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sexta-feira, 8 de junho de 2012

GERAÇÃO 70

A TARDE TERÇA-FEIRA, 23 DE JULHO DE 1985

UM ESPAÇO PARA ARTISTA BAIANO
Texto de Alex Ferraz


Dez ARTISTAS - nove pintores e um escultor-, todos com a característica comum de terem iniciado suas atividades na década de 70, estarão formando o time da primeira exposição da série. “Geração 70”, sob a coordenação do curador Reynivaldo Brito (Jornalista e crítico de arte), a partir do próximo de 26 e durante um mês, no Museu de Arte da Bahia. Cada artista mostrará cinco trabalhos e a exposição poderá ir ainda a outros estados.
“Para organizar esta exposição de artistas emergentes-afirma o curador Reynivaldo Brito-, tive toda liberdade de escolha, proporcionada pela Fundação Cultural do Estado, que confiou no meu critério de isenção profissional”. Ele informou que a abertura da exposição “Geração 70”, dia 26, será diferente do que se vê comumente nestas ocasiões:
-Haverá uma performance com dança, teatro e música. Quatro bailarinas, inclusive o grupo Tran Chan, estarão se apresentando e a música ficará ao cargo do Sexteto do Beco, informa Reynivaldo Brito.

                                             UM MARCO

O curador de Geração 70 acredita que a exposição poderá ficar como um marco na história das artes plásticas da Bahia. Ele destacou que alguns desses artistas convidados-Zivê, Bel Borba, Murilo, Astor Lima (escultor), Chico Diabo, Fred Schaeppi, Guache, Mazo, Flori e Justino Marinho- não estavam agrupados antes, sendo que alguns sequer mantinham relacionamento mais estreito entre si. “Desta forma- diz Reynivaldo Brito- a exposição servirá também para agregá-los em benefício do próprio movimento das artes plástico baiano”.
Outra característica desta exposição é as técnicas apresentadas serão as mais variadas e a temática é também bastante heterogênea. Esclarece, por outro lado,o curador Reynivaldo Brito que o “termo Geração 70 não surgiu como imitação do movimento carioca intitulado Geração 80, tanto assim que Geração 70  é uma expressão já utilizada por mim há muitos anos, na coluna Artes Visuais, que escrevo semanalmente em A Tarde”.

                                               APOIO DO MAB

O curador Reynivaldo Brito faz questão de ressaltar, para a realização da exposição, “ o apoio inestimável de Luís Jasmim, diretor do museu de Arte da Bahia, que acompanhará a montagem da exposição, além de dar todo apoio à produção”. A programação visual estará cargo de Washington Falcão  e a mostra terá patrocínio da Fundação Cultural da Bahia e do Banco Econômico.
O catálogo trará apresentação de Reynivaldo Brito e Ivo Vellame, este último, segundo Reynivaldo, “uma das pessoas mais envolvidas com a Geração 70, pois foi organizador dos salões universitários, onde muitos desses artistas que participam da Geração 70 começaram a despontar”.
Lembra o curador da exposição que há algumas décadas, houve na Biblioteca Pública (antigo prédio da Praça Municipal), “um movimento modernista com artistas que são, hoje, grandes nomes, tais como  Carlos Bastos, Genaro de Carvalho, Jenner Augusto, entre outros”.
-De lá pára cá- prossegue Reynivaldo Brito-não houve nenhuma manifestação integrada como esta que realizaremos agora.
                                                    
                                                 APOIO AOS EMERGENTES

Heitor Reis, diretor do Departamento de Museus e Artes Plásticas- Demap, da Fundação Cultural do Estado, disse, por seu turno, que “uma das linhas de ação da Fundação Cultural é de apoio aos artistas emergentes, àqueles que ainda não tiveram espaço assegurado no campo das artes plásticas, por exemplo”.
-Dentro desta proposta- continua o diretor do Demap -, surgiu a idéia da “Geração 70”, primeira de uma série, porque, creio, somente esses 10 que exporão agora não representam a totalidade do que se produziu na década de 70. Há outros artistas também de qualidades que participarão de futuras mostras desta série.
Na foto acima eu e o saudoso Fred Scaeppi.
Afirmando que a Fundação Cultural sempre procura realizar uma gestão “aberta, democrática, com propostas discutidas sem a mínima interferência autoritária”, Heitor Reis disse que “ convidamos um crítico conceituado, Reynivaldo Brito- que, inclusive, ocupa o melhor espaço sobre Artes Plásticas dos jornais de Salvador-, numa demonstração de que não existe uma política autoritária para a área”.
Ele disse também que, “por incrível que pareça, apesar da nossa receptividade e do posicionamento crítico perfeitamente compreensível de alguns jovens artistas não recebemos, durante nossa gestão, nenhum projeto. Todos os que surgiram foram propostas nossas”.
“Heitor Reis disse que a exposição “Geração 70” é importante também porque abre um processo de discussão, de questionamento, até de crítica (que é necessária), sendo este nosso objetivo maior, para que o movimento não seja algo meramente eventual”.

                                             FALAM OS ARTISTAS

Um dos participantes da mostra “Geração 70”, o pintor Chico Diabo disse achar a exposição “muito importante”, ressalvando, porém, que “deveria ter sido convidada uma maior quantidade de artistas. Mas, como a Fundação Cultural liberou uma verba pequena e os espaços são também reduzidos, não poderia ter sido de outra forma”.
De qualquer maneira, ele disse considerar o curador Rey Nivaldo Brito como “um herói, por conseguir selecionar 10 artistas no meio de , digamos, 50, e conciliar essas cabeças. Não podia ser melhor a escolha feita por ele”.
O artista Floriu também acha que a Geração 70 “não se esgota nos artistas escolhidos para esta mostra”, embora frisando que acha “bastante positivo reunir uma geração de artistas que desenvolve um bom trabalho e de cunho contemporâneo”.
Murilo, por sua vez, considera a exposição “Geração 70” um evento “da maior importância, desde quando abre a oportunidade para que nós mostremos as preocupações estéticas e mesmo filosóficas da nossa geração, pois a arte que fazemos reflete os problemas, as preocupações desta geração”.
Ele acrescenta que, “apesar de trabalharmos separados, temos uma vivência comum”. Enfim, para as artes plásticas, “acho que esta exposição é importante porque a nossa é a mais uma geração que vem se firmando, e é isso que resulta numa dinâmica”.
Para Zezé Giudice, essa mostra, “além do valor intrínseco- visto que é irredutível a produção dos artistas que a compõem, - ela certamente funcionará como fórum de discussão de uma produção plástica baiana. No que tange ao seu vínculo com a Fundação Cultural, me parece fundamental que outras mostras aconteçam, até mesmo para que se estabeleçam confrontos. Ela não pode vir como elemento de retórica de uma instituição que tem um plano de atuação ainda incipiente”.
“Para Guache, a idéia da exposição “Geração 70” é muito importante e ampla,” uma vez que mostrará o trabalho de artistas comprometidos com a contemporaneidade, não só nas artes plásticas, como também em dança, teatro, música, etc. A Fundação Cultural se empenhou, de alguma forma, e outras mostras deste tipo deverão ser feitas, pois a década de 70 é prenhe de valores questionadores e várias performances. Quanto ao meu trabalho, deverei mostrar o resultado do que tenho desenvolvido a partir de 83, em que procuro enfocar o insípido da condição humana, o lado burlesco dos homens, numa nova configuração, coisa que, na verdade, tem sido a minha preocupação como artista já há algum tempo”. 

                                            


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