JORNAL A TARDE, SALVADOR, 03 DE DEZEMBRO DE 1984
ALMIRO BORGES REVIVE A POESIA DA
MARIA-FUMAÇA
O pintor Almiro Borges ao lado de uma tela onde ele retrata a Maria-Fumaça numa estação. |
Questão
de estilo e burrice dos nossos administradores. Mas fico contente quando vejo
que esta marca permanece viva no pensamento daquelas pessoas mais sensíveis. É
o caso do artista Almiro Borges, que reside entre Salvador e Alagoinhas. É
exatamente em Santa Luzia ,
hoje, município de Santa Luz, que ele manteve quando criança um contato mais
forte e íntimo com a Maria-Fumaça. Seus tios e irmão eram ajustadores e
maquinistas da Leste Brasileiro da década de 30.
Com
eles Almiro viajou muito de Alagoinhas para a localidade de Santa Luzia.O
combustível era a lenha e a água que se transformavam em vapor e movia as
caldeiras da Maria-Fumaça. De infância humilde, Almiro relembra o duro danado
que dava para sobreviver com sua mãe viúva cavando manganês para vender uma
lata por 500 réis.
Aos
nove anos de idade rabiscava com carvão as calçadas de cimento e até as paredes
de sua casa desenhando os trens que passavam apitando por sua terra natal. Aos
poucos seus desenhos tornaram-se conhecidos por moradores da localidade, e o
então prefeito de Santa Luz, José Marques da Silva, sensibilizado com o seu
talento, lhe propôs trazê-lo para Salvador a fim de estudar na Escola de Belas
Artes. Na época, seus parentes discordaram da idéia, e Almiro Borges teve que
continuar ganhando a vida de outras formas. Em 1947 retornou a Alagoinhas e aí
trabalhou de pintor de paredes, operador de cinema, cenógrafo dos frades
capuchinhos, vendedor de laranjas e foi ajudante de caminhão em Alagoinhas,
Nova Soure, Caldas de Cipó e Ribeira do Pombal.
Mas
a arte era mais forte! Seu talento permanecia á espera de uma oportunidade. Em
1957, Almiro Borges pinta suas primeiras telas enfocando os trens. Uma dessas
telas foi adquirida por 36 mil rés por Ernani Barbosa para presentear o diretor
da empresa que residia em
Periperi. Logo depois foi convidado para pintar alguns
painéis e telas. Inclusive o atual prefeito Judélio Carmo, na sua primeira
administração, convocou o artista para elaborar alguns painéis.
Vejo
a fase de Alagados e casarios. Mas, a grande vocação de Almiro é retratar a
Maria-Fumaça.
Convicto
ele diz. “Estou certo, as que pinto são autênticas. Convivi com elas. Viajei
muito nelas e ás vezes até ajudava a botar lenha na fornalha para ver a bicha
correr solta em cima dos trilhos”.
Obra onde Almiro pintou outra Maria-Fumaça |
As
cores e a figuração utilizadas por Almiro nos dão todo aquele clima que muitos
de nós vivemos na infância. É uma exposição que nos dá prazer de examinar cada
quadro, nos traz lembranças e saudades.
Se
você gosta de lembranças, se o trem lhe traz recordações, não deixe de visitar
a mostra de Almiro. Se você não teve a oportunidade de conhecer e viajar numa
Maria-Fumaça vá até o Museu de Arte que poderá por alguns instantes realizar
este sonho.
EXPOSIÇÃO
DE DESENHOS E GRAVURAS DE 18 ARTISTAS
Serigrafia de Floriano Teixeira |
Desenho de Mário Cravo Júnior |
Acrescento
ainda a esta observação de Mário que é uma oportunidade de divulgar o trabalho
de arte que utiliza o papel como suporte. Os menos avisados ou desinformados
costumam rejeitar ou fazer restrições ao trabalho de arte em papel sob e falsa
visão de que é muito frágil. Isto é uma grande inverdade e para comprovar basta
a gente lembrar dos desenhos de Leonardo Da Vinci e dos mapas e anotações
existentes feitos á séculos.
Gravura de Calasans Neto |
No
seu critério de avaliação, Mário diz que um dos mais importantes artistas
plásticos deste País, neste século, chama-se Oswaldo Goeldi. Era exatamente
gravador e desenhista.
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