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quarta-feira, 27 de junho de 2012

ARTES VISUAIS - GERAÇÃO 70 - O MELHOR DAS ARTES PLÁSTICAS NA BAHIA


ARTES VISUAIS

JORNAL TRIBUNA DA BAHIA–Salvador,segunda-feira,15 de julho de  1985

VARIEDADES                         

                                               “GERAÇÃO 70


Mas não é tudo. Você ainda vai ouvir o bom som do Sexteto do Beco, ampliando o musical com o visual de muita coreografia contemporânea Made in Salvador.

Uma indagação inicial é logo feita: todos querem saber quais os critérios que afirmaram os dez nomes que vão entrar na mostra “Geração 70”, organizada pelo crítico de arte Reynivaldo Brito com a colaboração do professor Ivo Vellame. O próprio Vellame que auxiliou o curador da exposição na escolha dos nomes concorda que é preciso que ocorra um prolongamento dessa Geração 70 com acréscimo de outros artistas. Cita de imediato mais dez nomes representativos da década de 70. Como Juracy Dórea, Márcia Magno (gravadora) Almandrade ou Decaconde. Fica para a próxima mostra, espera Ivo Vellame professor há 23 anos na Escola de Belas Artes da UFBA. Reynivaldo Brito considera que o limite de verba foi um bloqueio, mas não vacila em dizer que escolheu os dez mais significativos. ( Foto acima de Reynivaldo Brito)
Os artistas selecionados para a Geração 70 são realmente de melhor qualidade: Zivé Giudice, Guache, Murilo, Bel Borba, Chico Diabo, Fred Schaeppi, Florival Oliveira, Maso, Justino Marinho e o escultor da turma, Astor Lima. Como foram escolhidos, Reynivaldo Brito conta logo, logo. “Os critérios foram os de profissionalização/produção e qualidade da criação”. Brito que é responsável pela coluna de Artes Visuais em “A Tarde” há 12 anos, diz antemão que a afetividade não entrou na “dança”. “Eu realmente esqueci o lado da amizade e parti para o lado profissional. Sofri realmente muitas pressões, é bom que se diga, de pessoas que apresentavam listas com sugestões e até exigências de colocações deste ou daquele nome. Confesso que reagi a todas as pressões.’’

                                                              CONVITE

Toda essa estória de se agitar um pouco de artes na cidade, surgiu a partir de um convite da Fundação Cultural do Estado, com apoio do Banco Econômico, ao jornalista Reynivaldo Brito. Foi exatamente o Coordenador de Museus, Heitor Reis, que lhe destinou uma empreitada artística, acreditando no seu pique para o trabalho e sua disponibilidade para as coisas da arte: fizeram-lhe dar quase um sim absoluto. Um senão: ele exigia liberdade total para a escolha dos artistas da Geração 70 de acordo com o curador da mostra, a única interferência foi mesmo a financeira. “A verba que a Fundação dispunha, limitava de certa forma o número de artistas e só pude trabalhar com 10 nomes”. A ausência de um nome feminino na triagem da mostra tem dado o que falar. Reynivaldo Brito não se abala com as críticas e diz logo o seu ponto de vista, destoante inclusive da opinião do crítico Ivo Vellame. Diz ele “Dentro da Geração de 70 não tem uma mulher que se destacasse nas artes plásticas baianas. As representativas ou são anteriores ou posteriores a essa geração da mostra. Nós temos grandes artistas mulheres, mas por coincidência, elas não estão enquadradas na Geração 70”.

                                                              OUTROS

Mais receptivo foi o professor de História da Arte, Ivo Vellame. Ele considera que seria cabível realizar mais duas mostras com o pessoal significativo de 70; dando logo muitos nomes: inclusive de artistas mulheres. Ele fez questão de registro: Márcia Magno, Bartira, Almandrade, Leonardo Celuque, Cesar Romero, Juracy Dórea, José Araripe, Humberto Vellame, Decaconde, José Artur Antoneto, Ângela Cunha e outros e outros. Vellame que também desempenhou um papel na seleção dos nomes (ele escalonou três dezenas) colaborando com Reynivaldo Brito na triagem inicial, acha que uma instituição cultural como a Fundação Cultural a não pode alegar falta de verba para fomentar justamente a cultura: e bota fé na continuidade dessa primeira mostra.
 O valor artístico dos que entraram, não é motivo de polêmica, mas sim a ausência de mais nomes. Enquanto não se definem os próximos passos das próximas mostras (ainda nem bem foi realizada a primeira), Reynivaldo Brito e Ivo Vellame, analisam e se emocionam falando da obra desses artistas da Geração 70. Jovens, artistas com mais de 25 anos e menos de 40. Para ambos os críticos, a única identidade entre os dez, é quanto à contemporaneidade (sentido do novo) da sua obra. Vellame não esconde que está visceralmente ligado ao surgimento desses jovens e desata a falar. “apostei nessa geração pelo sentido do novo, de contemporaneidade de suas obras, pela garra em contestar as formas gastas; pelo sentido de denúncia social e por sua capacidade de abrirem os olhos para outras gerações. Esses artistas conhecem a criação de outros, artistas e inovam a partir desse conhecimento”. Para Reynivaldo Brito, esse conteúdo de contemporaneidade da Geração 70, vira um bloqueio “porque muitas vezes está fora do alcance da média das pessoas.
“Trata-se de uma obra que exige da pessoa uma capacidade de fazer uma leitura”. O trabalho de arte tem signos próprios (cor, forma, composição, e outros elementos); que muitas vezes, por falta de informação o sujeito é incapaz de fazer uma “leitura”; resultando em uma falsa recusa da análise, ou falta de emoção; mas Reynivaldo não duvida: “Esse é um trabalho de qualidade que veio para ficar. É um trabalho que vai marcar a História da arte baiana”.

                                                                   MUDAR

Ivo Vellame  se deteve um pouco na reflexão quanto ao aspectos de identificação que reafirmam o título da mostra, ou seja, Geração 70. “uma coisa que bem identifica esses nomes é a vontade de mudar, de mexer com a arte baiana. Cada um deles, contudo, conserva a sua própria personalidade/identidade artística; o que é muito característico da arte atual.
Nos dias de hoje, não é possível, mesmo se trabalhando em um mesmo local, se apresentar um trabalho com características muito próximas; a exemplo do Cubismo. Isso não representa, entretanto que eles não receberam influências. “Quem não deve a quem nesse mundo?” questiona Vellame; concordando com Reynivaldo Brito, na análise das trilhas que esse pessoal tem tomado.
“Todos receberam influências de artistas consagrados, mas todos se libertaram e revelam a sua própria marca. ’‘Quem não conhece, por exemplo, um Zivé?. Pela forma, pela cor, pelos elementos da obra”? questiona Reynivaldo.
O sucesso e a efervescência da mostra do próximo dia 25 de julho no Museu de Arte da Bahia. São coisas certas. Quem diz é o organizador da Geração 70; garantindo que a mostra não será mais uma exposição ou uma coletiva de artistas emergentes. Ele diz com a convicção de quem está vivenciando o processo de organizar uma mostra de arte com esperança de ver o fruto crescer. Afinal, não é todo dia - há quanto tempo não acontece alguma coisa do porte em Salvador?-que se pode contemplar um conjunto dos nossos mais novos artistas. O Museu de Arte da Bahia vai se transformar no palco de múltiplas criações; desmistificando de certa forma a idéia de museu como “baú de quinquilharias” ou “sinônimo de paradeiro cultural, imagens marcantes nos dias de hoje. Miseen-scéne é convidativa. Além da presença dos artistas livres para qualquer “dois dedos de prosa” sobre seus trabalhos, quem for até ao museu, vai se deparar com muito visual e um bom som do Sexteto do Beco. Bailarinas não vão faltar. Serão três espetáculos- relâmpagos de dança (duração média de cinco minutos). A dançarina Lilia Serafim fará o solo com uma peça intitulada “Toada para o Infinito” depois será a vez da bailarina Lia Rodrigues entrar na dança; fechando o espetáculo com a apresentação do grupo Tran-Chan, com as criativas coreografias de Leda Muhana e Bete Greber. Em seguida o Sexteto do Beco afina seus instrumentos e o sax de Paulinho Andrade faz a festa. A mostra prossegue e a música promete distrair a moçada. Cada artista vai apresentar cinco obras e você pode contemplá-las; ouvindo um som de um pessoal jovem. Como você que ama o novo, em busca de novos signos.

                                                ZIVÉ GIUDICE, O CONTESTADOR

Zivé Giudice, um dos dez nomes da mostra Geração 70 revelou que não é um contestador apenas nos seus pastéis, guaches e aquarelas; denunciando a “parafernália atômica” questionando a “lógica oficial” e outras formas políticas de autoritarismo. Zivé é daqueles que não deixam as coisas por menos, e brada mesmo o que pensa. Zivé está na batalha da pintura desde 74 (sua primeira exposição individual) e rejeita por isso mesmo, qualquer alusão de “artista emergente”. Reafirmando a frase do crítico e organizador da mostra, Reynivaldo Brito, de que “todo artista é um contestador”, Zivé rechaçou de uma vez por todas o termo: “Quando se deixa de ser emergente?.... É quando se é um acadêmico”?....
Tomou fôlego, em seguida e falou do seu processo criativo com muito prazer. O que ele não pode aceitar é a classificação de emergente. Ele diz logo por que. “estou produzindo há 10 anos têm gente na mostra que está na batalha há 15 anos. Não somos emergentes”. A realização dessa primeira mostra Geração 70, tem um valor para Zivé; se satisfazer à  posteriori uma condição. Ele abre logo o jogo. “Só vou acreditar mesmo na intenção dessa mostra, se houver um prolongamento dessa primeira.
Existem muitos outros nomes que representam a década de 70. Não quero negar as pessoas que estão na mostra. Me identifico com essas pessoas, não rechaço o trabalho de ninguém; mas acho que a Geração 70 deveria se referendar em outras pessoas. De qualquer modo, tem muito mais gente que trabalha assiduamente e que devia estar junto com os escolhidos.

                                                                  O NOVO

Com uma coisa Zivé não fez restrições. Com relação à análise de que o sentido do novo é o ponto de união da Geração 70. Estilos, escolas, tudo isso é   negado peremptoriamente. “O novo é tratado por mil e um ângulos.
Isso é o que une determinados grupos que tem investido em fazer arte; compreendendo o novo com uma coisa corajosa de romper e denunciar.
É o elo de buscar o contemporâneo; é a manifestação de arte que se convulsiona a cada dia. Zivé que no momento está inclusive, expondo no Salvador Praia Hotel, até o dia 21 de Julho,contudo, não esconde o seu fascínio pelo barroco. “ “““Não o barroco baiano, mas o barroco  no que se refere ao tratamento da forma, o seu modelar e organização do espaço”“““. “Sou fascinado pelo barroco e meu trabalho tem uma ressonância nisso”. Até onde o homem  é a parte do seu trabalho artístico é questão bem resolvida pelo artista. “O homem é a parte em todos os sentidos. O homem sempre foi o alvo do meu trabalho sob uma ótica de denúncia, questionando as forças opressoras e cerceadoras do seu mundo. Por isso mesmo, vejo meu trabalho como político, porque preocupado com as nossas condições culturais. É um trabalho que denúncia a violentação dos nossos dias; questionando e desmitificando a “lógica oficial”, negando “os pretensos pés no chão” do homem racional dos nossos dias. Muitos dos seus desenhos mostram figuras antropomórficas sem sustentação como o pé; figuras hierárquicas excluídas do espaço da lógica formal. Zivé conclui a “leitura” do seu trabalho:
“Faço a antítese dessas afirmações oficiais e dominantes”.

                                                                   DITADURA

Zivé faz questão de se colocar como um artista preocupado com o político.
Afinal não é para menos. Como os nove outros, Zivé vem criando a partir da década de70, período áureo da ditadura no país; o que sem dúvida é um bom caminho para se entender a marca contestatória da sua obra. Zivé aumenta o papo. “ “““A política é a busca da felicidade e não admito que qualquer produção artística seja desvinculada do discurso político”“““. Não admito a produção aleatória”. Ele se recorda dos idos de 76. “ Em se recorda dos idos de76. “Em 76 pelas circunstâncias dos fatos, o diretório acadêmico e a associação de classe estavam mofados,. Reativamos esses espaços, retirando o seu mofo e se deu o movimento universitário, a UNE; tudo isso é referência para meu trabalho” . Zivé Judice já participou de dezenas de exposições, já ganhou diversos prêmios e certamente é daqueles que veio para ficar. E crescer com as arte que lhe pegou pela mão em Jitaúna, onde nasceu sob o signo de Áries, em 4 de abril.
Pelo lado dos artistas excluídos da Geração 70, falou Márcia Magno; que apesar de se refutar a cobrar da Fundação Cultural nova Mostra, não se furta da fazer críticas e ponderações. Márcia Magno discorda do processo de seleção dos dez nomes e dá uma sugestão em cima . “ Não se justifica de que o limite de verba seja uma razão. Que, pelo menos então fossem sorteados dez nomes”. Mas a gravadora vai além e diz mesmo que a Mostra somente teria valor se aglutinasse no mínimo um grupo de 20artistas da década de70.

                                          CONSIDERAÇÕES DO CURADOR

Lendo hoje (2012) algumas matérias que saíram na época sobre a Geração 70, a exemplo desta que publico acima,  fico cada vez mais convencido do acerto de ter escolhido àqueles dez nomes para participar da mostra. Idealizamos que seria a primeira e, que em seguida faríamos mais duas outras. Acontece que o orgulho das pessoas que esperam estar sempre ocupando os primeiros lugares da fila, terminou por criar um clima desfavorável . Vieram declarações injustas e inoportunas e então decidi que não iria mais me meter naquela empreitada.
É bom ficar  registrado que nem eu e  tampouco Ivo Vellame recebemos qualquer remuneração por organizar a mostra. Ao contrário, trabalhamos muito voluntariamente, em prol das artes plásticas na Bahia.As pessoas que ficam por ai arrotando erudição,copiando de enciclopédias, citando autores em outras línguas ou mesmo plageando  o Google ,acredito que por mais que insistam em negar ou tentar  fazer esquecer a Geração 70 ela sempre será lembrada como um marco na História recente da Artes Plásticas da Bahia. Outra coisa : afirmar que a limitação  de recursos não é um argumento plausível para expor apenas 10 artistas é uma afirmação no  mínimo inconsequente. Quem já realizou algum evento sabe muito bem quanto o recurso determina até onde você pode ir.
Vejam vocês que depois desta mostra memorável , nem mesmo os inconformados fizeram nada que viesse suplanta-la até os dias de hoje!.

sábado, 23 de junho de 2012

ARTES VISUAIS - A VITÓRIA DA CRIAÇÃO COLETIVA


ARTES VISUAIS


SALÃO UNIVERSITÁRIO DE ARTES PLÁSTICAS


A TARDE QUARTA FEIRA, 12 DEZEMBRO DE 1973.
Texto Reynivaldo Brito  Fotos Gildo Lima

Estudantes universitários dos estados do Norte e Nordeste do País estão participando do salão Universitário Nordestino de Artes Plásticas, sob o patrocínio do Ministério da Educação e Cultura Funarte e da Universidade Federal da Bahia, em comemoração ao centenário da Escola de Belas Artes. Foram inscritos 103 jovens artistas com 236 obras, sendo selecionados 41 trabalhos de 88 estudantes. As obras estão expostas à visitação pública até o próximo dia 5 de agosto no “foyer” do Teatro Castro Alves.
No dia da abertura do Salão Universitário Nordestino de Artes Plásticas os organizadores foram surpreendidos com um incêndio no barracão onde estavam guardadas as obras recusadas pela comissão encarregada da seleção e premiação. O fogo em poucos instantes destruiu completamente o velho barracão da Escola de Belas Artes e todas as obras ficaram reduzidas a cinzas. O Corpo de Bombeiros foi acionado e também a Polícia  Técnica, mas até o momento não foram divulgadas as causas do sinistro.
                             
                                            OBJETIVOS DO SALÃO

Informa o coordenador do Salão e Diretor da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, professor Ivo Vellame que “o Salão atingiu seus objetivos com uma participação de mais de uma centena de universitários da Bahia, Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Alagoas, Maranhão, Piauí e Sergipe. Os contatos foram mantidos nesses Estados com os reitores das universidades e pessoas ligadas às artes plásticas”.
Como resultado foi apresentado um levantamento parcial da produção artística nestes estados e também o Salão proporcionou um entrosamento entre os universitários. A comissão julgadora foi formada pelo professor Clarival Prado Valadares ( Rio de Janeiro), Marcelo de Carvalho Santos (diretor da Fundarpe, de Pernambuco), Henrique Barroso, museólogo e professor da Universidade federal do Ceará; professor Juarez Paraíso e pelo crítico Reynivaldo Brito, ambos da Bahia.
Segundo o professor Clarival Valadares “O Salão merece nossos aplausos porque tivemos a participação não apenas do estudante de Belas Artes mas também de universitários de outros setores como Jornalismo, Arquitetura e Geologia. Ao participar do Salão, o estudante está também participando de um processo de educação mais amplo. Um dos premiados é de Pernambuco, não apresentou uma obra concluída. Não uma arte do virtuoso, não do primitivo, mas uma arte forte que reflete o meio ambiente em que vive”.

                                       ABERTURA E PREMIAÇÃO

O Salão foi aberto no último dia 22, quando foram conhecidos os jovens artistas premiados. O primeiro lugar coube ao Grupo Lama, da Bahia, que apresentou um trabalho de arte integrada. O grupo materializou o trabalho numa tela que serviu como um logotipo e apresentou um espetáculo de dança e música com projeções e “slides” e fotografias. Participaram quase duas dezenas de universitários na produção deste trabalho, o que demonstra o espírito universitário e de trabalho coletivo, afastando a figura da verdade, do homem que produz apenas um objeto. O grupo recebeu o prêmio intitulado “Miguel Navarro Y Canzares”, no valor de CR$ 20 mil cruzeiros.
 Na foto uma cena da " Mensagem" do Grupo Lama, primeiro prêmio.
Coube ao estudante “Murilo Lessa Ribeiro”, também baiano, o segundo lugar, prêmio “João Francisco Lopes Rodrigues”, de 15 mil cruzeiros; o terceiro lugar foi conseguido pelo estudante cearense Pedro Costa Elmar, prêmio “ Manoel Ignácio Mendonça Filho”, de 10 mil cruzeiros, e o quarto lugar, prêmio “Escola de Belas Artes” ao estudante Manoel José Conde, da Bahia. A comissão resolveu instituir Menção Honrosa, para o trabalho do estudante do Piauí, Donato; para os desenhos de Santana, da Universidade de Feira de Santana.

                                         OPINIÃO DE CLARIVAL

Ficou constatado que os três maiores centros de produção de artes plásticas no Nordeste são Recife, Salvador e Fortaleza, tendo em vista não apenas a quantidade de trabalhos enviados como também pela qualidade. Outros estados participantes demonstraram que existe uma total falta de incentivo e informação. Os jovens universitários precisam de uma maior atenção das reitorias e dos órgãos ligados às artes visuais, na opinião do coordenador do Salão, professor Ivo Vellame.
Falando sobre o Salão o professor Clarival Prado Valadares vê sua importância "  porque atraiu a participação do estudante, não necessariamente do estudante que faz a profissionalização da arte, mas também do estudante que tem seu pendor artístico. Isto não significa de maneira alguma a idéia de fazer um trabalho menor em expressão de arte.E, sim de fazer um trabalho maior de universalidade em termos absolutos. Ao participar do Salão, ele leva em sua bagagem universitária uma compreensão melhor do trabalho artístico, e também, ao participar está educando-se. O Salão é a primeira fase que precede a problemática da participação artística. Registrou-se a freqüência de vários participantes do Nordeste. As obras apresentadas foram de bom nível e alguns apresentaram trabalhos de qualidade, mas nunca uma arte do virtuoso e, este Salão não teve nenhuma participação do primitivo ou primitivismo.
Esta deve ser respeitada no seu campo de origem. Ali se motiva e se consome e não quando ela extrapola a procura de mercado nas camadas ricas, que é falso no artista primitivo ou primitivista. É esta procura que visa receber um pagamento por uma arte menor. Agora, o Terreiro de Jesus está cheio de uma arte que se chama de “Arte Folclórica”. É uma praça de espantalhos, não existe de modo nenhum o valor. Pensar que a arte é um produto primário é erro completo. Arte é um produto diferenciado e tem que ser um produto da mais alta graduação da responsabilidade.E o campo universitário é tremendamente favorável."
“O prêmio maior coube ao Grupo Lama que fez um trabalho coletivo, de expressão corporal demonstrando os aspectos: apelo para uma mensagem utilizando como inspiração um texto de Kafka; a deficiência bem característica dos próprios dançarinos, que não formam uma elite, um corpo de baile, são estudantes, que se esforçaram e apresentaram um trabalho digno. A mensagem do Grupo Lama está nas suas restrições e alta dignidade”.
O professor Clarival apontou ainda a presença da Funarte, que é dirigida por Robertto Daniel Parreiras, que está dando todo apoio a vários movimentos de arte em diferentes regiões do país. “É preciso entender o problema do estudante brasileiro principalmente aqueles que criam. Hoje já não se admite as categorias niveladas pelo grau de perícia. Há uma substituição de critérios que procura o trabalho que signifique a participação coletiva em detrimento da individual”.
“Vimos à presença maciça de trabalhos individuais. Só o Grupo Lama que quebrou esta coisa” e prossegue.  “ Não quero tirar valor da criação individual. Mas é   preciso  que o trabalho seja feito com a participação coletiva. Até nas escolinhas de arte há uma tendência de um trabalho coletivo hoje em dia. Os primeiros exercícios manuais, gestuais são feitos com a participação de mais de uma criança. Outros, entretanto ainda apresentam os trabalhinhos individuais como uma coisa definitiva. É um grande equívoco.Tivemos ainda neste Salão um grupo bom de desenhistas. Exemplos que demonstram o progresso do desenho e daí a razão de alguns prêmios que decidimos conceder. Além disto, é bom ver que nos preocupamos com a contemporaneidade do trabalho. A própria Bienal de Veneza recuou como vedetismo da premiação individual que criava vedetes, para olhar melhor àqueles que tiveram vivência com a própria criatividade. Uma reformulação de conceitos e propostas a partir das experiências de teatro de Robert Wilson, que é um grande artista contemporâneo."
Disse ainda Clarival que " o próprio Teatro se encarrega de fazer dentro de sua caixa todas as possibilidades das artes visuais. Temos que ter um entendimento que as categorias sedem seu individualismo para essa expressão muito mais coletiva, que são dos grupos de dança, teatro, pantomina. O Teatro faz a renovação do cenário integrado e isto é fantástico. Portanto, um abandono da arte cortesã em torno da arte coletiva, que é de todos, ou seja, a arte do circo, circense.A arte que vem pairando nas estradas, nas cidades do interior, que é uma arte momentânea e universal."


                                     
 A ESCOLA É UM NINHO

Já Marcelo de Carvalho Santos, diretor da Fundarpe, de Pernambuco, refletiu durante vários momentos sobre o ensino das artes nas Escolas de Belas Artes. Depois de algumas reflexões, ele afirma que "a arte evoluiu, os tempos correram e ficamos cada vez mais exigentes e as escolas não acompanharam este desenvolvimento. Os mestres continuam achando que a “gramática” da a arte é a mesma e só aquelas concepções formais é que importa. Com isto, a criatividade do artista fica reprimida para atender a necessidade acadêmica. Daí o surgimento de algumas oficinas e ateliers dentro das próprias escolas de Belas Artes. Por sua vez as direções dessas escolas têm que obedecer às determinações do Conselho Federal de Educação. Arte não pode ensinar com uma rígida contagem de créditos como acontece na área da tecnologia. O artista vai amadurecendo, não depende do número de crédito. As vezes, o estudante obedece a gramática do mestre mas na realidade não é ou será um artista na concepção da palavra. Ele será um castrado."
"Daí eu dizer com um pouco de ironia, que muitas vezes os movimentos de arte são feitos, apesar das escolas de Belas Artes.Quando a gente vê um Salão de Arte com a participação de universitários e ficamos impressionados com o nível dos trabalhos apresentados é uma alegria muito grande. É evidente que não existem aqui trabalhos acabados. Tudo está por fazer porque são jovens artistas que começam a encaminhar suas mensagens e propostas. O que precisa é que continuemos estimulando e levando-os a apreciar sua produção. A Escola de Belas Artes deve ser um ninho, um lugar onde o estudante deve se desenvolver sob a orientação de seus mestres, porém com uma, certa liberdade."
Pela ordem: A obra de Murilo, segundo prêmio; Obra do cearense Pedro Costa, "Do Clássico ao Cubismo", terceiro prêmio;  e "Desenho", de Deca Conde, quarto prêmio.
" Daí a importância deste Salão que deu o primeiro prêmio a um trabalho de arte integrado. É evidente que a arte deve ser consumida por grande parte do público. Uma arte que traduza não um tema épico, mas a realidade que estamos vivendo. A arte tem que cumprir o papel de comunicação entre os homens. Realmente é admirável o esforço daqueles moços. Encontramos falhas, mas sob o ponto de vista de realização e produção da mensagem eles atingiram os objetivos, e por isto espero que continuem e disseminem a criação de outros grupos.A atitude perante a arte é que se exige dela uma contemporaneidade, e, como o artista se coloca diante dos seus contemporâneos e do seu povo."
O professor Henrique Barroso, do Ceará, aceitou o convite para membro do júri para fazer uma avaliação “do que fazemos e do que está sendo feito em outros estados da região. O Salão tem uma linguagem de contemporaneidade e acho que os resultados foram positivos e válidos. Os artistas premiados talvez não sejam os que reflitam uma melhor qualidade técnica. Mas eles revelaram um caráter de participação e conteúdo e por isto, mesmo reconhecidos”.

                                        AS PROPOSTAS DOS PREMIADOS

Baseado num texto de Franz Kafka o Grupo Lama apresentou um trabalho de arte integrado que arrebatou o primeiro prêmio . Inicialmente, não concordei em dar o primeiro prêmio ao Grupo, embora achasse que o trabalho tinha méritos. Depois, refleti que o esforço empreendido pelos seus integrantes e os objetivos alcançados ultrapassavam e venciam qualquer barreira. Aliás, eles tinham conseguido vencer várias barreiras porque as restrições impostas para um trabalho coletivo sem recursos financeiros e técnicos são tremendas. Assim terminei sendo um defensor do primeiro prêmio para este grupo, que desde os primeiros momentos foi defendido por Clarival Prado Valadares e Juarez Paraíso. O Grupo Lama não parou. Seu trabalho continua e nos dias 28 e 29 às 18 horas, serão apresentados dois espetáculos no ICBA. O trabalho foi intitulado de “Mensagem” e a criação, produção e direção geral ficou a cargo de Márcia de Azevedo Magno e Carlos Lauria. Convidada especial: Maria Fátima Fonseca e participação de David Magalhães, Leila Tourinho de Miranda, Jacinta Ferraz, Luís Carlos Pitanga, Dione Azevedo, Fátima Maria e Ariene Brito. Os slides e fotografias foram de Carlos Maguary.
O segundo lugar coube a Murilo Antônio Ribeiro que apresentou três telas a óleo. Mesmo antes do Salão estive visitando a antiga Galeria Sereia e encontrei o Murilo trabalhando. Gostei das obras, fiz algumas considerações sobre a necessidade de limpeza e certo cuidado com o pincelar.
Um trabalho criativo onde o artista desenvolve uma temática consciente e tem exatamente a contemporaneidade que tanto falou o professor Clarival Prado Valadares. Isto está presente nas suas figuras principalmente na tela onde ele mostra quatro espectadores e dois jogadores de futebol vestidos de palhaços. Noutra, Murilo apresenta dois palhaços em frente a um cesto como estivessem num piquenique e, ao fundo, a silhueta de um espigão.
E finalmente, na terceira tela aparece um imenso cachorro de barriga cheia com uma etiqueta “É cachorro, mas, não ladra e não morde”. Uma pintura serena e uma temática vibrante que merece ser desenvolvida numa ilha onde a unidade deve estar presente.
O terceiro colocado foi o cearense Pedro Costa Simas que inspirado numa fotografia antiga de seus antecedentes desenvolveu uma temática demonstrando talvez uma vontade de ressuscitá-las.São duas belas moças que atravessam o tempo. Sai de um desenho acadêmico até chegar ao cubismo.Uma idéia inteligente e acima de tudo toca a sensibilidade que tiveram oportunidade de visitar o Salão.
O quarto lugar coube a José Conde, um jovem estudante que já tem domínio da pena. São figuras deformadas com uma temática de certo conteúdo social. A figura do rei tomando seu banho, a presença dos estandartes, enfim talvez queira satirizar o poder da comarca.A comissão criou ainda menção honrosa para os artistas Donato, do Piauí e Santana, de Feira de Santana.
Finalmente, quero salientar que o Salão é da mais alta importância para o desenvolvimento das artes na Bahia e especialmente para os universitários que estão em processo de aprendizagem e educação. Aqueles que tiveram seus trabalhos recusados devem refletir vendo as obras expostas, que certamente são de melhor qualidade e estão de certa forma ligadas a contemporaneidade. Uma reflexão que não deve ser apenas dos estudantes, mas também dos professores das escolas de arte e também dos profissionais.  Reynivaldo Brito













segunda-feira, 18 de junho de 2012

OS TRÊS GRAVADORES DA FEIRA DO ARTESANATO

Jornal A Tarde, segunda-feira, 7 de maio de 1973.
Texto Reynivaldo Brito

ARTES VISUAIS
Três gravadores estão expondo seus trabalhos todos os domingos na Feira de Artesanato, no Terreiro de Jesus. São homens humildes e de grande talento que fizeram da arte sua forma de vida. Eles convivem em harmonia, sem as tradicionais intrigas, sem participar de “igrejinhas” e outras manifestações condenáveis. Chamam-se: Benedito, soldado de polícia militar, Nivaldo Portela, retocador de fotografia e Wilson Dias Santos, ex-bombeiro de um posto de gasolina. Hoje são gravadores.
Assim, Benedito, Portela e Wilson, utilizando instrumentos primitivos como pedaços de facas, estiletes , goivas e  a madeira, vão esculpindo sem parar.
As igrejas, a capoeira, a gente baiana são transportados com grande beleza por esses três artistas que são os principais responsáveis pelo não desaparecimento da Feira do Artesanato. Todos que se dirigem aos domingos para o Terreiro de Jesus sentem o impacto do colorido de seus detalhes e percebem quanto eles influem para a permanência da feira.

                                            O SOLDADO


O soldado Benedito Crispiniano Bonfim, ou simplesmente Bené, tem 32 anos de idade e trabalha como barbeiro em sua corporação.
Mas o seu grande sonho é a arte plástica. Ele reside na invasão do Calabar e como é de origem humilde seus trabalhos estão sempre ligados à sua gente. È o vendedor de peixe, a baiana do acarajé, o capoeirista que são transportados com toda sua força para a madeira. ( Foto ao lado)
Os detalhes são o forte de Bené. As igrejas são retratadas nos mínimos detalhes.
Seus trabalhos são disputados pelos freqüentadores da Feira de Artesanato pela pureza de seu estilo simples e real. Bené nunca freqüentou uma Escola de Belas Artes e ninguém nunca lhe ensinou como pegar em um pincel. Tudo que faz é por instinto e talento. As igrejas, o casario, as pessoas são captadas pela sensibilidade aguçada deste soldado que prefere um pincel ao fuzil. Sua produção é grande e seus trabalhos sem compromisso de escolas estão sendo adquiridos e levados por turistas para os quatro cantos do País e até mesmo para o exterior.

                                RETOCADOR DE FOTOGRAFIAS

Já Nivaldo Portela Silva, de 20 anos, que assina seus trabalhos com o nome de Portela, foi cabeleleiro e retocador de fotografias. Hoje, gravador de grande talento, está voltado com toda sua juventude para a criação. Seus trabalhos são de um colorido vivo como as coisas do mundo tropical que o cercam. Escolheu a capoeira em seus vários movimentos como o tema principal de sua atual fase. Assim transporta para a madeira esta luta de uma raça a que muito devemos. Portela é negro e orgulha-se de sua raça com toda a expressão que capta.
“Escolhi a capoeira por está diretamente ligada a ela.Meus ancestrais sempre jogaram capoeira. Desde menino que via os meus parentes mais antigos lutarem capoeira no Nordeste de Amaralina inexplicavelmente, a capoeira ficou gravada dentro de mim. Sempre que pegava num lápis imaginava desenhar uma cena de capoeira. Desenvolvo, minhas pesquisas sozinho e nunca tive ajuda de ninguém. ’
 A capoeira é uma luta muito rápida e é preciso que a gente preste muita atenção para fixar os golpes e retratá-los na maneira com todo o seu movimento.´
Os trabalhos de Portela diferem dos demais por terem um desenho mais apurado e uma movimentação estudada. Ele concebe ainda criações abstratas de grande beleza. È sem dúvida, um artista nato e à medida que for pintando certamente irá aprimorando seu traço, que já é firme. As cores amarelo, azul e preto são as mais constantes em seus trabalhos.

                                        O BOMBEIRO
O ex-bombeiro, hoje mais conhecido por frentista, Wilson Dias Santos, de 22 anos de idade, também como seus colegas nunca freqüentou qualquer escola. Disse que “tudo que eu faço é de cabeça.Comecei construindo pequenos barcos e aos domingos me dirigia para os jardins públicos para colocá-los nos pequenos lagos e ficava horas e horas observando-os a navegar e quando notava alguma deficiência voltava para casa para melhorar o trabalho.
Em seguida, passei a fazer algumas esculturas, porém desisti e hoje estou voltado para as gravuras. O que eu gosto, realmente, de fazer na vida é entalhar. Passo a maior parte do tempo sentado em minha casa procurando criar alguma coisa de novo. O meu forte é fazer esculturas em tacos de pisos. Creio que já vendi umas 250 esculturas pequenas em tacos. Agora estou entalhando em pedaços de compensados.”
Wilson, que já foi bombeiro de posto de gasolina e ajudante de pedreiro (seu pai é pedreiro de profissão), abandonou tudo e voltou-se para a arte. Estudou apenas até o 5º ano primário e hoje em seu atelier, no Nordeste de Amaralina, continua criando sem parar.













MUSEUS BAIANOS COM SEUS ACERVOS CONGELADOS

ARTES VISUAIS
Fotos Google
Texto Reynivaldo Brito
Obras que estão em exposição no instituto Figueiredo Ferraz, em Ribeirão Preto
Você tem alguma notícia recente se um museu baiano adquiriu uma obra importante para seu acervo? Se tiver mande um e-mail que irei divulgar com todo o prazer.
Devemos aos colecionadores a existência e o desenvolvimento da arte contemporânea brasileira porque as instituições públicas nacionais e em particular as baianas, não têm uma política permanente de aquisição de obras para os acervos dos museus. Isto é uma vergonha e mostra o atraso em que estamos em relação a outros centros .
Alguns colecionadores chegam a doar dinheiro e obras para museus no exterior. No MOMA por exemplo, você encontra obras de Leonilson, Hélio Oiticica, Ligia Clark, Waltercio Caldas, dentre muitos outros. Até para você deixar obras em comodato, num de nossos museus, contanto que cuidem delas e as exponham ,é difícil porque os burocratas sempre têm falsos ou fracos argumentos para evitar .
O colecionador João Carlos Figueiredo Ferraz, que é de Riberão Preto, interior de São Paulo, criou o Instituto Figueiredo Ferraz  e construiu um museu particular com 2.500m2 .Expôs centenas de obras de sua coleção e abriu à visitação pública em outubro do ano passado. Ele prefere não dizer quanto gastou na obra, mas certamente chega perto de R$ 2 milhões de reais. Lá estão os melhores talentos da arte brasileira , que podem ser vistos por todos. Uma atitude digna de elogios, porque a arte não pode e não deve ficar emparedada numa parede de um apartamento. Ela precisa ser vista e compartilhada por outras pessoas. Veja você que é numa cidade do interior paulista ,afastada dos grandes centros.
Na foto ao alto um dos espaços do Instituto Figueiredo Ferraz, onde aparecem algumas obras de arte.
Outra empreitada  conhecida deste quilate é a do colecionador Bernardo Paz, o Museu de Arte Contemporânea de Inhotim, em Brumadinho,  Minas Gerais ,onde imensas esculturas e instalações ocupam uma área espetacular entre árvores de todos os tamanhos e tipos.
 Bernardo é dono siderúrgica, enquanto João Carlos Figueiredo Ferraz é empresário do setor agropecuário e importador. Ele é filho do ex-prefeito de São Paulo , José Carlos Figueiredo Ferraz, falecido em 1973.
Ao lado uma das esculturas expostas permanentemente ao ar livre em Inhontim.
São cerca de 500 obras de 100 artistas com visões diferentes  de 30 nacionalidades.
Ele começou a juntar as obras  há alguns anos e hoje o museu compreende a arte contemporânea produzida nos anos 1960 até os dias de hoje.
O interessante é que o museu fica num Jardim Botânico que tem espécimes de todo o mundo, inclusive árvores e arbustos ameaçados de extinção. É um trabalho grandioso!
Foto Divulgação , escultura "Bream Drop", do artista Cris Bürden.








sábado, 16 de junho de 2012

BIENAL DE BERLIM TROCA ARTE POR TRANSGRESSÃO

ARTES VISUAIS
Fotos do Google
Texto Reynivaldo Brito

Pichadores brasileiros jogam tinta amarela no curador da Bienal de Berlim 2012
Foto: Miguel Ferraz / DivulgaçãoA  7 Bienal de Berlim que começou em abril deixou de lado o foco principal que deveria ser a arte e passou a tratar das questões sociais. A mostra está ocorrendo em sete pontos diferentes da cidade.  As transgressões estão sendo o destaque. Ninguém é inocente para não saber que por ser um inovador o artista é sempre um contestador. Mas contestar vai até o limite onde você não prejudica outrem. Esta idéia de que tudo deve ser tolerado vira bagunça e o resultado quase sempre é condenável, catastrófico. Na realidade como declarou o pichador brasileiro Cripta Djan  , um dos convidados, “ não adianta querer controlar o incontrolável”. Assim diante de sua filosofia de vida e de ação ele se desentendeu com o curador da Bienal o artista polonês Artur Zmijewski, 46 anos,  e num ato que lhe parece trivial, lançou uma lata de tinta amarela sobre ele, que ficou parcialmente sujo.
A discussão teria  começado porque o curador tinha mandado instalar algumas placas de madeira numa das paredes da igreja de Santa Elizabeth, localizada no centro de Berlim, onde ocorreria um workshop  quando  os pichadores brasileiros iam mostrar como picham em São Paulo, causando grandes estragos em imóveis particulares e públicos com seus traços e manchas sem qualquer significado de arte. Na realidade eles transgridem por transgredir. Assim, o curador que é tido como revolucionário e libertário se desentendeu com o pichador e lhe jogou um balde com água fria. Cript Djan respondeu com  uma lata de tinta amarela sobre ele.  Um clima intolerável quando se trata de uma mostra de arte.



A igreja de Santa Elizabeth é tombada pelo patrimônio histórico alemão e foi construída em 1830, portanto, um monumento a ser preservado e cuidado e, que não deveria ter sido nem escolhido para realização de tal manifestação de pichadores, mesmo colocando tábuas numa de suas paredes para  ser usada pelos convidados transgressores. Na foto ao lado  pichadores brasileiros em ação.
O título de Bienal é “Forgt Fear” ou seja traduzindo “ Não tenha medo”, um incentivo explícito à transgressão. O próprio Cripta Jan disse aos jornalistas que “não tem como dar workshop de pichação, porque pichação só  acontece pela transgressão e no contexto de rua”. Logo vemos que a sua transgressão é “ consciente” ou seja ele sabia que iria aprontar como dizemos nas conversas com nossos amigos.
O curador chamou a polícia que queria prender o grupo de pichadores brasileiros composto pelo Cripta Jan, ( Foto) Ivson Silva,William Pereira, Edmilson Vitor,Sergio Miguel, Ricardo Rodrigo e a única mulher do grupo a Caroline Pivetta,  presa em 2008 por pichar as instalações da Bienal de São Paulo.
Pichador e e pintor de parede Djan Ivson (de preto) caminha entre colegas do "pixo" no centro de São PauloA escolha como foco  problemas sociais e “projetos políticos capazes de mudar o mundo”, foram os temas principais desta Bienal de Berlim.Esqueceram a arte. Se as bienais já se destacavam por instalações duvidosas, agora chegaram ao limite da transgressão.A artista da Macedônia,Nada Prlja, que reside em Londres, por exemplo,  montou uma instalação chamada de Peace Wall ( Muro da Paz), que era um muro com 12 metros de extensão numa das avenidas mais movimentadas da cidade. Resultado ,ela chegou a ser agredida ,como também sua tivesse previsto para o dia 1° de julho, quando acabará a bienal.

DOCUMENTA REFLETE A TRAGÉDIA HUMANA

ARTES VISUAIS


Obra de Maria Maolino na Documenta de Kassel
Reunindo obras de 183 artistas a 13ª. Edição da Documenta de Kassel, na Alemanha, uma das mais importantes grandes exposições do mundo começou de forma dramática expondo 769 obras de Charlote Salomon ( 1917-1943) que deixou escrito: ”Estou farta dessa vida , eu estou farta desse tempo”. Ela pintou 1.325 aquarelas para superar o suicídio de sua mãe e numa dessas se retratou com as mãos na cabeça ,em sentido trágico.
Diz a diretora artística da Kassel , Carolyn Christov-Bakargiev que o “mundo está louco,tudo é tão impossível de parecer justo ou coerente! Nós vivemos nesse mundo de riqueza absurda e pobreza absurda. A guerra ainda ocorre no Afeganistão,apesar de dizerem que acabou”.Por falar em Afeganistão parte da Documenta foi para Cabul, capital daquele país. Em Alexandria, no Egito serão realizados seminários, debates sobre a Primavera Árabe e em Baniff, no Canadá, a diretora-artística ficará enclausurada no monastério acompanhada de 16 pessoas entre os dias 2 a 15 de agosto deste ano.
Ela entende que neste momento de absurdos os artistas tendem ao surrealismo, e por isto junto com muitas obras desta corrente artística estão confrontando as produções atuais. Entre as contemporâneas está a brasileira Ana Maria Maiolino e sua obra chamada “O Impossível”, que está entre as que mais recebeu atenção da crítica e público. A própria diretora artística Carolyn achou a obra de extrema importância. (foto acima)
Portanto, esta exposição é uma mistura da tristeza e melancolia que a guerra causa nas pessoas e a esperança criativa do surrealismo, criado nos idos de 1920, enfatizando o inconsciente do ser humano..

segunda-feira, 11 de junho de 2012

MUSEUS PRECISAM LEVAR CULTURA AO POVO

ARTES VISUAIS
A TARDE 16 DE SETEMBRO DE 1972
Texto Reynivaldo Brito

"Os museus brasileiros, principalmente os do Nordeste constituem, apenas, uma espécie de depósitos de objetos de artes ", esta declaração foi prestada no mês passado pelo professor Valentin Calderon, da Universidade Federal da Bahia e que agora assumiu o cargo de Diretor do Museu de Arte Sacra da Bahia.
O Museu de Arte Sacra da Bahia, foto ao lado, conta com obras sacras importantes.
“Disse ainda “que  a maioria dos museus brasileiros, não tem conseguido estabelecer as menores condições de exercer qualquer atividade que resulte em benefício da comunidade e do próprio museu”. Acredita o Sr Valentin Calderon que os Museus devem ser centros de pesquisas, centros científicos regidos pelas mais apuradas e modernas técnicas de comunicação, de modo a que o visitante de cultura média possa auferir deles por mais curta que seja sua visita, um aumento de seus conhecimentos”.
Acontece que os museus estão realmente em crise. Qualquer estudioso das artes em geral quando fala de museu faz restrições, afirmando que são: estáticos, parados.
A verdade é que os museus estão distanciados do público. Se for efetuado um levantamento estatístico das pessoas que visitam os museus chegar-se-á a conclusão que são turistas que muitas vezes vão a esses centros de cultura pela simples obsessão de conhecer suas instalações. Pouco apreendem porque o tempo que passam visitando suas peças quase sempre é restrito. Os museus devem ser dinâmicos.
A propósito a arquiteta responsável pelo projeto do Museu de Arte Moderna de São Paulo, Lina Bardi declara que prefere centros culturais mais atuantes, mais dinâmicos e mais a altura da época moderna. ´

                                          MUSEU REGIONAL

Os técnicos da UNESCO, Srs. Jean Faviere e M. Gabus, estão fazendo um levantamento da situação atual dos principais museus do País em especial os museus regionais com vistas a encontrar uma solução viável para dinamizá-los.
Os problemas enfrentados pelos museus brasileiros são vários. Sabemos que a falta de verba é comum entre eles. Baseado neste princípio é que interrogamos o professor Valentin Calderon, sobre o que espera realizar no MAS.
É de conhecimento de todos que a Universidade Federal da Bahia apresenta atualmente uma crise financeira e que a captação de recursos para o Museu de Arte Sacra será é uma missão quase impossível. Será que por obra do destino o professor, que fez críticas aos museus do Nordeste ficará calado e de braços cruzados?
O caminho para os museus do Brasil seria a exposição de suas peças fora de suas instalações, quase sempre fechadas entre muros. Assim os estudantes teriam oportunidade de conhecer as peças e aprenderam alguma coisa. Os museus seriam, então, uma espécie de exposições volantes.
Recentemente, foi montado no Teatro Castro Alves o “ Museu de Arte Didacta” que é uma colocação de reproduções de pintura e escultura com o objetivo de desempenhar a função cultural e educativa de um museu. Embora o resultado até agora não tenha sido satisfatório porque passou vários dias no “foyer” do TCA e o número de visitantes foi relativamente baixo, se constitui num primeiro passo para a abertura de um museu para o grande público.

                                   TRABALHO NAS ESCOLAS

Os maiores culpados do desconhecimento total ou parcial de nossos museus são os professores, que em suas aulas não fazem qualquer alusão às obras de artes diretamente ligadas a determinados assuntos que ensinam. Eles não falam ou comentam esta ou àquela obra de arte porque também não foram devidamente orientados por seus ex-mestres. A ignorância, portanto, cai num círculo vicioso. Os professores pouco conhecem os museus, e assim os estudantes concluem o primeiro e segundo graus até a Universidade sem conhecer um só museu.
Por sua vez, os dirigentes os museus também ficam de braços cruzados ou simplesmente fazem críticas assumindo uma posição muito cômoda. Ao contrário, deviam utilizar suas energias visitando as escolas e convocando professores e alunos para visitar esses centros culturais.
Os museus brasileiros também não oferecem a seus visitantes qualquer conforto. O Museu do Carmo, (Foto) por exemplo, não se dispõe de guias devidamente instruídos para orientar o visitante. Lá você encontra dois garotinhos que repetem diariamente, alguns detalhes sobre esta ou aquela obra. Se uma perguntinha lhe for feita fora daquele catecismo eles não sabem responder. Outra coisa, não existe nenhuma publicação acerca das peças expostas. O visitante vai lá e é impossível aprender tudo em poucos minutos.

                                           EMPRESA PRIVADA

Na maioria dos países a empresa privada sempre tem uma participação ativa na vida cultural. Acontece que no Brasil as empresas privadas ainda não pressentiram que também têm responsabilidades para com a cultura do povo.
Jogam o problema simplesmente para o ar: “Isto é um problema do Governo”. Esquecem os industriais e administradores que, à medida que a cultura de nosso povo for sendo melhorada, eles também serão os beneficiados.
O Diretor do Museu da Arte Moderna da Bahia , Sr. Renato Ferraz, declarou recentemente a um jornal carioca que “os museus necessitam de um esquema financeiro sólido para transformar-se em centro de convergência e assim abrigar as manifestações artísticas. Acontece que a empresa privada se nega sistematicamente a qualquer ajuda para empreendimentos culturais (vejamos o caso da Orquestra Sinfônica, que já perdeu muitos músicos).” A explicação encontrada para esta posição é que não existe tradição. Só agora uma empresa baiana de construção iniciou-se neste campo incentivando alguns artistas. Seria o primeiro passo?

Quanto à discussão de que o ingresso aos museus deveria ser gratuito, não concordo. Se fosse gratuito como advogam alguns, estariam vazios do mesmo jeito. O cinema, o futebol e outros espetáculos cobram ingressos superiores aos museus e, no entanto, vivem lotados de gente. O problema é de estrutura e como tal os dirigentes desses centros de cultura devem arregaçar as mangas em busca de soluções. Este negócio de sentar numa poltrona confortável, colocar uma tabuleta de acrílico com a inscrição “ Diretor,” cruzar as pernas e ler as correspondências enviadas por outras instituições é muito cômodo e tão exótica quanto o próprio órgão que dirige e que não atinge suas finalidades.
Vemos acima o imponente conjunto arquitetônico do Solar do Unhão onde fica localizado o Museu de Arte Moderna da Bahia,necessita promover mais eventos voltados para conquistar o público jovem.








domingo, 10 de junho de 2012

GERAÇÃO 70 - PRIMEIRA MOSTRA

ARTES VISUAIS

GERAÇÃO 70
Primeira mostra

                                                

                                      








  OS EMERGENTES

"Uma das metas da Fundação Cultural para a área de artes plásticas é propiciar exposições em seu espaço, dando prioridade a mostras coletivas e individuais de artistas emergentes da Bahia.
Estas exposições serão sempre escolhidas dentro de critérios pré-estabelecidos e sem nenhuma espécie de paternalismo.
Torna-se inevitável o surgimento de novos artistas e a conquista de espaços no meio cultural.
Os emergentes trazem sempre diversas propostas dentro da contemporaneidade de novas linguagens.
Os artistas que não se renovam que se repetem com as mesmas cansativas formas são certamente ultrapassados pelos novos.
Ao contrário, artistas de gerações anteriores que constantemente se renovam, preocupados com contemporaneidade e seriedade de sua obra, e que não fazem concessões, estão sempre em evidência, respeitados pela crítica profissional e pelo público culto e informado.
Isto acontece no mundo, e na Bahia não poderia ser diferente.
Portanto, vejo com muito contentamento esta exposição, cuja curadoria coube ao crítico Reynivaldo Brito, porque ela apresenta alguns artistas da Geração 70 que vêm se firmando graças à seriedade das suas propostas.
Não só estes dez escolhidos nesta primeira exposição, mas inúmeros outros desta mesma Geração 70, de anteriores e de novíssimos, estão com os seus espaços assegurados no mundo artístico e cultural.
Os dez artistas componentes desta exposição são todos experientes, tendo em seus currículos mostras individuais e coletivas, participação em salões e bienais, possuindo premiações e significativas referências críticas.
Estes artistas não formam nenhum grupo. Cada um tem a sua proposta e o que os une, são várias afinidades e a luta já vitoriosa pela divulgação e reconhecimento dos seus respectivos trabalhos.
                                                                        Heitor Reis – Diretor do Demap

               A MARCA DE UMA GERAÇÃO
Reynivaldo Brito

Esta é a Geração 70 que desponta como uma força inovadora nas artes plásticas baianas. Integra esta geração uma plêiade de artistas provindos dos mais variados estamentos sociais, inclusive alguns originários de outros estados, mas que aqui encontraram o local ideal para o crescimento e enriquecimento de suas obras. São artistas que trabalham com aquele afã da profissionalização, e que levam a sério aquilo que se propõem a realizar. É verdade que a aparência, por vezes descontraída de alguns pode soar falsamente como uma tendência irresponsável. Porém, é uma questão óptica distorcida porque a realidade é bem outra, e a prova maior desta minha afirmação são os frutos agora expostos à apreciação pública, nesta primeira mostra da Geração 70.
Alguns estranharam a expressão Geração 70, tendo em vista um movimento que ganhou corpo e notoriedade nacional a partir do Rio de Janeiro, intitulado Geração 80. A estes respondo que bem antes do surgimento deste movimento carioca, na minha coluna Artes Visuais, que publico desde 1970, todas as segundas-feiras em A Tarde, já chamava estes artistas de integrantes da Geração 70. Uma coincidência que não desmerece porque entendo, que mesmo que não houvesse este antecedente, é apenas mais um rótulo para que possa limitar o espaço no qual desejo me fixar.
Venho, juntamente com Ivo Vellame, acompanhando com vivo interesse, há vários anos, o surgimento, o crescimento e o amadurecimento de cada um desses artistas. São poucos aqueles com os quais não tive uma ligação profissional mais profunda. Mas, que agora, integrados, tendemos a fortalecer nosso entrosamento em benefício da própria arte baiana. Divergências e eqüidistâncias sempre vão existir porque fazem parte do próprio comportamento humano. No entanto, tenho certeza que serão bem menores a partir de agora entre os integrantes deste grupo.
A maioria participou dos salões universitários que foram tão importantes para que eles despontassem no cenário das artes baianas. Estes salões, dos quais fui jurado, eram magistralmente organizados por Ivo Vellame. Acabaram-se os salões, e eles passaram a participar de coletivas e, em seguida, de individuais, e agora estão aqui reunidos para mostrar aonde chegaram com suas formas, técnicas e composições. Cada um com seu estilo, sua marca registrada, que começa a ser identificado através dos elementos que formam suas obras.

Vamos falar ligeiramente de cada um

ASTOR LIMA – freqüentou os ateliês de Mário Cravo, de Arlindo Gomes e Sérgio Sampaio.É o único escultor do grupo e considero seus trabalhos de sucata de ferro, especialmente a série “ Alados” , como uma das melhores coisas que apareceram ultimamente na escultura baiana. Seus pássaros metálicos nos dão àquela sensação de inconformismo, tão marcante entre os artistas. E, suas flores de sucata parecem ter vida. Elas balançam ao sabor dos ventos.

BEL BORBA – Conheci-o ainda garoto trabalhando na garagem de sua casa no Canela. Eram apenas experiências e curiosidades. A arte falou mais alto e, hoje, Bel nos apresenta uma arte com uma linguagem contemporânea, que pode figurar nas paredes de galerias de qualquer metrópole. As transparências e a pujança das figuras criadas por Bel são suficientes para demonstrar o seu talento.


CHICO DIABO - o homem do cachimbo. Uma figura que é reconhecida de longe, e que teve uma presença marcante no “Etsedron”, atuando em três bienais, sendo que em 1973 o grupo obteve o Prêmio Governador do Estado. Deixando este grupo integrou um outro, de igual importância, o “Posição”, composto por Eckemberg, Juraci Dórea, Sônia Rangel, Zélia Maria e Carlos Petrovich.


FLORIVAL OLIVEIRA – Participou de quase todos os salões universitários. Em 1981 do IV Salão Nacional, no Rio de Janeiro, além de supervisionar as oficinas do MAMB.




FRED SCHAEPPI – Começou trabalhando com incrustações de massas em suas telas, enaltecendo o relevo. Evoluiu, e hoje nos apresenta um trabalho apurado em forma e técnica, a ponto de calar aqueles que duvidavam do seu talento. Realizou uma Via Sacra na capela do Mosteiro Cistenciense em Jequitibá, município de Mundo Novo quem reputo como um dos murais mais significativos da arte baiana.



GUACHE MARQUES – Formado em Artes Plásticas, integrou os salões universitários e o Nordestino.è um excelente ilustrador.




JUSTINO MARINHO – Valoriza o desenho. Teve uma fase ligada ao engajamento político social e atualmente gravita com suavidade entre suas baronesas e madames nos salões empoados. Sua obra tem influências da art nouveau e egípcia.




MASO – é paulista de nascimento, mas aqui está desde 62 e foi aqui que começou a trabalhar. Sua obra hiper-realista chega em determinados momentos a confundir os desavisados como sendo uma fotografia. Agora ele está trabalhando com o branco conseguindo os volumes e as formas com uma única cor.

MURILO – Alagoano de nascimento. Também foi aqui que começo
u a trabalhar; tive oportunidade de participar de júris nos quais sempre teve sua obra reconhecida. Já realizou alguns trabalhos integrados com dança e música. É um dos mais criativos desta Geração 70.

ZIVÉ GIUDICE – É o “ anjo” rebelde. Traz no próprio sangue o temperamento inquieto do italiano. Preocupado com o comportamento humano e com os mecanismos de dominação. Suas figuras disformes revelam exatamente este lado antropofágico, centro de sua inquietação. Polêmico e contestador têm como uma de suas metas a valorização do papel como suporte de arte.
Evidente, que aqui estão apenas algumas rápidas palavras sobre cada artista. Rápidas como pinceladas que não definem as formas. Deixo para o leitor e o espectador desta exposição à oportunidade de complementá-las com o universo de suas informações e o calor de suas emoções
                                                                
                                                                       Reynivaldo Brito -  Curador

                                      
                                GERAÇÃO ANOS 70
" Porque apostei neles, nos jovens artistas que realmente representam a Geração 70 e continua de forma inabalável neste propósito, aceitei o convite do crítico de arte Reynivaldo Brito, para colaborar com algumas sugestões no que diz respeito à organização desta coletiva. A minha colaboração mais significativa foi a apresentação de alguns nomes, que considero dos mais representativos da Geração 70 para o evento. Igualmente, lembrei da oportunidade e importância desta iniciativa. A responsabilidade da escolha de dez artistas, que figuram nesta mostra, coube evidentemente ao curador da exposição e foi publicamente assumida por ele.
Fazem parte desta primeira mostra da Geração 70 os artistas Bel Borba, Murilo, Zivé Giudice, Guache, Maso, Astor Lima, Chico Diabo, Fred Schaeppi, Florival Oliveira e Justino Marinho. É preciso lembrar que o curador foi limitado por razões de economia a convocar um grupo de dez. Mas, não devemos esquecer que a falta de verbas para eventos culturais, especialmente, para as artes plásticas baianas é uma praxe. Há de se esperar uma segunda exposição.
É fato conhecido que no correr dos anos 70, surgiram muitas dezenas de artistas e a exposição Cadastro em 79, misto de arte e desastre, serviu para documentar desenfreada proliferação de artistas. Os valores que representam uma geração resultam de um processo rigoroso de triagem. É muito cedo para se identificar os seus representantes definitivos, por mais que sejamos possuidores de uma intuição certeira de escolha. Há sempre possibilidades de enganos. Entretanto, não nos custa reconhecer que alguns estão fora de compasso, não apresentam em suas obras,m o m´~inimo de contemporaneidade, de atual, descompassados totalmente, em relação àqueles para os quais a arte é uma justificativa de vida e, talentosos, garantiram uma nova figuração entre nós, por lhes servir de base e não desconhecimento do que se produziu desde os primeiros dias do nosso modernismo. Esta Geração 70, que vi nascer na Escola de Belas Artes, foi ampliada por outros artistas não pertencentes a Escola. Geração de jovens tecidos de talento e garra, a confrontar os seus trabalhos nos vitoriosos Salões Universitários, no âmbito dos Festivais de Arte. Geração de artistas capazes de se renovarem, não em ritmo lento, porque a refletir o momento. Geração de artistas contestadores, repugnados com a modorra provinciana. Estimulada por Wilson Rocha, Matilde Matos, Reynivaldo Brito, Juarez Paraíso, Jacy Brito, teve esta Geração 70 o aval
 do saudoso Clarival do prado Valadares., Estou convencido de que os seus valores querem ser um elo,entre outros, na evolução da arte baiana e brasileira. E serão."

                                                                        Ivo Vellame