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quarta-feira, 6 de junho de 2012

FUNDAÇÃO HANSEN NÃO TEM SEDE PARA GUARDAR ACERVO

 

ARTES VISUAIS


Texto Reynivaldo Brito






  Hansen com sua Ilse em São Felix


Revista Manchete 25 de março de 1970

Há trinta anos, desembarcou em Salvador o gravador alemão Hansen. A terra lhe foi tão agradável que, cinco anos depois, ele se naturalizou brasileiro e adotou o nome Hansen-Bahia. Com sua obra, capaz de captar a mestiçagem e o misticismo da cultura afro-brasileira, vista por um estrangeiro, o artista conquistou fama no país e no exterior, publicando vinte e cinco livros sobre artes plásticas na Europa. Ensinou gravura e expôs suas obras na República Federal da Alemanha e na Etiópia. Mas, nem por isso deixou de voltar para Cachoeira, na Bahia, onde criara, em 1976, a Fundação Hansen-Bahia, para a qual doou três mil matrizes originais de seus livros e os instrumentos de seu trabalho.
Para recolher tal acervo foi escolhido um casarão em Cachoeira, velho de cem anos, e em mau estado de conservação. Para a sua restauração foi escolhido o arquiteto alemão Carl von Hamenschild e logo as complicações começaram. Os técnicos do IPHAN, sob pressão de intelectuais de vários pontos do país , interditaram a reconstrução, alegando que todas as antigas janelas do prédio haviam se transformado em portas. Tentando solucionar o problema, o Governador Roberto Santos, da Bahia, solicitou ao diretor do Patrimônio Artístico e Cultural do Estado, Mário Mendonça , que servisse de intermediário.

AS VERBASSegundo Mendonça , informou a Manchete, a futura casa-sede da Fundação Hansen-Bahia, uma antiga fábrica de colchões , “ não tem qualquer valor histórico, apenas está incorporada à paisagem da cidade”. Sua restauração, porém, só poderá ser feita se um problema mais grave for resolvido: o da falta de dinheiro. Até o momento, existe apenas a verba insuficiente, de Cr$400 mil, liberada pelo Ministério da Educação e Cultura, além de promessas de doações feitas pela Fundação Alvares Penteado, de São Paulo, e de prefeitos da Região Metropolitana de Salvador, tais como os de Camaçari, São Francisco do Conde e, evidentemente, Cachoeira. Enquanto isso, Hansen-Bahia, convalescendo de recente operação, espera numa fazenda nos arredores de Cachoeira um abrigo para a sua doação.




SAUDADES DE  HANSEN

Foi a última vez que encontrei Hansen e Ilse em sua casa na cidade de São Félix. Ele estava muito doente e construía uma piscina em sua casa, a qual não chegou a concluir. Falava do futuro e tinha fé que sairia daquela situação em que se encontrava. Não saiu. Para tristeza de todos que gostavam deste alemão que adotou a Bahia como seu sobrenome. Ficou a saudade. Muita saudade de seu jeito, que a princípio parecia grosseiro mas, que sabia cativar as pessoas. Tenho alguns trabalhos de Hansen, e cada vez que olho para eles lembro de seu jeito simples e quase rude. Lembro de suas risadas altas e seu pavio curto, que explodia com certa facilidade.Este foi o Hansen que conheci.Um dos grandes gravadores que já apareceram por aqui.
Ele soube captar , a exemplo de Carybé, este jeito baiano do povo simples do Mercado de São Miguel,da Feira de São Joaquim,da rampa do Mercado Modelo.
Mirou as prostitutas e os malandros tão presentesna obra do grande escritor
Jorge Amado, um injustiçado por não ter sido laureado com o Prêmio Nobel de Literatura.

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