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sábado, 21 de dezembro de 2024

NEN CARDIM USA REJEITOS DO RIO E MAR EM SUA ARTE

Nen  procurando materiais em estaleiro
para criação de suas esculturas.
V
ou falar hoje de outro artista do interior da Bahia desta vez de Nen Cardim, da cidade de Valença, que dista 255 Km de Salvador, considerada a Capital do Baixo Sul. Foi lá que o artista passou maior parte de sua vida e reside até hoje. Lembra que acompanhava o seu tio Elói Cardim para trabalhar na construção naval e o pai embarcando para pescar no Rio Una e no mar. O município tem uma rica tradição de construção de embarcações de pequeno e médio portes e foi observando as sobras de madeiras, resultado dos cortes para a construção das embarcações e mesmo pedaços de embarcações substituídos durante os reparos e reformas que eram jogados fora que aguçaram a criatividade de Nen Cardim. Ele já participou de vários salões regionais e foi premiado na VI Bienal do Recôncavo quando ganhou o prêmio viagem com a série Articulações e foi expor na galeria do Instituto Cultural Brasileiro na Alemanha - Icbra, em Berlin, e na Suíça, no Centro Cultural Dannemann. Participou de uma coletiva em Portugal, no Museu de Comporta e Melides juntamente com escultores do Senegal, Benin e brasileiros de Minas Gerais e Bahia. Foi premiado também na XXVI Edição dos Salões de Artes Visuais da Bahia, promovido pela Fundação Cultural da Bahia, em 2022.

Nen com  escultura
de sua autoria.
Desde 1992 que vem desenvolvendo o seu trabalho escultórico e posso afirmar que suas obras têm uma significação forte, ligação com as tradições da construção naval e da luta dos pescadores em se lançar diariamente ao amanhecer ao rio e o mar em busca da sobrevivência. Sua obra tem uma identidade própria. Ele usa este material reciclado e dá nova vida ressignificando os pedaços de madeiras, boias e outras ferramentas usadas na construção naval e na pescaria, antes abandonados e os transformando em obras de arte. É um autodidata que vem vencendo todas as dificuldades como a distância entre seu local de produção e os grandes centros urbanos que concentram o consumo de obras de arte,  de divulgação e locais para expor os seus trabalhos. Mostra preocupação com o meio ambiente e disse que sua busca por materiais para trabalhar acontece nas margens do Rio Una onde ficam localizados os estaleiros e também nas praias, como a de Guaibim, em Valença.    Locais apropriados para garimpar os pedaços de madeiras abandonados e até mesmo outros objetos usados por pescadores e  grandes embarcações. Ele adianta que a busca por esses materiais e a sua reutilização serve de alerta mostrando a necessidade de preservar e proteger o meio ambiente para que “possamos conviver num Planeta mais digno, mais cidadão e mais humano”.

                                                        QUEM É

Nen  mostrando materiais  que
 usar em sua arte escultórica
.
O seu nome de batismo é Florisvaldo Cardim do Nascimento Filho, nasceu no dia 25 de novembro de 1973, na cidade de Valença, Bahia. É filho de Florisvaldo Cardim no Nascimento e de d. Claudina Matos Malta. O casal teve sete filhos e desde os treze anos de idade que Nen Cardim começou a fazer algumas peças de artesanato para vender e ajudar no sustento da família. Transformou um prego de ripa numa ferramenta para esculpir suas peças em cerâmica e assim comercializava no bairro onde morava e nos arredores. Depois em 1992 passou a pintar e fazer suas primeiras esculturas em madeira reciclada. Disse que não teve escola de arte, mas que os salões regionais serviram de inspiração e aprendizado, pois teve oportunidade de conhecer obras em pintura e escultura de vários artistas e isto abriu seu horizonte. Em 1997 participou do XXVI Salão Regional de Artes Plásticas, em Valença, com três esculturas feitas de madeira e boias de vidro, de fabricação chinesa, que na época os pescadores de sua cidade usavam. Ressaltou que hoje essas boias de vidro usadas por pescadores e que atualmente  foram substituídas por boias de isopor e plástico. Foi premiado em primeiro lugar neste salão. Em 1999 recebeu a Medalha de Menção Honrosa no XXVII Salão Regional de Artes Plásticas de Alagoinhas. Em 2002 conquistou o Grande Prêmio Viagem à Europa com duas esculturas chamadas de Articulação I e Articulação II que expôs na Bienal do Recôncavo promovida pelo Centro Cultural Dannemann, São Félix, Bahia, quando foi passar um mês em Berlin, na Alemanha e expôs na Galeria do ICBRA – Instituto Cultural Brasileiro -Alemão, o qual foi fundado em 1995.

Quatro esculturas feitas com materiais
reciclados.
Ele lembrou de um pequeno acidente que ocorreu quando foi desmontar sua exposição chamada Relíquias do Terceiro Extrato, no Centro Cultural dos Correios, em Salvador, e uma de suas esculturas que estava exposta tem uma arcada da boca de um tubarão e que uma pessoa que o ajudava a desmontar se distraiu e terminou recebendo uns cortes no braço ao se chocar com os dentes do peixe. Brincando disse “o tubarão mordeu o rapaz depois de morto”. Podemos imaginar o perigo que representam os tubarões para o ser humano nos mares que são os seus habitats naturais. Também esta viagem para a Alemanha não foi tão tranquila porque teve problemas na Alfândega para liberação de suas obras e por isto teve que retornar antes. Também não observou que suas obras estavam avaliadas em 5 mil euros e quando foi conversar para vende-las pediu cinco mil reais, portanto deixou de receber aos valores de hoje mais de vinte e cinco mil reais. Tinha gasto na viagem com seus próprios recursos cerca de quatro mil e poucos reais. Mas, ele considerou muito importante a sua ida pois teve contato com a arte feita num dos maiores polos produtores da arte contemporânea do mundo.

Esta obra foi premiada no MAB.
Disse que sua origem indígena vem de sua avó materna chamada Umbelina que era do povoado de Barcelos do Sul,   distante 25 Km da cidade de Camamu, e hoje tem uma população de pouco mais de dois mil habitantes. Os índios nativos que habitavam a região da baía de Camamu, no sul da Bahia, eram os Macamamus , e a sua aldeia era conhecida por Camamu. Possivelmente a avó de Nen Cardim é descendente desta tribo. Você olhando pra ele vemos logo os traços indígenas da mistura de sua mãe filha de Umbelina e de seu pai um caboclo natural de Valença. Também esta sua habilidade com as mãos vem de sua avó que era uma exímia na feitura de redes de pesca e de sua mãe uma artesã nata que pintava as vestimentas das caretas nos festejos do carnaval e em outras manifestações populares, além de fraldas de bebês, que na época que não eram descartáveis, e também outros panos de utilidade doméstica.

Estudou o primário da Escola Monsenhor André Costa até a terceira série, localizada no bairro do Tempo, e depois foi para a Escola Eraldo Tinoco, no bairro da Bolívia, ambas em Valença, onde concluiu o primário. Em seguida foi estudar no Ginásio Gentil Paraíso Martins e aí cursou até a oitava série. Depois foi para o Colégio Estadual de Valença – Coesva  cursando até o segundo ano. Vinte anos depois resolveu se inscrever no Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos – Encceja, logo após a pandemia e concluiu o curso colegial. É um programa do Governo Federal que “foi realizado pela primeira vez em 2002 para aferir competências, habilidades e saberes de jovens e adultos que não concluíram o Ensino Fundamental ou Ensino Médio na idade adequada.”

Escultura  em madeira,
boia de vidro e corrente.
PRÊMIOS -Em 2022 - Premiado no Salão de Artes Visuais da Bahia - 64° Edição, 30 anos; 2009 - Contemplado no edital Matilde Mattos, Curadoria e montagem de exposição ; Medalha Ouro em Londres na II Mostra Internacional de Arte Brasileira - Centro Cultural Lauderdale House-London;  2008 ; Menção Honrosa Bronze na II Mostra Internacional de Artes Visuais Salão Nobre do Estádio de Pacaembu ; 2006 - 1º Lugar Prêmio Oficial da Fundação Cultural do Estado da Bahia ; Menção Honrosa Salão de Artes Plásticas de Juazeiro ; Grande Prêmio Viagem à Europa na Bienal do Recôncavo - Centro de Cultura Dannemann – Bahia; 2º Lugar I Salão de Arte Contemporânea do Consulado da Holanda na Bahia e Sergipe ;1999-2000 -1º Lugar no XXVII Salão Regional de Artes Plásticas - Centro de Cultura – Valença e no  Júri Popular no XXVII Salão Regional de Artes Plásticas - Centro de Cultura de Valença; 1977 - Menção Honrosa no XXVII Salão Regional de Artes Plásticas - Alagoinhas - Bahia .

OBRAS EM ACERVOS - No Museu Afro - Brasil - São Paulo; Centro Cultural dos Correios – Bahia; Instituto Cultural Brasileiro na Alemanha – Berlin; Centro Cultural Dannemann –Suíça; Centro Cultural Dannemann - São Felix – Ba; AMBA - Arte e Música do Brasil e África; Fundação Cultural do Estado da Bahia; Galeria da Aliança Francesa Salvador – BA; Galeria Maré Alta Morro de São Paulo – Ba e na Galeria Ponto de Encontro Morro de São Paulo - Ba.

EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS - Em 2013 - Exposição individual Relíquias do Terceiro Extrato, Ministério da Cultura e Correios; 2004 - Exposição Individual - Centro de Cultura de Valença – BA; Exposição no Centro Cultural Dannemann - Suíça; Exposição no Instituto Cultural Brasileiro na Alemanha; 2003 - ICBRA - Berlin - Alemanha, Obras da série “Articulações”.

Cartaz da exposição em Londres.
COLETIVAS - Em 2009 -  II Mostra Internacional de Arte Brasileira - Centro Cultural Lauderdale House Arts Centre & ICSA ; 2008 - II Salão Internacional de Artes Visuais realizado pelo ICSA - Instituto Cultural Século e Arte São Paulo Brasil ; Participação DA VI Bienal do Recôncavo – BA ; Participação na mostra Paralela à Bienal Internacional de São Paulo, no Museu Afro-Brasil ; Selecionado para Primeira Bienal Internacional no México (Universidade Chapingo); 2000 -Exposição de Artistas premiados no Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia Galeria: Solar do Ferrão / Pelourinho – Salvador – Bahia ; 1992-2006 - Participações nos Salões Regionais de Artes Plásticas da Bahia entre as  Cidades Participantes: Valença, Alagoinhas, Juazeiro, Itabuna, Feira de Santana, Itaparica, São Felix, e Jequié; Consulado da Holanda – Salvador; l Salão de Arte Contemporânea ; 2004 -  Participação na VII Bienal do Recôncavo - São Félix ; 2006 – Participação da Mostra Contemporaneidade no Conjunto Cultural dos Correios, Salvador – Ba; Participação na Exposição 50 anos de Arte na Bahia ; Exposição Contemporaneidade - Correios ; 2009 - Exposição O Brasil e o Mundo, os Melhores da Arte Brasileira ; 2002 – 2003 -Vl Bienal do Recôncavo - Centro Cultural Dannemann e da Exposição 50 anos de Arte na Bahia - Uma Homenagem a Matilde Mattos.

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