JORNAL A TARDE SALVADOR, 26 DE
NOVEMBRO DE 1984
PANORAMA DE ARTE ATUAL BRASILEIRA
SERÁ NO MAM
Quase como um desabafo Sérgio Rabinovitz disse-me que seguia para São Paulo para realizar exposição |
As
obras estarão expostas durante sessenta dias e a cada artista foi permitido á
utilização de uma área de seis metros lineares.
As
obras podem ser comercializadas, senda que caberá ao MAM 25% das vendas. Serão
distribuídos prêmios entre os participantes da exposição e todas as obras
premiada integradas ao acervo do museu. No entanto, se o artista não desejar
participar da premiação lhe é facultado este direito.
O
Museu de Arte Moderna de São Paulo abrirá a exposição no dia 27 contando com
importantes nomes da arte brasileira, e o artista baiano. Sérgio Rabinovitz
apresentará alguns de seus trabalhos feitos utilizando o papel como suporte,
onde ele com seus traços vigorosos registrou espontaneamente as suas emoções.
Como
estamos vivendo numa sociedade que tende aumentar o universo da simbologia os
elementos que integram a arte de Sérgio nos lembram os símbolos.
E,
nada melhor do que pensar num símbolo e imaginar o seu significado para
participar da emoção do artista. Seus trabalhos nos coloca em frente aos muros
das megalópolis onde estão marcados em tintas e imagens, ás vezes
desconcertantes, o pensamento e as idéias de jovens. O muro é suporte daqueles
que não estão no circuito das galerias. Mas, é preciso preservar este espaço
com certa dignidade para não acontecer o que resultou do velho muro do Convento
da Lapa na Joana Angélica.
Sérgio
escolheu o papel para gravar as suas mensagens e agora leva mais uma vez para
outra capital representando a Bahia.
REGISTRO
DA GENTE QUE MORA E TRABALHA
NO PELOURINHO
NO PELOURINHO
Residindo
na área do Pelourinho, local ainda marcado pela prostituição o artista Luiz
Lourenço vem sofrendo uma influência marcante. E, alguns de seus quadros
mostram pessoas que convivem com ele, são as prostitutas que povoam as telas,
só o que o artista faz uma verdadeira “operação plástica” endurecendo-lhes os
seios e dando contornos mais suaves aos corpos já marcados pelo tempo e pelo
“trabalho” degradante, da mais antiga das profissões, que á prostituição.
Diria
que José Lourenço consegue de certa forma dar dignidade a esta pobre gente
esquecida dos poderes públicos e discriminada pela sociedade. Convivendo com
elas Lourenço vai construindo o seu mundo pictórico. É verdade que não podemos
colocá-lo no mesmo patamar onde estão grandes artistas, mas é um profissional que
se esforça para retratar o mundo em que vive e consegue passar as suas emoções.
É
fácil notar que em alguns quadros é preciso trabalhar com mais cuidado em busca
da proporcionalidade, de maior perfeição.
Acredito
com o passar do tempo e do trabalho contínuo ele conseguirá com facilidade,
porque é inegável o seu talento. As cores são vibrantes, fortes, quase
naturais, como àquelas que dão beleza as frutas deste país do sol.
Luiz
Lourenço é um moço pobre, sapateiro de profissão, e isto me lembra o velho João
Alves, o engraxate cujos trabalhos até hoje são disputados por colecionadores e
museus.
Luiz
ainda não tem o mesmo reconhecimento público, mas já pinta há algum tempo, e
desde 1973 que reside no Pelourinho. Ele pinta além da gente que lhe rodeia, os
casarões, outrora palcos de grandes festas e moradias da gente granfina, cujos
descendentes moram no Morro Ipiranga, na Pituba ou na Pedra do Sal. Com a
decadência da área ali está morando a gente humilde, sofrida e o artista Luiz
Lourenço documenta o seu cotidiano.
A
LIDERANÇA DE IVAN SERPA
Obra de Serpa,alegria e brasilidade |
LINGUAGEM UNIVERSAL E
APROXIMAÇÃO À INDÚSTRIA
APROXIMAÇÃO À INDÚSTRIA
Como
a mostra anterior sobre o neoconcretismo, as de agora terão o mesmo caráter
didático, e serão acompanhadas de um amplo catálogo, com textos de Frederico
Morais (Grupo Frente) e Edmundo Jorge (mostra de Quitandinha), currículo dos
artistas e cerca de 30 reproduções de obras e documentos de época, trazendo na
capa, a cores, uma colagem de Ivan Serpa, datada de 1955.
Em
seu texto, de caráter estritamente histórico, Frederico Morais procura conectar
o surgimento e atuação do Grupo Frente aos demais acontecimentos artísticos no
Brasil e no mundo. Ele diz:
Lygia Clark, cores vibrantes |
Edmundo
Jorge, por sua vez, descreve o ambiente cultural de Petrópolis, à época da
mostra de Quitandinha, e a influência exercida no grupo local pelas idéias e
ensinamentos de Ivan Serpa. Ele diz: “A objetividade formal que nos era
proposta por Ivan, deveria ter sido motivada por uma modernidade imposta pela
indústria, já que vivíamos numa cidade industrial.
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