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sábado, 14 de dezembro de 2024

ÊNIO CELESTINO DIVIDIDO ENTRE A PINTURA E A POESIA

 

Ênio Celestino pintando em seu ateliê 
na cidade de Serrinha, Bahia.
O pintor e poeta Ênio Celestino Mota é uma dessas pessoas que fala pausadamente e durante a conversa você sente que ele está em outro plano. É um homem do interior que vive e respira aquele ambiente onde ainda é possível viver com alguma tranquilidade. Quando menino a gente costumava dizer que as pessoas assim parecem viver no mundo da Lua. Exatamente são essas pessoas sensíveis e criativas que ficam neste plano e parecem terem dificuldade de se conectar e às vezes serem entendidos por nós que nos achamos normais, e talvez não vejamos tão normais assim aos olhos de outras pessoas. Ele reside em Serrinha, sua cidade natal, no interior da Bahia, mas já morou alguns anos em Salvador e até mesmo no Rio de Janeiro sempre procurando aprender e aprimorar o seu ofício de artista e mostrar suas obras. É um bom desenhista e aquarelista, também gosta de pintar em acrílica sobre tela. Aqui vamos saber mais um pouco sobre o Ênio Celestino, é assim que assina suas obras, e conhecer sua trajetória até os dias de hoje.

Obra abstrata  em acrílica sobre tela.
O Ênio Celestino divide o seu tempo desenhando, pintando, ensinando sua arte a terceiros e escrevendo as suas poesias. Portanto, é um pintor-poeta ou poeta-pintor, como queiram chamar, porque ele confessa que a arte visual vai buscar na literatura as imagens e vice-versa. É um sonhador sensível vivendo numa cidade do sertão da Bahia e desde criança vive envolvido com a arte. Seu pai Esdras Maciel Mota era um dos donos do cine Teatro Marajó, em Serrinha, e uma espécie de agitador cultural. Ele levou para lá artistas da Jovem Guarda como Wanderley Cardoso, Jerry Adriani e também cantores populares românticos como Waldick Soriano, Nelson Ned e muitos outros destas gerações. Ênio ainda era criança quando o Cine Teatro Marajó exibiu o filme Otelo, baseado da obra do escritor inglês William Shakespeare. Trata-se da narrativa de um herói que era general e espécie de governador do Chipre, onde lutou contra os turcos e se apaixona com Desdêmona, sua esposa, e termina assassinando por ciúmes. Disse que o pai chegou a trazer o ator principal do filme e que contavam ser um negro alto, forte e de olhos verdes. Não lembra o nome do ator. Um dos que interpretaram o papel de Otelo em filme foi o ator inglês Eamonn Walker, que é negro, mas o Ênio Celestino não conseguiu lembrar o nome.

                                                    QUEM É

Obra  aquarela e desenho.
O nosso personagem nasceu em vinte e dois de agosto de 1960 na cidade de Serrinha, no sertão baiano e foi batizado com o nome de Ênio Celestino Mota. Seus pais eram Esdras Maciel Mota e d. Núria Hupsel Celestino. Disse que durante sua infância assistiu muitos filmes no Cine Teatro Marajó e que depois seu pai saiu da sociedade e d tempos depois o cinema fechou. Hoje existem duas salas de cinema num shopping em Serrinha.  Estudou o primário na Escola Leobino Cardoso Ribeiro e o ginásio no Colégio Estadual Rubem Nogueira. Aos dezesseis anos veio para Salvador morar na casa de um tio e foi estudar no Colégio Estadual Lomanto Júnior, no bairro de Itapuã, e em seguida no Colégio Estadual Manoel Devoto, no bairro do Rio Vermelho. Na época o diretor do Colégio era o professor Remy de Souza que tomando conhecimento do talento artístico de Ênio Celestino fez uma carta de recomendação para uma museóloga do Museu de Arte Sacra da Bahia solicitando que encaminhasse o jovem para a Escola de Belas Artes afim de aprimorar e desenvolver seu talento artístico. Ela apresentou ao professor Juarez Paraíso que era professor da EBA e também dava aulas particulares. Mas ,ele não conseguiu cursar por falta de recursos. Foi então que conseguiu se inscrever nos cursos livres dos professores Graça Ramos e Oscar Caetano. Isto foi por volta do ano 1976 e assim aprendeu técnicas de pintura, desenho e também conheceu e aprendeu a utilizar outros materiais.

Outra bonita aquarela do Ênio.
Foi trabalhar como funcionário público no Colégio Cidade de Curitiba, no bairro do Engenho Velho de Brotas, ali permanecendo durante oito anos. Com o passar dos anos chegou à conclusão que ali não era seu lugar e pediu demissão. Abriu um atelier juntamente com o Hector, que era filho de um pintor argentino, no Jardim Brasil e posteriormente alugaram uma casa no bairro da Graça. Teve muitos alunos e lembra que deu aulas de pintura até a d. Maria Amélia, esposa do ex-governador Roberto Santos, e também a Ângela, filha de Mãe Menininha do Gantois e muitas outras pessoas. A escola funcionava durante os três turnos. Levaram três anos com a escola até que resolveu voltar para Serrinha. Nesta época a empresa Vale do Rio Doce estava se instalando na cidade vizinha de Teofilândia e muitos funcionários preferiam morar em Serrinha por ser mais desenvolvida. Foi aí que conheceu alguns funcionários da empresa que tinham um nível intelectual e poder aquisito mais elevados e conseguiu comercializar algumas obras de sua autoria. Disse que esta relação continua até hoje e de quando em vez está enviando novas obras até para outros estados onde esses funcionários foram transferidos.Tem uma conta no Instagram onde publica suas obras plásticas e também suas poesias.

                                       ENCONTROS

Pintura expressiva de Jovem em
acrílica sobre tela
.
Em 1986 viajou para o Rio de Janeiro onde passou uma temporada visitando galerias e também indo a vernissages. Foi quando compareceu a uma exposição do arquiteto e aquarelista Carlos Leão, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Carlos Leão foi sócio do escritório de arquitetura de Lúcio Costa que juntamente com Carlos Niemeyer planejou Brasília. Além de arquiteto era pintor, desenhista e aquarelista e gostava de pintar mulheres enaltecendo a beleza e a sensualidade. Esteve no Parque Lage porque ficou impressionado com as aquarelas do Carlos Leão e lá conheceu por acaso outro artista o Alberto Kaplan. Ele estava na lanchonete do Parque Lage quando se sentou perto dele o Kaplan e começaram a conversar e  terminou lhe aconselhando a  se inscrever num dos cursos ministrados ali.
Acrílica sobre tela  com figuras 
e animais do seu interior.
Nesta época o Kaplan ministrava cursos de desenho na Universidade estadual do Rio de Janeiro, e aquarela na UERJ, e também no Centro de Aquarela da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Lembrou de outro encontro desta vez aqui com o gravador Calasans Neto em Salvador.  O Ênio Celestino dava aulas de desenho e aquarela a uma senhora na Rua das Amoreiras e ela conhecia o artista baiano que morava próximo. Aí combinaram e foram falar com o mestre Calá que os recebeu daquele seu jeito fraterno que sempre tratava as pessoas. Mostrou suas aquarelas e Calá escreveu um pequeno texto. Tem ainda textos sobre sua obra de Floriano Teixeira, dentre outros.

Expôs em algumas galerias de Salvador como o Escritório de Arte da Bahia, com Denilson Oliveira; na Galeria Ada, de Adailda Carvalho, que ficava no bairro do Itaigara. Gosta de poetizar e no Instagram tem algumas poesias de sua autoria a exemplo desta de nome Volta: "Perdi o caminho de volta. /Na manhã prolongada pela estiagem,/ a poeira se esconde na estrada./As amendoeiras estão intactas lá fora,/e a sua semente plantada sobre minha infância,/ainda está guardada na memória,/como um monumento – noutro ângulo te devoro!/Tenho amêndoas dentro de mim./A cidade floresceu na premissa da terra/pródiga em alimento e trabalho/para

Composição de objetos e mulher 
também em acrílica sobre tela.
sustento da prole, quase sempre numerosa./E à procissão eterna de sonhos que o homem/ nordestino arrasta por áridas veredas./Este Nordeste dos confiáveis oligarcas...”./Aos invasores , por natureza própria do termo:/ Estrangeiro. Clandestino. / Endurecer o pensamento para enfrentar os / dias que virão talvez piores. - Mas unicamente/ por esse halo a bondade reluz!”

                REFERÊNCIAS 

Alguns artistas já escreveram sobre a obra de Ênio Celestino entre eles Floriano Teixeira, Calasans Neto e o angolano  Albano Neves. Os críticos Ivo Vellame, Aldo Tripodi, Claudius Portugal, dentre outros. O artista Floriano Teixeira escreveu em maio de 2019 “O Ênio Celestino é um artista plástico que trabalha em silêncio. Profundo silêncio mesmo. O sei interesse maior é pela difícil técnica da aquarela. Técnica velhaca que ele domina com segurança. Os seus temas são figurativos retratando os tipos populares no Nordeste. Bom desenhista, Ênio Celestino trata as suas figuras e objetos com elegância dando a eles a importância e a bravura do povo que habita esta discriminada região deste grande e pobre País. Ênio Celestino é um dos muitos heróis que insiste em fazer arte neste Brasil em que cultura é quase crime”.

Antes em outubro de 1989 meu saudoso amigo Ivo Vellame professor da Escola de Belas Artes e um dos grandes incentivadores da arte na Bahia escreveu: “Ênio Celestino Mota, participou do Curso de Extensão sobre História da Arte Contemporânea, ministrado por mim na Escola de Belas Artes, da UFBA mostrando excelente aproveitamento. Na oportunidade em que o mesmo foi meu aluno, conheci parte de sua produção artística – aquarelas e desenhos, que me impressionaram pelo apuro técnico, pelo sentido de contemporaneidade, pela criatividade e por refletirem a região em que o artista vive - o interior baiano”

EXPOSIÇÕES COLETIVAS E SALÕES

Em 1999 - Teatro Santa Cecilia- Petrópolis/RJ ;  1998 - Espaço Cultural Trapos e Cia - Salvador/BA ; 1ª Gincana de Pintura do Centro de Amaralina - Salvador/BA; Café Calypso - Salvador/BA ; 1997 - XVIII Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia -Feira de Santana/BA ; 1996 - "13 Artistas"- Espaço Cultural Alambique - Salvador/BA ; 1990 - Ada Galeria de Arte -Salvador /BA ; 1989 Escritório de Arte da Bahia- Salvador/BA ;  Época Papel e Presente - Salvador/BA; Teatro Municipal de Ihléus - Ilhéus/BA ; 1988 - Praça Euvaldo Luz- Shopping Barra- Salvador/BA ;Paulo Darzé Galeria de Arte - Salvador/BA.

PREMIAÇÃO: 1988 - Prêmio Artista Plástico do Ano - Galeria 13 ,Salvador/BA.

EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS
2007- O Casarão -Morro de São Paulo/BA ; 2005 - INTERNET: Sertão, Anjos e Bêbados; Contra-Ponto - www.contra-ponto.cib.net ; 1993 - Fundação Casa de Jorge Amado - Salvador/BA ; 1991- Bar Vinícius de Morais - Salvador/BA; Museu Regional de Arte da UEFS - Feira de Santana/BA ; Espaço Cultural Miraflores – Serrinha / BA .

 

 

 

 


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