura em acrílico sobre tela , sem título, de autoria de Davi Caramelo.


AS EXPOSIÇÕES

Voltando ao MAM-Ba uma das exposições ocupa a capela, composta de obras de alunos e professores da Escola de Belas Artes da Ufba. Intitulada de Mostra Gráfica 3  apresenta  muitos trabalhos  produzidos por alunos que dão seus primeiros passos. Encontrei alguns trabalhos interessantes ,outros nem tanto, mas, compreendo porque eles estão na fase de aprendizado e aprimoramento . Isto é muito importante.
Esta aproximação das Oficinas do MAM com a Escola de Belas Artes é positiva  e vem reforçar o movimento da gravura na Bahia, que já foi um dos mais importantes do país.Ao lado obra de Patricia Martins "Com quantas queixas perco o seu retrato".
Obra de Fábio Magalhães " Dos
lugares que me Prendem
".Óleo
sobre tela.

Já  no salão principal estão expostos telas e objetos produzidos por  artistas da nova geração. Chamada de Pertencentes. Informam os organizadores que esta mostra " inicia um processo de pensar que lugar é este a que chamamos de Estado Bienal". Dizem ainda que "outros artistas serão convidados a dialogar com o objetivo de pensar o museu e aproximá-lo dos artistas e das comunidades".
À esquerda detalhe da obra de Vinicius SA "Sorria você está sendo filmado",composta de pequenas lâmpadas que lembram olhos.

Esta terceira mostra está no galpão . Intitulada "Da razão ao Informalismo".São telas  do acervo onde estão obras de Caetano Dias, Almandrade, Fernando Coelho,Florival Oliveira, dentre outras. Acho interessante também que estas obras do acervo sejam retiradas da reserva técnica e mostradas de tempos em tempos ao público, assim vão contribuindo de certa forma para maior conhecimento do que existe .
Foto de Acácia Novaes
Este esforço que vemos não apenas no MAM como também no Palacete das Artes, Museu de Arte da Bahia e no Museu Costa Pinto dentre outros, é uma demonstração que seus gestores querem trabalhar e precisam urgente de apoio financeiro. Sem dinheiro não se faz quase nada a não ser singelas ações 
para que as traças e as aranhas não tomem conta dos espaços.
À esquerda visitantes observam a obra de Caetano Dias.


PALESTRA
Foi cancelada a palestra de Paulo Herkenhoff , depois de ser adiada. Segundo o Mam-Ba informa o cancelamento é por problemas pessoais do convidado.

Ainda dentro deste esforço do MAM-BA de realizar eventos culturais ligados à sua identidade será feita  uma palesta no próximo dia 13, às 15 horas , pelo conceituado crítico de arte e curador Paulo Herkenhoff .
Ele vem a convite do artista e diretor do MAM-Ba Zivé Giudice, e sua fala será  no Casarão do Solar do Unhão, quando abordará o tema "O Estado Bienal', onde fará uma reflexão sobre a arte, polÍticas culturais , e a cidade onde o museu está inserido.