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sábado, 27 de maio de 2023

CARMEN CARVALHO ENTRE AS ESTAMPARIAS E COLAGENS

Foto 1- Carmen Carvalho em seu ateliê, 2023.
Foto 2. Exibindo um vestido de sua criação.
 Foto 3. Pintando out door no I Salão Metanor/
Copenor , em 1986.
D
ividiu sua experiência profissional entre a Escola de Belas Artes e a indústria têxtil se dedicando a criar estamparias que iam correr o mundo enfeitando mesas das casas familiares e os corpos de mulheres de todas as classes sociais, também cria estampas exclusivas em seu ateliê para vestuário e decoração. Estudou na Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia- EBA quando foi obrigada a interromper sua formação no terceiro ano para se especializar em Design para Estamparia Têxtil pelo Centro de Artes e Letras, da Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Lá esteve por duas vezes. Na primeira vez fez um curso de especialização de três meses com trezentas horas e voltou posteriormente aonde permaneceu por um ano e três meses. Retorna a Salvador, termina o seu curso e depois torna-se professora da EBA e continua produzindo sua arte onde predomina a harmonia das cores. Seu jeito de se comunicar é doce, calmo, parece uma monja falando e vendo as coisas de uma forma fraterna. Tem uma sensibilidade dos grandes artistas onde enxerga beleza e singularidade até no lixo da praia. Me surpreendeu ao mostrar belas fotografias que fez na localidade de Mutá, no município de Jaguaripe, na Bahia, onde sua família tem uma casa há muitos anos.  São fotos de barcos ancorados, de milhares de búzios coloridos vazios, chamados de peguaris. Esses mariscos são muito apreciados na região. Também fotografou folhas de coqueiros jogadas ao léu, mulheres mariscando, portanto, são elementos e momentos que ela olha e vê ali a beleza de uma imagem.

Foto 1. Centenas de cascos de mariscos peguaris.
Foto 2. Barco  ancourado na localidade de Mutá.
Suas colagens se confundem com pinturas porque as cores ocupam espaços que vão se
alternando com tanta harmonia e perfeição que você tem dificuldade  de enxergar onde começa e onde termina aquele pedaço de revista ou papel coloridos que ela usou na composição daquela obra. Além de ser uma obra abstrata agrada ficar observando e olhando aqueles espaços como que esses espaços coloridos  têm vida própria no sentido de se tornarem elementos únicos. Isto foi constatado pela primeira vez na obra de Carmen Carvalho pelo experiente professor Carlos Eduardo da Rocha ao percorrer uma Feira de Arte dos Estudantes que estava sendo realizada na parte externa da Escola de Belas Artes no ano de 1972, quando ele foi chamado a atenção por seus trabalhos de colagem ali expostos. De pronto se ofereceu a fazer uma apresentação para sua primeira exposição individual que aconteceu em 1973, na Galeria Cañizares. Concluiu o curso de Artes Plásticas em 1975, e em 1978 fez o Curso de Padronagem para Estamparia Têxtil com 300 horas de duração .Em 1993 a Pós graduação com especialização em Design de Padronagem Têxtil para Estamparia.

                                                                 SUA TRAJETÓRIA

Quatro telas pintadas com tinta acrílica.
Seu nome é Carmen Celeste Lima de Carvalho, nasceu em 2 de maio de 1942, em Salvador, filha de Silvério Carvalho Filho e Guiomar Lima de Carvalho. O pai trabalhou muitos anos na empresa Swift e depois fez concurso para auditor fiscal, do Ministério da Fazenda. Sempre moraram no bairro de Macaúbas, em Salvador. Fez seus estudos primários na Escola Getúlio Vargas, que funcionava no complexo do Instituto Normal Isaias Alves, que fica localizado no bairro do Barbalho, em Salvador, Bahia. Lá tinha desde o Jardim de Infância, o primário e o curso Normal. Milhares de professoras primárias foram formadas ali.

Lembra Carmen Carvalho que todos os cursos tinham seu teatro. O jardim de Infância, o Primário e o Pedagógico. Tinha piscina e cursos de natação para os estudantes, inclusive alguns clubes profissionais de futebol como o Bahia e o Vitória seus atletas de natação tinham aulas na piscina do Instituto Normal. O professor de natação dava mais atenção aos atletas profissionais dos clubes do que aos alunos. Ela mesma e suas colegas treinavam quase por conta própria até que um dia o professor ficou observando-a nadando e gostou de sua performance e o convidou para treinar no Vitória com mais afinco para participar de campeonatos. Chegou em casa alegre e comunicou aos pais, mas eles não aprovaram a ideia e sua carreira de atleta da natação terminou  ali.

Uma bela colagem que revela sua excelente  técnica.
Mas, ao terminar o primário na década de 1960 não quis prosseguir no Instituto Isaias Alves porque as opções eram fazer o Clássico, o Científico ou o Normal. Entrou em 1960 para um curso de pré-vestibular para a Escola de Belas Artes, da UFBA, que na época não exigia o segundo grau, e aí fortaleceu sua ideia de que realmente queria ser artista plástico. Teve aulas de  Modelagem com Ismael Barros, de Croquis com Jacira Oswald, etc. Ficava encantada com aquelas estátuas e os bustos de gesso que reproduziam grandes obras de arte que vinham de Paris, do Museu do Louvre e de outros museus europeus. 

Ela chegou para o pré-vestibular quando o curso já estava avançado e a Célia Azevedo, já
falecida, disse-lhe "não se preocupe que vou lhe ajudar." Teve aulas de Desenho com o professor Juarez Paraíso. Lembra que a Escola oferecia carvão francês e papel Angry também de origem francesa. Disse que ainda tinha prova de Português e quando ela fez o vestibular algumas pessoas foram reprovadas nesta disciplina. Foi aprovada e no terceiro ano observou que tinha uma colega que sempre vinha vestida com umas estampas bonitas diferentes das
Foto 1. Carmen com uma acrilica sobre tela
Foto 2. Com o filho Davi . Foto 3. Colagem de
sua autoria.

demais. Perguntou onde conseguia aquela padronagem e ela disse que comprava numa fábrica de tecidos que ficava no bairro da Boa Viagem, na Cidade Baixa, em Salvador. A fábrica tinha uma lojinha onde vendia os tecidos que produzia. Com a disposição de sua juventude decidiu que queria trabalhar ali. Foi para a Boa Viagem e depois voltou para procurar uma tia que morava no bairro da Calçada, em Salvador. Recomendou que ela não falasse nada, apenas queria que lhe acompanhasse. Rumaram para a Boa Viagem. Primeiro foram conhecer a lojinha e depois procurar o chefe de pessoal da fábrica, que funcionava numa casa adiante. Lá chegando a recepcionista perguntou quem tinha lhe recomendado. Respondeu que ninguém que era estudante de Belas Artes e que sabia pintar, desenhar. Foi recebida e ficou acertado para voltar no outro dia para conhecer o Chefe do setor de Desenho senhor Antônio Mesquita. "Em seguida ele me disse que iria me apresentar ao diretor da empresa dr. Augusto Viana. Este decidiu que eu faria uma experiência de oito dias. Em seguida seria avaliada, e a decisão será do presidente Augusto Tarquínio." Carmen Carvalho trabalhou com muito empenho durante os oito dias combinados e apresentou o que tinha produzido. Todos gostaram. O Diretor de Vendas chegou a comentar: “A d. Carmen deu um coro”, surpreso com sua produção.
Foto 1. A fábrica onde trabalhou,em Salvador.
Foto 2. Uma estampa  que fez no seu ateliê.

Foi assim que passou a trabalhar como designer têxtil na Companhia Emporio Industrial do Norte. Gostaram do que ela produzia e assim ficou até 1965. Ocorreu que a fábrica enfrentou uma grande dificuldade e demitiu duzentos cinquenta funcionários, inclusive ela.  A fábrica reabriu em 1969 e lhe chamaram de volta. Estava grávida do primeiro filho e lá chegando disse que estava grávida e queria a licença maternidade para criar o filho. Eles concordaram e retomou os trabalhos ficando até o fechamento definitivo da empresa. Foi neste período que resolveu apresentar suas criações deixando de lado o catálogo de estamparias que vinha da Europa com estampas repetidas em todos os cantos. Assim foi desenvolvendo sua criatividade. Porém, a indústria têxtil baiana não se atualizou e outras indústrias brasileiras, europeias e orientais passaram na frente produzindo em grande escala utilizando metodologias e maquinários modernos. Inclusive toda esta parte de estamparia passou a ser digitalizada e a inteligência artificial começava a dar os seus primeiros passos. A fábrica foi fundada por Luiz Tarquínio, Leopoldo José da Silva e Miguel Francisco Rodrigues de Moraes, em 1891 e permaneceu em funcionamento até 1973.

Durante este período tentou algumas vezes  retomar o seu Curso na Escola de Belas Artes, mas enfrentava dificuldade porque as vagas sempre estavam ocupadas. Na época era comum estudantes se matricularem e permanecerem vários anos ocupando o lugar e não frequentavam as aulas. Viviam ali para fazer política até que o Governo da época resolveu enfrentar este problema criando um sistema de jubilamento, determinando o tempo médio que cada aluno deveria concluir o seu curso para acabar com “os estudantes profissionais”. Esta medida permitiu que Carmen de Carvalho retomasse em 1972 o seu curso e foram abertas muitas vagas para novos estudantes dos demais cursos da universidade que faziam o vestibular. Concluiu o seu Curso  na Escola e Belas Artes  em 1975,  fez concurso para ensinar as disciplinas Composição Decorativa e Pintura, em 1982 , onde permaneceu até se aposentar em 1997. Continuou expondo e realizou murais para a Biblioteca Central da UFBA, Escola de Belas Artes, Espaço X - Biblioteca Central do Estado e participou de encontros, seminários, congressos e oficinas. Atualmente desenvolve trabalhos em acrílica sobre tela e padrões têxteis para estamparia em seu ateliê no bairro do Rio Vermelho, em Salvador, Bahia.

                                                                             EXPOSIÇÕES

Foto 1. Primeira   individual na Galeria 
Cañizares.Vemos a artista ,seus pais e amigos.
Foto 2. Exposição de acrílica sobre telas no
Laboratório DNA, na Pituba,em Salvador
.
Em 1966 – Participou da 1ª Bienal Nacional de Artes Plásticas da Bahia, em Salvador; 1972 - Participou da Feira de Arte da Escola de Belas Artes; 1973 - Mostra Individual de Colagens, na Galeria Cañizares ; 150 anos de Pintura, no Sesquicentenário da Independência da Bahia, no Museu de Arte Moderna da Bahia; Pinturas no Museu Regional de Feira de Santana; Sete Artistas Baianos, na Galeria Cañizares; 1º Salão de Verão no Museu de Arte da Bahia , no Convento do Carmo onde ganhou o Prêmio Aquisição; Leilão de Arte, no Teatro Vila Velha, em Salvador; Mostra do Acervo da Escola de Belas Artes da Bahia, no foyer Teatro Castro Alves ; Festival de Arte de Cachoeira, na Bahia; Arte e Artesanato do Norte e Nordeste do Brasil, na Galeria Eucatexpo, em São Paulo; A Mulher na Arte da Bahia, no foyer do Teatro Castro Alves; Exposição e Obra no Acervo do Museu de Arte e Ciência de Itapetinga, Bahia; Exposição de Gravuras, Oficinas Arte em Série, no Museu de Arte Moderna da Bahia; Exposição Artistas Baianos, na Abertura do Centro de Pesquisa e Documentação da Arte Moderna e Pós Moderna - Cepambra; Exposição no 1º Congresso Nacional de Cores na Bahia, Salvador; 5º Leilão de Arte, na Galeria  Cavalete, em Salvador; Encontros Com a Arte Brasileira , Geração 60, no Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador; Exhibit of Contemporary Artist  Bahia and Americanas, BA/USA
Foto 1. Trabalhando uma estampa de persiana.
Foto 2. Tecido estampado por ela no Centro de
Artes e Letras - em Santa Maria -RGS

 Exposição Individual de Pinturas, na Livraria Arte e Prosa, Salvador; Painel - Artista em Destaque, homenagem da Escola de Belas Artes da Ufba; Exposição  no Departament of Art Center for the Visual Arts Illinois State University; Exposição no  Salão de Decoração - Modecor no Centro de Convenções, em Salvador; 1º Salão Baiano de  Artes Plásticas, no Museu de Arte Moderna da Bahia; Exposição da Produção Artística e Científica dos Professores da Escola de Belas Artes. da Universidade Federal da Bahia, na Galeria Cañizares; 1995 - Exposição Itinerante do Mestrado de Artes da EBA, convidada pelo Instituto de Física da Ufba; 1999 - Exposição e Leilão de Arte, no Solar do Unhão, em Salvador; Exposição no Conjunto Cultural da Caixa Econômica Federal, em Salvador; 1999 - Exposição Bahia Arte e Cultura, Anos 70, no Instituto Cultural Brasil - Alemanha, em Salvador; 2003 - Exposição Artes Visuais na Bahia, na Academia de Letras e Arte de Salvador - Alas; 2007- Exposição Mulheres em Movimento, na Galeria Cañizares; 2008 – Mostra Pintura Individual no Congresso Internacional de Direito Penal ; 2016 -  Exposição de Arte dos Professores da EBA ; 2018 – Exposição no Laboratório DNA, no bairro da Pituba, em Salvador, dentre outras.

 

 

 



sábado, 20 de maio de 2023

DENISE PITÁGORAS UMA VIDA DE LUTAS PELA ARTE

Foto 1. Mostrando catálogo do  Spoleto
Festival Art, em 2012. Foto 2. Na Expoart.
Foto 3. Momento de descontração. Foto 4.
Em sua casa em Itapuã com gravuras,2023.
 
Vou falar hoje de uma artista baiana que já realizou inúmeras exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior a convite de embaixadas, universidades, galerias e  do Itamaraty. Uma criadora e líder inconteste da classe artística, já foi presidente da Associação dos Artistas Plásticos da Bahia por duas vezes , defensora e executora de propostas de uso dos espaços públicos para colocação de obras de arte, decorou o Carnaval de Salvador, blocos de carnavais, criou murais e painéis. Por seu trabalho de qualidade recebeu prêmios e uma homenagem da Câmara Municipal de Salvador. Seu nome é Denise Pitágoras Melo de Freitas, ou simplesmente Denise Pitágoras. Sua gravura é forte, vigorosa e engajada em defesa do social.Sua pintura não fica atrás em qualidade e sempre nos passa uma mensagem sobre a necessidade de olhar o mundo com mais humanismo e sentimento.

Sua trajetória é cheia de vitórias e percalços, mas Denise Pitágoras parece que tem uma força diferenciada que lhe acompanha porque sempre está disposta a defender suas ideias e princípios e vai à luta em defesa da arte. Tem uma produção fantástica de gravuras que precisa ser resgatada e compartilhada com o público para conquistar os espaços nas paredes de colecionadores, museus e galerias. A qualidade do conjunto de sua obra por si só impõe este resgate nesta terra onde a cultura hoje se limita a duas ou três notas musicais e pulinhos imitando coelhos ou voos de galinhas.

Denise Pitágoras,Terezinha Dumêt e Hilda de
Oliveira, na Galeria Ganizares, abril 2023.
Venho fazendo este trabalho de entrevistar artistas baianos que já passaram de meio século de existência porque observo que o tempo é cruel com o ser humano. O tempo tem uma borracha poderosa que vai apagando as lutas, conquistas e os valores de grandes artistas e de outros profissionais de várias áreas mas, também importantes. Temos obrigação de sempre lembrar do legado que eles deixaram como se fossem pegadas fossilizadas registradas para sempre. Até os familiares dos artistas quando eles envelhecem ou morrem tratam logo de descartar os pertences, e toda aquela papelada que registra suas conquistas e lutas travadas durante décadas. Outros chegam a se manifestar que os textos estão longos, como se eu pudesse resumir em poucas linhas essas vidas ricas em realizações e criatividade. Como dizia o sociólogo polonês Zygmunt Baumann (1925-2017)"Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar."

                                              TRAJETÓRIA

Foto 1- Indo pintar muros de escolas do Projeto
Arte Educação. Foto 2- No bar com amigos
e sua colega Vera Lima, falecida. Fotos 3 e 4 -
Levando arte para as escolas municipais.
A artista Denise Pitágoras nasceu em 3 de outubro de 1949, portanto completará 74 anos de idade. É natural da cidade de Canavieiras no Sul da Bahia, filha de Joaquim Pitágoras Freitas e Maria Beatriz de Melo Freitas. Seu pai era securitário e sua mãe professora primária. Logo que formou sua mãe prestou concurso público sendo nomeada e designada para ensinar em Salvador. Aqui chegando foram morar no bairro de Matatu de Brotas, na casa de uma parenta de sua mãe. Depois moraram em Amaralina e posteriormente foram para a Avenida Manoel Dias da Silva, no bairro da Pituba. Fez seu curso primário no Colégio das Mercês, localizado na Avenida Sete de Setembro, no Centro de Salvador , onde sua mãe arranjou uma bolsa de estudos,  sendo depois transferida para o Colégio Nossa Senhora da Luz, na Pituba. Estudou parte do secundário no Colégio Severino Vieira, e finalmente veio para o Colégio Manoel Devoto, no bairro do Rio Vermelho, por ser mais próximo de sua residência. Começou a despertar aí pela política estudantil entrando para o Grêmio do colégio participando de campanhas reivindicando a colocação de grades de proteção e a construção de um teatro. “Aquele colégio me deu muito trabalho naquela época. Lutamos muito, eu e meus colegas do Grêmio para conseguir melhorar o ambiente escolar”.

Xilogravura A Passeata.
Ao terminar o curso secundário resolveu fazer vestibular para a Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia. Quando perguntei por que resolveu fazer Artes Plásticas ela respondeu que desde criança gostava de desenhar e sua mãe paralelamente ao magistério sempre mexia com artesanato. “Ela gostava muito de arte e acho que vem daí esta minha tendência de abraçar a arte. Lembro que já nas casas onde a gente morava  aproveitava as manchas que se formavam nas paredes devido a  umidade e fazia uns quadrados, e ali criava uns desenhos.  Minha mãe e meu pai sempre reclamavam porque eu riscava as paredes com meus desenhos."disse Denise.
Terminou sendo licenciada em Desenho e Artes Plásticas em 1975 e aí começa sua trajetória como profissional ensinando em vários colégios e ao mesmo tempo produzindo a sua arte. Como sua produção coincidiu com o período do regime militar sua obra trás no seu bojo a preocupação com o social e com as liberdades individuais, principalmente com a liberdade de expressão, que hoje está ameaçada.
                                              
                                               SUAS LUTAS

Denise  com o catálogo
"Artistas Brasileiros
"
L
ogo que entrou para a Escola de Belas Artes já trouxe sua experiência em participar do movimento estudantil e recordou que a escola estava terminando o processo de mudança do Museu de Arte Sacra para a sua sede no bairro do Canela, em Salvador. Surgiu um movimento por parte da Reitoria da UFBA que queria juntar o curso de Belas Artes com o de Arquitetura. "Fomos contra e aconteceu uma luta ferrenha contrária a esta ideia do Reitor porque o que queríamos era o fortalecimento da Escola de Belas Artes. Outra luta interessante veio depois quando a casa vizinha na época era residência de uma família e não sabe por qual razão colocou o imóvel à venda. Quando soubemos passamos a lutar para que a Reitoria da UFBA comprasse com a finalidade de fortalecer ainda mais a EBA. Foi assim que o imóvel foi adquirido e ali instalada a Galeria Cañizares,"recorda Denise Pitágoras.

A Associação dos Artistas Plásticos da Bahia estava desativada há treze anos. Ela reativou em 1973 aproveitou que já tinha estatuto registrado, e outras facilidades administrativas da antiga agremiação. "Inicialmente funcionamos na própria Escola de Belas Artes e depois na casa de Zu Campos, na Ladeira de Santa Tereza, no Centro de Salvador, que tinha seu ateliê no térreo numa casa de esquina e na parte de cima a gente usava como sede provisória da associação", disse  Denise. Ela mudou o nome para Associação dos Artistas Plásticos Modernos da Bahia. 
Foto 1.A Garupa. Foto 2. A Grávida e
o Vazio. (xilogravuras)
Também promoveu reuniões na sede da Associação dos Arquitetos que funcionava num prédio na Ladeira da Praça, depois eles mudaram para o Largo da Palma e  tiveram que sair. 
Viviam perambulando até que surgiu a ideia de utilizar um casarão que pertencia à Academia Baiana de Letras, no Terreiro de Jesus. Passou a lutar para conseguir uma sede própria para a agremiação e terminou conseguindo por empréstimo a antiga sede da Academia Baiana de Letras, no Terreiro de Jesus, que acabara de se mudar para na Avenida Joana Angélica, bairro de Nazaré, em Salvador, vizinha da então Escola de Eletromecânica, defronte onde hoje funciona o Ministério Público Estadual.

Foto 1-obra da série Divindades: Isis Deusa da
Lua, mortes e magia. Linóleo com impressão 
digital. Foto 2. Símbolos afro .Foto 3. Amor ao
Cubo, acrílica e Foto 4.Detalhe de gravura .
Lembra que o prédio estava muito estragado e teve que tirar quatro caçambas de entulho. Com muita determinação conseguiu arranjar dinheiro para fazer uma pequena reforma. Antes teve que retirar muitos moradores que tinham invadido o velho casarão e ali fizeram de moradia. “Não sei onde arranjei tanta pedagogia para tirar o pessoal sem qualquer atrito”, confessa. Ali instalou a Associação dos Artistas Plásticos Modernos da Bahia. Mesmo assim as dificuldades sempre estavam presentes porque é difícil a mobilização dos artistas. Convocavam as reuniões e só apareciam ela, Hilda de Oliveira e Vera Lima, falecida. Contavam com a ajuda de Clarindo Silva, que às vezes fornecia alimentação para elas na Cantina da Lua, e Denise Pitágoras faz questão de agradecer.

Quase todas as reuniões eram feitas nas terças-feiras à noite com pouca participação e isto desestimula. “Aparecia um ou outro, tudo muito devagar sem aquela participação necessária para a associação ganhar força. "Levei uma mapoteca minha para a associação para guardar as obras dos artistas e tudo se perdeu”, lamenta. Quando saiu da Presidência logo depois a Associação deixou de funcionar,  os acadêmicos pediram o prédio de volta, e atualmente está desativada. 

Paralelamente os artistas conseguiram introduzir no currículo da Escola de Belas Artes novas disciplinas, porque o currículo ainda tinha a predominância de disciplinas calcadas no academicismo.  “Isto deu muito trabalho. Fizemos muitos seminários e reuniões para mudar o currículo. Pedi currículos de outras escolas no Brasil afora para servir de base até que saímos vitoriosos”, diz Denise Pitágoras. Defende que seria bom que alguns artistas se juntassem para reativar a associação para que possa ser um instrumento de defesa da categoria. Mesmo com a saúde abalada  após o nosso encontro me enviou uma mensagem pedindo para incluir no texto a necessidade de os estudantes da Escola de Belas Artes e os artistas lutarem para regulamentação da profissão de Artista Plástico que ainda hoje é considerada uma atividade recreativa.

Na abertura de sua exposição no Centro
Cultural da CEF, em Salvador
.

Quando fui aprovada no vestibular tinha que colocar três opções. Coloquei Belas Artes, Desenho, Arquitetura, passei e optei por Belas Artes. Depois fiz concurso público no Estado e fui ensinar no Colégio Severino Vieira, onde fiquei um ano. Em seguida ensinei no Colégio Medalha Milagrosa, no bairro do Rio Vermelho, e no Colégio Manoel Devoto e até no Colégio Militar. Fui transferida para o Colégio Lomanto Junior, no bairro de Itapuã, porque era mais próximo de minha casa.” Nomeada Coordenadora do Programa de Desenvolvimento de Arte-Educação – Prodiarte idealizado pelo artista baiano Rubem Valentim, falecido, e sua esposa Lúcia Valentim que era funcionária do MEC, e ajudou na implantação deste projeto na Bahia. Fizemos muitos treinamentos de professores e introduzimos a arte nas escolas em todo o Estado. Antes faziam só artesanato de florezinhas, bonequinhas etc. Com a introdução da Arte-Educação os estudantes passaram a criar, pensar e questionar.”, diz Denise Pitágoras.

                                                      TRABALHANDO E CRIANDO

Bloco do sindicato dos bancários . Ela fazia 
toda a programação visual como abadás,
estandartes e demais alegorias aéreas.


Sendo coordenadora da Prodiarte passou a trabalhar na Secretaria de Educação do Estado. Lembra que era muito trabalho coordenar o programa em todo o Estado da Bahia e mesmo assim não parou de produzir suas pinturas e gravuras. “Não parei minha produção”. De repente lembra que quando presidente da associação lutou muito para que a Decoração do Carnaval de Salvador fosse feita por concurso público através de um edital. Antes o prefeito escolhia alguém amigo e dava para fazer a decoração. Lembrei que na época apoiei a luta dos artistas plásticos e realmente a Decoração do Carnaval passou a ser feita através de concurso público, inclusive Juarez Paraíso, Tati Moreno, Fernando Coelho e Edvaldo Gatto, entre outros ganharam algumas concorrências. Eles criavam as peças e com a ajuda dos estudantes da Escola de Belas Artes faziam a execução. Eu trabalhava como Chefe de Reportagem, do jornal A Tarde, e muitas vezes mandei repórteres acompanharem o andamento dos trabalhos de decoração até a sua instalação. Eles usavam as instalações da Escola de Belas Artes e aconteceu que o Reitor implicava e queria tirar aquela atividade porque alguns professores reclamavam que provocava muito movimento de pessoas de fora  e ocupava os espaços com madeiras, isopor e outros materiais usados para fazer os totens, as placas etc. Além de sujar. "A pressão era grande e a gente resistindo,"disse Denise que um dia foi tão forte a pressão que ficou nervosa e chegou a chorar.

                                  CONSTRUÇÃO DA CASA

Foto 1. Sua casa em Itapuã. Fotos 3 e 5 -Pin-
tura e construção do ateliê. Foto 4. Vemos o 
muro que protege a Rua das enchentes do rio
Denise morava num condomínio em Itapuã  e sempre aparecia uma moça que residia nas redondezas pedindo dinheiro emprestado. Era pouco dinheiro, mas com uma certa repetição e não era empréstimo a juros. Ela era casada  com um senhor idoso que residia lá para cima e aponta em direção ao rio que passa em frente a sua residência. Um dia  disse que não mais iria emprestar e foi ai que  ela me chamou para ir falar com o marido que era proprietário de uma extensa faixa de terra que margeava o rio. Lá fomos nós e ele concordou em me dar um pedaço de terra em troca da dívida que a esposa tinha contraído. Fez um recibo de compra e venda escrito a mão. Não aceitei e fui a uma escola e bati na máquina e ele assinou. Já tinha casado com Ednaldo Silva  que passou a trabalhar com o empresário José Lessa Ribeiro que tinha uma empresa de construção civil iniciada em 1967, e construiu muitos imóveis, inclusive conjuntos habitacionais que na época eram financiados através o Banco Nacional de Habitação – BNH.
O terreno era de charco e nem contou a Ednaldo, o Edi, como ela chamava o esposo. Então ficava de plantão   esperando os caçambeiros que passavam com entulhos para jogar fora e pedia a eles que jogassem no seu terreno. Foi assim que conseguiu aterrar. Agora precisava de alguém para compactar. Usou o mesmo método. Deu quadro ao homem do trator, arranjou matrículas para os filhos dele e assim conseguiu compactar o terreno. Em seguida comprou uns tijolos, cimento, e areia e começou a murar. “Certo dia  passou um amigo do Edi e ficou observando-me ali no terreno esperando o homem do caminhão com os materiais de construção.  

                                                          LIVRO DE POESIAS

Na foto ladeada por sua mãe, o esposo Ednaldo
 Silva e as filhas Mila, Goya e Heli, seu 
pai Joaquim e a sogra Eudália
.

Além de artista plástica Denise Pitágoras também é poeta. Publicou o livro de poesias o PatriAmante que lançou em 2011 no MASP, em São Paulo com a presença do escritor Dias Gomes, que se notabilizou com seus textos sendo transformados em novelas da rede Globo. Este livro de poemas mostra a sua revolta de adolescente com a situação que o país vivia nas décadas de 60 e 70, e quando fui ler seus poemas senti a sensação que a História se repete nestas décadas de 2010 e 2020, só mudam os personagens . O que não podemos é renunciar às nossas liberdades de expressão seja qual for o regime.

No seu poema Oração, de 1976, ela diz: “Que o canto de ternura e amor do meu peito / se alastre entre os homens e a natureza, / faça dormir a violência e a tristeza, / que eu não precise ter pena de mim.” Noutro poema chamado Resistência datado de 1987 ela diz: Ergo-me de novo /arrastando-me e recolhendo farrapos / que deixaram em mim.... Continuarei construindo sempre / uma nova morada para meus sonhos /como oxigênio da minha alma...”
Ao lado a cada do seu livro de poesias.

                                      

                  EXPOSIÇÕES REALIZADAS

Em 1987- Mostra Plástica e Literária da Realidade Social Brasileira - lançamento de livro e exposição - na Galeria Blue Life e Masp, em São Paulo; 2000 - "Grande Povo Brasileiro", em Itaparica, Bahia; 2000 - Exposição Itinerante Afro-Bahia , a convite do Itamaraty , em Cartago, na Costa Rica  e em San José,   El Salvador, em Manágua ,na Nicarágua, em Dacar, na Tunísia, Marrocos etc. 1968 -  Die Brasilianche Gruppe, Galeria Fur Schinuch, na Alemanha; 1987- Graphiksans Brasilien na Kleinem Galerie, em Viena, na Áustria; 1986 a 1990 - Exibit Of Contemporany Artist From Bahia em Americs - Exposição Itinerante , nos Estados Unidos; 1974 -Mostra Brasileira de Artes Plástica, em Brasília; 1974 - A Gravura na Bahia; 1971- Prêmio Aquisição no I Salão dos Novos Artistas do Nordeste, no Teatro Castro Alves, Salvador, Bahia; 1971- I Salão de Verão, no Museu de Arte Moderna da Bahia; 1987 - Indicada para Membro do  Conselho de Cultura do Estado da Bahia; 2003- Exposição na
Bela xilogravura Retirantes, tema social que
pintou e produziu muitas gravuras.
 Galeria a do Estudante , no hall do prédio da Secretaria de Educação do Estado da Bahia; 2001 a 2003 -  Coordenadora do Núcleo de Artes Visuais do Projeto Axé; Criação, Coordenação e Execução e Propostas Visuais de Decoração para Eventos, espaços envolvendo alunos das Escolas Municipais de Educação - SMEC; 1984 - Participou da Coletânea de Escritores Brasileiros - Crisalis Editora; 2009 - Exposição na Galeria Mali Villas Boas, em São Paulo; 2009- na Athos Faccincani - In Galeria Noli Arte, em Roma, Itália; 2010 - na Galleria d´Arte San Agostino, em Itália;2010- Exposição Coletiva na Gallery Tavid, em Londres, Inglaterra; Prêmio Internazionale Arte Contemporânea "Centro Itália" Spolto Festivart do Instituti FUROPED Giovanni; 2009-2010 - Europe Brazilians On The Move Grou-6-Rrd Muro Di Berlino - Sindicato Cronisti Romani ( Aniversário da Queda do Muro de Berlim); 2010-  Curadora e Expositora da Mostra Comemorativa da 37ª Jornada Internacional de Cinema da Bahia ; 2011 - Exposição e noite de auttógrafos do seu 
Xilogravura A Professora.
livro de poesias PatriAmada reeditado pela UESC/ Editus e Ouvidoria da Câmara de Vereadores de Salvador , Bahia; 2013- Exposição Cores da Bahia , na Itália; 2013- Exposição na Eduexpo; 2013 - Exposição na Alemanha; 2013- Exposição na Associação Cultural Brasil- Estados Unidos - ACBEU, em Salvador, Bahia; 2014 - Exposição no Tribunal de Justiça da Bahia, no Centro Administrativo, Salvador; 2-15 - Exposição no Resort Busca Vida; 2015 - Exposição Escavadores da Alma, na Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia; 2014 - Exposição Connexion Art Bresil, na Carroussel de Louvre, em Paris, na França ; 2023- Exposição Gravura na Bahia a partir da Escola de Belas Artes da UFBA, dentre várias outras.

 

 

 

 

sábado, 13 de maio de 2023

A FORÇA DA GRAVURA DE TEREZINHA DUMÊT

Dumêt  mostra  díptico de sua
autoria impresso em tecido.
 Acostumado a entrevistar pessoas de todos os tipos, culturas, afazeres, de perfis religiosos e ideológicos dos mais variados segmentos da sociedade desta vez fui ao encontro de uma artista da segunda geração dos grandes nomes da Gravura na Bahia. Trata-se de Terezinha Safe Dumêt ou simplesmente Terezinha Dumêt. Marcamos nosso encontro em seu apartamento no bairro da Federação, e lá estava ela uma senhorinha de pequena estatura, calma e meiga, rodeada de suas gravuras que transmitem energia, uma força que aparentemente destoa da pessoa que estava diante de mim. Esta senhorinha de setenta e dois  anos de idade já criou obras que merecem ser observadas e valorizadas pela qualidade intrínseca das composições resultado dos sulcos firmes que ela faz nas matrizes de madeira utilizando suas ferramentas de gravadora. São obras que trazem formas geométricas e silhuetas de figuras humanas. Muitas delas são apresentadas em trípticos ou dípticos, repetindo as mesmas imagens ou com pequenas variações. A maioria concebidas em suportes verticalizados, impressos em panos ou papéis especiais, utilizando duas ou no máximo três cores. São formas geométricas superpostas, que se cruzam e permitem uma transparência de qualidade. 

Passou grande parte de sua vida na Escola de Belas Artes da UFBA onde se formou em Artes Plásticas e depois se envolveu em outras atividades, concluiu o Mestrado em Artes Plásticas, em 1995. Fez curso de Especialização em Geometria de Representação e Desenho Técnico, Exerceu a função de professora de Desenho de Observação, Expressão Tridimensional e Gravura de 1974 à 1999, na Eba. e em seguida fez concurso para titular e continuou ministrando suas aulas até a aposentadoria. No seu trabalho do Mestrado defendeu a tese Homem versus Homem e apresentou uma série de vinte xilogravuras, dez objetos e uma instalação. O tema do seu trabalho foca no homem moderno que vive estressado com sua luta para sobreviver num ambiente competitivo e muitas vezes desproporcional. Preocupada com a resistência do suporte que iria utilizar para apresentar suas manifestações artísticas escolheu o tecido ou invés do papel devido à grande umidade que existe em Salvador. Utilizou para construir seus objetos as matrizes em madeira, que recortou, pintaram e assim surgiram obras bidimensionais. Já a instalação mostrava o isolamento social e a degradação do homem.

                                                                          QUEM É 

As imagens de Terezinha em três  momentos
na Escola de Belas Artes e em foto recente
.
A artista Terezinha Safe Dumêt é filha da libanesa Jage Safe Dumêt e do paulista Antônio Salomão Dumêt e nasceu 4 de junho de 1945, na cidade de Juazeiro, na Bahia, onde seu pai era comerciante e tinha um bazar chamado de Bazar Royal que vendia os mais variados produtos. Lembra bem que ele comercializava muitos brinquedos e que durante sua infância ela e seus irmãos ganharam várias bonecas e carrinhos e outros brinquedos da época.

Depois seu pai resolveu vir morar em Salvador e um tio passou a cuidar do Bazar Royal, enquanto ele comandava seus negócios de um escritório que abriu num daqueles casarões coloniais próximo da igreja Nossa Senhora da Conceição da Praia. Foi aí que seus pais a matricularam no Colégio das Mercês, que funciona na Avenida Sete de Setembro, e posteriormente foi estudar no Instituto Normal Isaias Alves, no bairro do Barbalho, ambos em Salvador. 

Logo que terminou seu curso de Magistério foi trabalhar no Banco Mercantil de Minas Gerais que tinha uma agência na zona do Comércio, na chamada Cidade Baixa, em Salvador. Mas, sua vontade de fazer arte não desapareceu. Foi assim que resolveu fazer o vestibular para a Escola de Belas Artes, sendo aprovada e passou a frequentar as aulas ainda no antigo prédio da instituição que ficava na Rua 28 de Setembro, em pleno Centro Histórico de Salvador. Sabemos que posteriormente a EBA funcionou provisoriamente no Museu de Arte Sacra até se transferir para onde se encontra até hoje no prédio que antes era ocupado pela Faculdade de Geologia. 

Três belas gravuras de sua autoria onde 
destaco a força das imagens e a transparência.

Passou a se interessar pela gravura de sua convivência com Edison da Luz, Hilda de Oliveira, Vera Lima, Sônia Sacramento, Denise Pitágoras e outras. Disse que nunca teve um ateliê próprio. Depois que se casou sempre morou em apartamentos o que a impediu de ter uma prensa para imprimir suas gravuras. Hoje é divorciada e tem dois filhos adultos, inclusive um deles mora com ela. 

Foi assim que passou a frequentar ateliês de outros artistas que possuíam prensas como o de Edison da Luz, Juarez Paraíso e principalmente faz suas impressões na Escola de Belas Artes. 

Lembrou que graças a boa vontade do Eduardo França dos Reis, o Duda, ela imprimia juntamente com ele suas gravuras. "Também nos ajudava indo comprar tintas e madeira para fazermos nossas matrizes. Era uma boa convivência. Sem e ajuda dele a gente não conseguia imprimir. Ele sempre estava ali imprimindo, aprendendo e trocando experiências com os alunos e professores", disse Terezinha Dumêt.

                                                        EXPOSIÇÕES REALIZADAS 

Terezinha imprimindo suas gravuras com Duda.
 Exposição de Arte Universitária, em Belo Horizonte, Minas Gerais em 1969;  I Exposição Feminina de Artes Plásticas da Bahia, UFBA, em 1969; II Salão Nacional de Artes plásticas no Ceará, 1969; Exposição Individual no Instituto Cultural Brasil Alemanha - ICBA, 1970; Prévia da Pré-Bienal do Nordeste, Recife , em 1970; I Salão dos Novos Artistas do Nordeste, Prêmio Menção Honrosa, 1971; 1º Festival Aberto Firmino Rocha, em Itabuna, 1971; Exposição Coletiva Gravadores da Bahia, Galeria de Arte da Bahia, 1971; Exposição de Artistas Plásticos da Bahia, Clube de Engenharia, 1972; Exposição de Gravadores Baianos, em Aracaju, Sergipe, 1073; Exposição de Gravadores com Homenagem a Sônia Sacramento, na Galeria Cañizares, 1973; Participação na lª Exposição - JUBS dos XXIV Jogos Universitários Brasileiros, em Belém do Pará, 1973; 1ª Feira Gravura Coperarte - ICBA, em 1975; Exposição de Festival de Arte Contemporânea da Bahia , na EBA, em 1975; 36 Artistas Brasileiros na Galeria Amanda Costa Pinto, em Cachoeira, Bahia, 1975. Recentemente participou da Exposição A Gravura na Bahia a partir da EBA/UFBA que reuniu mais de duzentas gravuras de vários artistas, realizada em março de 2023, na Galeria Cañizares. Desenvolveu pesquisa no campo híbrido na gravura sobre madeira “buscando um sentido humano nos gestos artísticos. Seu trabalho caracteriza-se pela crítica à sociedade de consumo e ao caos urbano. Pretende através da arte uma melhor reflexão sobre as relações sociais contemporâneas".

                                            SUA PRODUÇÃO

Foto  1. Vemos um objeto composto de formas
individuais pintadas na madeira e depois 
 juntadas. Foto 2. Xilogravura verticalizada
.
Falando sobre seu trabalho a sua colega Selma Fraga Costa, também professora da EBA, disse “Tratemos aqui das qualidades e características específicas da gravura, que põe em evidência o seu trabalho, ligando as exigências peculiares da técnica. O desenho para a gravura é concebido com mais profundidade, Terezinha utilizou com maestria a angulosidade e a rigidez das formas. A matriz foi impressa sobre o tecido, o que permitiu maior extensão de superfície, a exploração expressiva de suas tramas e maior brilho das cores, sem descaracterizar a gravura. As formas geométricas, superpostas na composição, exploram as transparências, o quadrado, o círculo e o triângulo, elementos plásticos fundamentais, simbolizam a matéria, o sentimento e o intelecto, forças básicas da criação.”

 

sábado, 6 de maio de 2023

MAAZO HECK O ARTISTA QUE CAPTA FORMAS E CONTEÚDOS

O artista trabalhando numa obra da série
 Tudo Sobre Mim que está desenvolvendo.
Conheço o Maazo Heck há algum tempo e sempre fico olhando as suas obras com uma curiosidade particular imaginando como consegue aquela textura límpida e o momento em que vai misturando as tintas até chegar  à tonalidade que acha mais apropriada para pintar esta ou aquela tela. São escolhas que acontecem como resultado da observação consciente , do seu aprendizado, de uma vontade que surge  objetivando representar na branca tela imagens figurativas e abstratas de pessoas ou objetos que depois brotam livremente como a água que borbulha de uma nascente. Nas primeiras pinturas que vi do Maazo ele mostrava com sutileza a beleza do corpo e das formas femininas, ao apresentar nas suas obras detalhes de  belas mulheres  . Um busto, as nádegas, as coxas, a grandiosidade de um prédio e o seu posicionamento na urbi, enfim as partes onde os volumes, as curvas e formas se mostram  mais expressivas . Nada agressivo, pelo contrário, dentro de um clima de cores e composição cheio de suavidade.

Maazo se destacou ao pintar corpos de mulheres.
 Depois vi outras exposições e uma delas me  deixou curioso  onde apresentava sua arte utilizando de um suporte que nunca tinha pensado antes que foram as capas de CDs. Portanto, num espaço limitado, bem diferente das telas mais amplas que estava acostumado a pintar .Nesta série  enfocou o cotidiano das ruas de São Paulo. Maazo sempre externando os seus sentimentos mais profundos através de suas pinturas. No personagem Peregrino que dá nome a algumas dessas pinturas ele mostra a solidão do homem moderno diante das dificuldades que a vida se apresenta. Na ocasião o crítico Oscar D'Ambrosio escreveu: “O fascinante da obra de Heck com as capinhas, geralmente colocadas em estruturas horizontais de quinze  CDs, é que elas obedecem a duas formas de composição. Há a pintura com tinta acrílica diretamente sobre o suporte, principalmente em tom de azul – o que dá, ainda mais a distância, a aparência de serem até peças feitas em azulejo”.

 “Existe, também, uma segunda vertente, mais desafiadora ao olhar, em que, com técnica mista, imagens são pintadas e colocadas, com fundo branco, dentro da capinha do CD, que funciona como uma autêntica moldura sanduíche. A vantagem desse recurso é que os trabalhos, colocados, lado a lado, podem pela sua mobilidade intrínseca, terem a ordem alterada em função de variações do gosto do artista ou mesmo em um projeto de interação com o público.” A exposição foi realizada em janeiro de 2008, no Museu de Arte do Parlamento, em São Paulo.”

Parte dessa série foi mostrada   aqui em Salvador, no Palacete das Artes, em maio de  2017. após dez anos de ausência  na Bahia.  Denominou a exposição de Limites e era  composta  de  dois conjuntos  : O Eterno Feminino, totalizando dezesseis obras mostrando nádegas de mulheres, e o Inventário do Cotidiano utilizando as capas de CDs . Foram mostradas aqui  quinze de obras de cenas do seu mundo do dia a dia , Foram  polípticos compostos de  quinze pequenas pinturas, tendo no meio aquelas que dão nomes a cada uma das obras. "Como estava expondo num museu nem esperava vender, mas consegui vender alguns desses da série das mulheres, lembra Maazo Heck." 

                                                     TRABALHA COM SÉRIES 

Gosta de trabalhar por séries disse o Maazo Heck  “ com coisas que me agradam muito, e também com coisas que me incomodam muito, um conteúdo que me amedronta. Ai quero fazer um trabalho sobre isto. Como não sou músico, se fosse faria música, como sou um artista plástico, traduzo tudo que sinto nas minhas pinturas." Realmente as obras que produz têm a ver com seus sentimentos mais profundos. Trabalhou recentemente  na  série Autorretrato - Sufocado quando fez  autorretratos, tirando fotos do seu rosto montando no no computador utilizando o programa Photoshop  para depois  passar para  tela . "Quando determino o conteúdo vou escolher a maneira de realizá-la, se vou usar tinta acrílica, tinta óleo ou simplesmente o desenho. Ao definir por  uma série  trabalho muito nela, faço até mais de cinquenta a sessenta trabalhos , e às vezes fico meses focado nesta série, até achar que esgotei todas as possibilidades. ", disse Maazo Heck. Vamos começar a falar de cada   uma das séries:

Cobertor com movimentos que ganham formas.
Oitava Série - Tudo Sobre Mim - (2023) - Na série que está agora desenvolvendo utiliza de um cobertor que o manipula para assumir várias formas, e à medida que consegue os movimentos que deseja  fotografa e passa a desenhar na madeira. Depois pinta e recorta, criando um  objeto bidimensional. É um trabalho que exige além da pintura a manipulação de serra elétrica utilizada em carpintaria transformando num objeto bidimensional .


Cobertor e a imagem de Maazo montada .
Sétima Série -  Autorretrato - Sufocado (2022-2023) utilizou do cobertor e fotografou em movimentos diversos. Depois tirou umas fotos do seu rosto e levou tudo ao computador para fazer as montagens no programa Photoshop e em seguida desenhou e pintou sobre tela. Mostra sua indignação diante da miséria que se espalha no país. Depois da pandemia de Covid, quando muita gente perdeu seus entes queridos e outros os empregos a situação econômica não só no Brasil como em todo o mundo piorou. O Brasil não ficou atrás embora a nossa economia vinha reagindo, e agora não sabemos o que vai acontecer. Sabemos é que nas sinaleiras, e nas ruas quando vamos estacionar o carro, ou mesmo quando andamos nas calçadas encontramos muita gente em situação de rua . A miséria vem crescendo numa proporção alarmante e isto inquietou o Maazo que se viu sufocado de tanta abordagem por pessoas pedindo ajuda.

As queimadas que devastam nossas florestas.

Sexta Série - Floresta (2021-2022) -  estava acompanhando o desmatamento que a cada ano se acentua mais em vários biomas de nosso país e resolveu passar sua angústia e descontentamento com esta  situação criando várias obras de côres vibrantes onde prevalece os vermelhos, os verdes , azuis e pretos. É quase uma série abstrata porque as figuras de florestas são apenas sugeridas nas pinceladas. Usou tinta acrílica, porque permite "na mesma hora, em consequência da secagem rápida, que mudasse a cor quando necessário. Quase todos os seus trabalhos são feitos em 100 cm x 100 cm ou acima deste tamanho.", adianta Maazo. 

O espelhamento de imagens do corpo humano.
Quinta Série-Rorschach (2020) - ele me pergunta se lembro do teste  de Rorschach. Confesso que não lembrava porque nunca foi aplicado em mim e não tinha ouvido falar. Trata-se de  uma técnica de avaliação psicológica pictórica, comumente denominada de teste projetivo, ou mais recentemente de método de autoexpressão. Foi desenvolvido pelo psiquiatra psicanalista suíço Hermann RorschachO objetivo é avaliar a personalidade do paciente. O psicólogo ou psiquiatra apresenta uma mancha simétrica ao paciente e pede para explicar o que está vendo naquela mancha espelhada . 
Maazo pegou umas fotografias do corpo humano e fez uma série de montagens de  imagens em espelhamento, confessa ter gostado do resultado; "Ficou interessante porque surgiram figuras inusitadas". Mas, facilmente identificável a origem porque trata-se da junção de partes do corpo humano. Confessa que esta série dispensou muita atenção e foram poucas pinturas, e  que conseguiu o que buscava no espelhamento. Fazia o espelhamento no Photoshop, e surgiram no meio outras figuras diferentes , coisa que queria tirar das outras montagens..."

Os volumes dos prédios das ruas de São Paulo.
Quarta Série -  a Sampa ( 2018-2019) com o celular fotografou os prédios por onde passava em sua perspectiva de baixo para cima e realizou esta série em homenagem a São Paulo. Surgiram obras que sugerem prédios pelos volumes e as linhas retas e curvas que se cruzam e formam esse visual. A figura huamna não aparece, apenas os volumes dos prédios em cores que variam de uma para outra obra, porque Maazo é um pintor quase monocromático. Gosta de usar uma cor predominante em cada obra. "fotografava os prédios e no ateliê passava vários desenhos na mesma tela. Não me interessava , naturalmente, que identificassem qual prédio usei, apenas utilizava as formas e as perspectivas para pintar. Usei com intensidade o azul ultramar" ( cor que acha fantástica,) e completava com linhas e alguns planos com outra cor." Produziu também alguns dípticos desta série. 

Bunda feminina em acrílica.
Terceira Série - Backsides - (2017-2018)  - Maazo Heck  pintou nádegas de mulheres em tinta e resina acrílicas sobre tela, e carvão com muita intensidade . Composta de dezesseis obras esta série  é uma extensão do seu conjunto de obras que chamou de o Eterno Feminino. São pinturas em cores escuras com traços bem delicados, deixando ao espectador viajar em suas fantasias . A aceitação foi razóavel , devido certamente ao preconceito com a imagem  da bunda, embora fosse tratada de forma não explícita. A arte provoca questionamentos e a cada  pessoa tem mais ou menos um nível de aceitação desta ou daquela manifestação artística. Eu mesmo, é preciso que por exemplo uma instalação me emocione, porque além de ser uma arte efemêra muitas vezes não tem algumas características que aprecio e acho essencial como a beleza, a emoção. O inconsciente rejeita a feiura. Chocar por chocar pode ter um elemento político incluido, mas não me agrada.

Obra  numa caixa de CD com quinze imagens.
Segunda Série- Inventário dos Cotidiano - (2015 a 2017) -   Maazo me  disse que  gosta de caminhar e tomar trem. Neste seu contato cotidiano com os paulistas que viajam apressados e amontoados nos trens do metrô, nos ônibus e  passando  quase que correndo pelas ruas com destino ao trabalho ou voltando para casa. Maazo como bom observador captou esse cotidiano dessas pessoas. Ai criou a série Inventário do Cotidiano com polípticos de quinze desenhos pintados tendo ao centro o que dá o nome ao polítiptico. Estas pinturas foram feitas em tamanhos reduzidos num cartão e colocados dentro de caixas de CDs que serviram também como molduras, presas num suporte de madeira . A pintura que dá o nome a cada políptico vem sempre no meio da composição. Esta foi a  série  única que usou formatos menores  porque estava sem ateliê e teve que trabalhar no apartamento onde mora.

O corpo feminino o destacou.
Primeira Série - o Eterno Feminino foi aquela em que se projetou pintado o corpo feminimo em telas . Surgiram os bustos, corpos de lindas mulheres em várias posições, tudo feito dentro de uma sensualidade que não choca, e sim agrada a todas as pessoas que observam essas  obras. Muito bem resolvidas com uma pintura límpida e de qualidade onde os tons se alternam com suavidade e maestria. A cada vez que a gente observa uma obra desta série descobre detalhes que dão mais satisfação em reve-la. Maazo se firmou  com esta série e fez exposições em alguns estados. Vemos que é uma obra que mostra sensualidade nas formas femininas, mas que não é erótica ou coisa semelhante.

                                           QUEM É 

Pouca gente sabe que o nome verdadeiro de Maazo Heck. Pois vou lhe revelar. Seu nome verdadeiro é Waldemar Heck,  nasceu em São Paulo, Capital, em 14 de agosto de 1951, portanto está atualmente com 72 anos de idade. Seu nome ainda tem uma curiosidade porque ele e seus dois irmãos foram registrados sem nenhum sobrenome de sua mãe. Normalmente as pessoas podem ficar sem o sobrenome do pai, mas da mãe é um caso raro. "Sim, minha família é cheia de Waldemar... De tanto me chamarem de Waldemarzinho, depois virou Masinho, e veio Maso. Resolvi mudar a assinatura artística para Maazo porque tem muitos Masos, por ai na internet " e dá uma risada.

Capa do convite de formatura na EBA, 1985.
 Chegou à Bahia quando tinha uns sete anos de idade e seus pais foram morar no bairro da Graça, em Salvador. Seu pai Benedito Heck era descendente de alemães, mexia com oficina mecânica e tinha uma pequena frota de Kombis de aluguel. Sua mãe Isaura Ferreira Nunes Heck, brasileira, trabalhava no comércio. Lembra pouco de sua infância apenas dos babas que jogava nas ruas naquela época e que frequentava a praia da Barra.  Aqui estudou nos colégios Antônio Vieira, no bairro do Garcia, e no Colégio Estadual Severino Vieira, no bairro de Nazaré, Fez vestibular para Economia, cursando até o terceiro ano, e também estudou Administração durante um ano, mas a arte foi mais forte e terminou sendo bacharel em Artes Plásticas, pela Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia, em 1985.

Recordou que quando estava no terceiro ano de Economia e disse em casa que iria estudar Belas Artes e que houve um estranhamento dos país, mas que logo o apoiaram a seguir o que gostava de fazer. “É  natural que eles ficaram perplexos porque a carreira de Economia no entendimento deles garantia uma segurança maior. Porém, não houve pressão por parte deles e foi assim que ingressei para estudar Artes Plásticas’, disse o artista. 

Maazo é o terceiro em pé olhando da esquerda.
.
Durante seus estudos na Escola de Belas Artes lamenta ter ficado o tempo inteiro focado só na pintura. As outras matérias "eu não me esforçava muito como foi o caso de Escultura, Gravura e outras. Hoje sinto arrependimento, deveria ter me aprofundado e dado mais atenção aos ensinamentos de Escultura e Gravura, Cerâmica . Talvez tivesse ampliado o meu conhecimento, e hoje seria muito útil no trabalho que desenvolvo.”.

Recebeu influência de Juarez Paraíso, Ailton Lima, (já falecido), Maria Adair e Graça Ramos que os ajudaram na busca por sua identificação artística. "Formamos na Escola de Belas Artes um bom grupo de colegas e a gente procurava exercitar nossos trabalhos . Parte deste grupo terminou participando daquela exposição Geração 70, que você organizou no Museu de Arte da Bahia e que contou com a ajuda do então diretor da Fundação Cultural da Bahia, Heitor Reis. Foi uma exposição marcante e que jogou luz nos artistas que participaram." Depois fez  pós-graduação na Universidade São Judas Tadeu, em  São Paulo. Foi professor do Compasso Escola de Arte e diretor da Visuais Escola de Arte . Após se transferir para São Paulo, foi professor de pintura na Escola Pan-americana de Arte e aposentou-se como professor após 30 anos de magistério de Artes Plásticas na UNIFIEO, de Osasco, e também lecionou na  ABRA, em São Paulo. Tem tem três filhos adultos dos três primeiros relacionamentos, e hoje disse que "estou feliz trabalhando em meu ateliê e ajudando a cuidar da Nina, que tem sete anos de idade".

                                              MERCADO VIBRANTE

O artista Maazo e algumas obras de suas séries .
Disse ainda que na época que morava aqui “haviam muitas galerias em Salvador e que eram realizados muitos salões, como  os Salões Universitários promovidos pelo professor Ivo Vellame, que era Diretor da Escola de Belas Artes, e até por empresas privadas. Como também exposições em galerias e museus. As décadas de 70 e 80 foram muito boas para o mercado de arte na Bahia. A gente trabalhava e vendia quase tudo. As galerias promoviam as exposições, arranjavam os patrocinadores dos  coquetéis e catálogos. As galerias cobravam em média 33%, e assim todos saiam ganhando de alguma forma.  Atualmente diminuiu o número de galerias e até mais difícil  conseguir patrocínio para realização de uma exposição, que precisa de fotógrafo, assessoria de imprensa e outros gastos com Correios, etc.”.

Falando ainda do mercado disse que “não vejo um mercado florescente ou mesmo dinâmico como o daquela época na Bahia. Aqui em São Paulo  é uma praça grande,  diferenciada, mas  tem uma grande concorrência. Para se posicionar aqui leva tempo e depende de muitas circunstâncias. Mas, estamos ai produzindo e disposto a enfrentar estas dificuldades que fazem parte do dia a dia de qualquer profissional que quer vencer.” 

                                                       TRAJETÓRIA

Foto 1. Oficina de Fotografia na Eba. Foto 2.
Expo na Galeria Escritório de Arte da Bahia.
Foto 3. Sua sétima expo individual no CPC,
de Itabuna, na Bahia. Foto 4. Expo em
Fortaleza, 1984. Foto 5. Outdoor da campanha
30 anos Decorando a Bahia
.
Já participou de inúmeras exposições individuais e coletivas, entre elas na CCPC, Itabuna, BA (1984); Museu de Arte da Bahia (1985); Em julho de 1985 foi um dos principais integrantes da Exposição Geração 70, que organizei juntamente com os demais artistas, num total de 10, realizada com grande sucesso no Museu de Arte da Bahia; Galeria de Arte Erótica, RJ (1987); Galeria Prova do Artista, Salvador, BA (1992); "Imagem e Sedução", Museu de Arte Contemporânea da USP, SP e Museu de Arte Moderna, Bahia; 1ª Bienal Paulista de Arte Contemporânea, SP (1994); Sala Especial na Bienal de Arte de Vinhedo, SP (1995); Museu de Arte Moderna, Salvador, BA; "Uma Janela para o Futuro", Museu de Arte de São Paulo; "A Filha do Rei", Galeria Meta 29, SP; "Jazz and Blue Company", Galeria da UNIFIEO, Osasco, SP (1999); "450 Anos de São Paulo", SESC Pompéia, SP (2004); Deauville, Paris, França; "Olhares Impertinentes", Museu de Arte Contemporânea, SP (2005).

 Foi um dos selecionados para o livro "100 Artistas Plásticos da Bahia", lançado na Galeria Prova do Artista, em Salvador e para o volume "450 Anos de Salvador" e 500 Anos de Brasil. Recebeu o Prêmio Especial de Pintura na 1ª Bienal Secundarista, BA (1969); Menção Honrosa na Fundação Cidade de Salvador e prêmio de Aquisição no Salão de Artes Visuais do Paraná (1978); Premio Aquisição no 7º Salão Paulista de Arte Contemporânea, SP (1990) e menção especial na 1ª Bienal Paulista de Arte Contemporânea, Valinho, SP (1994).Possui obras em diversas coleções particulares e oficiais na Bahia e no Museu de Arte do Parlamento de São Paulo.

                                                           SEM ESTILO

Ateliê atual em São Paulo onde cria suas obras.
Prefere se considerar um artista sem um estilo definido, querendo fugir dos rótulos do mercado . "Não existe escritor sem um estilo ? Assim sou eu,  um artista sem estilo, mas com uma constante preocupação em inovar, em buscar novas soluções e mesmo em ousar. Gosto muito da experimentação.Atualmente trabalho por séries e quando estou achando que corro o risco de me repetir passo a pensar em realizar outro tipo de trabalho. Agora mesmo venho fotografando vários tipos de barcos e quero fazer uma série com eles . Não sei o que vai resultar ou até mesmo se farei uma série com eles. ", disse Maazo e mostrou umas fotos de barcos pequenos que só aparecem as silhuetas sem qualquer paisagem. E finaliza:"Não sei o que vai sair desses barcos. Mas, tenho certeza que vão me dar um ponto de partida. Onde vou chegar ainda não sei", e ri do desafio que tem pela frente.