UMA CABEÇA À FRENTE DO SEU TEMPO
JORNAL A TARDE. TERÇA-FEIRA. 14/1/1997Antônio Rebouças diante de uma tela inspirada na Amazônia. |
Estamos
diante de um pensador, com uma característica que inibe os menos avisados: ele
é muito hábil na crítica. Tem ideias firmes, mas se desmancha como uma criança
quando fala em natureza, principalmente plantas. É capaz de ficar horas diante
de uma planta, observando seu comportamento. Porém, é de sua arte que queremos falar.
Sua obra tem forte relação com o expressionismo, embora defenda que "as
formas da natureza, inclusive as dos minerais, se desdobram independentemente
da definição do próprio homem e transcende sua diferenciação." Para
Antônio Rebouças, "a liberdade formal do Universo não classifica ismos,
apenas existe. A figura é um estágio de abstração. Quem define que uma figura é
um homem ou um sapo é o homem". E vai mais além, afirmando que a abstração
pode ser entendida por antiforma, e a figura, seja de um animal, mineral ou
vegetal, é a relação da forma".
O
artista considera que Salvador ainda não possui um mercado de arte à altura do
seu potencial. "O que existe não é profissional”. Entende que a
característica fundamental de um mercado de arte que funciona profissionalmente
é aquela que contribui para a seleção de novos valores, incentivando-os. Quanto
aos marchands, revela sem pedir ressalva: “Tenho amigos do peito e outros
marchands que são meus inimigos íntimos. Com estes, faço o jogo do Tom e
Jerry".
NORDESTE
E AMAZÔNIA
O mestre Antônio Rebouças no ateliê, no bairro da Barra, em Salvador. |
Há
oito anos que Rebouças não faz uma exposição individual. Tem 68 anos de idade,
segundo ele, embora a carteira de identidade ateste 72."Isto foi para
entrar na universidade. Tive que aumentar a idade," e desconversa. É bom
mergulhador e já foi também campeão de vela oceânica. Brinca com a filha, que é
geriatra, dizendo que se todos fossem como ele ela ficaria sem ter o que fazer.
Este é o outro lado de Rebouças, brincalhão e conservador.
Suas
viagens são importantes fontes de inspiração, pois ele tem uma sensibilidade
muito apurada e, por isto, enxerga mais do que nós, pobres cidadãos comuns.
Quando falo de Nordeste e Amazônia, não imaginem telas com figuras esquálidas
ou grandes florestas. Ele mostra as angústias e a força do verde da Amazônia
através de formas muito próprias. Consegue transmitir sua angústia, sua revolta
e sua perplexidade frente ao descaso com a miséria e a exuberância da Amazônia,
fugindo dos estereótipos. Aí está a sua grandiosidade como artista. Através de
formas com tendências abstratas, Antônio Rebouças constrói seu mundo pictórico,
forte, belo e valoroso.
Ele
prefere chamar esta série de obras sobre a Amazônia de Morfogênica e explica porquê:
“É a pintura envolvida no nascimento da forma", o que considera um
conceito filosófico. E conceito de formas possui a transcendência do tempo, do
espaço e da luz, não obedecendo, portanto, à observação do homem.
O
artista está preparando um livro sobre seus trabalhos nos campos da pintura,
escultura, arquitetura, urbanismo, decoração, desenho, paisagismo e poesias.
Com este livro, pretende divulgar sua obra em várias áreas. Ensina que para
gostar de boa arte não é necessário erudição. A obra de arte verdadeira fala ao
ser humano, com a mesma força de um vegetal, sentencia.
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