Maria Adair em seu atelier na mesa de trabalho, bairro da Graça |
Trata-se de Maria Adair, esta mulher de estatura baixa e que tem uma força criativa indiscutivelmente desproporcional à sua massa corporal.
Ela guarda a primeira tela que pintou da fazenda de seus pais em Itiruçu, Bahia |
Conheço Maria Adair há muitos anos e sempre foi assim quase elétrica correndo de um lado pra outro descobrindo novos suportes para expressar a sua arte. Quase tudo lhe serve de suporte. Um pato de cerâmica encontrado em Maragogipinho, um aviãozinho ou helicóptero artesanal, cadeiras, bancos, copos, jarras, talheres, mesas, etc. Enfim, ela lança mão dos mais variados e díspares objetos para transformá-los em arte.
Sua pintura tem uma identidade própria com suas linhas que se cruzam e se lançam ao infinito. Assim ela está trabalhando freneticamente e todas as pinturas e objetos serão inéditos. Portanto, não se trata de uma retrospectiva, como é padrão entre os artistas que celebram datas especiais.
Esta tela fará parte de sua exposição dos 80 anos |
Na entrevista que me concedeu em seu atelier no bairro da Graça, justificou dizendo que seria muito trabalhoso uma retrospectiva com obras de todas suas fases porque existem trabalhos espalhados em vários estados e no exterior. Por isto ,decidiu pintar agora todas as obras . É um trabalho de fôlego porque muitas das telas tem 1 m x 1,30 m e até de 1,10 x 1,50 m. Pretende expor oitenta trabalhos.
Esta mostra terá duas séries: Cruzando Caminhos e Pontuando a Vida
Disse a artista que "os trabalhos não tem nada de realista. São linhas e pontos que se cruzam e se lançam ao infinito. Os pontos ela representará em 80 cubos de madeira pintados e nas telas está pensando em colocar nomes dos locais por onde passou desde Itiruçu.Vi nestas novas obras de Maria Adair a presença de aplicações de folhas de ouro, prata e de outros metais os quais proporcionam um up ground perceptivo.
Obra Procissão de Nossa Senhora da Conceição da Praia |
TRAJETÓRIA
Nascida na cidade de Itiruçu Maria Adair veio pra Salvador e aqui estudou na Escola de Belas Artes, sendo depois professora e orientadora de vários artistas iniciantes. Tem um temperamento surpreendente porque gosta de conversar, e de repente faz indagações ou questionamentos que se o interlocutor não estiver preparado e desinibido vai calar de vez. Durante a entrevista se comportou assim em alguns momentos. Como já conheço a Adair fui levando a conversa colocando outra pergunta, mesmo que parecesse inadequada para aquele instante, mas funcionou como um ponto de seguimento.
Obra Dois de Julho no Centro Histórico |
Ela conta que em 2007 fez uma exposição com obras da sua fase Orgânica no Centro Cultural dos Correios, que fica no Terreiro de Jesus, Salvador, Bahia. Esta mostra ocupou os três pavimentos do imóvel.
Depois vieram outras fases como a Viva o Risco, O Espaço Urbano .Viajou por vários países como Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, Itália, França, Marrocos e Grécia , e dai a surge a fase Caminhos Cruzados numa clara referência às suas andanças. Nestes países pintou por lá telas e também objetos que encontrou.
SEU MUNDO
Este trabalho é da fase Espaço Urbano |
A artista mora numa casa na rua Djalma Ramos que é enladeirada e fica no bairro da Graça. Tive alguma dificuldade em encontrar porque além de estreita o volume de carros estacionados nestas ruas da Graça é realmente assustador. Ao entrar a gente se depara com um mundo fantástico e agradável repleto de objetos de arte por todos os espaços. Um verdadeiro bazar de arte onde você encontra copos, jarras, cadeiras, bastões, panelas, patos de cerâmica ,cacos de porcelanas, cadeiras, mesas, bancos. São quatro pisos e todos completamente repletos de obras de arte, inclusive nos quartos onde mora com seus filhos.
Obra Doce de Banana de Rodinha , do Universo Amado |
Confesso que senti mais calma em relação à última conversa que tive há alguns anos atrás. Olhei a janela e vi que os vidros também viraram suportes para sua arte. Ela tinha riscado os desenhos e mandado jatear . Ao abrir a janela apareceu o céu. Brincando eu lhe disse: Aqui só falta você pintar o céu. Ela riu. Mas, se tivesse um jeito certamente pintava um pedacinho .
Na mostra intitulada O Universo Amado que fez juntamente com Eliana Kertész , no Palácio das Artes, o crítico Marcos de Lontra Costa escreveu : "Ela é uma artista das telas, mas também a artista dos pratos, dos cacos, das farras, das garrafas, das cerdas e das pedras, de todas as coisas que a Terra põe à disposição da mão humana e que Maria com sofreguidão cria e recria como se sua vida fosse regida pelo compromisso de Labão nas palavras de Camões: Para tão grande amor, tão curta é a vida".
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