JORNAL A TARDE, SALVADOR, 19 DE NOVEMBRO DE 1984.
JENNER COMEMORA 60 ANOS COM EXPOSIÇÃO
A tela Paisagem do Tororó Jenner Augusto valoriza a paisagem baiana. Tela de 61 X 37 cm |
Este
sergipano-baiano sabe captar como nenhum outro a tropicalidade baiana e
principalmente, como diz Jorge Amado, num pequeno texto que escreveu sobre ele:
“ Na pintura de Jenner há um permanente interesse social; o artista jamais se
encontra desligado de seu tempo e de seu meio ambiente. Problemas, dores e
lutas refletem-se em sua obra, tanto quanto a paisagem e a luz”.
Realmente,
esta observação de Jorge Amado vem de encontro inclusive a uma falsa afirmação
de que ele explorava demasiadamente a miséria de Alagados.Sempre
combati esta visão radical e distorcida de alguns. Rebatia afirmando que
entendia exatamente ao contrário, é que o enfoque dado por Jenner Augusto,
mesmo sem estar fazendo uma arte engajada, ele denunciava aquela chaga social
que hoje está menor e sendo reaberta mais adiante, co o Novo Alagados.
Agora
vemos Jenner enfocar outros locais e a presença humana em sua obra é uma
constante. São exatamente os tipos e
profissões menos aquinhoadas que ele transforma em seus personagens colocando-os
no seu contexto social.
A
luz é outro elemento significativo na sua obra. Um verdadeiro poema de amor
onde a paisagem é o palco de uma representação ou manifestações que os
multiplicam. Os personagens ocupam espaços determinados com muito critério nas
composições que o Jenner Augusto cria valorizando as coisas da Bahia, tão
cantadas em verso e prosa e tão mutiladas pelos especuladores imobiliários e
pelas insensíveis autoridades municipais.
O
LIRISMO DE WALDENBERG SERÁ MOSTRADO EM VITÓRIA
Após
alguns anos sem rever o trabalho de Waldenberg, tive a oportunidade de
conversar com ele e apreciar algumas telas de sua produção. Falador e muito
preocupado com a questão social, aproveitou o reencontro para queixar-se que
certa vez eu teria classificado seus quadros de meras cópias. Lembrei que não
foi bem assim. Teci alguns comentários, onde afirmaram que suas telas lembravam
estampas europeias.
A Colheita de Trigo,do pintor Waldenberg |
O
lirismo é o mesmo de anos atrás.É
através deste lirismo que Waldenberg espera sensibilizar as pessoas tão
envolvidas com violências e explorações de toda a sorte. Ele deseja que o homem
olhe seus irmãos com mais amor, que juntem as mãos em busca de soluções viáveis
que venham beneficiar as comunidades. Não aceita esta concorrência desenfreada
e desleal e pede acima de tudo respeito pelo trabalho e também pela própria
vida.
Alguns
podem pensar que Waldenberg é um homem amargurado. Mas, não me parece que seja.
Vejo-o como um jovem pobre, que está no momento fazendo uma arte que se propõe
a ter uma linguagem universal com a utilização de elementos do seu próprio
mundo. “Estou sempre ligado ás raças, o que dá sentido á vida. Nos meus
trabalhos as pessoas estão em situações de tranqüilidade, se admirando ou se
afagando. Se as coisas na realidade transcorressem assim não haveria tanta
violência e miséria”. Com apenas 28 anos de idade, Waldenberg pensa em alçar Vôos muito altos.
Agora mesmo está preparando uma exposição para Vitória, Espírito Santo, levando
seus trabalhos marcados agora pela sua infância no Alto da Alegria, no Nordeste
de Amaralina, para outras praças. Hoje, ele estar com um atelier em Ubaranas,
também em Amaralina, e de quando em vez sobe e desce as ladeiras do Nordeste
para rever os locais e os brinquedos de lata de sardinha, os pneus velhos que
utilizava como “carros” e seus amigos que ainda permanecem por lá. Só espero
que estas visitas ocasionais lhe sirvam para manter acessa a sua própria
identidade cultural e que seu universo de conhecimento seja estendido em
benefício do seu próprio trabalho artístico.
JOSÉ BANDEIRA
VAI EXPOR NA GALERIA ACBEU
Vemos nesta foto José Bandeira com três telas de seus temas preferidos igrejas e gente |
Bandeira
é uma figura humana muito interessante. Cheio de emoção ele gesticula, fala
várias vezes sobre o mesmo assunto e termina toda a conversa desaguando sobre
seus quadros ingênuos que retratam a Bahia.
Mesmo
tendo formação universitária, porque é cirurgião dentista, Bandeira consegue
manter sua fidelidade ao primitivismo. Continua enfocando as igrejas, os
casarões, as ladeiras e as procissões que descem com as beatas entoando
ladainhas.
Morador
por muitos anos no pensionato do padre Torrend, no Corredor da Vitória, N.º 331
por onde passaram muitas gerações, desde aquela época que ele dividia o seu
tempo entre as aulas na Escola de Odontologia e sua arte.
“Posso
morrer como um pintor primitivo. Na odontologia é que não posso ser primitivo”,
diz Bandeira entre um olhar e outro para o fotógrafo que desejava registrar o
seu trabalho e seu interlocutor.
Agitado
e dócil, Bandeira vem desde 1964 retratando a seu modo esta Bahia quatrocentona.
Sua primeira exposição aconteceu na Biblioteca pública que funcionava na Praça
Municipal, e que foi um espaço muito importante para que os artistas que
naquela época davam seus primeiros passos. Expôs logo depois no hall do Hotel
da Bahia, no Campo Grande, e de lá para cá sucederam-se dezenas de exposições
coletivas e individuais.Desta
vez ele expõe na Associação Cultural Brasil Estados Unidos – Acbeu -;são
quadros maiores onde apresenta muitas variações de igrejas, casarios e
procissões. Sua exposição será inaugurada no dia 23 às 21 horas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário