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sábado, 30 de setembro de 2023

PRENTICE O INCANSÁVEL PINTOR DE AZULEJOS

 Prentice em seu ateliê pintando os azulejos um a um com uma precisão impressionante.
A Bahia tem muitas coisas a serem exploradas por nós que moramos aqui e pelos que nos visitam. Confesso que não conhecia o artista popular e pintor de azulejos Prentice Sacramento de Carvalho que ainda aos 83 anos de idade tem uma rotina espartana de acordar bem cedo e ficar até tarde em seu ateliê pintando seus azulejos que já correram o mundo. Homem de fácil comunicação, bom humor e que vibra com sua arte fazendo questão de mostrar o seu museu particular onde está exposta uma série de azulejos de todos os tamanhos e com pinturas as mais diversas. Lá estão pintadas as paisagens de nossa Salvador, as igrejas, as manifestações populares, as tradições religiosas do catolicismo e do candomblé, retratos e murais com passagens bíblicas ou de santos. Ele também contribui para a recuperação de importantes acervos históricos e culturais recriando azulejos danificados pelo tempo, inclusive já fez alguns para a igreja de São Francisco, dentre outros.  Tem uma habilidade ímpar em manusear um pincel nos azulejos lisos e escorregadios e depois de prontos leva ao forno para que a pintura realmente fique fixada naquele suporte.

Ele tem uma variedade espetacular de azulejos pintados.
O Prentice tem o cuidado de registrar e guardar em  pastas fotos e mensagens de pessoas 
e personalidades de várias partes do mundo. Tive oportunidade de ver fotos de integrantes da família real dos Bragança, de xeiques árabes, de mulçumanos, japoneses, de cineastas da Coreia e da Alemanha. Já foi entrevistado por jornalistas daqui e de fora e sempre está disposto a falar sobre sua arte e o que move a continuar pintando seus azulejos. Não tem formação acadêmica, apenas estudou na Escola Técnica Federal o curso de edificações e lá aprendeu a pintar com o professor Tomás Costa, conhecido por Costinha, juntamente com seus colegas as grandes placas de metal que antigamente eram colocadas na beira das estradas. Ele lembra bem que pintou várias placas da Goodyer e da Firestone anunciando seus pneus. Existe até um mercado de placas antigas as quais são colecionadas. Já trabalhou pintando copos de cristais que eram exportados para a Europa, especialmente a Espanha e durante 15 anos numa fábrica de cerâmica em Dias D'Ávila onde era responsável pela produção e concepção artística das peças.

                                                                QUEM É

Foto 1. Lavagem do Bonfim. Foto 2 .Igreja
N. S. Rosário dos Pretos.Foto 3. Telhas do
sanitário pintadas.Foto 3. Um desenho de
casarões de Gaia, cidade de Portugal.


Quando iniciei a minha conversa com ele perguntei se era descendente de italianos ou de outra nacionalidade por causa de seu nome Prentice. Respondeu que sua mãe "escolheu este nome Prentice por causa de um pensador inglês que disse que temos pensamentos de um lado claros e outro obscuros". Foi então que resolvi pesquisar e descobri que o pensador era na realidade o escritor, jornalista e espiritualista norte-americano Prentice Mulford. Segundo a Wikipédia pertenceu ao Movimento Novo Pensamento e tinha uma coluna num jornal popular na Califórnia. Após uma viagem que fez à Europa decidiu viver como um eremita nos pântanos de Passaic. Têm inúmeros livros publicados, inclusive alguns tratando da espiritualidade. Deve ter sido um desses livros que sua mãe leu e gostou do nome a ponto de batizá-lo como Prentice. É autor de um livro chamado Pensamentos são Coisas. Nasceu em 5 de abril de 1834 e morreu aos 57 anos de idade em 27 de maio de 1891.


Foto 1. O artista com descendentes da família
Bragança.Foto 2. Com visitantes japonesas.
Foto 3. Com turistas mulçumanos.Foto 4.
Um azulejo de sua autoria de pescador na
Escadaria Solarón, Lapa, no Rio de Janeiro.
O nosso personagem nasceu em três de agosto de 1940 na Rua dos Ossos, no bairro de Santo Antônio Além do Carmo, centro histórico de Salvador. É filho do dentista Armando Goes de Carvalho e de d. Lindaura Sacramento, ambos falecidos. Fez o ensino primário na Escola Teixeira de Freitas e recorda de suas professoras Ivone e Virginia, esta filha do dono da escola onde estudava. Ele já desenhava e inclusive fazia desenhos para os trabalhos dos colegas. Disse que a professora Virginia informou a seu pai, que sempre ia saber como estava seu desempenho na escola que o seu filho só queria ser artista, embora tirasse notas boas nas demais disciplinas. Foi quando o velho Armando Goes respondeu: “Aí é que está o mal”. Isto porque segundo Prentice “o artista quase não tinha valor naquela época ”.

Em sua casa onde vemos o
imponente portão de ferro
.
Depois foi estudar no Instituto Normal da Bahia, no bairro do Barbalho, em Salvador, próximo onde morava e no quarto ano parou de estudar. Não queria fazer o colegial que poderia ser o Clássico e o Científico, como era dividido na época. Depois de hesitar foi estudar edificações na Escola Técnica Federal, mas o seu desejo era a arte. Desde criança que desenhava e sua ida para a Escola Técnica visava aprender a pintar. Lá conheceu o professor Tomás Costa, o Costinha, que sempre recebia encomendas para pintar placas de propaganda que eram colocadas à beira da estrada anunciando produtos. Passou a trabalhar com o professor e alguns colegas. Recordou que certo dia estavam num andaime pintando uma grande placa da Goodyer quando o colega pediu que passasse para ele o galão de tinta da marca Duncan. Ao passar o galão aconteceu que o colega não conseguiu segurar vindo a cair espalhando tinta pelo salão e atingindo o professor Costinha. O professor ficou furioso e pediu ao diretor que os suspendessem. Depois de avaliar o diretor achou por bem não punir os alunos porque aquilo teria sido um acidente e eles tinham bom comportamento. Lembra também que um dia o professor e grande pintor Presciliano Silva ao ver o desempenho de Prentice disse para os outros alunos “este caboclo ainda vai longe”. A vida seguiu e passou a trabalhar em alguns locais sempre pintando e tem um hobbie que é de montar presépios de Natal. Na conversa que tivemos disse que montou durante anos vários presépios inclusive da Igreja da Conceição da Praia, na Cidade Baixa, em Salvador, onde improvisava uma pequena cachoeira com uma bacia pintada e uma lata de água que ficava atrás e de tempos 
Prentice vendo-se ao fundo o Porto dos Tanheiros.
em tempos tinha que ser enchida. Hoje um simples motorzinho movimenta a água nos presépios e fontes de jardins. Está casado há sessenta e quatro anos com d. Carlota Waldeci Oliveira de Carvalho e tem sete filhos adultos, sendo que cinco deles moram com ele no centenário se casarão na Avenida Porto dos Tainheiros, 70, no bairro da Ribeira, em Salvador. Antes trabalhou na Ponta do Humaitá, pintando copos de cristais e outros objetos utilitários que eram exportados para a Espanha. Depois o dono do negócio que era espanhol resolveu voltar para sua terra. Foi trabalhar na Rua Carlos Gomes também pintando e lá conheceu dois portugueses que eram donos da fábrica de Cerâmica Dias D’ávila que fabricava vasos e outros objetos de faianças. Na região tem muito caulim e argila próprios para serem utilizadas na arte da cerâmica. Atualmente existem várias
fábricas que fornecem blocos, azulejos e outros produtos para a construção civil. Trabalhou na fábrica durante 15 anos e foi morar em Dias D’ávila numa casa cedida por um parente. O Prentice era o encarregado da produção além da parte artística. Lembra que durante alguns anos eram produzidos na fábrica as bases dos filtros Salus que até hoje são tidos como os mais conceituados no mercado. Porém a fábrica enfrentou algumas dificuldades e com a entrada de outros sócios não se reergueu. Um dos sócios portugueses teve um fim trágico e ele decidiu vir morar onde está até hoje pintando seus azulejos e recebendo visitantes de todo o mundo. Você que mora em Salvador e só conhece a delícia do sorvete da Ribeira, aproveite e vá conhecer o ateliê do Prentice que é um verdadeiro museu dos azulejos. A casa do artista está sempre aberta. Ao lado o Prentice com mais alguns de seus azulejos com pinturas de igrejas, paisagens, e de manifestações religiosas e populares da Bahia. Seu ateliê se transformou num ponto turístico e ele recebe as pessoas com muita disposição e afabilidade.

 

 

 

 

 

 

sábado, 23 de setembro de 2023

HENRIQUE PASSOS TRAZ DE VOLTA PAISAGENS DE OUTRORA

 Henrique Passos com suas últimas obras em ost.
O artista Carlos Henrique de Oliveira Passos que assina suas obras Henrique Passos é um profissional reconhecido, experimentado e requisitado por sua capacidade de reproduzir sítios antigos de nossas cidades, de retratar as pessoas e de criar cenografias para o teatro com uma habilidade ímpar. Com a paciência de um monge consegue não só reproduzir em telas ou em outros suportes as paisagens urbanas e rurais com ambientação de épocas passadas o que ganha maior importância servindo de referência documentária.  As cores que emprega nos remete aos séculos anteriores quando as pessoas andavam de carruagens, bondes e mesmo a pé ostentando suas cartolas e bengalas elegantes, enquanto as mulheres com seus vestidos longos e chapéus desfilavam pelas ruas para realizar seus afazeres ou mesmo em busca de entretenimento quer seja tomar um chá ou fazer compras. Toda esta movimentação das ruas ressurge nas suas obras que parecem fotografias de outrora. Aliás, muitas dessas telas de Henrique Passos são baseadas em fotografias antigas, e certamente em cada uma delas tem a sua contribuição pessoal.  Tenho um fascínio especial por estas paisagens antigas e a nostalgia faz bem aos olhos e ao espírito porque podemos ver e sentir como as cidades e seus habitantes mudaram. Nesta mudança muita coisa para melhor e outras para pior. Quantos prédios importantes como o Teatro São João, as igrejas da Sé e de São Pedro, a Biblioteca Pública, a Imprensa Oficial, o Hotel Meridional e outros foram demolidos pela sanha de prefeitos e construtores que não tinham compromisso com o nosso patrimônio histórico e cultural. 

Salvador de outrora. A Praça Castro Alves e Rua Chile.
Portanto, este artista vindo da cidade de Ubaitaba nos traz de volta estas paisagens urbanas como registros instantâneos de uma máquina fotográfica para perpetuar como documentos. Sabemos que as cidades se transformam com novas avenidas, viadutos, prédios, outros elementos que são acrescentados, retirados e substituídos. Atento a esta transformação Henrique Passos pinta as paisagens urbanas de hoje com a mesma maestria transferindo através de suas obras a atmosfera e as imagens que se apresentam. Vi numa das telas a presença de alguns espigões nos morros que a contornam agredindo a paisagem da velha Salvador. Numa de suas exposições registrou também paisagens marinhas e especialmente os saveiros que eram abundantes nas águas da Baia de Todos os Santos, e hoje encontram-se em extinção. Estas embarcações tiveram um papel fundamental no transporte de mercadorias produzidas no Recôncavo baiano que eram consumidas em Salvador e daqui levavam produtos manufaturados para essas cidades. Ao visitar o seu amplo ateliê no bairro do IAPI o encontrei envolvido com a reforma de sua casa que fica numa pequena e calma rua sem saída como se fosse uma ilha rodeada de favelas que hoje chamam de comunidades. Passaram-se os anos e o Estado não se fez presente em centenas desses locais espalhados por toda a cidade do Salvador e hoje são áreas deflagradas e dominadas pelos narcotraficantes.

                                                     SUA HISTÓRIA

Visão atual de parte  de Salvador vista do mar.
O artista Carlos Henrique Oliveira Passos é natural da cidade baiana de Ubaitaba que fica na região sul da Bahia, portanto na zona do cacau, e é também conhecida porque muitos de seus habitantes praticam a canoagem. De lá surgiram alguns atletas de destaque até para os cenários nacional e internacional. O nome Ubaitaba significa a terra das canoas que são muito presentes no rio de Contas que corta a cidade ligada através uma ponte com sua vizinha a cidade de Aurelino Leal. O Henrique Passos nasceu em 25 de agosto de 1954, filho do comerciante e político Walter de Oliveira Passos e da dona de casa Célia de Oliveira Passos. Seus pais tiveram sete filhos e o Henrique lembra com alegria de sua infância nadando e pescando no rio de Contas. “Quando adolescente a gente atravessava o rio nadando para a cidade de Aurelino Leal, que era chamada na época de Poeri. Íamos à procura de aventuras, ver as meninas se banhando no rio, encontrar novos amigos, enfim era uma alegria. Também gostava de visitar as fazendas de cacau dos pais de meus amigos onde a gente comia jaca e outras frutas que existiam em muita quantidade nas terras onde se plantava cacau. Meu pai não tinha fazenda. Era um comerciante e político, inclusive foi prefeito de Ubaitaba."

Henrique Passos com seu troféu Martim Gonçalves .
Fez o primário nas escolas das professoras Zizinha e Haidê Fernandes dona da Escola Pequeno Polegar. Esta professora tinha sido bandeirante no Rio de Janeiro e ao retornar abriu a escola. Ao terminar o primário prestou admissão no Ginásio Municipal Ubaitabense, e pouco depois veio morar em Salvador no bairro de Nazaré e foi estudar no Colégio Severino Vieira, que na época era dirigido pela professora Amália Paranhos Magalhães. Ao terminar o colegial resolveu fazer vestibular para Arquitetura, mas foi eliminado na prova de Matemática. Então foi fazer o curso de Mecânica na Escola Técnica Federal pensando em usar seus conhecimentos para fazer esculturas. Não era o que queria e foi estudar Administração de Empresas onde chegou a cursar três semestres. Seu primeiro emprego foi como auxiliar de secretaria no Colégio Anísio Teixeira, localizado na Ladeira do Paiva, em Salvador.  Tentou trabalhar no Polo Petroquímico, mas devido a sua hipermetropia ocular foi rejeitado pelo serviço médico da Dow Química, que era muito rigoroso. Finalmente em 1978 prestou vestibular para a Escola de Belas Artes de onde saiu diplomado em Artes Plásticas em 1982. Chegou a ensinar Geometria Descritiva por dois anos no Colégio Maristas, porém desistiu de ser professor e continuou sua trajetória de buscar expressar sua arte. Enquanto estudou na Escola de Belas Artes foi monitor dos professores titulares Riolan Coutinho, Juarez Paraiso e Márcia Magno. Participou durante três anos das equipes que fizeram a decoração do Carnaval de Salvador lideradas por Juarez Paraíso, Edvaldo Gatto, Tati Moreno e Renato Viana.  

                                              EXPOSIÇÕES E PRÊMIOS

Foto da abertura da exposição na AL de
São Paulo.Vemos à esquerda Francisco 
Senna, dois deputados e Henrique Passos.
Sua primeira exposição individual foi no Museu da Cidade do Salvador na década de 1970. Este museu era um importante ponto turístico e ficava no prédio ao lado de onde funcionava a Fundação Jorge Amado e foi criado por d. Eliete Magalhães infelizmente na administração de Antônio Imbassay o museu foi desativado e suas peças espalhadas em outros locais. Ninguém sabe ao certo quantas foram alocadas em outros espaços culturais e onde outras foram parar. Uma boa pauta para um repórter investigativo. Voltando ao Henrique Passos duas exposições marcaram sua trajetória a realizada no Salão Negro da Assembleia Legislativa de São Paulo, chamada Gloriosa São Paulo, comemorativa dos seus 450 anos, em outubro de 2004. 
Obra Largo do Tesouro , São Paulo, em ost.
Ele pintou em trinta telas de linho as paisagens urbanas antigas da capital paulista. 
Durante os festejos dos 454 anos da Cidade do Salvador em março de 2003 com o nome de Caminho da Vila Velha imortalizou com sua obra os monumentos históricos no trecho que compreende o Porto da Barra até o Terreiro de Jesus. Manuseando o catálogo vemos retratados o Forte de Santa Maria, Saveiros no Porto da Barra, Praça Castro Alves, Entrada da Rua Chile, Rua da Misericórdia, Praça Municipal, Vista do Mercado Modelo, dentre outros. A exposição foi realizada na Galeria da Cidade, no Teatro Gregório de Matos, no centro histórico da capital baiana.

"Saveiros no Porto da Barra com Igreja 
de Santo Antônio ao Fundo", ost de 2013.
Na década de 90 expôs na ADA Galeria de Arte em Salvador; 1997- MCR Galeria de Arte, Salvador;  1999 – no Museu da Cidade – Mostra Salvador 450 anos -Eternamente Linda; 2001 MCR Galeria de Arte, exposição Novas Paisagens, Salvador; 2003 – Galeria da Cidade, exposição Caminhos da Vila Velha ; 2004 – No Salão Negro da Assembleia Legislativa de São Paulo exposição Gloriosa São Paulo 450 anos; 2006 – Inauguração do Forte de São Marcelo exposição Baia do Forte do Mar, em Salvador; 2012 – no Salão Nobre da Associação Comercial da Bahia, exposição Amada Bahia de Jorge, Salvador; 2012 – Praça Central do Shopping Barra, exposição Amada Bahia de Jorge, em homenagem ao escritor Jorge Amado; 2013 – Exposição Saveiro Arte – Saveiros do Mar da Bahia p- na Zeca Fernandes Escritório de4 Arte.  EXPOSIÇÕES COLETIVAS – Salão da Congregação Mariana, Salvador; Galeria Panorama, Salvador; 1999 – Museu de Arte Moderna da Bahia, Museu da Cidade do Rio de Janeiro e Museu Metropolitano de Arte, em Curitiba; Exposição Coletiva Itinerante Arte Salvador 450 Anos; Coletiva de Inauguração do Teatro Patamares – Empreendimentos Educacionais, Salvador; Exposição Comemoração dos 500 Anos do Descobrimento do Brasil, em Curitiba, no Paraná; 2005 e 2006 - Exposição Artistas Brasileiros , Salão Negro do Senado Federal, em Brasília;2012 –
Aquarelas de uma série que vem criando.

Exposição Construtores do Brasil -Homens e Mulheres que ajudaram a fazer Um Grande País, Brasília; Exposição Padrão dos Descobrimentos , Lisboa, Portugal; Exposição Museu de Arte Primitiva Moderna, Guimarães, Portugal; Exposição Centro Cultural de Macau, na China.Tem obras em vários acervos entre eles no Museu da Cidade de Salvador, obras a Sé Primacial e Mapas da Cidade; Biblioteca do Campus Universitário da Ufba, em Salvador; Câmara Municipal de Salvador, obra o Paço Municipal (1660 e 1888); Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, obra Pátio do Colégio, São Paulo; Fiesta Convention Center, Salvador; Edifício Baía de Todos os Santos, Salvador; Motorola do Brasil, painel, em São Paulo; Acervo do Hospital São Rafael.  Já pintor vários retratos para os memoriais dos governadores da Bahia e da Faculdade de Medicina, UFBA, dentre outros.

Como cenógrafo fez cenografias para várias peças de teatro e outros espetáculos e com a peça Saci, baseada na obra de Monteiro Lobato e montada por Heckel Reis e Angélica Lopes Pontes ele recebeu o troféu Martim Gonçalves que exibe com muito orgulho. Muitos não sabem quem foi Eros Martim Gonçalves. Ele era pernambucano e nasceu em 1919 e faleceu em 1973. Era homem de teatro e fazia crítica teatral no jornal O Globo, no Rio de Janeiro, e foi o fundador da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia, em 1958. O teatro fica no bairro do Canela, em Salvador. Sua permanência na Bahia foi curta, porém deixou importante contribuição na formação profissional de atores e influenciou a criação de outras importantes instituições culturais.

                                                                  REFERÊNCIAS

Visão da Rua Chile com o Hotel
 Meridional substituído por  prédio
.
Entre vários críticos e escritores que apreciam e escreveram sobre a obra de Henrique Passos estão o arquiteto Fernando Peixoto e o professor Francisco Senna. Vejamos: Para o arquiteto “A documentação da paisagem urbana é onde a obra de Henrique Passos alcança maior significado. A adequação da técnica ao tema fortalece a qualidade documental dos quatros tornando-os registros valiosos. Ainda que possamos encontrar em outros artistas elementos arquitetônicos e paisagísticos de nossa Cidade, esta vertente da obra de Henrique Passos só tem paralelo no trabalho de Diógenes Rebouças, onde a intenção de reconstrução pictórica é a razão de ser. “... 
Já o professor Francisco Senna escreveu  que “Henrique Passos é o grande artista contemporâneo das paisagens da Bahia, o pintor que se debruça com olhar apaixonado sobre os recantos de sua terra e se expressa plasticamente com o encantamento de eterno namorado, revelando-nos a beleza de seu patrimônio natural e edificado, a riqueza intangível de suas manifestações culturais, a magia sagrada do sincretismo religioso de seu povo e o mistério atemporal de suas tradições e história.” E continua dizendo que Henrique Passos “ é senhor absoluto de sua arte em estilo impressionista, com extenso currículo, privilegiado talento e magistral domínio da técnica da pintura a óleo de cavalete. Registrando com sentimento cenas e paisagens congeladas no tempo e na nossa memória...” 

sábado, 16 de setembro de 2023

ANA KISS TEM UM POTENCIAL QUE DESPONTA

A artista Ana Kiss e uma obra onde mostra técnica.

A artista Ana Kiss tem um potencial artístico a ser explorado e observado. Há anos vem realizando quase que silenciosamente uma busca incessante em expressar através de sua arte o que vê, observa, e transporta para o papel ou tela. Procura estar sempre buscando novos cursos para aprimorar o seu traço, a sua capacidade de criar, melhorar a composição quer seja aquarelando, pintando ou desenhando. Sua formação acadêmica é em Pedagogia e passou mais de vinte e cinco anos ensinando em escolas públicas e particulares e sempre que tinha oportunidade lá estava a professora Ana Kiss com seus alunos desenhando, pintando e até mesmo fazendo mandalas. Era uma forma que encontrou para envolver e despertar entre os alunos a criatividade e um melhor relacionamento social e educacional. Agora que já completou o tempo necessário para sua aposentadoria vai se dedicar com mais afinco à sua arte. Não estou falando de uma artista que já tem uma estrada longa percorrida na sua carreira. Ela também não é uma iniciante porque tem conhecimento e formação suficientes para realizar suas escolhas e produz uma arte de qualidade. Aí é que está a diferença entre um iniciante que ainda tateia em busca de conhecimentos e habilidades e uma artista que já domina as cores, os pincéis e principalmente a composição de suas obras. Durante anos que escrevi a coluna no jornal A Tarde sempre foi um espaço aberto para os novos por entender que todos os que gostam de fazer arte  precisam de incentivo. Os que têm talento e persistência prosseguem e vencem, outros ficam pelo caminho e fazem novas escolhas. Tenho encontrado muitos artistas, alguns com grande reconhecimento público, que tiveram seu trabalho publicado pela primeira vez em uma de minhas colunas. Isto me traz satisfação por ter de alguma forma contribuido a ponto deles lembrarem.
Detalhes de seis das obras de Ana Kiss.
Atualmente está frequentando um curso de pintura na escola do artista Waldo Robatto, que tem feito um trabalho digno de destaque por contribuir para despertar novos talentos e aprimorar as habilidades de muitas pessoas que frequentam seus cursos. Na conversa que tive com a Ana Kiss notei também que além de seu talento tem uma vontade e satisfação em fazer arte. São elementos importantes para que o artista busque sempre novas experiências e recursos para aprimorar aquilo que se propõe a realizar. Demonstrou também satisfação em lidar durante muitos anos com seus alunos. Não eram alunos do primeiro ou segundo graus. Eram crianças em processo de alfabetização que exigem mais atenção e cuidados especiais porque estão em tenra idade começando a descobrir este mundo conturbado que lhes espera.

                                                                             QUEM É

Ana Kiss concentrada em seu ofício de pintar.
A nossa personagem é natural de Salvador onde nasceu em nove de outubro de 1969. Filha de José Jurandi Brito dos Santos e Rosa de Souza Santos e durante a sua infância e juventude morou em várias cidades porque seu pai é militar, atualmente reformado, e estava sujeito aos regulamentos que sempre determinam a movimentação de seus integrantes. Quando ela tinha quatro anos de idade seu pai foi transferido para Paulo Afonso, no Norte da Bahia, onde está localizada a hidrelétrica do mesmo nome que fornece eletricidade para parte do Nordeste brasileiro. Em seguida foram residir na cidade de Poções, também na Bahia, cidade próxima a Vitória da Conquista, onde permaneceram por uma década. Saíram de lá quando ela já estava com dezoito anos e foram residir na cidade de Jeremoabo, que fica no Norte da Bahia, vizinha a Paulo Afonso, e finalmente para a cidade de Alagoinhas, onde até

hoje reside o seu pai. Lembra que suas colegas e amigas da época estavam muito interessadas em fazer vestibular de Odontologia e isto o influenciou a tentar o vestibular, porém não obteve aprovação. “Foi minha sorte porque não me vejo em pé atendendo pessoas no tratamento de dentes.".  Formou-se em professora primária . Em seguida prestou vestibular para Pedagogia. Ao se formar fez o concurso público para ensinar no Estado, e que esperou por três anos até ser chamada e posteriormente foi ensinar numa escola no bairro do Cabula, e depois na Escola Casa da Amizade, na Rua Sabino Silva, no bairro do Chame-Chame. Foram vinte e seis anos ininterruptos de magistério. Antes trabalhou no escritório do bar e restaurante Alambique, localizado no bairro boêmio do Rio Vermelho.
Cartaz da exposição que participou  
em Milão, na Itália, em 2021.

Disse que certo dia estava passeando no Salvador Shopping quando sua atenção foi despertada para a galeria que o artista Leonel Mattos tinha por lá. Ficou sabendo que ali estava sendo ministradas aulas de pintura. Ganhou do marido um curso com duração de três meses e assim fortaleceu mais ainda a sua decisão de abraçar a carreira artística. Atualmente está frequentando as aulas na escola de Waldo Robatto e assim vai seguindo sua trajetória. Outros cursos virão e o exercício de desenhar, pintar vai aprimorando   melhorando a qualidade de suas obras.

Ana Kiss com  pintura da série inspirada 
no chão por onde faz caminhadas.
Quando indaguei como chegou àquelas formas de uma série de pinturas que está realizando respondeu que diariamente gosta de caminhar e durante suas caminhadas vai observando a paisagem e o chão por onde pisa. Nessas observações lhe chamaram a atenção as manchas, rachaduras e outras marcas deixadas pelo tempo, pela ação do sol, das chuvas e o desgaste natural devido ao trânsito de veículos e pessoas. Assim decidiu documentar estas marcas do tempo e depois as transportou para a tela resultando em obras que ao apreciarmos nos dão a impressão de ter sido feitas por um artista de anos de estrada. Fez sua primeira exposição foi em 2018 no Centro Cultural de Alagoinhas, na cidade de Alagoinhas, na Bahia. Ainda em 2018 e 2019 expôs na Semana da Arte, no Salvador Shopping. Em 2021 participou de uma exposição em Milão, na Itália, na M.A.D.S. Arte Gallery com o título Romântica. Também em 2021 integrou uma exposição coletiva da Oficina de Arte de Waldo Robatto, e atualmente está expondo no shopping Paseo, no Itaigara, em Salvador. 

 

 


 

 

 

 

 

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

MULHERES NO MASP

A foto foi tirada de longe para evitar
problemas com os moradores de rua
.
Era uma quarta-feira pela manhã quando saí do hotel com destino a Avenida Paulista para visitar o Museu de Arte de São Paulo. Lá chegando me deparei com uma cena hoje comum nas principais capitais do mundo que é a presença de vários moradores de rua, inclusive muitos doentes mentais e drogados. Os moradores de rua enrolados nos seus edredons sujos estavam em vários cantos do amplo vão livre debaixo do belo prédio projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi. Fazia cerca de 18 graus, frio para mim que vinha do Nordeste, imagine para aquelas pessoas que passaram a noite ali. Eram umas dez horas da manhã e havia uma pequena fila em frente as bilheterias para a compra dos ingressos a R$ 40,00 reais a inteira e meia R$20,00. Já estive várias vezes no MASP, mas cada vez que vou para a Capital paulista não deixo de visitá-lo e me deslumbrar com as obras do seu rico acervo. O que me chamou a atenção foi o número de pessoas que àquela hora da manhã em poucos minutos lotou o salão principal da exposição. Aqui os nossos museus vivem à míngua porque os que hoje governam o Estado acham que a arte que está nos museus é uma arte burguesa.

O cartaz grotesco no salão do MASP.
Conheço museus franceses, italianos, espanhóis, suíços, americanos, portugueses, e de muitos
outros países que já visitei e em cada um deles guardo pequenas recordações de como reagi me emocionando com a beleza e a grandiosidade das obras. Lembro por exemplo que em Florença, na Itália, fiquei realmente paralisado com a escultura de David criada pelo gênio Michelangelo. Vi dezenas de pessoas rodeadas extasiadas com aquela obra e imaginando como este homem conseguiu realizá-la naquela época utilizando instrumentos rudimentares. A arte tem este poder inexplicável de emocionar, embora hoje alguns idiotas defendam que a arte tem que chocar, provocar indignação. Arte para mim é beleza, é leveza, é para elevar o espírito e ao examinar cada obra embora às vezes fico em silêncio e não expresso o que estou sentindo. Isto acontece porque cada indivíduo reage de forma diferente. Alguns são eruditos, o que não é o meu caso, outros têm mais ou menos informações e assim por diante. Se a pessoa já gosta de apreciar uma obra de arte já fico feliz.

Vemos as obras de grandes mestres da arte
universal e na frente a de Renoir chamada
Rosa e Azul ou As Meninas Cahen d'Anvers.
É claro que ao examinar uma obra de arte temos que ver em que contexto foi feita, e muitas delas que resistiram ao tempo foram criadas antes da descoberta do Brasil. Portanto, a arte também mudou com o tempo e hoje estamos diante da arte chamada de contemporânea com suas várias correntes. Feitas estas considerações vamos aos fatos. Depois de apreciar obras de Renoir, Degas, Matisse, Modigliani, Toulouse Lautrec, Paul Gauguin, dentre muitos outros você se depara na mesma sala com obras de um movimento das chamadas minorias que hoje tomou conta das universidades, entretimentos e até do vetusto MASP. Você vê logo um cartaz grotesco onde tem inserida uma pergunta se mulher para entrar naquele museu precisa tirar a roupa. A pergunta faz alusão a inúmeras obras clássicas onde aparecem mulheres nuas que serviram de modelos aos grandes mestres da arte universal. São os tais coletivos que lembram a velha Rússia comunista com seus coletivos da agricultura que mataram milhões de fome na Ucrânia e na China de Mao Tse Tung. Dizem uns que esta gente é desinformada. Pode ser. Muitas não. São na verdade militantes da destruição. Com certeza repetem mantras como papagaios falantes, não raciocinam. Aí fui ver as obras expostas e realmente é uma distância abissal entre o que o tal coletivo expõe em confronto com os grandes clássicos. Dá dó e atesta a ignorância. Evidente que não se pode comparar alhos com bugalhos, mas apenas fazer um exercício de consciência e valores. Sou defensor do mérito independente do gênero, da cor, do tamanho ou peso do autor ou autora.

                                                                  DUAS EXPOSIÇÕES

Uma das cerâmicas expostas .
No primeiro piso inferior tem uma bela exposição de objetos pré-colombianos datados dos séculos 2 acc. e 16 da coleção de Edith e Oscar Landmann que está lá em comodato. São inúmeras vitrines onde você aprecia os mais variados formatos desde urnas funerárias até objetos utilitários e de ornamentação. É um deleite para quem aprecia objetos de cerâmica porque você fica extasiado com as formas, expressões e cores. Vale a pena visitar e ao lado de cada vitrine tem textos explicativos de onde vieram aqueles objetos seculares. Aí vemos que o homem, mesmo em tempos imemoriais já produzia objetos utilitários e de ornamentação. São 721 objetos de 35 culturas entre elas Inca, Marajoara brasileira, Paracas. Nasca, etc. vindas do Equador, Peru, Colômbia, Venezuela, Panamá, México, Brasil e países caribenhos.

Vemos  a pureza da pintura do Joseca.
No segundo piso abaixo tem uma bela exposição do índio yanomami  Sheroanane Hakihiiwe , Joseca Yanomami,  (Sheroana) Venezuela, 1971. Atualmente ele vive na aldeia de Mahekoto Theri, no município de Alto Orinoco, na Venezuela, e faz fronteira com Roraima, no Brasil. Estão expostas várias pinturas corporais e faciais e a representação de plantas, animais e objetos que eles utilizam no seu dia a dia. Muito mais interessante de se ver do que as obras do coletivo das mulheres. São 48 obras feitas em papel e mostra uma leveza e uma incrível capacidade criativa intuitiva deste índio yanomami. Consta na página do MASP uma declaração feita pelo artista que diz: “Tudo isto somos nós. Vivemos todos lá, e não é só nós. Lá tem grandes rios, grandes lagoas, os animais, todos os insetos. Vou resgatando tudo que está lá onde vivo”.  Acho importante este registro porque ele está colocando tudo em cadernos e no futuro poderão ser apreciados e estudados.

 


sábado, 9 de setembro de 2023

PAULO GUINHO DIVIDIDO ENTRE A ARTE E A GESTÃO DA EBA

Foto 1. Paulo Guinho na EBA.
Foto 2. O artista com obra que
expôs na Galeria Cañizares.
O
artista Paulo Roberto Ferreira de Oliveira conhecido por Paulo Guinho divide hoje seu tempo entre a arte e a gestão pública administrando a Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia, para a qual foi eleito diretor recentemente num pleito realizado entre professores, alunos e funcionários, obtendo 85% dos votos. Fui encontrá-lo no icônico prédio da EBA no bairro do Canela, em Salvador, onde podemos apreciar um rico acervo dos principais professores, mestres da Escola Baiana de Pintura, e artistas que já passaram por aquela instituição. Ele nasceu em Salvador, estudou em escolas públicas e particulares. Desde criança gostava de desenhar e teve a felicidade de contar com a sensibilidade do seu avô que trazia os materiais necessários para que pudesse exercitar o seu talento. Portanto, a ida para estudar na Escola de Belas Artes foi um caminho natural. Passou alguns anos trabalhando com fibra de vidro, inclusive fazendo pranchas de surf, peças de automóveis, de barcos e esculturas, muitas delas foram instaladas em lojas do shopping Aeroclube, de saudosa memória. Ele criava as esculturas em fibra de vidro e pintava com aerógrafo. Ali todas os lojistas eram obrigados a colocar uma escultura em frente ao estabelecimento. Falei ao Paulo Guinho que na loja que eu tinha lá chamada Wine & Music coloquei uma escultura de autoria de Bel Borba
.  Era uma escultura de um saxofonista, que virou ponto de atração onde as pessoas paravam para tirar fotografias.
Uma obra da série Cicratiz Urbana
Disse que ao entrar na Escola de Belas Artes tinha poucas referências pontuais de pessoas que trabalhavam com fibra de vidro entre eles Juarez Paraíso, Márcia Magno, Renato Viana e Nanci Novaes. Trouxe esta experiência que já tinha na prática - pois desde 1985 que usava este material - para a academia, e passei a fazer esculturas aqui. Lembra "registrei aqueles trilhos que existem no Solar do Unhão, onde funciona o Museu de Arte Moderna da Bahia, que eram utilizados no Brasil colonial para transportar em carros especiais as mercadorias que chegavam em saveiros e outros barcos do Recôncavo e depois embarcadas para a Europa." Lecionou em escolas públicas e privadas durante vinte anos. Quando ganhou a bolsa para estudar em Valencia, na Espanha, continuou registrando o solo, agora daquela cidade, porém em formato menor porque além de pesar muito o bronze custava na época que esteve por lá nove euros por quilo, o que hoje equivale a cinquenta reais por cada quilo. Mesmo assim nos nove meses que passou produziu quarenta e cinco peças. Foram na maioria peças em formatos pequenos porque uma peça em bronze de 15 cm x 15 cm pesa em média 1,5 Kg, e tinha outras um pouco maiores. 

                                                                QUEM É 

Paulo  Guinho falando de suas ideias  para  
o fortaleimento da Escola de Belas Artes.
O Paulo Roberto Ferreira de Oliveira ou Paulo Guinho, como assina suas obras, nasceu em 25 de agosto de 1966, no bairro de Amaralina, em Salvador. Depois foi morar no STIEP onde permaneceu por mais de trinta anos. Este bairro surgiu após a construção de um conjunto habitacional de casas para os funcionários da Petrobras, daí o nome STIEP que significa Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Extração de Petróleo, e o pai do artista Glicério Temístocles Freitas Oliveira era um dos trabalhadores que foi beneficiado com a construção de uma casa. Sua mãe Ivanise Maria Ferreira Oliveira era funcionária pública. Quando criança gostava de ficar desenhando e muitas vezes sozinho. Seu avô Pedro da Costa Ferreira percebendo que o neto gostava de pintar e de desenhar sempre trazia algum material como lápis de cor e cartolina para incentivar o seu talento. Estudou o primário na Escola Santa Terezinha, no STIEP, e depois fez o ginásio no Centro de
Paulo  Guinho trabalhando numa escultura
 de resina
.
Educação Guiomar Muniz Pereira, no bairro do Rio Vermelho, e o colegial no Colégio Águia, no bairro da Pituba, todos em Salvador. Lembrou que ficava horas olhando o mar no Rio Vermelho especialmente na pequena enseada onde fica a colônia de pescadores local . Ali em  todo dia 2 de fevereiro acontece a famosa festa de Iemanjá com milhares de pessoas levando presentes para a Rainha do mar. Aquele trecho da orla marítima de Salvador o encantava e ali permanecia por horas apreciando a beleza da natureza. Logo que terminou o colegial decidiu fazer vestibular para a Escola de Belas Artes da UFBA , em 1983. "Era  garoto e fiquei encantado com aquele ambiente de arte especialmente com as esculturas que existem aqui, algumas delas cópias em gesso de famosas esculturas do Museu de Louvre, em Paris, França.  Continuava com meu ateliê no bairro Jardim das Margaridas, perto do Aeroporto de Salvador. Conclui o curso de graduação de Licenciatura em Desenho e Plástica em 1889 pela Escola de Belas Artes, da UFBA, e neste período realizei paralelamente diversas exposições individuais", conta Paulo Guinho. Foi ministrar aulas de Desenho em colégios particulares. Porém, em 2012 resolveu prestar concurso para a docência na Escola de Belas Artes, assumindo logo
Guinho usando o aerógrafo
 numa prancha de surf .
depois alguns cargos administrativos como Chefe de Departamento, Coordenador Pedagógico, dentre outros. Fez o Mestrado e o Doutorado em Artes Visuais pela EBA na linha de pesquisa em Processos Criativos e em 2018-19 estágio em doutoramento na Universidade Politécnica de Valencia, na Espanha na área de fundição artística, Departamento de Escultura. O que mais chama sua atenção atualmente são as feridas urbanas deixadas pelo homem através os tempos em suas cidades e por outros locais por onde passou. No solo ficam registradas as interferências, as pegadas e até mesmo objetos utilitários que são cobertos por camadas de cimento, de asfalto ou mesmo de areia. É quase o olhar de um especialista em arqueologia, uma redescoberta de algo que ficou ali quase despercebido pela maioria das pessoas. Desenvolve pesquisa no campo do tridimensional com ênfase em materiais expressivos aplicados a linguagem escultórica e as feridas urbanas como imagens de ressonância do espaço urbano no contexto do passado e presente.

                                                        A ESCOLA 

Prédios da Escola de Belas Artes  e da
a Galeria Cañizares , no Canela 
.
A Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia teve e tem um papel fundamental na formação e no desenvolvimento das artes visuais em nosso Estado. Por lá passaram milhares de mestres e alunos que deixaram seus legados em obras de arte que hoje estão nos acervos de museus espalhados pelo país e até no exterior. No site da EBA você fica sabendo que a  "Academia de Belas Artes da Bahia foi fundada em 17 de dezembro de 1877. Passou a ser denominada Escola de Belas Artes da Bahia em 1891, por força da Reforma do Ensino Secundário e Superior da República feita por Benjamin Constant. É a segunda Escola Superior da Bahia e a segunda Escola de Artes do Brasil. Em dezembro de 1948 passou a integrar a então instituída Universidade da Bahia. Atua no Ensino, Pesquisa e Extensão e está subordinada ao Estatuto e Regimento Geral da Universidade Federal da Bahia – UFBA. Disse seu atual diretor Paulo Guinho que a  Escola de Belas Artes oferece quatro cursos de graduação. São três bacharelados – Artes Visuais, Design e Superior em Decoração – e uma licenciatura em Desenho e Plástica. Atende alunos de pós-graduação nos cursos de Mestrado, Doutorado e Especialização 
Bloco de  mármore Bege da Bahia 
 sendo esculpido por Guinho
.
em Arte Educação. Está localizada na Rua Araújo Pinho, número 212, 
Campus do Canela, tem sede neste imóvel  do século XIX , casarão da Galeria Cañizares, pavilhões de aulas, laboratórios e áreas do entorno. Foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia por meio da lei nº 8.895 de 16 de Dezembro de 2003 e pelo Decreto de Tombamento nº 8722, de 05 de Novembro de 2003, quando a EBA passa a ser considerada Patrimônio Cultural da Bahia.

"A Conquista", acrílica sobre
tela, de 2006.
Atualmente conta com 680 alunos matriculados, sendo que as  aulas  presenciais ainda sofrem reflexos da pandemia que paralisou o ensino em todo o país, e as aulas passaram a ser feitas virtualmente. Já teve mais de um mil alunos matriculados e Paulo Guinho está empenhado em promover ações que venham a fortalecer ainda mais a EBA, que também está necessitando de melhorias em seu espaço físico. Tem um pavilhão  em péssimas condições, necessitando de uma reforma total e mesmo outros  espaços importantes.  Para ministrar as aulas conta com quarenta e sete professores, sendo a grande maioria do corpo docente formado por doutores e mestres. O Paulo Guinho ressaltou ainda a importância do Núcleo de Apoio a Pesquisa e Extensão -NAPEX onde os professores e alunos  visitam as escolas públicas e privadas para falar da importância da arte na sociedade e procurando sensibilizar os jovens para se dedicarem às artes .  Também promove cursos livres abertos ao público externo. A propósito vão abrir agora inscrições para os cursos livres de Litografia, Desenho, Pintura e  Computação Gráfica. Realiza ainda anualmente doze exposições na Galeria Canizares e igual número na Galeria do Aluno com o objetivo de mostrar a arte produzida por seus professores , alunos e mesmo por artistas oriundos da EBA.  Além de promover anualmente a Feira de Arte e Design que este ano será realizada de 4 a 6 de setembro , onde os alunos poderão ter contato com o público exterior para mostrar e comercializar os seus trabalhos. Tudo isto é uma forma de inserção no mercado de arte e também para que interajam com a sociedade.