Jornal A Tarde 22 de abril de 1995.
Texto Reynivaldo Brito
O misticismo e a miscigenação aparecem, com grande força criativa nas fotos de Mário Cravo Neto.

Na foto Tinho com osso, 1990.
O misticismo e a miscigenação, tão presentes na vida e na cultura baianas, são expostos com grande força criativa e revelam esta ligação do artista que, embora tenha uma linguagem universal no seu trabalho, carrega esta baianidade na forma e no conteúdo. São influências palpáveis que enriquecem mais ainda o seu trabalho, hoje reconhecido não apenas no Brasil como em várias metrópoles de outros países.
Lembro de um livro de fotografias de sua autoria, evocando os ex-votos, onde estas esculturas populares de caráter religioso ganharam uma força de expressão extraordinária, num jogo de luz e sombra, ressaltando o essencial. Desde àquela época que o trabalho fotográfico de Mariozinho vem percorrendo caminhos diferentes, porém sempre com um cuidado muito grande com o formalismo e a produção.
Esta maneira inventiva de criar suas fotografias e a escolha de objetos que passam despercebidos pela maioria dos mortais colocam em pauta esta sua capacidade de enxergar com sensibilidade e estabelecer esta junção entre o corpo humano e esses objetos. Um pedaço de osso, um chifre, uma semente, uma linha que envolve um rosto, enfim, são situações criadas que dão uma força de expressividade acima de qualquer realidade. Assim, o seu mundo imaginário, religioso, místico e instigante está aí para apreciarmos, dentro de uma visão poética desta relação do corpo humano com esses materiais conhecidos ou estranhos.
Não podemos separar a obra de Mário Cravo Neto do grande fotógrafo Pierre Verger, o grande mestre da fotografia, que influenciou toda uma geração. Evidentemente que Verger é acima de tudo um documentarista, e as fotos de Mariozinho são formalistas, criadas propositadamente, escolhendo os elementos e os detalhes do corpo humano. Aqui ele se expressa com liberdade, utilizando essencialmente a luz natural. Ele está expondo no show room da loja de Andréa Velame, na ladeira da Barra e no Masp.
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